Arva - Capítulo Especial
Arva - Líder dos Magos
O baile dessa noite é tão tedioso como qualquer outro. Há centenas de anos não temos diversão de verdade por aqui. Ainda somos obrigados a cultuar esse monstro sobre o trono como se ela fosse digna de adoração.
Maldita.
Observo os cochichos e sorrisos forçados. Não é fingimento, porque Nigde perceberia e nos torturaria, então temos que tentar. Temos que convencê-la de que nossa devoção é genuina.
Não temos direito nem mesmo a morte. Somos torturados e enviados ao exílio, para vivermos na agonia de nossas feridas até o fim deste mundo.
Já não posso dizer que guardo a memória dos anos que passo aqui. Faço questão de esquecer o dia anterior ainda nas primeiras horas do seguinte.
Um silêncio recai sobre os magos. Todos eles param de se mover. Sinto uma presença poderosa invadir o lugar, mas sou de baixa estatura e só consigo ver a dona da atenção do meu povo quando ela sobe os degraus até o trono, conduzida pela mão por Nigde.
Ela apresenta a coitada da humana como Aliatra, filha de Mistha e nesse momento sei que vamos todos morrer. Por que ela não é uma mera humana. É mestiça, mas também é a sublime com o maior poder que já pude sentir. Tão pura quanto eu que sou filha de mago com uma sublime de Anśa natural.
Se a garota tiver o mínimo de noção dos poderes que carrega, vai nos matar a todos e nos dar o alívio da liberdade. Inclusive a Nigde. Afinal, ela merece ser livre do que a aflinge.
Mas por incrível que pareça, a garota senta no braço do trono e mesmo visivelmente desconfortável, permanece ao lado de Nigde.
Olho para Ragok. É claro que ele não vai me olhar. Estamos na presença dela, é arriscado.
Espero que Ragok ajude essa menina. Do contrário, teremos outro monstro muito pior que Nigde.
A rainha ordena que dancem e todo o baile se comove para dar lugar a Aliatra e Ragok. Dançamos envolta deles, observando cada passo da mestiça. Percebo que eles cochicham e que a garota não está feliz. Ele deve tê-la orientado. Também espero que quem quer que esteja servindo a ela, seja fiel a nós e não a Nigde.
Ouço vidro quebrando. Sou a primeira a ajoelhar. Nigde gosta de punir servos atrapalhados. Vamos perder mais um para o exílio.
Mesmo com toda a comoção, com a promessa de morte proferida por Nigde, não tiro meus olhos da garota. Há uma promessa de morte nos olhos dela também. E só depois de olhar para os servos que Nigde está castigando, entendo o motivo.
Ziul.
Ziul foi designado a Aliatra. Ragok deu mesmo um jeito de colocar alguém confiável para cuidar da mestiça. Com toda certeza Ziul conquistou a afeição da menina. Por esse motivo a promesa de morte exala pelo salão.
Ziul não é um servo ruim, é a melhor das companhias e sei que ele está defendendo o companheiro. Fidels está ao lado dele, mas não é tão forte quanto Ziul, seu choro ainda pode ser ouvido.
A cena se desenrola de uma forma extraordinária. Ziul ergue o braço e arranca o cristal que tanto preciso da coroa de Nigde.
É a nossa chance. Sinto os olhos dos magos fiéis sobre mim, mas não vou agir, ainda não. Preciso do cristal da maluca na minha mão para conseguir levar todos a salvo.
Quem diria que o mago com o aspecto infantil teria tanta coragem para enfrentar Nigde?
Só começo a me mover quando percebo Aliatra avançando. Ela corre e joga seu corpo sobre o de Nigde, que rola para longe e bate o rosto na escadaria.
Ziul joga o Cristal para Ragok.
Só então posso correr. Todos nós podemos correr. Fugir.
Em meus olhos, vejo além do deserto. Vejo a Floresta, Cenereth e Kairon.
Será que vão nos aceitar por lá?
Será que poderemos ser livres lá?
Ao chegar a borda do palácio, com meus irmãos sob feitiços de invisibilidade, respiro fundo e quebro o frágil cristal jogando-o no chão. Posso ver a chave de ouro reluzir.
Sei que foi presente da Mãe Áliatra para Nigde.
Peço perdão a ela ao chutar a chave em direção a barreira.
Um estalo quase inaudível é emitido. Sei que devo ser a primeira a passar. A testar. Mas não tenho medo, não mais.
Somos livres, agora. Por causa de Ziul, Ragok e Aliatra.
Que a Mãe esteja com eles.
Por que nós seremos livres e jamais olharemos para trás.
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