- Vamos, amiga! Para de ser idiota, ele nem olhava para você direito. - fala Melanie irritada com a minha insistência de ficar em casa.

- E o que isso tem a ver? Eu apenas não quero sair, daqui a pouco tenho que trabalhar então eu tenho que me vestir. - falo fazendo pouco caso indo em direção ao meu closet onde guardo roupas de dança e fantasias. 

Eu terminei com meu namorado a alguns dias, ou melhor, ele sumiu do mapa junto com uma garota que ele dizia ver apenas como amiga.

- Mel está certa, você é a mais animada de nós e ultimamente parece estar entrando em depressão. Podemos nos divertir um pouco, sair da rotina. - fala Milena tentando me animar.

- Não sei se eu quero sair de casa, acho até que vou desistir da minha carreira de psicologia...

- MEGAN?! Está se ouvindo? Nós saímos de nossa cidade por insistência sua para podermos ter mais liberdade para estudar e ter uma vida, agora quer jogar tudo fora por aquele sem noção? - fala Mel desacreditada.

- Você sabe que eu só fazia faculdade para ficar mais próxima dele, nem gostar de estudar eu gosto. - minto na maior cara de pau. 

Melanie e Milena são irmãs gêmeas e minha primas, crescemos praticamente juntas então se perguntarem somos irmãs e nossos pais morreram em um acidente de carro quando mais novas. Na realidade, nossos pais nos expulsaram de casa a alguns anos e tivemos que dar nosso jeito para sobreviver.

Eles eram super conservadores e por causa de nossa ascendência muçulmana queriam nos obrigar a um casamento arranjado com um dos amigos da família, um homem de 42 anos com uma barriga que caberia duas de mim. Fomos proibidas de entrar em uma faculdade, apenas cursar o ensino médio.

Era meu maior sonho, me torna psicóloga mas como tínhamos que economizar nos gastos para podermos viver mais dignamente isso não deu muito certo, ninguém iria contratar adolescentes de 16 e 17 anos para um trabalho de verdade e precisávamos de um lugar para ficar e comida.

Então eu decidi que seria responsável por todas nós, estava andando na rua procurando algo menos... Ousado do que a prostituição e achei o Dolce Danza. Um casa de festa mas parecida com um bordel para ricos do que qualquer outra coisa, na verdade. 

Desde então, sou chamada de Rubi. Tenho uma vida dupla, no inicio me sentia uma super-heroína mas depois percebi que heróis não dança como uma stripper em um palco.

- Você sabe que isso não é verdade. - fala Milena solidária.

- Vocês fazem faculdade e isso já é o suficiente. Talvez eu continue mas vamos ser sinceras, com o dinheiro gasto por mês na minha faculdade podemos alugar um lugar decente para morarmos. - falo fazendo os cálculos para ver se sobra algo para as compras do mês.

 - Não! Todas nós trabalhamos para pagar a faculdade, mas apenas o que você ganha serve para as despesas. 

- Eu gosto de dançar, vocês recebem menos que eu, devem economizar para os estudos e poderem sair desse buraco. - falo entrando no banheiro. Escuto seus passos passando pela porta do quarto e a batendo com força.

Essa não é a única razão para sair da faculdade, achei um emprego em uma pequena empresa no centro de secretária. Quando disse ao meu chefe que iria sair da Dolce ele me mostrou várias de minha dívidas com ele que só poderiam ser pagas se eu dançasse pelo resto da minha vida. Eu estava ferrada e não queria que elas afundassem junto comigo.

Acabei por dobrar meus horários e só receber metade do que recebia para quitar as dívidas, tenho que arrumar outro emprego para poder me livrar daquele imbecil do meu chefe.

Tomo meu banho e passo um óleo corporal com essência de chocolate com menta que deixa minha pele com um cheiro maravilhoso. Coloco minha roupa de dança na bolsa e visto um short jeans e uma blusa que deveria ser branca mas graças a um dia sem nada o que fazer agora é uma blusa vermelha com um dragão feito de brilho dourado.

Passo pela sala/cozinha e não encontro as meninas, ainda devem estar com raiva. Então eu saio pelas ruas escuras do nosso bairro, aqui tem todo tipo de coisa: tráfico de drogas, de pessoas, de comida, de móveis, de animais, só faltam traficar as árvores.

Depois dessa fala vejo uma senhora idosa tentando tirar uma mudinha da casa vizinha a minha.

- É, não falta mais nada.

Assim que chego a Casa Dolce Danza, vejo que já estão preparando o palco para minha apresentação enquanto alguns homens bebem no bar.

- Ah, Rubi! Ainda bem que você chegou. Lorena está com uma virose, não temos ninguém para substituí-la e ela foi escolhida pessoalmente para um serviço particular. Estaria disposta? - fala o Chefe sem rodeios.

- Que tipo de serviço? - falo com a sobrancelha arqueada e ele revira os olhos.

- É só uma dança, você vai ficar em um dos camarotes fechados da sala vip e dançará para ele, se ele gostar eu posso reduzir sua dívida em 15%, tudo bem?

- Por mim está ótimo! Que tipo de dança?

- Faça a sua especialidade. - fala piscando um dos olhos e saindo de minha visão.

Aposto que é um daqueles velhos tarados de 50 anos. Lorena é tão boa dançarina quanto eu, mas ela é bonita demais para ser exposta a um público qualquer. Já eu tenho uma beleza um pouco exótica para essas pessoas, danço sempre quando a casa está vazia para chamar mais clientes. É uma boa tática, devo admitir.

Vou para os fundos e encontro mais cinco garotas se vestindo das mais variadas cores, todas muito chamativas e sem escolha, assim como eu.

- Vocês souberam da novidade? Lorena está doente e estão procurando alguém para substituí-la. - fala Arancia. Todas nós temos codinomes para dar mais charme ao estabelecimento. Apenas eu e Lorena temos nomes especiais, Rubi e Malaquita.

- Sério? - fala uma da meninas.

- Seríssimo, tenho quase certeza que sou eu. Vocês viram minha performance, tenho certeza que eu irei virar um diamante em alguns dias. - fala Arancia convencida e eu dou uma risada escandalosa. Afinal, eu não sou mas a Megan, sou a Rubi.

Há um tempo atrás, eu estaria tímida em um canto enquanto esperava chegar a hora de ir para casa até elas me espancarem em um beco sem saída. Mas quando o Chefe me declarou como sua joia, elas estariam perdidas se fizessem algo assim comigo.

- É isso que você acha? - falo sorrindo debochada e ela se encolhe. - O que você tem a oferecer? Nada. Eu fui escolhida para me apresentar para alguém pessoalmente, isso porque eles sabem que eu sou a melhor de todas. - falo sorrindo convencida e entrando no vestiário.

Aqui tem que ser assim, ou você pisa ou é pisada. E eu não vou deixar que ninguém passe por cima de mim, pelo menos não de novo.

Depois que visto minha roupa de dança, eu coloco meu fiel batom vermelho sangue que parece ainda mais chamativos nos meio de meus cabelos negros.

- Finalmente, você por acaso tem um teletransporte? Estou te procurando a horas. - fala Jess, ela é uma americana contratada para ser secretária do Chefe, mesmo eu achando que eles tem algo mais.

- Mas eu demorei apenas 30 minutos para me arrumar. - falo confusa olhando para o relógio na parede.

- Isso é um detalhe. -fala fazendo sinal para segui-la e vamos em direção as escadas da ala particular.

Está na hora do meu show.

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