sete.
Capítulo Surpresa de Carnaval!
O céu número quatro abraça o segundo sábado do mês de junho. A impressão que todos têm na cidade é de que o dia não amanheceu. As pesadas nuvens em azul anil trincam as paredes do céu acinzentado. Quando os raios percorrem o interior de massa enegrecida, a impressão que temos é que água púrpura está prestes a despencar a qualquer momento.
― O vento está mais forte. ― Retiro os olhos da janela e apoio o queixo no ombro para fitar Cherie, encolhida em sua cama. ― Isso não é legal.
― O que quer dizer com "não é legal"?
― Quero dizer que as tempestades acumulam muita carga energética na atmosférica. Poeira carregada de baixo para cima se encontra com a poluição trazida pelas correntes de ar das cidades ao redor. As montanhas abafam a saída dos agentes poluentes e eles se misturam lá no alto. É isso que dá a cor dos céus que temos aqui. Mas faz com que o período antes do verão e do calor seja algo como a descarga da natureza e como se o esgoto fosse Seven Heavens. E ela geralmente manda coisas muito pesadas. Como tornados.
― Liv! ― A voz do meu pai troveja no corredor, fazendo Cherie saltar de susto. ― Você deu uma olhada no céu? Nuvens em formato de bigorna. E estão zangadas.
― O que significa "nuvens de bigorna"? ― Cherie choraminga.
― São Cumulonimbus. Se atingirem o extremo do desenvolvimento, vamos ter problemas.
― Os ventos estão mais fortes. ― Meu pai coloca o chapéu de patrulha e aponta o dedo para mim. ― Estou saindo com Rock. Vamos dar uma olhada nos ranchos e certificar que todos tenham um lugar para se esconder. Vocês três devem ir para o colégio. É a estrutura mais forte da cidade e a única com um gerador além do ambulatório.
― E como o senhor espera que cheguemos lá?
Ergo uma sobrancelha de um jeito desafiador. Acho que isso irrita o xerife, porque sua expressão é carrancuda quando ele atira uma chave na minha direção. Eu reconheceria aquele trambolho em qualquer situação.
― Peguei a caminhonete de volta. Me custou alguns favores, mas ela é útil. Agora, se apressem. Precisam chegar lá antes da chuva.
Cherie empurra o edredom e corre para o banheiro. Quando o papai some pelo corredor, mamãe sai do quarto. Consigo ler nos olhos dela que, apesar de estamos em um período calmo, ela não suporta mais dormir na mesma cama que ele.
Olho mais uma vez para a chave da nossa velha caminhonete e reflito sobre o que ele falou a respeito de favores. Bradock disse a mesma coisa sobre o meu pai quando pagou o meu lanche na Yesterday. Eu não sei em que tipo de esquema ele está envolvido, mas estou cada vez mais desconfiada. E preciso encontrar uma maneira de descobrir. Porque só assim eu conseguirei libertar a mamãe.
Consigo ouvir o uivo do vento do lado de fora do laboratório, mesmo que eu esteja alguns metros abaixo da superfície. A chuva está ricocheteando de maneira estrondosa e desejo que todas as pessoas de Seven Heavens que não possuem uma casa segura tenham chegado ao St. Vincentti antes do primeiro temporal. Mas pelo modo como o colégio já estava cheio quando chegamos, acredito que isso tenha ocorrido.
Não demora muito para que o escuro me engula. Um trovão ronca de forma assustadora sobre nós e toda a luz de Seven Heavens some. Conto até três e então o gerador começa a funcionar.
Posso continuar o meu trabalho em paz, afinal. A minha única companhia é o esqueleto de resina que usamos para estudar o corpo humano. Nós o chamamos de Clayson. Eu mando uma piscadela a ele enquanto visto o meu jaleco, me sentindo bem mais importante com ele agora.
Como uma dessas garotas dos quadrinhos salvando aqueles malditos heróis usando seus cérebros. Bufo, porque isso me faz lembrar do dia em que Seth me chamou de Gwen Stacy. Olho para o teto repleto de encanamentos soldados e vagueio por algum filme de super-herói.
Cherie disse que pareço a Supergirl agora. Não a personagem, a atriz. Ela também tem anisocoria. Mas Kara, a personagem, é uma jornalista. E eu estou enfiada em um laboratório como a Mulher Invisível.
― É isso. Mulher invisível. Ela era inteligente e ganhou um doutorado em alguma coisa que não me lembro. Além do mais, Clayson, Sue Storm era invisível. Uma habilidade que possuo desde sempre.
A porta do laboratório se abre em um estrondo, me fazendo saltar. Agarro o meu caderno, mas é idiota achar que ele me serviria como algo com o qual eu poderia me defender. Ainda mais de Carson Rowan e sua aparente fúria.
― Não pode arrombar salas! ― Grito. ― Isso estava trancado!
― Não pode trancar portas! É uma regra desse acampamento de tempestade idiota!
Carson está tão nervoso que me assusta. Minhas costas batem contra um dos armários de insetos em formol. Ainda dá para ver o arroxeado em um dos seus olhos, mas internamente eles me parecem vermelhos como se ele tivesse chorado.
― Aqui está. ― Ele bate com uma garrafa de plástico com força contra a pedra no balcão. ― A água que tomei antes do jogo. Você já deve saber do que se trata, Liv.
― Eu só perdi a parte em que eu entro na história.
― Preciso que você descubra que droga tem aqui.
― Rá! ― Reviro os olhos, relaxando e me aproximando do balcão. ― E quem você acha que eu sou? O departamento de perícia do CSI?
― Eu não sei quem você é, mas sei que o Breaking Bad está aqui nessa cidade e levou essa droga até a minha garrafa. E não posso mandá-la para perícia porque produziria provas contra mim. Eu preciso descobrir que droga é e então começar as minhas buscas aqui. Eu tenho minhas maneiras de descobrir, caso você pergunte.
― Eu não ia perguntar. Aposto como você gosta de traficantes tanto quanto de olhar o tamanho dos pênis dos Ice Cage.
Carson avança para mim, apertando o meu rosto e me puxando entre seus dedos. Estou com os dentes cerrados quando agarro o pulso dele e puxo de volta, gritando.
― Isso não vai funcionar assim, Carson Rowan! Não toque em mim nunca mais! Ou eu mesma vou garantir que seus dedos derretam com os ácidos que eu manipulo aqui!
― Ei! ― A voz de Seth rompe o nosso drama. ― O que está acontecendo?
Não quero olhar para ele. Estou tão nervosa e com raiva que me viro, agarrando a garrafa de Carson e empurrando algumas gavetas.
― Não temos estudos programados com lontras hoje.
― Não me diga, Olivia!
― Saiam daqui e me deixem sozinha.
― Eu não vou sair daqui até você me dar a resposta, Liv!
Volto-me novamente para Carson, jogando a garrafa para ele. Ela bate com força em seu peito e ele a segura antes que caia no chão.
― Eu não trabalho para você e vou entrar nessa se eu quiser! E estou tendendo a não ajudar você e toda a sua grosseria! Está descontando suas frustrações na pessoa errada!
― Caralho, calem a boca! ― Seth grita, empurrando Carson para trás. É bom que ele esteja de costas e seja poupado da minha expressão de asco e ódio. ― Carson, você não vai resolver as coisas assim. Que merda, cara. Está ameaçando uma garota! Está fazendo exatamente o que todos nessa merda de cidade estão dizendo sobre nós.
― Vai se ferrar. ― Carson empurra Seth, virando-se de forma violenta. ― Vou conseguir descobrir de outro jeito.
― Eu posso fazer isso em dez minutos usando a minha única pupila boa. ― Digo, erguendo o queixo e apoiando as mãos nos ossos dos quadris. ― Se você se rastejar e pedir desculpas agora.
É uma cena interessante olhar para os Rowan sem qualquer resquício de compaixão. Mordo com força a parte interna das minhas bochechas e sustento o olhar para ambos.
Não vou deixar Seth Rowan me ver quebrada. E também não ligo se ele fica bem naquelas malditas roupas sociais amarrotadas. Mentira, eu ligo sim. Merda.
― Certo. ― Carson se rende, respirando fundo e caminhando de volta até o balcão. Ele estende a mão na minha direção. ― Me desculpe, Liv. Eu não deveria ter brigado com você. É que estou desesperado. Não quero sair do hóquei. Ele me deu um propósito de novo. Estão retirando isso de mim. Por favor, me ajude, Liv. Você é a minha única esperança.
Encaro os dedos de Carson por milésimos de segundo enquanto suas palavras ricocheteiam nas minhas lembranças. Quando olho novamente para o seu rosto, ele captura o meu sorriso escondido.
― Você tem sorte de ter usado as palavras da Princesa Leia para Obi-wan Kenobi.
Eu não acho que ele compreenda, mas seu sorriso de alívio me faz sorrir de volta quando apertamos as mãos em sinal de paz. Pego a garrafa novamente e me viro. Não sei se consigo descobrir a droga que Carson ingeriu tão rápido quanto eu disse, mas talvez os testes físicos resolvam o problema antes dos químicos.
Despejo o líquido em um frasco, mergulhando um conta-gotas e puxando uma para fora. Deito a cabeça para trás e pingo na minha língua. Há um fundo amargo horrível, que faz a minha expressão se contorcer quando olho novamente para eles.
― Não notou que isso tinha gosto de compota de jiló?
― Não. Só depois. ― Carson funga. ― Quando já tinha bebido a metade.
― Pode ser MD. É fácil de ser fabricada em laboratório.
― Não pode ser MD. ― Seth interfere. ― Não do jeito que Carson ficou.
― Se em grandes quantidades...
― MD dá um puta tesão, Liv. E eu não estava com tesão, pode apostar. Tudo que eu queria era matar alguém.
Mexo os ombros.
― Como eu poderia saber desse pequeno detalhe sobre o MD, não é mesmo? Tenho um palpite arriscado: pode ser o que o Duende Verde fumou para ficar voando por aí em um skate de fumaça.
― Sério?
Prendo a minha vontade de rir quando ele e Seth falam juntos. Puxo mais algumas gotas e analiso.
― Acho que é metanfetamina. ― Digo. ― Mas preciso realizar uma análise química. Então saiam daqui e me deixem trabalhar com o Clayson.
Eles se voltam para o esqueleto de plástico encostado na parede perto da porta antes de me olharem com dúvida.
― Você disse que terminaria em dez minutos. ― Carson insiste.
― Então, em dez minutos eu levarei o resultado até você. Caia fora.
Ele soca o balcão, bufando de irritação e arrasta sua flanela xadrez de verde para longe. Seth o observa sair, mas permanece parado ao lado de Clayson. Apoio as mãos no quadril novamente, erguendo as sobrancelhas.
― O que?
― Por que decidiu nos ajudar?
― Não estou ajudando vocês. Tenho a minha própria investigação particular. Acho que a droga na bebida de Carson pode ser uma pista.
― Tem que parar com essas coisas, Olivia. Você não é detetive.
― Não. Eu sou a Gwen Stacy, lembra? E se não fosse por ela, o Homem-Aranha do Andrew Garfield não seria nada.
― Se você viu o filme, sabe como acaba para ela.
― Ela também era filha de um cara da polícia, não? Posso não ser xerife, mas sou filha de um. ― Uma das minhas sobrancelhas desce, deixando a outra sustentando o meu ar desafiador. ― Agora, se me der licença. Nada do que disser vai me fazer sentar pacientemente ao lado das crianças no refeitório e cantar músicas de ninar para o menino Jesus.
Seth balança a cabeça de forma incrédula e se vira, chocando-se com o esqueleto. Ele o amaldiçoa e sai, batendo a porta atrás de si. Suspiro para Clayson, sentindo-me exausta.
― Você tem sorte de não ter um coração, Clayson. Caras como esse daí nasceram para arrasar com eles. Ele tem o mesmo esqueleto que você e eu só consigo pensar o quanto a carne é bonita. ― Suspiro. ― Deve ser científico o fato da estética de Seth Rowan ainda me manter apaixonada por trás de toda a minha raiva.
Estou mentindo para mim mesmo que hormônios são as únicas respostas para ainda o querer tanto. Quando na verdade eu sei que o que me faz querer Seth, apesar de tudo, é a droga do amor que sinto por ele.
A porta se abre novamente, trazendo com a brisa do corredor uma lufada de calor para o meu rosto. Imagino que seja Seth e que ele tenha ouvido o meu suspiro idiota. Mas quem entra, de um jeito bastante exasperado, é Mischa e Owen.
Os olhos castanhos da minha ex-amiga param no meu rosto, mas antes de encará-la de volta, vejo Owen esfregando os cabelo ruivos e se virando no lugar. Eles parecem tão confusos, quanto assustados.
― Liv? ― Mischa segura o próprio pescoço. ― Por que estava aqui com os Rowan?
― Não estava aqui com os Rowan. Estava aqui primeiro até eles virem me incomodar. Você precisa de algo, Mischa?
― Não, eu só...
― Só achamos que o laboratório estava vazio. ― Owen concorda. Os olhos dele são profundos quando se arrastam pelo balcão e encontram a garrafa de Carson sobre ele. ― Vamos, Mischa?
― Claro. ― Mischa olha para Owen, acenando para mim. ― Sinto muito atrapalhar você, Liv.
― Foi mal, Liv. ― Owen completa.
Eles seguram as mãos um do outro e correm de volta, batendo a porta com força. Sinto como se o meu corpo pesasse sem quilos e não me movo. Meus olhos são os únicos a girarem dentro de suas órbitas e encontrarem a garrafa de Carson, parada onde ele deixou. Algo muito estranho pinica a minha garganta, alastrando a dúvida e a desconfiança por todo o meu corpo. Posso estar fantasiando, mas a visita de Owen e Mischa não pareciam de alguém que quisesse apenas um lugar vazio para transar.
Pelo modo desconfortável como Owen McKenzie fitou a água que Carson Rowan tomou antes de aparecer drogado, eu diria que a culpa e o medo fossem quase como uma sombra através de seus olhos. Mas antes de desconfiar de um peão nesse tabuleiro, preciso entender o jogo. E descobrir a substância na garrafa é o meu primeiro passo.
Demorei mais cheguei! O ADM ESTÁ ONLINE! A BADERNA VAI COMEÇAR! NÃO É, CLAYSON? Quem pegou, pegou. Quem não pegou tem que conhecer a Masculynah urgente!
Boa folia e juízo a todos!
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