Dihdre - Capítulo Especial
Dihdre
Parece apenas mais uma manhã na aldeia Kairon.
A fome, a escuridão e o cansaço dominam todos os Sublimes. O trabalho braçal se iniciará em breve, mas não vejo sinal de ninguém pelas ruas de terra.
Ninguém.
Nossa raça continua sofrendo. Estamos presos, sem poder ir a Floresta para nos alimentar, sem poder ajudar as outras aldeias do nosso povo e sem poder ir ao mundo humano pedir ajuda.
É claro que a deusa corrompida não pode sair do deserto para destruir nossa Floresta por que esse Véu Negro existe. A barreira que freou Nigde e sua maldade.
A consequência disso é o desespero, a fome e a morte que assola nosso mundo.
Mas existe um canto profético.
Existe alguém de olhos brancos que irá Rasgar o Véu Negro, libertar nossa raça da fome e subjugar a deusa caída que quer nos destruir.
Alguém que só talvez não tenha nascido ainda. Alguém que não sou eu, por mais brancos que meus olhos sejam.
Heir, minha companheira, é sempre a primeira da casa a estar de pé, mas hoje tive que sair um pouco antes dela já que nem consegui dormir. Heir é curandeira, mas não pode usar totalmente seu poder, graças ao Negro Véu que nos isola da Floresta.
É a floresta. Ela desperta nossa capacidade de voar e exercitar dons incríveis. Se não podemos ir até ela, não há poder em nós. Sem ela, mal conseguimos nos alimentar.
E quando isso terá fim?
Não sei dizer.
Só sei que se não acontecer logo, todos nós Sublimes...
Já estamos a beira da extinção.
Mesmo com isso em mente, saio de casa para realizar o trabalho na terra.
Os machos e fêmeas de peles de cores opacas e frias e olhos tristes aparecem no local de plantio, silenciosos e cansados como sempre. Nunca foi diferente. Não que eu me lembre.
É uma manhã extremamente exaustiva, com muitos de nós sucumbindo a fraqueza de seus corpos.
A terra nem sempre responde ao plantio. É um inferno trabalhar tanto e muitas vezes não ter nenhum resultado, mas não temos outra opção. Então insistimos.
Até que um clarão no céu faz com que todos se joguem no chão.
Não parece um ataque, mas procuro por meus companheiros de trabalho e me arrasto até onde estão amontoados para tentar protegê-los usando meu corpo como escudo.
Mas realmente não é um ataque. Alguém está cantando.
Alguém está entoando o canto profético. Depois de tanto tempo.
Essa canção costumava ser cantada para mim. Por que quando cheguei aqui a aldeia confundiu meus olhos brancos com os da profecia.
Mas agora não são os sublimes que cantam.
O canto vem da floresta. E ao olhar ao redor, posso ver as os contornos das árvores que logo vão surgindo em nossa visão.
Em meio ao canto, posso ouvir o choro do meu povo, que jamais pode ver qualquer árvore na vida. Alguns estão ajoelhados, outros desfalecem no chão, mas todos contemplam a vida retornar para a aldeia.
A pele, nossa pele, ganha o suave brilho que a deusa nos deu. A cor viva e profunda aparece. Posso ver os que desfaleciam recuperarem suas forças.
A terra que cultivamos por tanto tempo e que quase nunca dava qualquer resposta, começa a ficar verde e vai se transformando e crescendo, nos fazendo cair de assombro, até que se torna uma linda plantação pronta para ser colhida.
Posso sentir o poder circular em meu corpo. Posso finalmente sentir o que é ser um Sublime em sua totalidade.
Quem fez isso?
Quem rasgou o Véu Negro?
- Alguém que vai precisar da sua ajuda. - ouço uma voz velha dizer.
Há uma idosa ao meu lado. Eu a conheço d outro lugar. Quase que de outra vida.
- Chirevo.
O Oráculo, Chirevo. deu-me vida. E também a salvou.
- Dihdre! - ela cantarola meu nome. - Sei que faz tempo, mas não pude vir antes. Meus poderes eram limitados.
Concordo com um gesto. Todos nós passamos por isso.
- O que aconteceu? Quem fez isso?
- É alguém que está no mundo humano e não faz ideia do que somos. A pobrezinha não faz ideia do que é e da importância que tem. Por isso vai precisar de sua ajuda. Nigde soube que o Véu Negro foi rompido. Ela pode ver e sentir. Vai mandar Ragok atrás da menina na vila chamada de Xiador.
Xiador. O lugar ao norte da Floresta em que Mistha vive com um humano. Será que...
- Mistha pode ajudar?
Ela faz uma negativa.
- Mistha foi morta por uma humana em um momento de fraqueza, mas a filha dela ainda vive.
Claro. A filha de Misha rasgou o véu. Nós nem sabíamos sobre essa filha. Não temos notícias dela há muito tempo.
- Esteja pronto Dihdre. Vai sentir a presença de Ragok. Não hesite.
Meu irmão Ragok. O que será que Nigde fez de você?
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