EPÍLOGO 1
Assim que abriu os olhos, ficou temporariamente cego por causa da claridade. Tentou respirar fundo, mas uma forte dor limitou o movimento. Era também um sinal de que estava vivo. Recuperou a visão aos poucos, mas ainda não sabia distinguir direito onde se encontrava. Sentiu que estava deitado numa cama macia e quente, com lençóis suaves. Sua acuidade visual melhorou e, após alguns minutos, já podia identificar um cômodo pequeno, de paredes beges e uma grande janela de madeira aberta, de onde vinha toda a luz que iluminava o ambiente. Não fazia ideia de onde estava. Não. O cheiro forte de mato lhe era familiar. Estou em Ohm.
Levou a mão direita ao peito e sentiu que havia algo por baixo do roupão branco que não o pertencia. Imediatamente levantou a blusa e viu as ataduras enroladas cobrindo seu tórax. Não acredito. Fechou os olhos, tentando lembrar o que aconteceu.
— Olha quem acordou! — uma jovem voz masculina despertou-lhe de seu exercício mental. Percebeu que Oli e Stin estavam entrando no quarto. Ficou feliz em vê-los. — Pensei que não fosse mais acordar — Stin completou.
— Na verdade, ele apostou que você não acordaria — Oli sorriu e depois ficou sério e sem graça ao perceber as palavras que havia dito. — Claro que foi uma brincadeira, né? — apontou para o irmão, quase pedindo ajuda.
— É claro! — assentiu. — Todo mundo sabia que você despertaria uma hora ou outra.
Paki se ajeitou na cama, soltando um murmúrio de dor.
— Vocês são péssimos mentirosos. — Tentou rir, mas a dor não deixou. — Por quanto tempo eu fiquei apagado?
Os irmãos se olharam brevemente e depois responderam juntos:
— Cinco anos.
— O quê? — arregalou os olhos negros. Olhou para as suas mãos suspensas, tentando encontrar algum traço de seu envelhecimento. — Mas o que aconteceu? Eu só lembro de momentos antes de entrarmos nas naves.
— Você levou um tiro no peito — respondeu Oli, sentando na beirada da cama. — Aquele Jad era um deles e tentou nos impedir de pegar as naves. Desgraçado.
— Eu tô lembrando... — levou a mão à cabeça, como se fosse ajudá-lo a recordar. — Ele apontou a arma pra Zahra e eu fui pra cima dele.
— E depois apagou — Stin completou.
Agora lembrava perfeitamente de tudo. Zahra descobrindo como o cruzador funcionava e ele sendo atacado por Jad. Ficou preocupado de repente.
— E nós conseguimos? Pegamos o cruzador?
— Pegamos os três — sorriu Oli. — Aquelas coisas são incríveis. Você tem que ver.
— E a nave-mãe foi destruída — Stin falou quase dançando. — Sem mais pulsos! — levantou a mão animadamente para o irmão bater, mas Oli não retribuiu o cumprimento, devolvendo apenas uma cara séria.
— Então deu tudo certo? — perguntou o imediato, suspirando aliviado. — O Adeel pensou em tudo. Onde ele está?
Os gêmeos se olharam assustados, mas, antes que pudessem contar sobre a morte do Major, algumas batidas na porta interromperam o diálogo.
— Posso entrar? — Zahra colocou a cabeça para dentro do quarto. Sua expressão era indecifrável, mas calma.
— Claro que pode! — disse Stin, aliviado, puxando o irmão pelo braço para fora do cômodo. — Vocês têm um monte de coisas para conversar e nós temos que... — ficou sem palavras. Os dois, então, saíram correndo feito loucos, deixando-os a sós.
A Capitã balançou a cabeça, como se não acreditasse no que acabara de acontecer:
— Esses dois são malucos — murmurou alto.
— Esse é o futuro de Sion — o imediato completou, rindo. Parou quando viu que a Capitã não o acompanhou. — Eles me disseram que fiquei apagado por cinco anos.
Zahra sorriu pela primeira vez desde que entrou no quarto.
— Eles estão brincando contigo. Só se passaram dois dias.
— Ai, que bom — soltou o ar, aliviado. — Mas, hein... Diga-me... O que aconteceu depois que tomei aquele tiro? Os gêmeos disseram que Jad era um deles. Como isso é possível?
— Não sei, mas, com certeza, aquele cara não era o Tenente Jad da Daid-2.
— O que você está dizendo? Ele tinha uma identificação positiva no nosso banco de dados, eu mesmo chequei. Usava uniforme da Força Aérea e tudo.
— Sim. Aquele rosto era dele, sem dúvidas, mas lembra que a Adamma guardava alguns recortes de jornais da Era de Ouro?
— Claro. Ela tentou me mostrar aquilo várias vezes.
— Eu havia separado a caixa e pedi pra Ien entregar pra algum parente dela, caso não voltássemos da missão. Ontem eu finalmente abri e vi o que tinha dentro. Revistas, jornais, fotos e alguns artigos recortados. No meio de tudo, eu achei este — entregou um pedaço de papel envelhecido ao imediato.
Era uma folha de jornal antigo. Datava de quase oitenta anos atrás. Paki leu por alto e não viu o que chamou a atenção da colega.
— Aqui... — a Capitã apontou para uma nota no canto da página.
O imediato começou a ler em voz alta:
— Tenente Jad Benzad Igwen vai para a sua primeira missão espacial a bordo da Daid-2, mesmo após ter sofrido uma amputação do indicador direito a uma semana da partida. Desejamos boa sorte e que ele sirva de exemplo para todas as gerações futuras — parou de ler, apavorado. — Maldito! Nos enganou o tempo todo! Adeel deve estar arrasado.
— Não, Paki. O Major Adeel morreu. Ele nos mandou para apanhar as naves, mas parece que tinha um plano suicida em mente. Jogou a Enir-7 em cima da nave-mãe e nos livrou dos pulsos. Foi um herói — uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo. — Uma droga de um herói.
Paki olhava para ela, mas não sabia o que dizer. Zahra era a pessoa mais dura e forte que conhecia, porém ninguém nasce preparado para passar pelo que ela passou. As lágrimas no seu rosto eram muito mais pesadas do que aparentavam. Ali estava morrendo um coração, cuja vida jamais permitiu que fosse feliz.
A Capitã da Enir-7 era agora a maior autoridade do planeta, visto que não sobraram mais militares. Mal tinha acabado de perder o seu grande amor pela segunda vez e já tinha um mundo todo para reconstruir. Ela explicou sobre os avanços de Oli no estudo das novas naves. Chegou a descobrir algo sobre a natureza dos pulsos e uma forma de proteger os equipamentos. Tinham muito a fazer e não sabiam quanto tempo teriam até os invasores voltarem.
— Se retornarem, nós lutaremos — Zahra afirmou com convicção. — E se eles não vierem, nós vamos atrás desses desgraçados.
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