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CAPÍTULO 1

 — Alguém saberia me dizer o nome das duas luas de Sion? — perguntou animadamente a professora magra e alta aos alunos do Ciclo 2 da Escola de Formação de Cidadãos em Zat, capital do País 5.

Uma menina de pele escura, cabelos crespos encaracolados e soltos, solitária e desesperada, brandia seu braço direito na intenção de ser escolhida. Seu olhar era de súplica. A professora, de aparência firme e cabelos presos num coque, parecia ignorar o seu pedido.

— Alguém? — tentou mais uma vez, enquanto levantava o pescoço como se procurasse algo. — Wofi? — voltou-se ao aluno sardento de cabelos ruivos e olhos verdes. — Você sabe a resposta para a minha pergunta?

O jovem de nove anos soltou o ar que tinha nos pulmões e retrucou:

— Por que a senhorita não pergunta para Zahra? — disse, apontando para a menina que ainda estava com a mão direita esticada para cima. — Ela gosta de responder essas chatices. — A turma toda começou a rir.

— Quero que o senhor responda. — A professora fechou a expressão em uma carranca que parecia muito mais ofensiva em seu rosto magrelo. — As luas de Sion? — refez a pergunta.

— Zandrar... e... — titubeou. — Lola?

A professora fechou os olhos por um momento, abaixou a cabeça em decepção e respirou bem fundo. Ao levantar o rosto, observou sua turma de trinta alunos, sentados em quatro fileiras, todos com as vestes verdes oficiais da escola. Desviou o olhar para a janela e contemplou a pirâmide espelhada por trás de dois montes cobertos de Tagamitas, as árvores de folhas amarelas que cresciam na Estação Cheia. Aquela visão sempre a fazia se acalmar em momentos estressantes.

— Zahra — desistiu —, pode responder.

A menina não disfarçou sua alegria. Levantou-se da cadeira e pôs-se a discursar:

— Nosso planeta é o segundo maior do sistema solar. Só perdemos para Éo, o gigante de gelo. Possuímos dois satélites: Zandrar, que tem duas bases de pesquisas espaciais, e Apoc, rico em minérios de pedras preciosas. — Zahra tomou fôlego para continuar. — Ao todo, são cinco planetas...

— Está ótimo — interrompeu a professora. — Muito bem, Zahra. Eu já ia falar disso.

A menina sentou-se, satisfeita com a sua brilhante participação. Sempre olhava para os lados, deliciando-se com os olhares de inveja que frequentemente lhe direcionavam.

— Como a mocinha começou a falar, nosso sistema solar é composto por cinco planetas: Colla, Sion, Éo, Seúra e Tahmas. Destes, eu gostaria de destacar Sion, que é onde vivemos, e Éo, um corpo celeste de importância... — foi interrompida por batidas fortes na porta.

Observou pela vidraça uma senhora idosa de cabelos longos e brancos, penteados em tranças. Ela estava acompanhada por um menino branco de olhos puxados, magro e de roupas azul-claras.

— Conselheira Kanse, a que devo o prazer da visita? — apressou-se para abrir a porta para a chefe da educação de Zat.

— Bom dia, senhorita Naim — respondeu com voz calma e cordial. — Vim pessoalmente apresentar um novo aluno da sua classe. Seu nome é Adeel, seu pai é um grande amigo meu e sua família está vindo do País 3 para cá. Espero que ele seja bem recebido.

A jovem mulher sorriu. Abaixou-se para que seus olhos azuis ficassem alinhados aos dele:

— Seja muito bem-vindo, Adeel. — Tocou em seu rosto e ele sorriu. — Turma, receba o seu novo colega, Adeel. Ele veio do País 3 e frequentará nossas aulas a partir de agora.

— Muito obrigada — agradeceu a Conselheira enquanto saía da sala.

— O senhor pode se sentar ali — apontou para uma das duas cadeiras vazias ao lado de Zahra. — Espero que consiga nos acompanhar.

Uma festa de cochichos tomou conta da sala de aula e a professora teve de bater palmas; cinco batidas ritmadas, que todos já sabiam identificar, para silenciar a turma novamente.

— Como eu ia dizendo, Éo tem uma importância para nós, Siones. Alguém — observou a menina levantar a mão novamente — que ainda não tenha respondido —, Zahra abaixou a mão, frustrada — saberia me dizer que importância é essa?

— Colonização e exploração. — Uma voz fina quebrou o silêncio quase que imediatamente.

Naim não conseguiu identificar quem respondeu, mas não quis desencorajar:

— A resposta está parcialmente correta. Temos colônias em Éo, que possui atmosfera gasosa semelhante à nossa, e também realizamos uma pequena extração de minérios em suas luas.

— Pequena extração? — A voz agora parecia mais séria. — Satiris já perdeu metade da sua massa com a retirada de minério de ferro. Lola e Tchuk já tiveram seus eixos gravitacionais e órbitas alterados por conta das explosões em busca de diamantes.

Desta vez os olhares assustados se voltaram para o garoto de nove anos ao lado de Zahra. A professora se aproximou dele com curiosidade.

— Mas temos também as estações de pesquisa na Zona Quente de Éo, que estudam e preservam a fauna e flora daquele planeta gelado, e o Povoamento de Lefter...

— Que espécie de povoamento? — retrucou o garoto. — Lefter é um centro de turismo para pessoas ricas aproveitarem as praias e florestas. O desmatamento é absurdamente grande e, se continuarmos nesse ritmo, destruiremos toda a vida daquele lugar.

Um silêncio pesado inundou a sala. Naim sabia; tudo que o garoto falava tinha coerência. Aquele tipo de debate tomava conta dos Conselhos há anos. Sion explorava Éo de todas as formas possíveis. Mas ele era apenas um menino. O que essas crianças andam lendo? Teve de olhar mais uma vez para a pirâmide do Conselho, atrás das montanhas amarelas, para se acalmar.

— Adeel, eu realmente espero que você se torne um adulto melhor do que nós conseguimos ser e faça alguma coisa para mudar o nosso destino, mas aqui nesta sala de aula deixaremos o debate político de lado e focaremos apenas nas questões do conhecimento, ok?

O menino assentiu com a cabeça sem muita animação.

— Continuando — a professora bateu suas palmas ritmadas mais uma vez para calar a turma. — O anel de Kind é a formação de asteroides entre Éo e Seúra...

Zahra continuou olhando para Adeel e nem prestou mais atenção na sua aula preferida. Nunca tinha visto alguém com paixão e conhecimento tão espontâneos. Será que ele quer ser meu amigo? O menino continuava sério, provavelmente por não poder continuar o seu raciocínio.

— Você sabe bastante sobre Astronomia — Zahra puxou conversa assim que a aula acabou. — Onde aprendeu isso tudo? O País 3 deve ter uma ótima educação. Você acha mesmo...

— Calma! — pegou nos ombros da menina com as duas mãos e a encarou. — Você fala muito, sabia? — Os dois começaram a rir.

Era o começo de uma grande amizade. 

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