Capítulo 26
O palácio está agitado com o primeiro baile em muito tempo. Enquanto saio de uma reunião com a viscondessa de Alkaid, observo os empregados correndo com cortinas e flores. A decoração será a mais colorida possível, a fim de afastar o clima pesado deixado por Amis e Roseta.
— Esse será um grande evento para o reino. Espero que tudo ocorra como o planejado. — pontua Helena ao meu lado. Ela usava o fardamento militar de Valfem, uma camisa e colete azul com detalhes cinzas nas mangas. O seu cabelo cacheado e volumoso está preso em um coque. — O rei Lorcan confirmou a sua presença?
Com um nó na garganta, nego.
— Isso é preocupante, Alteza. Ele é nosso governante e a sua presença consolidaria a segurança no reino.
— A rainha de Aryan virá. Ela é a nossa maior aliada no momento.
Vejo o brilho esperançoso no olhar de Helena. Quem não se animaria com a presença da dona do maior exército do continente?
— Nada pode dar errado hoje. — comenta uma voz retumbante conforme a figura se aproximava. Letholdus mantinha a postura ereta e rígida, como sempre. — Entende o peso em seus ombros, Alteza?
Como poderia esquecer? Passei as últimas noites em claro, planejando esse baile e a posição dos nobres em suas mesas. Diferente dos bailes em Velorum, aqui temos uma pista de dança no salão principal, mas também há uma área com mesas redondas e decoradas onde os convidados socializam.
— Eu darei o meu melhor, Letholdus.
— O melhor não é o suficiente. Você precisa ser perfeito, como um rei. — dizia ao passar por mim, lançando-me o seu costumeiro olhar rígido. — Lady Fitzgerald, é um prazer tê-la em nosso castelo.
Helena sorri gentilmente.
— Agradeço à hospitalidade.
— O que me diz de um passeio? — convido vendo seu semblante surpreso. — Depois de uma reunião chata, acho justo acabar com as formalidades.
Ela assente e se vira para Letholdus.
— Nos vemos depois.
— Sinta-se em casa, lady.
Depois de nos despedirmos do Letholdus, seguimos para os estábulos onde o meu cavalo e o de Helena estão localizados. O servo responsável prepara ambos em uma velocidade surpreendente e, logo em seguida, iniciamos nosso passeio pelo campo aos fundos do castelo.
Não há nenhuma árvore, apenas arbustos e uma extensa e macia grama verde. Pegasus trotava de forma majestosa, fazendo-me lembrar de quando o ganhei de presente do meu pai aos dez anos. Nunca esquecerei da alegria em ter um animal só meu, alguém para compartilhar minhas futuras aventuras.
Além de que, às vezes, fantasiava sendo um príncipe em seu cavalo branco onde salvava a princesa da torre.
— Como vai sua esposa? — pergunto a fim de quebrar o silêncio.
— Vai bem. Minha doce Luise está administrando bem nossas terras durante minha ausência.
— Ela não virá ao baile?
A brisa suave brincava com meu cabelo preso em um curto rabo de cavalo.
— Infelizmente, não. Os nossos gêmeos adoeceram com uma gripe sazonal. Acontece muito na região norte de Valfem, onde o clima é mais frio.
Assinto em silêncio.
Passamos por um vasto campo de areia, onde meus melhores soldados treinavam. O grito sincronizado do batalhão faz Helena dar um leve pulo, surpresa. Ela para o seu cavalo para admirar alguns instantes do treinamento, provavelmente lembrando de quando lutava pelo reino. Após a última guerra, Helena recebeu o título de viscondessa do meu pai e o direito de viver uma vida pacata ao lado da mulher que ama.
— Conseguiu o apoio de Velorum para treinar o seu exército, Alteza?
— Tristan esteve em Velorum para negociar esse ponto mas, sendo positivo, creio que conseguiremos. O meu amigo é bastante persuasivo quando quer.
Helena acaba rindo com o meu comentário.
— Lembro daquela reunião em que ele convenceu o Fausto a doar parte da fortuna para a academia de Artes. Nunca imaginei que alguém conseguiria mudar a opinião daquele homem.
— Não minto. Fausto é um desafio e tanto.
— Principalmente após perder a esposa e o filho. — comenta Helena balançando a rédea do seu cavalo e, assim, continuamos o passeio. — O seu irm-... Amis condenou a vida do pequeno Cedric, que tinha apenas seis anos. Óbvio que Fausto e sua esposa não aceitaram, mas somente ele conseguiu fugir de Valfem até a situação de estabilizar.
— Fausto carrega o peso da culpa. — afirmo conduzindo Pegasus para trotar ao lado da mulher. Ao horizonte, avisto o Sol se despedindo nas colinas. O tom alaranjado reflete a minha pele morena. — Viu a esposa e o filho serem capturado pelos guardas e, ainda assim, fugiu.
— Isso explica o porquê do seu jeito amargo.
Subitamente, lembro da forma como ele tocou a Alene e o sangue em minhas veias ferve.
— Mas isso não justifica os atos do maldito.
Ao virar o rosto, encontro Helena com uma expressão estranha, parecida com pena.
Não gosto de receber essa expressão.
— O senhor passou por muito também, Alteza, e nem por isso trata os demais com hostilidade. Eu admiro essa resiliência.
Concentro minha atenção no campo, puxando Pegasus para dar meia volta e retornar ao castelo.
— Está tarde. Vamos voltar.
Ela não contesta, acompanhando-me com seu cavalo alguns metros atrás.
♕♕♕
Inspiro profundamente antes de pisar no primeiro degrau. O baile, que antes era um coro de vozes, fica em completo silêncio conforme desço as escadas. O meu longo manto azul se arrasta pelo tapete vermelho enquanto as mechas do cabelo, um pouco molhadas por causa do recente banho, balançam com suavidade. De canto, vejo o olhar de aprovação de Joana, a governanta e responsável pela escolha da minha roupa.
A camisa cinza combina com o apertado colete preto de botões prateados. A calça de montaria preta descia com um par de coturnos de mesma tonalidade. Por fim, um broche de prata com o emblema do meu reino.
Ao descer o último degrau, cumprimento um por um dos convidados, sendo recebido por sorrisos e abraços calorosos.
O primeiro baile em Valfem, após a tragédia, é marcado por cores vibrantes. As janelas estão cobertas por arcos de flores dos mais variados tipos. No centro do salão, casais já iniciavam uma valsa lenta — depois da minha permissão — enquanto mesas, localizadas ao redor do enorme salão de piso brilhante, estão repletas de convidados das mais diversas classes e reinos. No teto, um belo lustre de diamantes ilumina o ambiente.
As mesas com toalhas brancas e cadeiras douradas eram enfeitadas por arranjos de flores e velas de aromas doces.
— Pelas estrelas, isso está lindo demais! — dizia uma voz masculina e conhecida ao meu lado. — Você escolheu bem o tema, grandão.
Tristan trajava um colete amarelo por cima da camisa branca, calça marrom e coturnos pretos. O longo cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo enquanto sua afiada espada permanecia presa na cintura.
— Nada pode dar errado hoje. — murmuro olhando o horizonte, avistando Letholdus com uma folgada camisa vermelha e calça preta, conversar com nobres de Cartelli. — É nossa única chance de fortalecer laços sem parecer suspeito.
— Chamar a atenção dos espiões de Velstand seria uma péssima escolha. — conclui o meu amigo. — Noah descobriu alguma coisa?
Nego com a cabeça.
— Merda. Não podemos demorar para encontrar todos os espiões antes que o pior aconteça, Aloys. Por sinal, onde está o Noah?
Meneio com a cabeça em direção ao espião à alguns metros daqui. Noah trajava um longo casaco preto, que descia até suas coxas, com espirais prateadas nas mangas e gola. O cabelo preso, metade em um coque no topo da cabeça, a outra metade tocando nos ombros. O rapaz escutava a conversa de dois nobres, balançando constantemente a cabeça.
— Hoje é o dia perfeito para ele extrair informações. Vou pedir que ele faça isso. — profere Tristan dando o primeiro passo, mas seguro o seu braço. — O que foi, grandão?
— Deixe-o aproveitar o baile. É um dos poucos dias em que poderá conversar com a Aly. Acha justo privá-lo dessa migalha de felicidade?
Pela forma como torce a boca, sei que o ruivo está tão sentido quanto eu. Não éramos insensíveis ao ponto de atrapalhar a noite do Noah, mesmo ele sendo o nosso espião.
— Por sinal, ele está vindo em nossa direção. — sussurro avisando o rapaz se aproximar e fazendo uma reverência para nós dois. — Olá, Noah! Já viu a Alyssa?
O seu rosto adquire uma tonalidade rosada. Em seguida, o espião tira um pequeno caderno do bolso junto com sua caneta, escrevendo rapidamente. Ao mostrar a folha para mim, leio baixinho a frase: "Já viu a Alene?"
A risada do Tristan é sincera e alta. Ele apoia a mão na barriga, rindo sem o menor senso de classe e atraindo a atenção alheia, enquanto Noah tinha um leve sorriso diante do meu rosto corado.
— Ora, vocês dois...!
— Olá, meninos! — grita uma voz feminina, passando pela multidão e ignorando os olhares. — Que saudade de vocês!
Alyssa esbanjava beleza e elegância com seu longo e volumoso vestido vermelho de pedrinhas de jade. A cor chamativa contrastava perfeitamente com a pele negra. Havia um laço vermelho e mediano nas costas, e um decote generoso destacando os seios avantajados. O seu longo cabelo cacheado estava solto e uma bela coroa dourada com uma pedra de jade cintilava acima da cabeça.
Posso jurar que Noah vai inundar o salão com sua baba.
Após ser recepcionado por um abraço apertado, Alyssa envolve um braço entorno do ombro de Noah, não notando a sua vermelhidão.
— Onde está a Alene?
Tento ignorar o olhar travesso de Tristan para comentar:
— As concubinas não podem participar do baile. Você sabe que essa é a regra, Aly.
Ela revira os olhos.
— Não ache que vou cair nessa bobagem, Aloys. Nós dois sabemos que você é incapaz de deixá-la trancada em um quarto enquanto todos se divertem. O seu pai seguia cegamente as regras, não você. — dizia deixando a expressão séria ao apoiar a mão livre na cintura. — Então, eu torno a repetir. Onde está a Alene?
Suspiro com pesar, esticando o braço para pegar uma taça de vinho de um serviçal que passava.
— Eu...
— O nosso príncipe bebê permitiu que as concubinas aproveitassem o baile. — responde Tristan por mim. — Foi um choque e tanto. Como nosso conselho ainda possui conservadores, decidimos dar uma restrição para essas mulheres.
— Contra minha vontade, é claro. Por mim, estariam dançando livremente em meio ao povo.
O ruivo dá um sorriso de canto, voltando-se para a princesa.
— Elas estão no andar de cima, tendo acesso às bebidas e comidas de melhor qualidade enquanto observam o baile.
— É um pequeno passo, mas muito significativo. — Alyssa completa a nossa linha de raciocínio, quebrando a distância para me envolver em um abraço apertado. — Estou feliz por você, Aloys. Queria que todos pensassem dessa forma.
Sorrio sem jeito, sentindo as bochechas esquentarem.
O ruivo estreita os olhos para o horizonte, murmurando:
— Por falar em necessidade de caráter decente...
O meu olhar acompanha o seu, vendo Hakon se aproximar com aquele maldito sorriso confiante. Ignorei o olhar suplicante de Alyssa para mantermos a postura calma enquanto o loiro jogava os fios brilhosos para trás. Ao parar alguns passos de distância, fazia uma breve reverência.
— Alteza. Tristan. — dizia voltando o olhar para o rapaz ao lado de Alyssa. — Noah. Nossa, eu já ia esquecendo da sua exis-...
— Espero que esteja aproveitando o baile. — corto o maldito antes que magoe o meu espião. — Apesar de que o convite foi apenas para a família real.
Hakon dá nos ombros.
— Logo eu irei fazer parte dela, então não vi problema acompanhar a minha noiva nessa celebração.
— Anda bem confiante com esse casamento, Hakon. — alfineta Tristan.
— Eu não deveria?
O ruivo responde com um simples sorriso.
O clima tenso é quase palpável.
— A Alene está linda. — comenta Alyssa olhando para algum ponto acima dos meus ombros. — Mas não havia um vestido mais... Discreto?
Olho para o segundo andar, notando que a ruiva me encara. As suas mãos, cobertas por compridas luvas roxas até os cotovelos, estão apoiadas na pilastra dourada. O cabelo ruivo preso em um coque alto com algumas mechas modulando o rosto fino. O vestido roxo descia por seu corpo magro, abrindo em duas fendas nas pernas.
Quando nossos olhares se encontram, ela abre um sorriso sem jeito.
Sinto uma vontade absurda de trazê-la para o centro do salão. Até dou o primeiro passo, mas uma mão segura o meu braço. Então, desvio a atenção para a dona de toque tão firme.
A rainha de Aryan, Eleonor Rigby, trajava um longo vestido branco com bordados dourados nas mangas longas. Havia um cinto de ouro entorno da sua cintura. A roupa descia de forma majestosa pelo chão, como um manto abençoado pelas estrelas. O seu longo cabelo preto estava metade preso enquanto o restante das mexas caía sobre os ombros largos. Todo o seu corpo e postura evidenciava o passado como guerreira de Icarus; braços musculosos, algumas cicatrizes nas partes visíveis da pele e, principalmente, olhos ametistas sagazes e atentos.
Apoio a mão no peito, reverenciando-me lentamente.
— Majestade.
Ela acena com a cabeça enquanto os demais imitam o movimento. Eleonor é respeitada não apenas por seu título, mas também por suas conquistas. Antes de ser rainha, era uma guerreira estimada por Lorcan e o ajudou em diversas batalhas. Mesmo após assumir o trono, seguiu carreira militar por anos até ter sua primeira filha.
— Ela é tão elegante. — Alyssa murmura ao meu lado.
— Vossa Majestade, que honra tê-la aqui. — dizia Hakon utilizando seu tom de voz galante e enjoativo. — Não imaginei que iria visitar um reino tão pequ-...
Eleonor estica a mão para o loiro, interrompendo sua fala e, ainda com o olhar focado em mim, profere:
— Gostaria de ter uma conversa com Vossa Alteza.
Se não fosse pela delicadeza do momento, eu iria rir da expressão pasma de Hakon. Tristan não teve o mesmo autocontrole, pois puxou Noah e Alyssa pelo braço enquanto gargalhava.
— Claro, Majestade.
Nós dois seguimos pelo baile, cumprimentando alguns nobres até estarmos no jardim do palácio. O balançar suave da brisa de verão acariciava as mechas do meu cabelo, afastando-as do rosto.
— Como está a situação de Valfem?
Curta e direta, como uma guerreia.
Adoto uma postura mais séria, estufando o peito e apoiando as mãos nas costas.
— A situação bélica está acima do esperado. Os nossos agricultores têm produzido o dobro do previsto e, provavelmente, ao fim da temporada teremos grãos para exportar. O meu chanceler, Letholdus, está encarregado de estreitar as relações com Cartelli e, assim, conseguir um comprador seguro. Quanto ao exército, estou providenciando um treinamento direto com os guerreiros de Icarus.
Ela inclina suavemente a cabeça, analisando-me com neutralidade.
— E a sucessão? Soube dos atentados contra você, príncipe Aloys. Creio que esse assunto seja tão importante quanto os demais.
No fundo, sabia que ela tocaria nesse assunto e, mesmo assim, o embrulho no estômago é inevitável.
— Ainda estou procurando a melhor opção de esposa, Majestade.
— Eu não acho que esteja procurando nada, Alteza. Princesas adequadas existem aos montes, se for sábio o bastante para encontrá-las, mas o que eu vejo é alguém fugindo da sua responsabilidade. — dizia com firmeza e só posso abaixar a cabeça em resposta. Eleonor é uma estrategista nata, óbvio que notaria o meu descaso sobre o casamento. Instantes após, a sua expressão se suaviza, bem como o seu tom de voz. — Um reino sem herdeiro traz insegurança e, com a insegurança, a possibilidade de um golpe. Não queremos que você perca o legado dos Rilley. É uma família honrosa que tem feito o melhor para o seu povo.
Permito que o ar saia dos meus pulmões em um demorado suspiro. Eleonor abre um suave sorriso para aliviar o clima, depois senta no banco de mármore ao lado e dá leves tapinhas no espaço vazio.
— Quero que meu pai sinta orgulho de mim, seja lá onde ele estiver. — admito sentando ao seu lado. Apoio as mãos nas coxas enquanto inclino o corpo para fitar a grama verde à minha frente. — Mas casar sem amor parece tão...
— Errado. Sim, eu sei. Mesmo tendo casado com sentimento, já vi muitos nobres se atrelando às relações infelizes. Não desejo isso para ninguém mas, como rainha, também aprendi que o reino deve estar acima dos seus desejos. O seu pai teve que tomar essa escolha difícil.
Lanço um olhar confuso para a mulher.
— Mas ele e Roseta não se amavam?
A risada de Eleonor é tudo, menos calorosa.
— Dominic nunca amou aquela víbora. E não, não irei me desculpar por ofender aquela mulher, até porque...
— Ela me trancafiou em uma cela no subsolo e me torturou por um ano. — comento com uma risada forçada. — Qualquer ofensa dirigida à ela, tem meu total consentimento.
Ela pigarreia retornando ao assunto.
— Quando eu o conheci, estávamos no campo de batalha lutando contra um reino do Norte. Foi uma luta difícil, mas vencemos. A comemoração da vitória foi repleta de bebida e música. Lembro-me de Dominc comentando comigo e seus outros companheiros de guerra sobre o seu grande amor. Uma mulher de olhos cor de mel e sorriso doce.
Prendo a respiração, prestando atenção em cada palavra dita.
— Dominic sempre dizia que se arrependia de não ter sido forte o suficiente para lutar pelo amor dele. E que, em outra vida, talvez, tivesse a chance de mostrar o quanto a queria em sua vida.
Nesse momento, todo o meu mundo para de girar. As palavras de Eleonor tornam-se sem som, apenas a sua boca se move enquanto a encaro, estático.
— Quem é essa mulher?
Eleonor cruza os braços e os músculos se contraem contra o fino tecido do vestido.
— Ele nunca disse o seu nome, mas de uma coisa eu sei: não era a rainha.
Encontro-me totalmente sem palavras. Eleonor se ergue ajeitando o vestido e desvia a atenção para meu rosto pálido. Detecto uma mistura de empatia com tristeza.
— A única coisa que posso lhe dizer, Aloys Rilley, é que Roseta não deve ser um norte para defini-lo. Seja lá o que ela te disse no passado, isso não passa de palavras de uma mulher frustrada com sua própria vida. Não é um reflexo de quem você é.
Antes de conseguir assimilar e responder, Eleonor dá as costas e segue seu caminho de volta ao baile. Porém, diante da enorme porta de acesso, olha para mim por cima dos ombros. A iluminação dos lustres acentua o tom ametista dos olhos, bem como as linhas de expressão do seu rosto.
— Aryan irá apoiá-lo, desde que encontre uma rainha o quanto antes. Dê ao seu povo o herdeiro e a estabilidade de que merecem. Eles já sofreram demais.
Pelo horizonte, avisto o povo de Valfem valsando alegremente no centro do salão. O meu povo. Quando Amis e Roseta lideraram o reino, muitas pessoas sofreram e vidas foram perdidas. E agora há uma fagulha de esperança surgindo, encaminhando-se para uma fogueira intensa.
E eu sou o responsável por manter essa chama acesa.
Mesmo com meus desejos pessoais, a felicidade de Valfem é a minha prioridade. Por isso, levanto do banco e respiro fundo antes de seguir para o interior do castelo. Um nobre não perde tempo em me puxar para uma conversa, que se estende por tempo demais.
— Há alguém que quer conhecê-lo. — uma voz feminina murmura em meu ouvido. De canto, noto Katlyn, trajando um terno cinza e com o cabelo cacheado solto, encarando-me cheia de expectativa. — É uma princesa. Uma candidata digna, eu diria.
Despeço-me do nobre com um aperto de mão e sigo a mulher até o canto do salão, onde encontro a tal princesa. A sua estatura mediana e vestido de tonalidade vermelha chamam a atenção das pessoas ao redor. O cabelo da jovem, longo e preto, estava solto tocando o seu quadril. A pele morena dela reluz com a iluminação local. Ao me avistar, vejo os olhos negros cintilarem antes de se reverenciar, fazendo as joias de ouro em seu pescoço — junto com os brincos enormes com pedrinhas de jade — se moverem. Além da maquiagem marcante nos olhos, há uma pedrinha vermelha no centro da testa.
Quando retorna a postura ereta, exibe um sorriso gentil em seus lábios vermelhos. A suave brisa invade a janela próxima, erguendo o longo véu vermelho — também contendo bordados dourados nas pontas — sobre a sua cabeça.
— Alteza, essa é Ishani Kaur, princesa de Taara. — dizia Katlyn. — Princesa, esse é o príncipe de Valfem, Aloys Rilley.
— Alteza. — nos cumprimentamos em uníssono com uma reverência.
— Preciso encontrar o Njaal. — a arqueira profere, curvando-se brevemente. — Altezas.
O olhar gentil de Ishani se direciona a mim. O sorriso continua presente em seus lábios.
— O seu reino é tão lindo, Alteza.
Sorrio fraco em resposta.
— Obrigado. Como é Taara?
Ishani pegava um doce da mesa ao lado, levando-o a boca com extrema elegância. Os dedos finos roçam suavemente nos lábios antes de erguer o olhar para mim.
— Taara é estável economicamente e somos muito fiéis às nossas tradições. Também temos influência no comércio de temperos e ferro.
— Bastante parecido com Valfem, pelo visto.
— Isso mesmo! A senhorita Katlyn me informou sobre... Como posso dizer...
— O casamento? — arrisco-me perguntar.
Ela assente em silêncio, desviando o olhar para o horizonte.
— Algum problema, princesa?
— Eu gostaria de conhecê-lo melhor, Alteza. O seu reino, a sua cultura... Tudo. Sabe, conheci a sua história através de viajantes. Um príncipe trancafiado pela própria família e, depois, assumindo o trono de um reino quebrado. Eu admiro a sua força de vontade. — comenta virando-se para mim e dando um passo para frente. O seu cheiro de frutas tropicais invade o curto espaço entre nós dois. — Quero fazer um pedido, Alteza.
Ajeito a postura, abaixando o olhar para estabelecer nosso contato visual.
— Claro. O que deseja, princesa Ishani?
— Case-se comigo, por favor!
♕♕♕
Ishani Kaur
"Ó noite, minha noite, por causa do amor, minha noite é cada dia maior."
Sherine - Kalam Eineh
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