CAPÍTULO 7
— Os dois últimos tremores não espaçaram nem dez minutos — reclamou Adeel ao levantar-se após mais um terremoto.
— Nove minutos — rebateu Jad sem muita animação.
Estavam há doze dias juntos naquela caverna, e o jovem Major não se cansava de se surpreender com a peculiar noção de tempo do seu companheiro. Os tremores se intensificaram em força e tempo nos últimos dias. O que quer que estivesse acontecendo naquele lugar estava piorando, concluíram juntos em uma de suas conversas.
Adeel levantou algumas hipóteses sobre o que poderia ter acontecido com eles. Na comparação de suas histórias, vários aspectos eram semelhantes: o formato triangular das naves inimigas, a sensação de calor, a dor e a luz antes de apagarem, a falha nas comunicações e na energia antes do ataque. Certamente tinham sido coletados para algum tipo de pesquisa.
— Talvez pensem que nós somos os inimigos — sugeriu Jad numa ocasião.
Mais um tremor forte atingiu a caverna. Mesmo com os olhos mais acostumados ao breu, era impossível enxergar além de suas próprias mãos. Adeel abaixou-se, segurando os joelhos para esperar passar.
— Quantos minutos? — perguntou assim que acabou.
— Cinco — respondeu seu colega após um momento quieto. — Acho que torci meu pulso.
— Meu Deus. Será que morreremos aqui?
— Provavelmente. De qualquer forma, minha esposa já deve ter morrido, e minha filhinha deve ter netos. Não tenho muito mais pelo que viver.
Ficaram em silêncio. Era realmente difícil achar bons argumentos para se viver em um mundo onde não há ninguém por quem viver.
— Sabe o que eu queria? — Jad quebrou o silêncio. — Uma Nerez-da-Terra. Minha mãe sempre trazia pra mim.
Adeel sorriu. Lembrou de Lefter no céu de Éo. Será que ela ainda está usando o anel? Foi seu último pensamento antes de serem atingidos por mais um tremor. Daquela vez, algo estava diferente. Solavancos mais brutos jogaram Adeel para todos os lados. Sentiu a terra e as pedras caindo sobre si. Só tinha as mãos para proteger a cabeça. De repente, um estrondo veio acompanhado de luz intensa. Foi jogado para longe e apagou ao bater a cabeça.
Acordou com os chamados de Jad. Os olhos doeram com a luz intensa que tomou o ambiente. Pela primeira vez, percebeu as paredes cinzas de pedra e limo úmido. Parte do teto havia caído. A caverna era uma construção de aspecto antigo. Uma espécie de masmorra, onde trancavam os prisioneiros. Agora estava completamente destruída.
— A parede rachou — respondeu Jad quando perguntado sobre como escapou. — Consegui me soltar um segundo antes do teto cair.
— Ajude-me aqui — Adeel tentou mover a pedra sobre o cabo de sua tornozeleira —, ainda estou preso.
O Tenente ajudou. Ficaram aliviados ao perceber que, durante o terremoto, uma pedra pesada caiu e cortou cirurgicamente o cabo que o prendia.
— Vamos sair daqui antes que comece novamente — disse Adeel.
Subiram pelos escombros até o teto da masmorra e puderam, finalmente, ter uma visão panorâmica de onde estavam. O céu era azul e tinha algumas nuvens brancas espalhadas. Perceberam duas fontes de luz no céu, o que justificava o intenso calor que sentiam. Adeel estranhou, mas achou as árvores de folhas verdes bem mais bonitas que a vegetação amarelada de seu planeta. Uma rachadura larga, jorrando magma fresco, cortava um campo verde à sua frente. Ao lado de onde estavam, há cerca de quinhentos metros, muitos escombros revelavam o local onde devia haver uma pequena cidade, com prédios brancos destruídos e fumaça negra saindo de alguns pontos. Não avistaram nenhum sinal de vida ou das naves que os levaram até ali.
— Aquele é o lugar — apontou Jad. — Vamos procurar um comunicador ou uma nave. Precisamos sair daqui.
Foram atingidos por mais dois tremores menores antes de alcançarem a cidade. O Major percebeu, apesar de toda a destruição, que a arquitetura seguia os traços triangulares das naves. Seguiram até o centro da cidade pelo que pareciam avenidas largas e pavimentadas com alguma espécie de pedra lisa e negra.
Exatamente no centro da cidade, ficava um grande largo, onde imaginaram ser um ponto de pouso das naves. Estava, obviamente, vazio. A cidade foi abandonada. Deduziram pela falta de corpos após uma tragédia daquele nível.
— Deve haver algum comunicador por aqui — afirmou Adeel.
— Ou levaram tudo — rebateu Jad. — As casas foram abandonadas. — O Tenente, então, arregalou os olhos de repente e apontou para um ponto atrás da cabeça de Adeel. — Aquilo ali é uma antena?
Parte do prédio havia caído e uma estrutura parabólica permanecia pendurada por alguns cabos na sua lateral. Os dois sobreviventes entraram no prédio logo após um outro tremor, e encontraram uma estrutura com três torres e diversos botões que devia ser usada para comunicação.
— Você sabe mexer nisto? — perguntou o Tenente.
— Deixe-me ver — Adeel começou a apertar todos os botões até que um deles acendeu um painel virtual à sua frente. — Isso!
Um mapa tridimensional tomou conta da sala em que estavam. O Major não entendia os símbolos e as linguagens, mas reconheceu Lefter, destacada em vermelho, flutuando à sua esquerda. Era o microssistema de Éo e suas luas. Jad ficou curioso e tentou tocar Satiris, que apareceu sobre sua cabeça, mas, para sua surpresa, o que parecia um simples holograma deu um pequeno choque em seu dedo.
— Nossa! — gritou Jad. — A navegação é interativa — levantou as duas mãos e começou a manipular o zoom da projeção. — Que coisa legal.
Os dois estudaram a máquina por alguns minutos e logo estavam navegando por todo o universo. Adeel percebeu que, ao tocar em Luctéria, a lua vermelha e rachada de Seúra, apareciam centenas de símbolos que, quando tocados, revelavam porções diferentes de diversos sistemas solares, cada um com sua própria lua vermelha rachada, tal como a de Seúra.
— As Luas de Sangue são portais — afirmou para o Tenente. — Como não percebemos isso?
— Pensamos pequeno, talvez — respondeu Jad.
Um forte tremor ensaiou começar e parou.
— Vamos chamar ajuda. — Adeel navegou até encontrar Sion. O planeta, acompanhado das suas duas luas, permaneceu flutuando no centro da sala, enquanto o jovem pensava no próximo passo.
— Tenta tocar nele — sugeriu o Tenente.
Adeel encostou o indicador e sentiu energia estática, mas nada aconteceu. Ampliou o zoom. Diminuiu o zoom. Girou. Nenhuma opção apareceu.
— Droga! — resmungou. — Acho que é só um mapa, afinal — deu um tapa raivoso na projeção, que deslocou aleatoriamente até parar em Seúra.
— Vamos andar lá fora e procurar um comunicador, então — sugeriu ao Major enquanto brincava com a navegação de Luctéria e observava o amigo sentado no chão. — Olhe — apontou para um sistema solar estranho que apareceu. Uma grande esfera negra, emanando radiação branca, com uma estrela amarela em sua órbita e um planeta girando em torno desse sol.
— É um buraco negro — informou sem muita animação. — Nada demais. Já observamos sistemas como este antes.
— Não — insistiu o Tenente —, as opções deste sistema são diferentes. Acho que é onde estamos.
Adeel olhou para o chão e pensou por alguns segundos.
— Faz algum sentido. O buraco serviria como fonte de luz, por causa da radiação que emite; por isso, o calor e a impressão de haver dois sóis no céu.
— A distorção no espaço-tempo poderia ser causada pela proximidade com ele. A diferença de gravidade pode, teoricamente, causar essas coisas, né? — falou Jad, feliz por lembrar-se das lições de física quântica que tivera na Força Aérea.
Adeel arregalou os olhos como se uma grande ideia tivesse lhe ocorrido.
— Espera aí! Deixa eu tentar uma coisa — o jovem levantou-se e retomou a navegação. Centralizou a Lua de Sangue daquele sistema e pressionou o único símbolo diferente que surgiu.
Imediatamente, uma espécie de teclado virtual apareceu à sua frente, com centenas de símbolos e desenhos desconhecidos. Um círculo vermelho chamava a atenção no centro daquilo tudo.
— Acho que estamos de acordo quando falo que será impossível enviar uma mensagem de texto — afirmou o Tenente.
Adeel pressionou o botão vermelho instintivamente e sentiu uma energia percorrer o seu braço, como se tivesse levado um choque. Teve absoluta certeza do que precisaria fazer a partir dali.
— É isso! — sorriu para o parceiro. — Já sei como enviar uma mensagem pra casa. — Os dois sorriram.
Um abalo mais forte começou e Adeel só teve tempo de pressionar o círculo algumas vezes antes que o prédio começasse a desmoronar. Espero que alguém receba.
Leia Também:
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro