Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Um

Pili Batea é veloz, mas jamais conseguiu me vencer decentemente em uma corrida. Sim, ele trapaceou diversas vezes ao longo dos anos, principalmente quando éramos crianças.

Sempre apostamos alguma coisa quando corremos, sejam flus* ou frutas, até mesmo tarefas.

Temos o nosso próprio local de corrida, já que em nosso vilarejo temos pouca privacidade, então corremos pela manhã, no terreno que permeia a encosta da Montanha Negra. Raramente vimos alguém por aqui, a maioria das pessoas pensa que a montanha é amaldiçoada e que pertence a elfos e fadas.

Inexplicavelmente, Pili venceu. Ainda não descobri o truque, já que ele estava muito atrás e o perdi de vista. Moleque.

- Ganhei! - ele berra, dando pulos.

Não parece cansado. Não há um pingo de suor em seu rosto. Como foi que ele me venceu sem nem ao menos parece ter corrido?

- Como? - sussurro, segurando os joelhos. Mal consigo respirar.

- Você pode ser a mais rápida, mas ainda sou o mais esperto. - ele ri e tenho vontade de socar cada novo dente dele.

É claro que seria muita maldade minha fazer isso, principalmente agora que Pili foi adotado e não vive mais nas ruas.

- Você é um pestinha trapaceiro, isso sim. Pode contar como me enganou dessa vez!

- Isso vai ficar por conta da sua imaginação, lindinha. Agora vamos ao meu devido pagamento.

Irritada demais para manter uma conversa saudável, mantenho minha boca fechada.

Logo percebo que Pili está olhando para o alto da Montanha e tenho a impressão de que não vou gostar nenhum pouco do que ele tem a dizer.

Seu olhar muda conforme ele observa a Montanha, o divertimento some. Seus cabelos castanhos brilhantes oscilam com a brisa. Seus olhos cor de céu se fecham por um momento. Ele tem uma pele negra tão bonita.

- É a nossa Montanha, afinal. Nossa Floresta. Nossos Frutos. Não deveríamos ter tanto medo.

Observo a neblina envolta da Floresta no topo da Montanha. Ele sabe das histórias. Provavelmente perdeu o juízo porque saiu das ruas. Só isso justificaria o que está pensando.

Contam-nos desde que éramos crianças assustadas sobre os homens que subiram à Montanha e voltaram cegos, falando de demônios e bruxas, totalmente enlouquecidos. E há também aqueles que não voltaram. É o que dizem.

- Não tem medo das histórias? - questiono.

- Já viu na sua frente alguém que subiu a Montanha? - ele questiona, sem desviar o olhar de seu atual objetivo. Sinto um arrepio incomodar minha pele.

Nunca vi nada, mas as histórias ainda podem ser reais.

- Não, mas isso não quer dizer que seja mentira. - argumento.

- Pois eu só acredito no que vejo.

Reviro os olhos e fico sentada. Só então percebo o que talvez ele queira dizer com tudo isso.

- Você vai subir a Montanha.

Seus olhos brilham.

- E vou levar você comigo!

Travesso, é o que ele é. Mas não entendo porque vai fazer mais uma de suas travessuras se acabou de ganhar uma casa e uma família.

- O que há de errado com os Batea? Por que quer envergonhá-los?

Ele sabe do que estou falando, mesmo assim não responde.

- Se você subir a Montanha e eles descobrirem, não será mais da Casa Batea. Será rejeitado. E você sabe o que acontece com os rejeitados nesse lugar.

- Vagam por aí até a fome vencer.

- Ninguém vai perguntar por que foi até lá ou o que sua família fez a você. Só vão te virar as costas. É a Tradição.

Tradição estranha, que permite maus tratos dentro de um lar, mas não permite que uma criança rejeitada receba uma nova família. Nem mesmo um prato de comida. Em Zoí, se sua Casa te rejeita então você merece a morte. Claro que isso não é dito literalmente, mas é o que acontece.

- Eu sei. - ele sussurra.

Respiro fundo. Penso em quantas vezes estive perto de ser rejeitada por minha Casa. Os Olitha. Dizem que sou filha de sangue, mas não é como se fosse. Bouvae Olitha, a Matrona não me trata como se eu tivesse o mesmo sangue que ela. E meu pai, Viemi, nada pode fazer. Ele é somente o estudioso da Casa. E sabe seu lugar.

- Só não faça muita besteira e eles vão manter você com eles. Depois você pode arrumar um casamento. Daqui a alguns anos. Vai ser mais fácil. Pelo menos para o meu pai parece fácil.

Ele olha diretamente para mim e reconheço a nova mudança em seu olhar. Pili tem me visto como dama, ainda que eu não fale nem me vista como uma.

- Vou me casar com você! Nem que para isso tenha que te roubar dos Olitha.

Solto uma gargalhada alta e começo meu caminho de volta ao vilarejo. Pili sabe que não vou aceitar ser vendida como caça, principalmente porque significaria viver longe do meu irmãozinho.

- Bateu com a cabeça enquanto estava trapaceando na corrida, Batea?

Ele corre para me alcançar na caminhada. Se esforça para acompanhar meu ritmo. Jamais ganharia de mim de forma justa.

- É claro que vou te dar um tempo para que se acostume a ter uma vida como uma Batea. Ser Matrona no lugar de minha nova mãe não vai ser fácil. Temos muitos animais e muitas terras, tudo para você administrar no futuro, enquanto eu vou estudar e criar nossos cinco meninos, todos homens! Mas antes de começar nosso futuro brilhante, terá que subir a montanha comigo, porque te venci!

- Me roubou! - corrijo. - Ouça o que está dizendo! Jamais vou aceitar casamento. Quando minha mãe se for serei matrona Olitha. Não preciso de marido e não vou subir a montanha com você! Não vou te ajudar a decepcionar seus novos pais.

Seguimos em silêncio e Pili não se importa mais em me acompanhar, simplesmente fica para trás. Fico esperando por ele logo que chego a entrada do vilarejo.

- Para de pensar besteira! - digo, assim que ele passa por mim. - Olha a sorte que teve. Vai encontrar um bom casamento se quiser. Se não quiser, pode ficar sozinho, ser estudioso e até sair desse lugar. Vê se pensa direito.

Sigo pelas ruas imundas do Vilarejo Xiador, um dos vilarejos mais pobres da cidade de Croeff. Só minha mãe não sabe disso. Afinal, a Casa Olitha tem sua importância por aqui.

O frio parece aumentar à medida que sigo para casa. A Matrona não deve ter percebido que saí. Ela nunca percebe, ou eu já teria tomado muitas surras por visitar Pili antes do nascer do sol e sem permissão.

Meu treinamento começa em alguns minutos. É a parte mais difícil do dia. Não pelos números e técnicas que ela ensina, mas por sua presença, seu jeito de me repreender e de falar. Ela está me ensinando os negócios da família. As mulheres são para o sustento de suas Casa. Os homens são do saber, do ensino e dados em casamento. É assim em todo o continente. É a Tradição.

Meu pai disse que nos vilarejos mais ricos existem disputas de inteligência entre diversos homens para que as matronas das famílias mais ricas escolham os maridos de suas filhas. As famílias dos mais inteligentes pagam dotes generosos. O homem em questão só ganha um casamento arranjado e uma casa estranha para se acostumar.

Coisa ridícula. Tradição idiota.

Principalmente porque vai chegar minha vez em breve. E sei que a Matrona não vai ser boazinha comigo.

O barulho de uma carroça chama minha atenção. Alguém está olhando para mim de dentro da cabina. Não consigo ver quem, só um pedaço de pele amarelada e um olho azul escuro de um tom de tecido que vi a Matrona usar uma vez. A carroça passa por mim lentamente. Começo a correr.

- Você precisa de tecido para a roupa de seus filhos, mas só vende verduras, frutas e legumes.

O tom de voz da Matrona é especialmente desagradável. Não sei como ela consegue, principalmente com esse corpo magrelo. Ela é alta como árvore, deve ser isso.

- O faturamento da quinzena foi baixo e você não pode usar flus. O que vai fazer?

Vejo meu irmãozinho Daikin aparecer na janela, do lado de fora da casa. Está pendurado no telhado, de cabeça para baixo. Sorte a dele que a Matrona está de costas e ainda não o viu. Ele faz careta. Deixo escapar um riso.

- Qual é a graça?

Sou pega com o riso ainda na garganta e tenho que me esforçar para não rir novamente. Ainda mais com o rosto da Matrona tão próximo ao meu. Seus olhos amarelos têm um brilho estranho que eu jamais gostei de ver. Seus cabelos cor de laranja presos só reforçam a aparência rígida.

- Você vai precisar de ajuda para responder o que perguntei?

Não quero ajuda e ela sabe. Da última vez fiquei sem sentar direito por dois dias e a Matrona teve que providenciar outra vara. Também fiquei sem jantar por dar prejuízo. Não lembro a questão, mas a Matrona adora negociar. Negociar. Troca.

- Posso descobrir o que a tecelã gosta de ter na mesa no momento da refeição.

- E? - ela aproxima ainda mais o rosto de mim, me fazendo suar.

- Posso... Eu posso... Trocar os vegetais favoritos dela... E... Bem... Sempre existem as frutas.

- Se seu estoque também não for bom, como costuma acontecer no inverno?

É difícil encontrar as palavras quando um rosto nada amigável está tão próximo, te pressionando.

- Ah... Posso pedir um prazo. Comprar para pagar depois.

Seu olhar me faz repensar o que disse.

- Posso fazer a propaganda do negócio dela. Fazer uma troca. O tecido em troca da propaganda. A tecelã é boa de troca.

A Matrona se afasta e eu reprimo um som de alívio. Daikin não está mais na janela. Foi por muito pouco. Ela começa a escrever no quadro negro. Contas e mais contas, que me deixam tonta.

- Quero os resultados em dois minutos.

Não foi por pouco. Não vou conseguir dar o resultado de cem contas diferentes em dois minutos. Meu dia não precisava ser bom mesmo.

Caminho para o quarto, observando a marca vermelha em minha mão esquerda que a Matrona fez questão de me dar. Ainda queima, ainda sinto a dor. Eu não resolvi as questões a tempo, mas eu nunca consigo mesmo.

Daikin aparece do nada e pula sobre mim. Faço um grande esforço para não chorar de dor ao pegá-lo no colo. Ele tem os cabelos alaranjados e lisos da Matrona, mas os olhos castanhos e a cor da pele marrom são do papai. Meus cabelos cheios de ondas e meu tom de pele cinza me dizem que não faço parte deles, mas Daikin sempre está sorrindo e sempre faz meu dia melhorar. Para estar perto dele, aguento muita coisa.

- Vai dormir, Ali?

Ajeito seu corpinho em meu colo e entro no quarto. Daikin só tem cinco anos. É tão precioso. Ainda bem que é o papai que passa a maior parte do dia com ele.

- Não vou dormir. Tenho tarefas para fazer. Vou trocar de roupa.

Ele ri e pula na minha cama.

- Ah! Brinca comigo!

- Mais tarde. Você já acabou sua tarefa?

Ele para de pular e deita na cama, esticando os braços.

- O papai disse que teremos uma visita.

Já perdi as contas de quantas vezes desejei ser menino. Só para estudar com Daikin e com papai. Daikin nunca apanha dele. Eu também não.

- Hum. Que bom... Está folgado então.

Pego a muda de roupa que uso para as tarefas da loja. Não posso demorar ou vou ganhar outra marca nas mãos. Ou coisa pior.

- Posso brincar com você a noite? - ele pede.

Ele sempre pode. Mas a Matrona diz que não tenho mais idade para brincar, que não sou mais criança. Nem com meu irmão menor, que é uma das pessoas mais importantes da minha vida, mesmo que me coloque em apuros às vezes.

- Quando todos forem para cama.


*flus - moeda local.

1971 palavras

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro