Capítulo 1
Antes de mais nada, segue um recadinho...
Defini como dias de postagem toda quarta e sexta-feira. Isso quer dizer que a cada semana dois capítulos do livro serão liberados, talkei?
No mais, tenham uma ótima leitura e passem um ótimo Dia dos Namorados e um ótimo fim de semana. Se cuidem, está bem?
Um grande abraço!
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Assim que Diana Ferreira entrou na mercearia, os olhares se voltaram para ela. Foi até a pilha de cestas de compras, dispostas ao lado da entrada, e pegou uma. Como de costume, os cochichos surgiam por onde passava:
— Viu quem acabou de chegar?
— Eu, no lugar dela, teria vergonha de andar em público.
— Sim! E com essas roupas... ela realmente não se ajuda.
Diana rumou para o corredor de produtos de limpeza, ciente de que, naquele dia, o alvo escolhido para falarem mal dela foi seu macacão largo e sujo de graxa. Apesar dos comentários reprovadores, ela o exibia com orgulho. Em seu peito, estava bordado o símbolo da oficina em que trabalhava e de que tanto se orgulhava.
Quando Alexandre Ferreira, um homem conhecido por sua generosidade e trabalho honesto, morreu, sua pequena oficina fora deixada de lado por um tempo. A madrasta de Diana não possuía tino para negócios e a ideia de trabalhar sempre pareceu horrorizá-la, acarretando o fechamento da Oficina Ferreira.
Mais tarde, após completar a maioridade, Diana retomou o negócio de seu pai e se dedicou a transformá-lo num lugar onde camaradagem e bom trabalho eram regras da casa. Aquele fora seu grande feito.
A paixão pela mecânica de veículos aflorou em Diana desde cedo. A maior parte da influência veio de seu pai, um homem trabalhador e responsável, feliz com sua profissão. Lembrava-se dos tempos em que ele a levava para a oficina para não deixá-la sozinha em casa — o que acontecia com certa frequência antes de seu segundo casamento — e explicava com fervor os procedimentos que realizava sempre que sua filha lhe fazia perguntas.
Além dos aprendizados técnicos, as visitas renderam-lhe amizades. Conhecera a equipe de mecânicos, as valiosas engrenagens da oficina e amigos de seu pai, que logo se tornaram seus amigos também.
Diana crescera naquele meio, respirando aquele ofício. Não tardou em apaixonar-se pela profissão.
Trabalhou duro em outras mecânicas a fim de obter maior conhecimento e experiência, bem como juntar dinheiro para as reformas que tinha em mente. Como as economias não foram suficientes, deu um jeito de conseguir um empréstimo e colocou seu plano em ação no momento oportuno.
Reerguer a Oficina Ferreira não foi apenas uma necessidade, mas um sonho se tornando realidade.
Consertar carros dava sentido à sua vida. Adorava quando apareciam os desafios. Sempre que se via diante de um problema aparentemente insolúvel, dava-lhe prazer estudar a questão sob vários ângulos e fazer diversos testes até encontrar a solução. Ser mecânica era uma realização e tocar os negócios de seu pai, uma maneira de honrar sua memória.
Mas na cabeça de algumas pessoas, era desonroso.
Desonroso uma mulher trabalhar no meio de tantos homens, vestir-se como eles e até comportar-se como eles em alguns momentos. Talvez fosse injusto dizer que era malvisto, mas também tinha certeza de que não era bem visto.
Estava consciente, no entanto, de que sua reputação manchada se devia principalmente à outra coisa. Uma que os habitantes da pacata cidade de Pôr do Sol jamais a deixariam esquecer.
— Coitadinha — ouviu uma senhora murmurar.
Diana sorriu com ironia. Quando as reações não eram de desaprovação e repulsa, eram de pena. Não sabia dizer o que era pior.
Não foi fácil, no início, enfrentar o falatório dos desocupados e continuar agindo como se nada tivesse acontecido. Sua vida virar assunto cotidiano na boca de estranhos, dia após dia, fora algo enlouquecedor de se ver.
Mas ela acreditava que o tempo ajudava a lidar melhor com as situações. Prova disso era que estava quase se acostumando com a fama criada para ela.
Quase.
Indo ao expositor de frios e laticínios, pegou uma bandeja de queijo e uma de presunto defumado. Colocou um pote de manteiga na cesta e seguiu em direção ao caixa.
— Boa tarde, Maria — ela cumprimentou a funcionária que conhecia desde criança. — Como vai?
— O mesmo de sempre — respondeu a senhora com ar de tédio.
Diana conteve o riso. Maria Helena da Graça era a esposa do dono da mercearia, seu José. Ela era uma das moradoras mais antigas de Pôr do Sol e, ainda assim, não parecia ter se acostumado à quietude de uma cidade interiorana.
— Nada acontece nesta cidade. É uma lástima! — comentou quando começou a passar as compras de Diana.
— O que a senhora queria que acontecesse?
— Eu não sei, mas este lugar está precisando de um pouco de emoção. De novos ares, sabe? Está tudo o mesmo. Eu acordo e é sempre a mesma coisa. É um horror.
— Gosto da tranquilidade...
— Mas sempre? Tranquilidade demais cansa, menina!
Diana balançou a cabeça, rindo, mas não ousou discordar de Maria. Estava pagando a conta quando as duas mulheres que antes falavam dela se aproximaram do caixa.
— Oi, Maria — disse a morena e depois olhou para Diana de cima a baixo antes de dar um sorriso afetado. — É um prazer vê-la, Diana.
Diana abriu um sorriso que indicava todo o seu desconforto.
— Olá, Stephanie. Susan — ela cumprimentou a outra, que apenas virou a cara.
— Foi ótimo eu ter encontrado você. O carro lá de casa está com problemas. Não sei o que é, mas tem nos causado uma grande dor de cabeça.
— Por que não leva lá na oficina? — sugeriu Diana, embora sem intenção alguma de consertar o carro de Stephanie. — Tenho certeza de que um dos meus homens pode resolver seu problema.
— Vou levar.
Assentindo, Diana se despediu de Maria e agarrou as sacolas de compras. Estava prestes a sair quando Susan, a que tinha se recusado a falar com ela, de repente disse:
— Sabe quem te mandou um abraço? O Bruno!
Ela estancou no lugar. Era uma provocação, estava claro. A risadinha maldosa de Stephanie corroborava isso. Por que outro motivo Susan diria essas coisas? Por que atormentá-la daquela forma, desenterrando o nome de seu ex-noivo, agora marido de Susan?
Será que tinha ciúme, mesmo já estando casada com ele? Ou apenas não se conformava com o fato de ela ter sido a primeira noiva dele?
Respirou fundo e contou lentamente até três antes de responder:
— Não, ele não mandou.
Passou o resto da tarde tentando esconder a insatisfação por meio de muito trabalho árduo. A noite caiu, seus mecânicos foram embora para suas casas e ela continuou na oficina consertando os carros de seus fregueses numa tentativa de aplacar a tristeza em seu coração.
Quando fez uma pausa de alguns minutos, as razões pelas quais despertava mexericos por onde quer que passasse vieram-lhe à mente, trazendo lágrimas de dor e mágoa.
Tivera três noivos.
E, por três vezes, foi abandonada.
Por três vezes, teve seu coração partido.
Nenhum homem foi capaz de amá-la e o erro dela foi ter amado cada um deles.
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