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Capítulo 16

Como esperado, Elisa não aceitou bem a imposição de regras. Nos dois primeiros dias, não trocaram uma palavra sequer. A madrasta mal olhava nos olhos da filha postiça, mas, nos instantes raros em que isto acontecia, Diana tinha a impressão de ver um antecipado triunfo brilhando em seu olhar. Como se tivesse aderido ao distanciamento pensando que, na certa, sensibilizaria seu alvo, em geral tão dependente emocionalmente dela, o que não ocorreu.

Ao menos, não como Elisa teria gostado.

O sentimento de perder mais uma pessoa afetava Diana, mas não o suficiente para fazê-la recuar. Diante de tudo o que lhe acontecia, reavaliara que a experiência com os três ex-noivos, apesar das mágoas advindas, havia lhe ensinado que, às vezes, era melhor ficar só do que em má companhia. Algo bonito na teoria, porém complicado na prática. Isto porque o grande "x" da questão era que não podia simplesmente livrar-se da madrasta para não vê-la nunca mais. Diana estava amarrada à Elisa, assim como Elisa estava amarrada à Diana, por serem obrigadas a morar sob o mesmo teto, já que nem uma nem outra tinham para onde ir.

No caso, Elisa até tinha. Poderia morar um tempo com a filha, se quisesse. Diana chegou a fazer a sugestão, quando protagonizaram uma briga ridícula sobre um item, solicitado pela madrasta, o qual ela esqueceu de comprar no supermercado. Elisa fez o maior escândalo e, ao ouvir o suplício de Diana sobre ela passar uns dias na casa de Rafaela, por ser bom ficarem um tempo longe uma da outra, retorquiu com um sorriso perverso:

— Tenho tanto direito de morar nesta casa quanto você. Quis me enfrentar, não quis? Agora enfrente as consequências.

As "consequências" surgiam pelo menor deslize, pelo mais insignificante e pequeno dos detalhes. Elisa usava qualquer coisinha para discutir com Diana, rebaixá-la e fazer de sua vida um inferno.

Quando as palavras ferinas ameaçavam atormentá-la e fazê-la acreditar nas insinuações da madrasta de que era imprestável e patética, Diana se concentrava nos momentos ternos que teve com Fernando e como ele a fez sentir-se, com seus carinhos e elogios, a mulher mais bela e querida do mundo. Infelizmente, para quem passou quase metade da vida tendo a autoestima atacada, às vezes, as doces memórias não bastavam.

Não havia passado da primeira semana, desde que Diana se rebelara, quando Miguel encontrou-a em lágrimas no escritório da oficina.

— O que aconteceu, criança? Por que está chorando?

Levantando-se, caminhou até ele para abraçá-lo. Precisava de calor humano. Precisava sentir que não estava sozinha.

— Briguei com minha madrasta. Ultimamente isto é tudo o que temos feito... Oh, Miguel, aquela casa está ficando insuportável!

Ela não quis entrar em maiores detalhes para não ter que reviver, em sua mente, os episódios lamentáveis. Mesmo sem entender a complexidade do problema, Miguel convidou-a para dormir o fim de semana na casa dele. Foi com enorme gratidão que Diana aceitou, pensando que aqueles dois dias, longe de Elisa, era o que precisava para colocar a cabeça no lugar.

Quando tinha acabado de dizer boa noite a Miguel e sua esposa, o celular dela começou a vibrar. Diana o atendeu ao mesmo tempo que deitava a cabeça no travesseiro sobre o sofá da sala e puxava o lençol para cobri-la.

— Como vai, Diana?

Era a voz grave de Fernando aquecendo seu coração.

— É você...

— Surpresa?

— Um pouco.

— Eu estava esperando você me ligar, mas como não ligou, tive que engolir o orgulho e ligar primeiro.

Ela sorriu.

— Como conseguiu meu número particular?

— Ligando para a oficina. Fabrício atendeu e o deu para mim.

— Aquele traidor.

Houve uma pausa, que foi recebida por Diana com um sorriso travesso.

— Quer dizer que não queria que eu ligasse para você?

— Existe uma razão para eu não ter lhe passado meu contato particular. Sabe como são esses homens... acreditam piamente que uma noite de sexo os levará ao altar. Enquanto não conseguem o que querem, ficam nos incomodando com chamadas ou mensagens melosas — ela brincou, provocando nele uma risada que a fez rir de volta.

— Esse som é muito bom. Estava sentindo falta da sua risada, Diana. Como tem passado?

— Bem, na medida do possível.

— Na medida do possível? Aconteceu alguma coisa? — O tom ficou exaltado de repente.

— Estou bem. Só tive alguns desentendimentos com minha madrasta, mas não foi nada de mais. — Ela olhou ao redor e se perguntou se de repente não estava dando importância ao acontecido como deveria, afinal, era na sala de estar de Miguel que passaria aquela noite. Tinha esperanças de que na segunda-feira as coisas acalmassem.

No entanto, ainda que voltasse a falar com a madrasta, havia um impasse dificultoso de solucionar. Com Elisa por perto, sempre teria alguém para sabotar sua vida romântica. Desta forma, como poderia esperar que fosse feliz? O homem que quisesse ficar com ela teria de ser muito bem-resolvido e decidido, alguém que não se abalasse tão fácil assim. Um homem de opiniões fortes e firme em suas convicções, para não se deixar levar pelas armadilhas que Elisa prepararia para separá-los.

Alguém como... alguém como Fernando.

— Diana? — a voz sensual chamou-a.

— Sim?

— Você disse que teve desentendimentos — ele repetiu, como se a encorajasse a falar mais sobre.

Diana, em vez disso, mudou de assunto:

— Fale-me de você. O que tem feito?

Uma pausa marcou aquele instante da chamada. Retraindo-se no sofá, torceu para ele não insistir em querer saber o que escondia.

— Trabalhado incansavelmente — ele respondeu, por fim. — Tinha até esquecido como era essa vida. A parte boa é que sou meu próprio chefe. A parte ruim é que sou meu próprio chefe.

Como Fernando esperava, ela riu.

— Sei bem como é.

— Sabe, não? Meus sócios ficaram embevecidos quando contei a eles que conheci uma mulher de 23 anos que era mecânica e comandava uma oficina.

A menção de que falara sobre ela para conhecidos deixou-a com um sentimento bom no peito, pois mostrava que Fernando não a tinha esquecido.

— Meu pai ia me ensinando uma coisa aqui e ali desde que eu era pequena. Depois da morte dele, Miguel me aceitou como sua aprendiza e não parei mais.

A conversa rendeu e, quando deram-se conta, já passava da meia-noite. Fernando despediu-se com relutância.

— Preciso ir. Amanhã tenho trabalho, mas antes farei uma visita à minha mãe. Ela me convidou para tomar o café da manhã com ela e seu marido.

— Tenha uma boa noite, Fernando. Obrigada por ligar. Foi... foi bom ouvir sua voz — disse baixinho, no silêncio da sala.

— Eu ia dizer o mesmo da sua, moça.

Colocando os dedos nos lábios para abafar o riso, Diana perguntou:

— Você nunca vai parar de me chamar assim?

— Eu gosto. Não vou parar, a não ser que outra forma de tratamento acabe se tornando mais adequada do que esta.

— Qual, por exemplo?

— Eu não sei. Foi uma hipótese apenas. Nos falamos depois, sim? Durma bem, Diana.

A quilômetros de distância de Pôr do Sol, Fernando desligava o telefone após a longa conversa. Na verdade, ele sabia quais outras formas de tratamento adoraria que se tornassem adequadas para Diana: "meu anjo", "meu amor", "linda"... Espantava-o que já tivesse pensado num coletivo inteiro de apelidos carinhosos para a moça.

Embora, naquele segundo, sua vontade fosse dar umas palmadas em Diana por estar escondendo o que acontecia entre ela e a madrasta.

Desde o começo, houvera dito a si mesmo que o que quer que acontecesse entre ele e a mecânica não passaria de um romance breve, bom e mutuamente prazeroso. Fora bom e prazeroso — e até aí, tudo bem —, mas estava tendo problemas com a parte do "breve".

Não foi à toa que Margarete, mãe de Fernando, percebeu a tensão do filho quando se reuniram para o café na manhã seguinte. Ela e Valter, seu marido, trocavam olhares especulativos enquanto comiam. Imerso nos pensamentos, o semblante de Fernando ficava mais compenetrado conforme o tempo passava.

A concentração dele foi quebrada pela pergunta certeira da mãe:

— Foi uma mulher que te deixou assim?

Surpreso, porém não tanto, ele olhou em sua volta e retrucou:

— Para onde foi Valter?

— Deixou-nos a sós para conversarmos — ela respondeu, mexendo no cabelo crespo escuro e enrolando uma mecha no dedo enquanto encarava o filho. — E então? Não vai me responder?

— Sim, foi uma mulher.

— Eu sabia! — exclamou com um sorriso, levantando, e foi com Fernando até a sala de estar, onde sentaram-se no sofá.

— O que me denunciou?

— Você sempre fica todo sério e mal-encarado quando está pensando numa mulher de que gosta muito, o que me faz rir até hoje. As pessoas costumam ficar bobas e todas suspiros, mas você se comporta como se estivesse se preparando para fazer o maior investimento da sua vida! — Margarete ria.

— Pego em flagrante — admitiu Fernando, com ar maroto.

— Conte-me quem é a afortunada. Eu a conheço?

— Não. Diana não mora aqui. Ela vive em Pôr do Sol.

— Foi onde você disse que seu carro quebrou... — lembrou Margarete, já a par dos problemas do filho com o veículo desde quando fizera-lhe uma chamada, só para descobrir que ele não estava na capital.

— Lá mesmo.

— Bem, e qual é o problema? O que é isso que está te fazendo pensar tanto nessa tal de Diana?

— Ela não mora aqui. Esse é o problema. Relacionamentos a distância não funcionam comigo e eu também não posso me mudar para lá. Minha vida é aqui.

— Então cogitou ter um relacionamento com ela — observou a mãe, notando que o filho se encantara realmente pela mulher. — A coisa está mais séria do que eu pensava.

— Cogitei muitas coisas — Fernando confessou, sem se abalar.

— Por que não a chama para morar com você?

— Cogitei isso também, nas últimas duas horas. Mas... — ele hesitou, observando a aliança no dedo de Margarete. — Ela é jovem demais, mãe. Diana tem sonhos e muito o que viver ainda.

— Quão jovem?

— 23 anos.

A mãe não ficou surpresa como ele esperava, mas assumiu uma postura cautelosa quando supôs:

— Você tem medo de reprimi-la por causa da diferença de idade.

— Isso e porque Diana teria de largar tudo para ficar comigo, o que não seria justo pedir. Se nada der certo entre nós, como ela ficaria? Depois de ter abandonado, por mim, o trabalho em Pôr do Sol, que perspectiva de vida ela teria se descobríssemos que somos terríveis como casal? Ela não poderia simplesmente voltar para a cidade natal e continuar de onde parou, entende?

Margarete ficou pensativa e, ao mesmo tempo, satisfeita que o filho se preocupasse com a vida profissional da moça. Satisfeita que, apesar de Fernando querer ter uma vida amorosa com Diana, ele não compactuava com a ideia de fazê-la sacrificar a carreira.

— No que Diana trabalha?

— Ela é mecânica.

Vislumbrando a solução, que em todo aquele tempo esteve diante do nariz, Margarete sorriu.

— Meu filho, ela não precisa abrir mão da carreira para ficar com você. Se Diana for uma moça que se interessa pelo próprio crescimento profissional, ela poderia se aprimorar estudando na capital e tentar inserir-se no mercado de trabalho daqui. Sim, ela teria de recomeçar a vida, mas esta poderia ser a chance de ela ter um futuro melhor do que o que a cidade dela pode oferecer. E contanto que você esteja do lado dela, apoiando-a, incentivando-a, eu não vejo como isto não pode dar certo.

Foi a vez de Fernando ficar pensativo, a expressão tornando-se compenetrada daquele jeito quando a mente ficava preenchida pela mecânica.

Quando Fernando e Maia se casaram, a ex-esposa decidiu por conta própria que pararia de trabalhar. Em um mundo onde ainda era natural transferir a responsabilidade ao homem de prover a casa, ele não viu problema na decisão dela, pois, afinal, os dois continuariam tendo uma boa vida e ele só queria que ela fosse feliz.

No entanto, isto fez com que Maia ficasse sob tutela de Fernando, sendo amparada, protegida e auxiliada integralmente por ele, de modo a acostumá-lo com tal arranjo que, social e culturalmente falando, já era esperado dele. Com os comentários da mãe, Fernando agora percebia ter analisado o caso de um ponto de vista preso a ideias arraigadas, as quais não se aplicavam à Diana. E este fora seu erro.

Ainda sorrindo, Margarete pôs a mão no ombro do filho.

— E o mais importante: é ela que tem que saber se quer tentar ou não. Eu sei que se preocupa com a segurança dela, mas não pode tomar decisões por Diana. Fazer isso seria justamente reprimir a oportunidade dela de escolher. Coloque as cartas na mesa. Faça a proposta. Pergunte se é isso o que ela quer e se, assim como você, está disposta a correr todos os riscos. Apenas seja honesto... Coisa piegas de se dizer, eu sei, mas costuma funcionar!

Fernando colocou a mão sobre a da mãe em seu ombro, num gesto carinhoso de agradecimento. A nova perspectiva de olhar a questão clarificou sua mente, deixando-o mais tranquilo.

— Não acredito que ainda estou recebendo conselhos seus — ele disse, fitando-a meio desacreditado, meio divertido.

Margarete deu-lhe uma piscadela.

— Não importa a idade dos filhos, conselho de mãe nunca é demais.

*******

Em Pôr do Sol, naquele mesmo sábado, Diana saía da oficina, no fim da tarde, em direção à pick-up estacionada rente à calçada. No momento em que abriu a porta, ela foi batida na sua cara com brusquidão.

Diana levantou o olhar para o homem à sua frente.

— Agora vai começar a me impedir de entrar no carro?

Luiz, que exibia o típico sorriso malandro, contornou-lhe a mandíbula com os dedos.

— Eu? Quem sou eu para impedi-la de fazer alguma coisa, Diana?

— Ninguém. E é bom que saiba disso — ela respondeu, afastando a mão de seu rosto. — Não pense, nem por um segundo, que porque é o médico de Elisa terá passe livre para entrar em minha casa.

Diana examinou, com ceticismo, a confusão nas feições do médico.

— Oh, poupe-me de suas encenações. Fabrício me contou que viu você e minha madrasta se falando na mercearia semana passada. O que tem a dizer sobre isto?

— Que não rejeito pacientes — ele replicou depressa e chegou perto para intimidá-la com seu corpo. — Você, por outro lado, adora me rejeitar, não é? Que pena que não percebe o erro que está cometendo. Eu poderia dar o que quisesse. Roupas, joias, viagens... estudo. — A atenção dela foi atraída pelo último item, o que fez Luiz abrir um sorriso triunfante. — Você precisa de um benfeitor, Diana, ou não progredirá na vida. Você precisa de mim. Quando perceberá isso?

— Quem sabe quando o inferno congelar? — foi a resposta inesperada.

Ao olhar para trás, Diana arregalou os olhos ao deparar com nada mais nada menos que Fernando Guerra em carne e osso. Lá estava ele, com o rosto endurecido e olhos negros faiscantes enquanto encarava Luiz, que em nada pareceu abalado.

Diana, ao contrário, sentia as batidas do coração ficarem descompassadas.

— Fernando, não é? Enfim nos conhecemos pessoalmente.

— Afaste-se dela.

— Por que eu deveria obedecê-lo?

— Porque ela não está disponível. — Aproximando-se, Fernando segurou a mão delicada na sua. — Nós dois não estamos disponíveis. E se quer saber, vamos morar juntos na capital — ele disse num ímpeto.

Fernando deliciou-se com a perplexidade do médico, que olhou para Diana como quem buscava por confirmação.

— Você acabou com a surpresa, querido — disse Diana com fingida voz queixosa, participando do que supôs ser um estratagema do investidor para salvá-la da incômoda presença de Luiz.

— Lamento, meu amor. A ansiedade estava me matando. Não conseguiria segurar a novidade por mais tempo.

A maneira carinhosa com que se tratavam serviu para endossar a atuação mais ainda. Luiz, que se recusava a acreditar, falou:

— Morar juntos? Vão se mudar de Pôr do Sol?

— Diana é quem se mudará. Ela aceitou morar comigo.

— Desde quando? — o médico interrogou-a, desconfiado.

— Desde... ontem — respondeu ela, trocando olhares com Fernando. — Estávamos nos falando por telefone e do nada ele me fez a proposta — explicou com o clássico sorriso bobo apaixonado, que não precisou fingir, por estar de fato apaixonada por Fernando Guerra.

— Foi depois de eu perceber que não poderia viver sem você. — Fernando tocou delicadamente o queixo dela, antes de dirigir-se a Luiz. — Diana me fez o homem mais feliz do mundo quando disse sim. Finalmente poderemos viver como um casal.

Fernando dava tanta veracidade ao que falava que Diana sentiu uma tremedeira nas pernas ao pegar-se imaginando os dois juntos, vivendo uma vida ao lado do homem que roubara seu coração.

— Estamos apaixonados e nada nem ninguém poderá nos impedir de ficarmos juntos. Muito menos você. Vá embora — Fernando disse, dando o golpe final.

A tática de choque surtiu o efeito desejado em Luiz que, assombrado pela notícia, retirou-se do local sem dar-se ao trabalho de dizer-lhes adeus. Diana segurou o riso, esperando até o médico estar longe o suficiente para declarar, exultante:

— Isso foi assustadoramente fácil! Se antes eu soubesse que era só ter inventado umas mentiras para afastá-lo...

— Não são mentiras — replicou Fernando, o olhar sério. — Eu quero mesmo que você more comigo. Que sejamos um casal.

Diana ficou espantada, emocionada, confusa...

— F-Fernando? — balbuciou em apelo. Não suportaria se tudo não passasse de uma brincadeira.

— Não estou prometendo casamento, mas quero realmente tentar e ver no que dá. — Ele colheu o rosto dela entre as mãos. — Você quer tentar, Diana?

Erguendo uma das mãos, tocou o rosto de Fernando, sentindo-lhe a barba que começava a crescer. Tentar uma vida com ele? Poder amá-lo? Sem casamento? Subir ao altar era um de seus maiores desejos, mas houvera sido afobada com seus ex-noivos ao querer casar-se apenas para não ficar só. Seus medos e inseguranças haviam criado uma mulher que faria qualquer coisa para ter um companheiro a seu lado, até abrir mão de seu amor-próprio. Estes mesmos medos e inseguranças, agora contidos, embora não completamente superados, faziam-na ver a importância de dar um passo de cada vez.

— Eu quero, Fernando — ela sussurrou-lhe a resposta. — Quero muito tentar. Estou tão apaixonada por você...

Uma boca esmagou a dela num beijo com gosto de paixão e saudade.

— E eu, por você, moça. Esses últimos dias sem você têm sido um inferno. Depois que voltei para a capital, meu apartamento me pareceu tão vazio, como se faltasse algo ou alguém... como se faltasse você. — Ele beijou-a outra vez. — Eu a apoiarei em tudo, em absolutamente tudo que precisar de mim. Sei o quanto seu trabalho a faz feliz, por isso eu a apoiarei para que possa continuar a fazer o que gosta de fazer. Quero que nós dois cresçamos juntos, meu amor. Quero vê-la feliz, porque sua felicidade também me faz feliz.

— Meu Deus, Fernando — ela murmurou, com lágrimas nos olhos, sem deixar de sorrir docemente. — Está querendo me matar? É muito para absorver de uma vez só...

— O que precisa absorver é que deve fazer as malas desde já! — Após roubar-lhe mais alguns beijos, abriu a porta do carro para Diana. — Vá para casa. Comece a empacotar seus pertences.

Prestes a subir na cadeira do motorista, ela indagou:

— Mas não partiremos hoje, certo? Ainda há assuntos que tenho que resolver, como o que farei com meu carro, por exemplo. E a oficina.

Fernando deu um suspiro impaciente de quem tinha acabado de ter os planos frustrados.

— Pelo visto, o hotel de Brígida me espera. Certo, alugarei um quarto... desde que você durma comigo.

— Pode ser — ela respondeu, já ansiosa para sentir o corpo quente e másculo próximo ao dela.

— Antes colocarei gasolina no meu carro. O tanque está na reserva. Saí antes do fim do expediente da manhã para vir correndo para cá, pois não aguentaria passar mais um dia sem ao menos ter tentado. Sem ao menos ter dito a você o que faltou dizer naquela despedida.

Diana assentiu e, enfim, subiu ao volante. Fernando fechou a porta para ela, que baixou o vidro antes de afivelar o cinto, em seguida contemplando-o, iluminada de felicidade.

— Se isto for um sonho, não quero acordar.

Seu amado sorriu-lhe.

— Talvez antes fosse sonho, mas agora é a realidade. Daqui a pouco encontro você em sua casa para ajudá-la a encaixotar suas coisas — Pisando no degrau da porta, Fernando elevou o corpo para darem um último beijo.

— Espere! — Diana pediu quando ele tinha acabado de descer. — Antes darei um pulinho na casa de Miguel para pegar alguns pertences. Passei a noite de sexta lá. Então, se eu demorar, já sabe.

— Por que dormiu lá?

Ela mordeu o lábio.

— Você disse que os últimos dias foram infernais... bem, os meus também. Os desentendimentos com minha madrasta estavam acabando comigo.

Fernando arqueou a sobrancelha preta, mas, em vez de mostrar o quanto ficou bravo por ela não ter lhe contado antes, ergueu os braços num sinal de paz.

— Não vou discutir nosso relacionamento agora. Não é a hora nem o momento para isso. Já que vai na casa de Miguel, aproveitarei para pegar um lanche. Pulei o almoço e estou faminto!

Tão logo encontrou Miguel e Marta assistindo televisão na sala, Diana contou-lhes a novidade com um entusiasmo também compartilhado pelo casal.

— Fernando disse que vai me apoiar em tudo — ela relatava, os olhos cintilando de emoção. — Disse que quer que nós dois cresçamos juntos enquanto um casal...

— Que bom que ele pensa assim, minha filha — aprovou Marta.

— Sim, seria horrível se eu acabasse me transformando em um enfeite de parede. Sou apaixonada por mecânica e não me vejo fazendo outra coisa. Mais ainda: não me vejo parada, sem ter o que fazer.

— Você gosta mesmo dele, não é? — Miguel divertia-se com a alegria quase pueril dela. Era tão raro vê-la assim.

— Demais. Por tudo o que ele é, por tudo o que tem feito por mim...

— Se é o que realmente deseja, criança, vá em frente. Não tenha medo de dar a cara a tapa. Use esta oportunidade para se tornar alguém melhor do que já é — alegou Miguel com sabedoria. — E se precisar de mim, de nós, eu e Marta estaremos aqui. Estaremos torcendo por você, Diana.

Comovida, ela agradeceu pelo apoio e aproveitou para fazer o convite a Miguel para substituí-la, por tempo indeterminado, na chefia da oficina. O velho senhor, após o espanto, aceitou de bom grado. Diana pensava que nada poderia interromper-lhe o bom humor, isto é, até entrar em casa e ser atacada verbalmente pela madrasta.

— Você vai se mudar? Morar com Fernando? Sua... sua vadiazinha desgraçada! Como pode pensar em me abandonar? Você não tem escrúpulos? Passei anos da minha vida te vestindo, alimentando, educando... e é assim que me agradece?

Diana forçou as palavras ruins a entrarem por um ouvido e saírem pelo outro. Enquanto rumava para o quarto, as mãos ocupadas com as caixas de papelão que havia pegado em supermercados, perguntou, desconfiada:

— Quem lhe contou que vou morar com Fernando?

Podia escutar os passos raivosos de Elisa atrás de si.

— Eu saberia de um jeito ou de outro! — explodiu a outra. — Agora quer se explicar?

Diana colocou as caixas no chão e tirou uma da pilha, começando a guardar livros seus dentro.

— Vou embora e não sei quando volto. Ou se volto — ela disse, surpresa com a calma em sua voz.

Como se num ato cruel de sabotagem, Elisa, enfurecida, foi até as caixas de papelão no chão e começou a rasgá-las uma por uma. Depois, não satisfeita, agarrou a que tinha os livros de Diana para jogá-la violentamente contra a parede do quarto.

O mecanismo de defesa de Diana foi ficar parada, como sempre houvera feito, e esperar a ira da madrasta passar. Entretanto, o silêncio foi se tornando sufocante e a angústia em seu peito foi crescendo à medida que ficava inconformada com o que considerava uma agressão ao seu ser, ainda que direcionada aos seus bens materiais.

Com voz embargada, Diana falou:

— Em todos esses anos tenho feito tudo o que me pedia, Elisa... Tudo. Mas não importava o empenho que eu colocava, você sempre me negava o que mais desejei.

— Ser sua mãe? — indagou Elisa, irônica, sem demonstrar remorso.

— Seu amor. Amor materno. Será que houve algum dia, algum momento, por mais efêmero que tenha sido, em que me amou como amaria a uma filha?

— Você nunca foi e nunca será minha filha — Elisa sibilou, palavra por palavra.

Diana ficou devastada. Mais ainda quando viu o prazer estampado no rosto da madrasta por vê-la em sofrimento.

— O que sou para você, afinal? — insistiu, a voz fraca.

— Uma pedra em meu sapato.

Diana acenou com a cabeça, o choro entalado na garganta.

— Já que é assim, minha partida deveria ser motivo de alegria para você. Só não o é porque... Do que foi mesmo que me chamou aquele dia? Ah, sua empregada. Você perderá sua empregada e toda a mordomia, por isso está louca da vida.

Elisa encarou-a em choque.

— Andou escutando minhas conversas?

— Eu bem que tentava dormir, mas você e Rafaela não paravam de falar alto. Mas foi bom, sabe? Foi bom descobrir as cobras que são vocês duas e que não há mais nada, absolutamente mais nada, que me faça querer me sujeitar às suas vontades. Cansei, Elisa. Cansei.

Percebendo a falência do poder de persuasão e do jogo de abuso emocional, a madrasta apontou, com hostilidade, um dedo para Diana.

— Também cansei. Você fez sua escolha, garota. Depois não diga que não avisei. — E saiu batendo a porta atrás de si. Em seguida, fez a mesma coisa com a da sala.

O silêncio da casa trouxe à Diana incrível desalento. Podia ouvir seus pensamentos tortuosos naquele silêncio. A batalha interna que enfrentava para afastar a culpa. Não iria sentir-se culpada por estar buscando a própria felicidade. Não estava fazendo nada de errado... nada, falava a si mesma, enquanto guardava roupas em sacos de lixo.

Um novo estrondo na porta da frente fê-la pensar que Elisa havia voltado para dentro. Entretanto, quando a porta do quarto de Diana foi aberta e ela se virou, não foram os olhos da madrasta que encontrou.

Eram os olhos de Luiz Cavalcanti.

Diana congelou ao lado da cama.

— Como entrou na minha casa?

— A portão estava aberto, princesa.

— Não, não estava.

— Tem certeza?

Ela recordou a saída brusca de Elisa e de como, em seu descuido, pôde ter deixado o portão destrancado. Então, ao observar a expressão masculina repleta de más intenções, Diana sentiu puro medo.

— Não se aproxime! — bradou, entrando em desespero.

Sua ordem, no entanto, teve efeito contrário: Luiz começou a andar na direção dela, com passos de predador.

— Eu disse, não disse, Diana? Falei que este momento ia chegar, que o sonho eventualmente se tornaria realidade.

Não havia nada bom na voz e no olhar dele. Ela não teve dúvidas do que deveria fazer. Atirando o saco com as roupas em Luiz, correu para a porta, mas, quando estava prestes a atravessar a soleira, seu braço foi agarrado com tanta força que ela deu um grito de dor.

Insensível ao apelo, Luiz puxou-a para si e, apertando-lhe o pescoço, enfiou a língua na boca de Diana no que foi um beijo dos beijos mais nojentos e repugnantes que ela já recebeu.

— Não! — berrou ela contra a boca, debatendo-se loucamente.

Num impulso de sobrevivência, mordeu o lábio dele. Luiz a esbofeteou no instante seguinte. O tapa foi tão violento que ela caiu ao chão.

— Veja o que me fez fazer, sua idiota! — Luiz disse, aborrecido.

Sentindo a ardência descontrolada na pele, Diana pressionou o lado do rosto atingido.

— Não precisa ser assim — ele continuava a falar, a voz ficando próxima. — Se for boazinha comigo, esquecerei tudo que me devem.

Encarou-o, zangada.

— Eu não lhe devo nada!

— Tem razão. Você não deve, mas a sua madrasta, sim.

A resposta deixou-a atônita.

— O que... o que quer dizer com isso?

— Quero dizer que Elisa andou se endividando comigo. — Luiz abaixou o corpo, ficando perigosamente próximo ao dela. — E que, sabendo da minha obsessão por você, ela me ofereceu a querida filha postiça como moeda de troca.

— Não pode ser verdade — contradisse Diana, com dificuldade em acreditar que uma pessoa poderia carregar tamanha maldade.

— Nunca notou as roupas extravagantes? As joias caras?

— Eram falsas...

— Falsas? — Luiz riu, maldoso. — Não mesmo. Aquelas joias custaram-me uma pequena fortuna. Sem mencionar as contas atrasadas que estive pagando em seu nome nos últimos três meses.

— Mas eu dava dinheiro a ela para pagar — Diana murmurou, atordoada.

— E Elisa gastava tudo em futilidades. Se não fosse eu, já teriam cortado a energia e a água da sua casa. — Agarrou Diana pelo pulso e, sem gentileza alguma, fê-la levantar-se. Então, passando a mão pelo rosto dela, disse: — Vê? Sou necessário em sua vida assim como necessita de ar para respirar.

Enfim compreendendo como chegara àquela situação, Diana perguntou:

— Elisa deixou o portão aberto de propósito, não foi?

Em resposta, foi abraçada e uma boca mordiscou seu pescoço. Náuseas golpearam-na.

— O acordo precisava ser cumprido antes que você fosse embora, ou Elisa sabia que eu não facilitaria a vida dela na cidade. São apenas negócios e agora vim cobrar a dívida. Não fique chateada, princesa. Sei que vai adorar. Vocês sempre adoram.

Quando Diana tentou escapar outra vez, braços prenderam-na em um aperto doloroso. Resistir fez com que fosse agredida novamente, até submeter-se, vulnerável, às mãos asquerosas tocando seus seios debaixo da blusa. Perguntava-se se aquele seria seu triste destino enquanto, num pranto silencioso, sentia o corpo de Luiz esmagar o dela contra o colchão.

Diana fechou os olhos.

Nunca aceitaria. Jamais aceitaria que aquilo acontecesse.

Não se sujeitaria, pois preferia morrer a ter sua integridade violada mais uma vez, por mais uma pessoa que só a via como um objeto, como um meio para conseguir o que se quer. Para Elisa: o dinheiro. Para Luiz: o prazer perverso.

Não. Não ficaria em silêncio.

Reunindo suas últimas forças, começou a gritar o mais alto que podia.

*******

Fernando tinha acabado de estacionar em frente à casa de Diana e descer do veículo quando, com estranhamento, verificou que o portão da frente estava escancarado. O som dos inconfundíveis gritos de seu amor pedindo por socorro, vindos do interior da casa, ativou seu senso de perigo, fazendo-o correr e invadir a sala de estar.

De repente, o silêncio retornou. Isto até ele escutar gemidos abafados de terror que o levaram a sair em disparada para o quarto de Diana.

O que encontrou fez a fúria pulsar em seu sangue.

Luiz Cavalcanti estava em cima de Diana. Usava o peso do corpo para imobilizá-la na cama. Uma mão tapava sua boca enquanto a outra acariciava-a com intimidade agressiva.

— Saia de cima dela! — Fernando ordenou, com extraordinária ira, arrastando Luiz para fora da cama.

A seguir, aconteceu uma grande e feroz briga que só acabou quando um dos homens ficou inconsciente no piso do quarto. Com o rosto machucado e sangrando, Fernando abraçou forte Diana, que não parava de chorar e tremer no colchão.

— Está tudo bem — ele murmurava contra sua orelha e a embalava nos braços.

Diana passou os braços em volta dele, de seu pedaço de céu em meio ao inferno que tem vivido.

— Vai ficar tudo bem, meu amor... Eu prometo.

E ela não teve razão para não acreditar nas palavras de Fernando.

Ao longe, ouviam-se sirenes da polícia. Para Diana, era o som que tinha sua liberdade. O som que demarcava o fim de uma vida de sofrimentos e abusos... e o início de uma próspera, repleta de amor e promessas de felicidade.

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