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Capítulo 14

O ânimo que acompanhou Diana, nos dias seguintes, foi notado pela equipe de mecânicos. Na quinta-feira, sentada em uma banqueta no pátio da oficina, ela lia um anúncio que houvera imprimido de um site na internet. Enquanto analisava as descrições e preços, fazia anotações na própria folha.

- Você parece animada - disse Fabrício para Diana. - Ainda bem, porque tristeza não combina com você. Na terça-feira sua cara estava tão deprimida que pensei que você tivesse ido a um enterro.

Já acostumada com a ousadia do mecânico, Diana sorriu.

- Algumas coisas aconteceram e devo tê-las sentido como sentiria em um enterro - ela admitiu, pensando na despedida de terça -, mas não posso continuar de luto para sempre. - Embora a dor ainda se fizesse presente, completou na mente dela. - Não posso ficar estagnada. Preciso seguir em frente, Fabrício.

- Está falando de Fernando?

Ela não demonstrou espanto.

- Não me diga que já andaram espalhando que eu e ele decidimos nos afastar?

- Então é verdade... - o mecânico murmurou, pensativo.

- Eu não posso dar o que ele quer. Ele não pode dar o que eu quero. A solução é simples.

- Mas sigo apostando nos dois.

Ela chegou a rir. Fabrício não tinha jeito.

- Faça o que quiser, mas depois não venha chorando me procurar para pedir dinheiro emprestado porque perdeu tudo na aposta.

- Tenho completa confiança em você e Fernando. Sei que não vão me decepcionar.

- Você é um louco! - ela reagiu, rindo do que pensava tratar-se de uma piada. Em seguida, voltou a atenção para o folheto.

- O que está fazendo?

- Nesses últimos dois dias tenho pensando bastante no futuro, no que eu desejo para minha vida, e cheguei à conclusão de que quero ampliar meus conhecimentos. Talvez fazer um curso, especializar-me. Colocar o cérebro para aprender coisas novas. Aprimorar as habilidades, sabe? Eu quero crescer.

Fabrício coçou o queixo distraidamente.

- Você sempre foi uma garota estudiosa e dedicada, disposta a aprender... por isso sei que tem um futuro brilhante pela frente. Infelizmente, não sei se este futuro está aqui em Pôr do Sol.

- Você acabou de me elogiar?

- De tudo o que falei, você só prestou atenção nisso?

O sorriso dela ficou deslumbrante antes de responder:

- Entendo o que diz. Se eu quiser me especializar, terei de deixar a cidade. Este curso pelo qual me interessei é na capital, e não tenho condições de pagá-lo na minha condição atual. Sem mencionar as despesas com moradia, comida, transporte... o que torna inviável arcar com o curso agora. - Ela dobrou o folheto e o olhar ficou distante. - Tudo o que sei é que quero voltar a estudar, Fabrício. Não sei quando poderei, mas já decidi que quero e me esforçarei para conseguir isto.

- Se você for embora, quem ficará tomando conta da oficina?

- Miguel - ela disse sem vacilar.

- E eu?

- Você o quê?

- Nem ao menos considerou meu nome para a chefia? - Ele parecia ressentido.

- Mesmo com as dificuldades, Miguel tem mais experiência com administração do que você - ela replicou, sincera. - E você morreria de tédio com a papelada. Viveria fugindo dela.

Ante a incontestável verdade, o outro não revidou.

- Mas, afinal, por que estamos falando disso? Não é certeza que mudarei de cidade para estudar. Há muitas outras coisas que devo considerar. - Diana pensava na madrasta a quem sustentava e no medo de morar em um lugar completamente desconhecido, com pessoas desconhecidas, ainda que temporariamente. Teria essa coragem?

Podia sentir o estômago apertado só de pensar na mudança radical... Ela, uma garota do interior, na cidade grande? Talvez fosse exatamente o que precisasse: um choque de realidade. Transpor barreiras e conhecer o que o mundo lá fora tinha para oferecer.

Os devaneios dela foram interrompidos pela chegada de Luiz, que apareceu para pegar o carro e acertar as contas com Diana.

- Não fique sozinha no escritório com esse aí - Fabrício cochichou, sabendo da reputação do médico.

Diana apertou-lhe o ombro, num gesto agradecido pela preocupação amiga, e foi até Luiz Cavalcanti. Como sempre fazia, tratou dos assuntos com o homem na frente dos mecânicos, até mesmo o pagamento. Ficar às vistas de testemunhas era sua medida de segurança, caso precisasse de ajuda.

Quando guardou a carteira, Luiz não perdeu a oportunidade de empreender suas investidas habituais.

- Diana, você é um colírio para os meus olhos. Como sempre. Não cansa de ficar bonita a cada dia que passa?

- Não precisa desperdiçar seu tempo comigo - ela ironizou. - Minha resposta é não. Sempre não. Isso nunca vai mudar.

O par de olhos claros encarou-lhe abertamente os seios escondidos no macacão.

- É você quem está desperdiçando seu tempo com aquele Fernando, princesa. Vocês até mesmo já dormiram juntos, não é?

Diana virou o rosto, recusando-se a dar-lhe satisfações.

- Às vezes penso que você fica saindo com outros homens só para me irritar, me deixar enciumado, mas então, quando sinto que estou perdendo a paciência, eu digo a mim mesmo que um dia você me pertencerá.

- Vá sonhando.

- Cuidado, Diana. Muito cuidado com o que diz, porque um dia o sonho pode se tornar realidade e você não poderá fazer absolutamente nada para evitar - ele disse, com um brilho perverso nos olhos.

Diana engoliu em seco, perguntando-se o que ele queria dizer com aquilo, mas, antes que pudesse falar algo, Luiz já tinha partido da oficina com o carro.

- Eu o vi, sabe? Com sua madrasta.

Ela escutou a informação com indisfarçável surpresa.

- O que faziam juntos? - indagou para Fabrício.

- Foi tudo muito rápido. Estavam na mercearia do seu José e calhou de eu estar lá nesta mesma hora. Eles se viram, se cumprimentaram, conversaram por uns dois minutos e depois cada um foi para seu canto.

- Elisa foi consultar-se na semana passada com um médico, depois de reclamar de dores no tornozelo - murmurou Diana, pensativa. - Talvez Luiz a tenha atendido e agora ficam se falando por aí, sempre que se esbarram.

Não queria admitir, mas estava irritada com o fato de a madrasta estar interagindo com Luiz, mesmo que de modo breve, principalmente porque ela sabia toda a história que Diana tinha com ele. Desde que Elisa não inventasse de trazê-lo para a casa delas..., pensou, agitada só de imaginar Luiz no sofá de sua sala.

- Esqueci-me de avisar. Aquela encomenda chegou enquanto você estava no escritório. - Fabrício apontou para a caixa no chão do pátio, perto da estante de ferro.

- Devem ser as peças de Fernando. Estão começando a chegar - comentou ela, com voz tristonha.

Fabrício, percebendo a transformação brusca na fisionomia da mecânica, até pensou em tirar graça da situação. No entanto, o bom senso prevaleceu ao humor e ele achou melhor voltar para o serviço.

O final de semana chegou e a caixa permaneceu intocada. O lado emocional de Diana não suportava a ideia de ter de abrir o papelão, pois, quanto mais cedo iniciasse o conserto, mais próxima estaria do fim definitivo com Fernando, que iria embora e nunca mais voltaria. Por outro lado, seu lado racional lhe dizia que qualquer atraso intencional seria aviltar a profissão pela qual tinha orgulho e respeito, além de ser uma atitude muito desonesta.

O repúdio a si mesma, por não ter aberto a caixa antes, atormentou Diana o sábado inteiro, até que, sacudida por uma crise de consciência, foi à oficina no domingo de manhã, saindo apenas depois de ter trocado a peça do carro de Fernando.

Ela baixava a porta de enrolar de alumínio, para fechar a garagem, quando ouviu a voz madura e potente atrás de si:

- Por Deus, você nunca descansa? Trabalha até no domingo?

As batidas do coração dela aceleraram antes mesmo de girar nos calcanhares e confirmar o que seu corpo todo já sabia.

- Fernando... - ela murmurou, detestando ter soado mais como uma súplica. - Sim, às vezes abro exceção nos domingos. - O que não era de todo mentira. Trabalhava excepcionalmente aos domingos, mas quando o pátio estava cheio e queria desafogar o serviço, e não porque estava arrependida de ter alongado, propositalmente, o que podia ter sido consertado mais cedo.

- Que mulher trabalhadora - ele comentou com um sorriso de admiração, fazendo Diana corar de vergonha de seu pequeno segredo. - Mas lembre-se de cuidar de si mesma. Saiba separar a vida pessoal do trabalho. Todo mundo precisa de um descanso.

Ela assentiu.

- Já terminei aqui. Não se preocupe.

- Eu até tento não me preocupar, mas parece que nunca consigo, não é? - ele indagou com leve sarcasmo.

- Fernando...

- Jurei que pararia de encontrá-la. E cá estou eu.

- É uma cidade pequena - tentou consolá-lo. - De um jeito ou de outro, acabaríamos nos esbarrando.

- Mas eu não precisava estabelecer diálogo, precisava?

- Só quis ser educado, suponho.

Ele chegou a rir. De maneira lunática.

- Moça, pensa realmente que eu atravessar a rua só para falar com você tem a ver com educação?

- Ah - ela disse baixinho, incapaz de desgrudar os olhos dos dele -, não sabia que tinha atravessado a rua.

A tensão pairava no ar. Qualquer um que olhasse de fora, veria duas figuras nervosas na frente da oficina.

- Você parece bem. - Ele olhou-a de cima a baixo, acusadoramente. - Bem demais para alguém que levou um fora.

Diana virou-se para colocar o cadeado na porta.

- Está falando daquela sua despedida patética?

- Sabe que sim. E o que foi aquilo? "Seja feliz"? Que coisa idiota a se dizer!

- Idiota foi a sua expressão quando me viu sair do seu carro - ela retrucou ironicamente, após volver o corpo para encará-lo.

- Não queria que fosse embora. - Fernando aproximou-se de repente, como se fosse beijá-la, mas parou. Com os coração aos pulos, Diana ouviu-o confidenciar: - Nos últimos dias, tenho experimentado um mar de frustração que não sei nem como começar a descrever...

- Eu também.

- Não parece.

- O que queria que eu fizesse? Que ficasse chorando pelos cantos?

- Sim, seria mais convincente.

- Está maluco se pensa que ficarei chorando por causa de homem! - Até derramara lágrimas, muitas, mas se recusava a estender a choradeira. Suspirando, falou: - Olhe, esta briga não nos levará a lugar nenhum. Por que não volta para o seu hotel - ela apontou para o prédio do outro lado da rua, no final do quarteirão - que eu volto para minha casa e ficamos tranquilos?

Baixando os olhos, Fernando encarou a mão feminina, próxima ao seu peito, cujo dedo indicador sinalizava na direção do hotel de Brígida. Tomado por uma súbita necessidade de contato físico com Diana, ele agarrou a mão dela no ar e a trouxe aos lábios, beijando-lhe os nós dos dedos.

- Não dá para ficar tranquilo perto de você - ele respondeu, com voz sensual.

- Fernando... me devolva a minha mão... - disse enquanto tentava desvencilhar-se, meio sem fôlego ao toque daqueles lábios que deixaram sua pele em brasa.

Rendendo-se ao inevitável, ela fechou os olhos e estremeceu com a onda de calor percorrendo-lhe o corpo. Ao mesmo tempo em que beijava a extensão de seus dedos, Fernando lhe acariciava a palma da mão e o pulso, fazendo-a derreter-se, entre um suspiro e outro. Seduzida, Diana pensava no que acabou de descobrir: um beijo na mão podia ser tão erótico quanto um na boca.

O repentino barulho de buzina fê-la abrir os olhos com brusquidão. Sobressaltada, deu-se conta de que estavam na calçada dando um espetáculo para os bisbilhoteiros da cidade. Puxou o braço para si, mas Fernando se recusava a libertá-la.

- Para alguém que pediu distância, você está passando a mensagem errada, não acha? - questionou-o enquanto continuava a ser beijada.

- Estou passando exatamente a mensagem que pretendo passar.

- Minha mão... solte agora! - Diana começou a dar-lhe tapas afobados no braço, até que ele a largou, aos risos. Perplexa por vê-lo divertir-se com seu nervosismo, esbravejou: - Fique longe de mim! Não me toque, não fale comigo!

- Pensarei no seu caso, minha garota travessa! - foi a resposta espirituosa.

A cena era observada com entusiasmo pelos espectadores, exceto por um médico, que fuzilava o casal, principalmente o homem, que estivera com sua princesa por tempo demais.

Alheia a seus arredores, Diana marchou para longe de Fernando com raiva, em direção ao carro, e bateu a porta com força. Dali para casa levou menos de vinte minutos. Entrou e foi direto para o banheiro. Ainda alvoroçada com os beijos em sua mão, ligou a torneira e esfregou a pele onde foi beijada, com vigor, até o formigamento passar.

Só podia ser louco, ela pensou, refeita do susto. Louco e perigoso. Fernando chegara a Pôr do Sol como o sisudo investidor de nariz em pé, antipático, com cara de quem se aborrecia com a monotonia e a simplicidade. Diana tentava imaginar para onde tinha ido aquele homem frio e hostil, que conhecera inicialmente, diferente do homem caloroso e apaixonado de agora que virava sua vida pelo avesso.

- Onde estava? - a madrasta perguntou assim que a encontrou no corredor da casa.

- Na oficina - respondeu e examinou a roupa chique de Elisa. - Bonito vestido. Você que comprou?

- Com que dinheiro eu compraria um vestido desses? Lógico que não fui eu! - explodiu ela, irritada. - Acha que não sei o que está tentando insinuar? Que estou usando o dinheiro que me dá para gastar com coisas caras para mim... Bem que você queria que fosse assim, não é? Procura o mais insignificante detalhe para me criticar. Mas não, você não terá esse gostinho. Foi Rafaela que me deu de presente a porcaria do vestido. Mais alguma pergunta?

Os olhos de Diana foram atraídos para as pequenas pedras brilhantes ao redor do pescoço e nas orelhas da madrasta.

- O colar e os brincos também. E qualquer outra coisa que você veja de glamouroso nessa casa, porque Rafaela é a única que se preocupa comigo, para variar.

- Eu também me preocupo, mas com o salário que ganho não dá para vivermos uma vida de regalias - ela disse, com a costumeira paciência. Movida pela curiosidade e fascínio, aproximou-se mais para admirar os adornos. - Parecem de verdade...

- A olhos inexperientes, parecem mesmo. Uma pessoa refinada saberia de cara que são falsos, o que não é o seu caso - Elisa pontuou com uma risadinha.

Que não era fina e elegante, Diana sabia. Quantas vezes escutara de Elisa que tinha um jeito bruto e insensível que se mostrava tanto em suas roupas como no trato com as pessoas? A diferença é que, pela primeira vez em anos, sentia-se propensa a explodir, mas, temendo dizer coisas imperdoáveis que poderiam afastar-lhe a única pessoa que lhe restara, Diana ouvia tudo em silêncio.

Certa vez, ficara brava com Fernando quando ele tentou comprar sua companhia e os momentos felizes compartilhados na cachoeira. Irritara-se com sua visão distorcida de que felicidade tinha um preço... mas o que ela estava fazendo, senão comprando também sua felicidade? Senão submetendo-se a pagar um preço pela companhia e um pouco de carinho da madrasta?

Como fora hipócrita, pois estava fazendo o mesmo. Só que, em vez de pagar com dinheiro, pagava com sua humilhação. Sua moeda de troca era aceitar, submissa, os comentários mordazes de Elisa sob a ameaça de ser abandonada ante o menor sinal de insubordinação.

Assustada por perceber, com clareza, sua posição naquele jogo de interesses, do qual via-se refém, Diana sentiu-se nauseada.

- Hoje não vamos almoçar juntas, querida - a madrasta avisou, pegando a bolsa. - Vou passar o resto do dia com Rafaela e Guilherme. Não espere por mim. - Então, antes de passar pela porta, colocava os óculos escuros quando disse, encarando-a com sorrisinho afetado: - Por que não vai comer alguma coisa? Está horrivelmente pálida!

A seguir, a porta fechou-se. Diana então correu até o banheiro, onde, incapaz de conter o crescente nojo, vomitou.

*******

Sua reação psicossomática à descoberta manifestou-se na segunda-feira de manhã, quando acordou com uma febre sem causa aparente. Contrariando as queixas do corpo dolorido, tomou remédio e foi trabalhar sentindo-se ruim, torcendo para a febre baixar logo.

- Jesus amado! Qual é a placa do caminhão que atropelou você? - quis saber Fabrício, ao vê-la fora do escritório.

- Quer dizer "placas", certo? Porque acho que foram dois caminhões - ela respondeu com humor, apesar de sentir que o mal-estar só aumentava a cada segundo.

- Vá para casa, Diana - Miguel falou, reiterando a sugestão feita quando visitou-a em sua sala instantes atrás. - Você está mal, menina.

- É modéstia dele, claro. Eu diria que você está péssima, horrível... apavorante! Deveria ter pensado nos outros antes de ter vindo até aqui. Ninguém é obrigado a ficar olhando para essa sua cara fantasmagórica - Fabrício reclamou.

Se Diana não o conhecesse, teria levado a sério aquelas provocações. Como conhecia a figura, redarguiu:

- Se eu não estivesse tão mal, iria até aí te dar um soco no meio da fuça.

A risada alta do mecânico mostrou o quanto sentiu-se ameaçado.

Colocando a mão na testa de Diana, Miguel checou-lhe a temperatura.

- Está com febre. Já se medicou?

- Antes de sair de casa.

- Não pode continuar trabalhando.

- Miguel... - ela iniciou em tom de protesto.

- A não ser que queira piorar.

- Estou bem - ela teimou, embora, suando, mal se aguentasse de pé. - Na verdade, estou ótima.

- Pelo amor de Deus, tenha a decência de reconhecer suas limitações! - Miguel ralhou, inusitadamente enraivecido.

Diana ficou tão atônita quanto Fabrício e o resto dos mecânicos, afinal, a relutância dela conseguiu a façanha de transformar o velho senhor bondoso e paciente, leniente, em uma fera. Coisa rara de se ver.

- Fabrício? - Miguel chamou, virando a cabeça para o lado. - Pode deixá-la em casa?

- Posso! - o homem respondeu prontamente.

Diana aceitou tudo quieta e, minutos mais tarde, já se encontrava dentro de casa. Fabrício a segurava pelo braço enquanto caminhavam na direção do quarto dela.

- Por um momento, achei que Miguel fosse me morder - ele comentou ao acaso.

- É, eu também. Aquilo foi inesperado. Queria demonstrar espanto, mas só consigo me sentir horrível.

Quando ela já estava sentada na cama, Fabrício espiou para além da porta aberta.

- Sua madrasta não está?

- Provável que tenha saído com Rafaela. As duas têm se visto muito ultimamente.

- Bem... - vacilou Fabrício, ajeitando o boné na cabeça -, preciso voltar para a oficina. Pode se virar a partir daqui?

Diana sorriu-lhe com gratidão.

- Posso, sim. Obrigada - ela murmurou enquanto deitava-se na cama, quase chorando de alívio quando sentiu o colchão macio sobre as costas. Fechou os olhos e apagou.

Numa dada hora, acordou, no escuro, ao som de vozes femininas. Como Fabrício deixou a porta do quarto semiaberta, Diana sofria com o volume alto da conversa entre as duas mulheres que, na sala, falavam e riam como se não tivesse ninguém na casa.

A primeira reação de Diana foi revoltar-se com a falta de respeito, até lembrar que Fabrício tinha lhe dado carona, de modo que o carro dela não estava na garagem de casa, e sim na oficina. Elisa na certa pensou que ela e a filha estavam sozinhas.

Sentindo-se um pouco melhor, saiu da cama para fechar a porta e bloquear as vozes que atrapalhavam seu descanso. Com a mão na maçaneta, prestes a empurrar a porta, acabou escutando parte de uma frase solta no ar:

- ... você sabe que minhas dicas nunca falham.

Era a voz da madrasta, que acrescentou logo em seguida:

- Nunca erro. Ou por acaso errei sobre Guilherme?

À menção do nome do ex-noivo, Diana estancou. Não sabia ao certo por quê. Talvez por Elisa ter feito soar como se trouxesse à tona um segredo, e não um comentário casual sobre o genro.

- Não, mamãe - Rafaela respondeu, soando contrafeita.

- Refresque minha memória. O que foi que falei dele?

- Que era um bom partido. Que me trataria bem e que eu o teria aos meus pés, se conseguisse conquistá-lo.

Houve um intervalo de silêncio, o qual Diana deveria ter aproveitado para fechar a porta e dar privacidade às duas. Porém, mesmo sabendo tratar-se de uma conversa particular, viu-se completamente envolvida pelas informações suspeitas.

Elisa dissera aquilo de Guilherme? Para Rafaela? Em que momento? Antes ou depois de conhecê-lo e começar a namorá-lo?

A resposta para sua indagação veio mais rápido do que esperava, nas palavras da madrasta:

- Exato. E o que você fez? Ficou dando bola para aqueles pobretões que não tinham um centavo no bolso. Enquanto perdia seu tempo flertando com aqueles paqueras miseráveis e recebendo presentinhos fajutos, o compromisso de Guilherme com Diana se tornava mais sério, até que aconteceu o que eu mais temia: ficaram noivos. Desde o primeiro dia em que Diana o trouxe para casa, eu lhe disse o que tinha que fazer. Mas você teve que esperar os dois noivarem para finalmente me escutar, não teve? - A irritação sobressaía na voz de Elisa, revelando sua insatisfação com a desobediência da filha.

- Acontece que consegui controlar muito bem a situação - Rafaela retrucou com altivez. - Como a senhora mesma disse, um noivado não é empecilho para nada. Muito menos para mim. E não foi, mamãe. Não mesmo.

- Bem, isso é verdade - a mãe concordou, orgulhosa. - Embora Guilherme estivesse noivo, conseguiu seduzi-lo e deixá-lo louco por você. Não tiro seus créditos, mas também não tire os meus. Não esqueça que fui eu que a ajudei, por diversas vezes, criando situações onde vocês dois pudessem ficar sozinhos.

Uma risadinha ressoou antes de Rafaela dizer:

- A senhora foi o meu cupido. Jamais esquecerei o que fez por mim - E ouviu-se o estalar de um beijo animado, o qual Diana supôs ser Rafaela agradecendo à mãe pelo apoio incondicional.

Enquanto mãe e filha riam, entretidas, Diana segurava a maçaneta com dedos trêmulos. De todos os absurdos existentes no mundo, ser traída de maneira tão baixa e vil por sua madrasta e a irmã postiça era a última coisa que esperava que lhe acontecesse. Simplesmente porque, apesar das brigas e da incompatibilidade de personalidade, tanto com a madrasta como com a filha dela, Diana tinha um coração bom e não conseguia desejar mal a ninguém. Não conseguia maldizer duas pessoas que passaram mais de uma década a seu lado. Duas pessoas com quem partilhara o lar; que fizeram seu pai feliz. Duas mulheres que Alexandre Ferreira amou em vida e que, minutos antes de morrer, na cama de hospital, fizera a filha prometer que se esforçaria para amá-las também.

Desde então Diana dedicara-se, com afinco, a cumprir a promessa. Estava sempre fazendo tudo para agradá-las, na parva esperança de ser amada de volta. Foi fracasso atrás de fracasso, até chegar o momento em que se acostumou. Convencera-se de que era o máximo que poderia ganhar delas e que poderia ter sido pior. Que poderia ter acabado sem nada nem ninguém, por isso, ao mesmo tempo, estava grata por ter uma família. Por ter companhia e por ter de quem pudesse receber afeto e carinho, sendo estas necessidades prementes à sua alma sensível.

A mágoa pesando em seu peito era asfixiante, todavia, não o foi mais do que escutar a continuação da conversa.

- ... é por isso que você tem que ir atrás do investidor.

- Mamãe! - a filha repreendeu, mas não parecia chocada.

- Rafaela, minha filha, não tem comparação entre ele e Guilherme! Fernando só está brincando com Diana porque ele ainda não te conheceu.

- Guilherme é muito bom para mim. Não vou abrir mão desse casamento. Logo agora, que aprendi a amar meu marido...

- Tolinha! Amor não enche a barriga. Não paga as contas. Amor não compra roupas nem joias. Acorde! Aproveite enquanto pode. Enquanto ainda tem beleza e um corpo irresistível. Caso contrário, o tempo passará e você vai acabar de mãos vazias.

- Que nem você ficou? - foi a pergunta ácida.

- Olhe como fala comigo! - Elisa retrucou rispidamente, enraivecida, uma contradição à gargalhada alta que soltou segundos depois. - Meus bolsos não estão vazios, tonta. O que eu ganhei é muito melhor do que ficar dependendo de satisfazer marido.

- O que é?

- Consegui alguém que vai me sustentar pelo resto da vida, e nem preciso me esforçar tanto.

- Essa pessoa... é Diana?

Houve uma pausa dramática, em seguida uma risadinha que confirmava a pergunta.

- Que malvadeza, mamãe - Rafaela disparou, rindo. - Quando ela era mais nova, você sempre a convencia a fazer as coisas para você. Para nós, na verdade. Lembro que, às vezes, nem precisava pedir, pois virava rotina para ela. Você a treinou bem para ser sua escrava. Mas, diga-me, como faz agora que ela está adulta? Não brigam?

- Episódios de rebeldia acontecem, mas nada que eu não dê conta. Basta dizer que vou sair de casa, para morar com você, que ela baixa a bola e coloca o rabinho entre as pernas. - Seguiu-se uma risada jocosa. - Ah, Rafaela, aquela lá é uma eterna criança à procura de uma mãe! - zombou Elisa. - Ela vê em mim a mãe que nunca teve. Como a boa madrasta que sou, alimento suas esperanças em momentos estratégicos, dando-lhe migalhas de carinho aqui e ali... e a boba cai como um patinho!

Diana sentiu o chão sumir debaixo dos pés. As lágrimas turvavam-lhe a visão enquanto seu corpo inteiro reclamava da dor proveniente de machucados invisíveis, que laceravam seu coração.

Nem os três rompimentos de noivado foram tão dolorosos assim.

Nada se comparava àquilo. Nada.

Ali, parada, percebia a farsa que vivera por todos aqueles anos. Dava-se conta da ruindade. A perversidade em pessoas que supostamente deveriam amá-la, ou retribuir pelo menos metade do respeito que sempre dispensou-lhes.

Abismada e desconsolada, sua única reação foi chorar em silêncio, os olhos fechados, paralisada pela dor visceral.

- Mas, mamãe, Diana se casará um dia. - O lembrete de Rafaela fê-la abrir as pálpebras para se concentrar nas falas seguintes. - Ela vai embora de casa em algum momento para viver a vida dela.

- Não se eu puder evitar.

- Mamãe? Como assim? - Fez-se outra pausa, desta vez longa. - Oh, meu Deus... está dizendo que...?

- Que os boatos sobre a noiva abandonada são de minha autoria. Uma noiva tão intragável e desprezível que foi deixada por seus noivos... Tudo o que precisei fazer foi pagar alguém para espalhar a inocente historinha que exagerei depois do primeiro noivado de Diana, que quase tirou a minha paz. Os outros dois noivados desfeitos contribuíram para a história ficar cada vez mais feia e desagradável a qualquer pessoa que a ouvisse, inclusive, claro, potenciais pretendentes dela.

De repente, Rafaela lembrou-se das artimanhas da mãe para ajudá-la a fisgar Guilherme e comentou:

- Conhecendo a senhora, aposto que também colocou caraminholas na cabeça dos noivos. Sei que não perderia essa chance.

- Bem, o que posso fazer? Não tenho culpa se meu poder de persuasão é incrível. A própria Diana não se ajuda se vestindo e se comportando daquela maneira. Foi surpreendentemente fácil fazê-los ver o quão inadequada ela era para esposa. O que eu fiz foi tirar a venda dos olhos deles.

- Como a boa samaritana que é - completou a filha, risonha.

A mãe recostou-se no sofá, a expressão triunfante.

- Com meu poder de persuasão e o conto da noiva abandonada, nenhum homem ousará aproximar-se de Diana e eu não terei de me preocupar em perder minha empregada.

- Estou sem palavras.

Elisa ficou envaidecida com o choque causado na filha.

- Os rumores sobre a noiva abandonada viraram meu repelente para homens. Depois de Bruno, Diana passou longos meses sozinha. A mesma coisa aconteceu depois de Enrico e Guilherme.

- Seu repelente não funcionou com Fernando. E o que dizer do infame Luiz? - acrescentou com uma risadinha.

Elisa revirou os olhos.

- Luiz é um canalha porco que só sabe pensar em uma coisa. Ele nunca representou ameaça para meus planos, pois seu interesse por Diana resume-se a sexo, o que jamais entenderei... Quero dizer, como um homem consegue ficar excitado com a imagem daquela garota medonha? Deve ser alguma dessas obsessões esquisitas de gente que tem dinheiro. Quanto a Fernando, ele vai embora, queridinha. Esqueceu?

- Pelo que ouvi, Fernando estava interessadíssimo nela. Parece que até foram vistos se beijando em público. E, segundo os fofoqueiros, Diana dormiu uma noite com ele no hotel.

- Aquela vadia! - xingou Elisa, aborrecida. - Independente do que aconteceu entre eles, sei que um homem da classe de Fernando só está atrás de mulheres fáceis.

- Como sabe?

- Ele é homem, Rafaela, e está de passagem pela cidade. Naturalmente quer alguém com quem possa divertir-se nesse meio-tempo. Diana, como a prostituta que é, veio a calhar para ele.

- Sabe o que é engraçado? Que a senhora afirma que ele só quer diversão, mas fica me empurrando para os braços dele. Que futuro eu teria com Fernando, já que não me levará a sério?

- Tenho confiança nas suas habilidades de sedução. Se conseguiu fazer um homem comprometido mudar de ideia, por que não conseguiria com Fernando?

- Vendo por este lado... - a outra refletiu, abrindo um sorriso presunçoso.

- O esperado é que, conforme o tempo passe, fique mais difícil para Diana arranjar alguém, porque eu não vou sossegar até garantir que a má fama daquela menina afaste dela todos os homens desta cidade. A única saída, para ela, é se recomeçasse a vida num lugar onde não sabem quem ela é, o que é impossível, dada a nossa situação econômica.

- Nossa? Sua e dela?

- Lógico. Parte daquela oficina é minha. O dinheiro que ela ganha também é meu.

- Estou ainda em choque, mas preciso dizer... é um plano genial! Eu nunca teria pensado nisso. Espero um dia ter metade da criatividade que tem!

Aquele elogio disparatado foi o suficiente para que Diana encostasse a porta. Tomou o cuidado de não fazer barulho, pois não queria as duas suspeitando que foram descobertas, até que tivesse noção do que fazer.

Desamparada, voltou para a cama, odiando tanto as pessoas que pareciam sentir prazer em fazer-lhe mal como a si mesma, por ter sido tão estúpida. Sentiu-se enojada quando pensou em Guilherme, porque, afinal, ele também era culpado. Ele cedeu à sedução e escolheu traí-la sem ter desfeito o noivado.

Chorando, encolhida no colchão, pensava no lugar inóspito que o mundo havia se tornado. Ela se sentia desesperançosa de olhos abertos, então fechou-os, voltando a abri-los apenas quando já estava acostumada com o pesadelo que era sua realidade.

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