Capítulo 6
Os meus pés ansiosos tropeçam em uma pedra, mas consigo manter o equilíbrio. Aperto mais forte a bela rosa vermelha contra o peito. O maior símbolo de amor existente. Bem, pelo menos é o que dizem os livros de romance que meu pai tem.
Paro diante da enorme porta — ao menos parece enorme para um garoto de oito anos —, dando leves batidas. A voz suave confirma a minha entrada e, sem pensar duas vezes, invado o enorme salão de visitas. O piano branco, como sempre, encontra-se no canto onde minha mãe o tocava. Seus dedos finos e delicados passeavam pelas teclas conforme uma doce melodia escapava de seus lábios.
Em passos lentos, atravesso o salão passando pelo belo tapete branco e macio. Os lírios nos vasos de ouro estavam mais vívidos do que nunca.
— Mamãe, olha o que eu achei.
A música para abruptamente. Roseta virava o rosto em minha direção. As suas feições doces e suaves desaparecem ao notar a minha presença. Nunca consigo vê-la sorrir ao meu lado. É como se eu sugasse toda a sua energia.
— Encontrei no jardim. Eu li em um dos livros do papai que rosas são demonstrações de amor. Quero mostrar como eu a amo, mamãe.
Roseta segura a flor e seus lábios se tornam uma linha fina. A expressão é indecifrável.
— Aloys, flores são para poetas e amantes incuráveis; não para príncipes. O seu pai continua colocando essas baboseiras de romance em sua cabeça? Desista. Histórias de amor não são vividas por monarcas. Além do mais... — lentamente, ela arrancava pétala por pétala. Um nó se forma em minha garganta. — Você não nasceu para essas coisas.
— Como... Como assim?
— Não nasceu para receber o amor. Você não é digno de algo tão belo, não quando vem de alguém tão miserável quanto o seu pai. — responde devolvendo- me o que sobrou da flor.
Retiro a camisa azul e a coloco na poltrona. As velas nos cantos do quarto o deixam iluminado. Depois de uma conversa exaustiva com aquela garota, tudo o que desejo é um bom banho e descansar. E assim o faço. Afundo o meu corpo na banheira até que parte do desconforto se dissipe na água. Logo após, visto um robe de seda cinza e sigo para minha cama.
A minha cabeça ainda está cheia com lembranças da última reunião com a corte. Odeio admitir, mas Fausto está certo. Não é somente de paz que se vive um reino. Valfem precisa aumentar seu poder econômico se quero que meu povo melhore de vida. Mas não quero viver de guerras como Lorcan, e tampouco ser bondoso para ser enganado novamente como o meu pai.
— O que eu devo fazer?
Um ruído fino ecoa no silêncio. Passos suaves rangem no piso. Então, encaro por cima dos ombros a pequena figura a se aproximar. Abro a boca em formato de "O", murmurando:
— O que diabos...
Alene usava uma fina camisola branca de renda. Um decote bem considerável deixava o volume dos seios expostos. As pernas à mostra até metade das coxas. Além de camisola, havia um longo robe branco de seda. O seu cabelo vermelho como o fogo descia pelos ombros nus.
— Eu sou uma mulher simples, Alteza. Mas gosto de honrar com minhas obrigações. Por favor, não me negue o seu toque. — dizia aproximando-se em passos graciosos, como uma cobra pronta para dar bote. O que é estranho, levando-se em conta suas feições inocentes. — Lidar com um reino deve ser cansativo. Deixe-me ajudá-lo de alguma forma.
Alene contorna a cama, parando diante de mim. Abri a boca para contestar, mas suas mãos delicadas já estão apoiadas em meu peitoral enquanto ela sobe em meu colo. A ruiva pisca os olhos de maneira inocente, apesar de suas mãos traçarem um percurso perigoso pelo meu peito, abrindo o robe. Os dedos deslizam pelo abdômen, descendo cada vez mais.
O leve arranhar de suas unhas causa-me calafrios, mas seguro a sua mão impedindo-a de avançar.
— Eu não pretendo tomá-la essa noite, senhorita.
Por uma fração de segundos, ela esboça surpresa antes de retornar ao sorriso delicado de antes.
— Está cansado, não é? Posso, ao menos, fazer uma massagem para que tire a tensão e amanhã...
— Está equivocada. Não irei deitar com a senhorita hoje, nem amanhã... Nem em momento algum.
Seguro as suas mãos a afastando de mim, mas a ruiva ainda reluta rebolando em meu colo. Mordo o lábio enquanto contenho qualquer pensamento inadequado. Ela é uma mulher bonita, de fato, mas isso é errado. Muito errado.
— Fiz algo inapropriado, Alteza? Sou feia demais para o senhor?
Céus, não! Provavelmente é a mulher mais bonita que já vi.
— Claro que não. Eu não sei o que andam dizendo sobre mim, porque você é a sexta concubina que se jogou dessa forma. Não vou seguir esse rito idiota de Valfem, mas também não vou desonrar o meu conselho de nobres. Então, finja que tivemos uma noite incrível e não conte isso para ninguém, assim como as outras fizeram.
Um longo momento de silêncio sucedeu minhas palavras. Continuava segurando ambas as mãos da ruiva e pensei em soltá-la, mas ela mexeu o quadril de uma forma que todo meu corpo reagiu ao seu toque. A camisa subia um pouco devido ao movimento, expondo totalmente suas coxas. Evitei o máximo possível olhar o seu corpo, porém a mulher possui uma determinação inabalável.
— Alteza, eu não me importo com esse rito também, só quero senti-lo em mim.
— Ora, controle-se! Deram alguma comida afrodisíaca para a senhorita? — questiono franzindo o cenho. O que diabos deu nessa mulher?
Porém, ela continuava a se mexer. Então, aperto com mais firmeza seus pulsos enquanto impulso o corpo para o lado, fazendo nós dois cairmos na cama. Alene fica por baixo com as mãos presas acima de sua cabeça enquanto estou sobre o corpo dela, olhando-a diretamente nos olhos.
Alene também parece surpresa, pois seus finos lábios rosados estão entreabertos e ouço sua respiração ofegante. Depois de longos segundos, ela murmura:
— Estou achando que Vossa Alteza tem pouco apreço pelas mulheres.
Ergo uma sobrancelha.
— Perdão?
— Estou dizendo que Vossa Alteza não deve apreciar muito as mulheres, estou certa?
— O que a faz crer nisso?
— Pela forma como evita me tocar, nega meus mais sinceros desejos. Tudo isso me levar a crer em duas opções: o senhor não gosta de mulheres ou... — ela umedece os lábios de forma lenta e provocativa. — ... É incapaz de dar-lhes prazer.
Não podia acreditar em tamanha insolência. Estou sendo chamado de incompetente na cama pela minha própria concubina. Tudo bem que não pretendo usá-la dessa forma, mas meu ego acaba de ser ferido.
Em resposta, aperto mais ainda seus pulsos enquanto a outra mão envolve o pescoço da ruiva de forma dominante. Quando abaixo o rosto, deixando poucos centímetros separarem meus lábios dos seus, percebo como sua respiração fica entrecortada.
— Não, Alene. Eu aprecio muito as mulheres e, com toda certeza, consigo proporcioná-las mais prazer do que pode imaginar. Mas eu não costumo apreciar ataques noturnos sem minha permissão, e muito menos uma língua tão afiada. — digo passando o dedo indicador pelo seu lábio inferior, puxando-o lentamente até que ela abrisse a boca. — Se eu realmente quisesse usá-la ao meu bel prazer, você já estaria toda molhada e com as pernas abertas implorando para me sentir.
O rosto dela torna-se tão vermelho que, por um instante, as sardas somem. Alene está com seus belos olhos esverdeados arregalados, mantendo o intenso contato visual. Enquanto isso, introduzo lentamente o polegar em sua boca, podendo sentir a maciez de sua língua.
— Não é querendo ser arrogante, só que nenhuma mulher se queixou de estar na cama comigo antes, mas...
Solto a jovem e saio de cima dela, ajeitando o robe de seda. Um longo suspiro escapa de meus lábios ao mesmo tempo que desvio o olhar para a janela. Do meu quarto, tenho uma ampla visão do reino e do céu estrelado.
— Eu sei quando uma mulher quer se entregar de verdade. E esse não é o seu caso. Não sei porque está condicionada a agir assim, mas não faça isso de novo.
Demora um certo tempo até ela se recompor, sentando-se na cama. Alene ajeita a camisola e volta a me encarar de uma maneira indecifrável. As mechas ruivas estão um pouco bagunçadas, porém continuam charmosas. Essa mulher pode dar cambalhotas na cama e continuará com a beleza intacta.
— Eu... Eu não entendo.
— Boa parte das jovens aqui estão sendo bem recebidas por Tristan. Com certeza, ele está aproveitando mais esse rito do que eu. — comento lembrando-me do meu amigo gracejando as concubinas e, depois, levando-as para seus aposentos. — Não tenho tempo para isso.
— Está negando a própria tradição por falta de vontade? É isso?
— Estou negando porque Valfem precisa de muito mais do que o tal príncipe boêmio que falam pelos corredores.
Ela cora novamente e presumo que, desta vez, seja de vergonha.
— Os comentários sobre o senhor...
— São falsos. A verdade é que já fui para muitas festas com Tristan e, como ele é sempre visto rodeado de mulheres, acabei levando a má fama também. É muito prazeroso atacar um monarca com falsas acusações, o povo tem a tendência a acreditar nelas. — digo indo até minha poltrona, pegando um longo sobretudo azul e voltando para perto da cama. Alene já está de pé com o olhar inquieto, focando em cada canto do quarto, evitando olhar para mim. Quando coloco o sobretudo em seus ombros, noto a surpresa em sua face. — Não nego que já me diverti muito, mas nunca fui um galanteador como dizem.
Alene ajeita o sobretudo dando alguns passos para longe de mim. Ela encara os próprios pés com um olhar vazio e distante.
— Quer dizer que eu não vou precisar servi-lo nesse período no castelo?
— De forma alguma. Tire esse tempo para conhecer o palácio. Há vários lugares que aposto que chamarão sua atenção.
Ela morde o lábio antes de me encarar.
— Quero que Vossa Alteza me mostre.
Pisco os olhos, confuso.
— Perdão?
— Quem melhor para me mostrar o castelo do que o dono dele?
— Ultimamente, não tenho tempo para passeios. As responsabilidades como um pri-...
— Se não aceitar, conto para todos que está desonrando a tradição de Valfem. O que o conselho de nobres pensará sobre isso? Aposto que ficarão furiosos.
Arregalo os olhos.
— Você não ousaria.
— Não sou como as outras que se contentam com palavras bonitas, estou disposta a contar a verdade caso negue minha companhia.
Suspiro com pesar massageando as têmporas. Quem diria que uma jovem tão gentil teria uma personalidade complicada?
— Tudo bem, mas apenas três noites. Eu a darei três noites minhas para que conheça o castelo.
— Dez noites. Não vou aceitar tão pouco.
Jogo o cabelo para trás, inquieto.
— Cinco noites. Eu também tenho meus compromissos como monarca.
A ruiva apoia as mãos na cintura fina.
— Oito noites.
— Sete noites. Se recusar, pode desistir.
Ela respira fundo e assente com certa relutância.
— Certo, sete noites é o suficiente. Foi bom negociar com o senhor. — dizia segurando a borda da camisola e fazendo uma reverência. Mais uma vez, preciso desviar o olhar para outro lugar que não seja seu decote generoso. Ela se demora nessa reverência, como se estivesse propositadamente querendo me provocar. — Tenha uma boa noite, Alteza.
De canto, espio Alene se afastar balançando os quadris. Somente quando a porta se fecha é que me permito respirar com tranquilidade. Jogo o corpo na poltrona, observando a porta onde, instantes atrás, a mulher mais insistente do continente passara.
Algo em meu interior dizia que essas seriam as sete noites mais longas da minha vida.
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