Capítulo 23
Eu não irei perder essa guerra.
Os passos firmes de Lyanna compõe o único som do largo corredor, que dá acesso aos quartos reais dos membros mais confiáveis da corte; dentre eles da minha amada Lyanna Harroway.
Antes mesmo de chegar ao quarto, sou jogada na parede pela albina sentindo suas mãos passearem pelo meu corpo.
— Senti tanto a sua falta, Bella. — sussurra pressionando os lábios contra os meus.
— Ah, querida. Não houve um dia sequer que você não dominasse os meus pensamentos.
— Gostaria de saber os resultados da expedição?
— Tenho certeza de que são satisfatórios mas, no momento, estou mais interessada em senti-la junto à mim.
Lyanna sorria durante o curto beijo que trocamos, colando mais ainda nossos corpos. Ergo a mão para puxar o seu longo cabelo branco, deliciando-me com a sensação dos dedos passeando pelos fios sedosos. Enquanto isso, Lyanna está acariciando minha língua com a sua em uma troca erótica de saliva.
Ela retira a luva de metal para, em seguida, subir a mão pelo meu vestido. Os dedos firmes e calejados dos treinos passeiam pela minha pele desnuda até encontrar a região entre as pernas.
— Mostre-me o quanto você estava com saudades, Bella.
Assinto sem interromper o beijo. Ergo a perna até seu quadril, onde ela a segura com a outra mão. Então, os seus dedos ágeis encontram o meu interior molhado e noto os lábios da albina se curvando em um sorriso malicioso.
— Tão molhada, querida? Desse jeito, eu não conseguirei esperar até chegarmos ao quarto.
Mordo o lábio.
— Você nunca foi muito paciente, Lya. E pouco me importo com isso.
Sem tirar o sorriso, ela se ajoelha diante de mim. O som metálico da joelheira ecoa no corredor. Lyanna apoia a minha panturrilha sobre o seu ombro, afundando a cabeça entre minhas pernas. Seguro a sua cabeça com ambas as mãos, contorcendo-me ao sentir a sua língua tocar minha sensibilidade. Jogo a cabeça para trás, bagunçando o penteado ao roçar contra a parede enquanto movo os quadris.
Uma empregada passa pelo corredor, mas faço pouco caso de esconder o meu corpo. Não tenho vergonha de mostrar o quanto amo e sou devota à essa mulher. O nosso amor não é motivo de vergonha, como muitos insistem em achar. Além de que, boa parte dos empregados sabe do meu caso com Lyanna. O único alheio à situação é o idiota do meu marido, que mais parece preocupado em tomar o trono de Valfem e comer jovens inocentes, do que se preocupar com a própria esposa.
Melhor assim.
— Ah, Lya... Isso é tão bom.
Gemo o seu nome o mais alto que posso. Quero que todo o castelo saiba o nome de quem pertence realmente o meu corpo e o meu coração.
Lyanna enfia dois dedos em mim, que deslizam facilmente de tão molhada que estou. Continuo movendo os quadris enquanto aprecio a sensação de ser tomada no meio do corredor.
A onda de prazer me toma até que sou levada para outro mundo. Um lugar onde tudo é maravilhoso, onde eu e ela podemos viver uma vida felizes juntas sem olhares tortos. Estou totalmente entregue ao orgasmo, tendo espasmos enquanto a puxo contra mim até que essa sensação passe.
Antes de cair no chão, Lyanna me segura em seus braços firmes conduzindo-me para o meu quarto. Como rainha consorte, não preciso necessariamente dividir a cama com o rei, por mais que o miserável queira uma companhia de vez em quando.
Ao ser deixada na cama, Lyanna retira meus anéis e colares, junto com meu longo vestido preto. A sua armadura não passa de meros pedaços prateados compondo o caminho da porta até a cama. Vendo o corpo da minha amada sem qualquer peça o atrapalhando, mordo os lábios e estico os braços.
— Venha, meu amor.
Lyanna se coloca por cima de mim, colando nossos corpos enquanto me beija mais uma vez. A sua língua briga por espaço, os dedos voltam a estimular a região entre minhas pernas que, devido à sensibilidade do recente orgasmo, fazem meu corpo ferver.
— Eu te amo, Arabella. — murmura durante o beijo.
Arranho suas costas, sabendo que marcarei sua pele alva com várias listras vermelhas.
— Eu te amo, Lyanna. E continuarei a amando mesmo quando esse maldito mundo ruir.
♔♔♔
Afundo o rosto no travesseiro, apreciando a carícia de Lyanna em minhas costas. Ela traça as cicatrizes com tanta adoração, que quase esqueço de quem as fez. Seria mais fácil de esquecer se não tivesse me casado com ele.
— Quer dizer que o povo está irritado com meu marido? Que pena. — debocho.
Lyanna me acompanha na curta risada. Ela está deitada com o corpo de lado, admirando-me enquanto continua as carícias suaves.
— É o que ouvi no quartel. É claro que ainda há alguns idiotas que o seguem fielmente, mas nada que uma morte acidental não resolva. — brinca a albina antes de ficar séria. — Mas precisamos nos reunir com os demais o quanto antes. Talvez o príncipe Aloys não esteja tão interessado em uma rainha...
— E isso é ótimo.
— ... Mas isso não significa que não haja a chance de surgir um herdeiro. — completa erguendo-se da cama e começando a vestir a roupa. Faço um bico esticando-me na cama. — Nem faça essa cara, Bella. Sabe que me dói resistir aos seus encantos.
Solto uma risada sincera. Sento-me na cama e começo a me vestir também, colocando todas as joias e adornos que me tornam a figura imponente que preciso ser.
— Teremos ser rápidas em iniciar essa guerra. Sinto que o Kendric está notando as movimentações internas da corte, por mais burro que seja. — comento refazendo as tranças que, minutos atrás, foram desfeitas pelas mãos firmes da minha mulher. — E estou com o pressentimento de que Alene irá se apaixonar pelo príncipe, o que é bom e ruim nos nossos planos.
Lyanna arqueia a sobrancelha. Mesmo totalmente vestida, posso ver o seu corpo escultural por cima da armadura.
— Como isso pode ser bom? Envolver sentimentos irá estragar a sua fidelidade com Velstand.
Reviro os olhos, levantando-me após vestir a roupa e as joias. Desfilo até Lyanna balançando os quadris até suas mãos estarem em minha cintura, e meus braços entorno do seu pescoço.
— Ela nunca foi fiel à Velstand, querida. Mandei investigar o seu passado. Ela e a mãe fugiram daqui por causa da pobreza. Por decisões péssimas do Avery, covardes abandonaram a sua terra. E Valfem é um lugar de fartura. Como concubina do rei, Alene tem mais chances do que aqui.
— Se ela não é fiel, agora mesmo que não entendo porque acha um bom sinal o amor dela pelo príncipe.
— Aloys passará de um objetivo para o seu ponto fraco. E podemos fazer muitas promessas valiosas para alguém desesperada em manter a cabeça do amado junto ao corpo. — digo passeando o dedo pelo rosto dela antes de colar nossos lábios. — Eu terei os dois na palma da minha mão.
Lyanna invade minha boca com aquele jeito possessivo que deixa minhas pernas bambas. Seguro a vontade de puxá-la de volta para a cama e unir nossos corpos mais uma vez.
— Mulher maldita e esperta. — rosna mordendo meu lábio inferior o puxando antes de se afastar. — Não se atrase para a reunião.
Umedeço os lábios ajeitando algumas mechas bagunçadas do cabelo.
— A sua rainha é muito dedicada aos seus compromissos. Esqueceu?
Apoiada na porta, Lyanna abre o sorriso mais radiante que já vi.
— Sim, eu sei o quanto a minha futura esposa é dedicada.
Controlo o sorriso enquanto a observo sair do quarto para, assim, terminar de me arrumar. Alinho o cabelo e o vestido, calçando os sapatos altos e ajeitando as correntes de ouro. Kendric queria uma rainha para exibir como um troféu, e escolheu a jovem idiota e inocente que foi vendida pelos próprios pais, duques de Velstand, para ganhar prestígio na corte.
Eles mal sabiam que traziam uma raposa para o galinheiro.
Sigo pelo vasto corredor até ouvir barulhos em um dos cômodos. Paro diante da porta entreaberta, espiando o meu marido comer uma das empregadas sobre a mesa de reuniões. Reviro os olhos diante da cena e continuo a caminhar para a biblioteca — ou melhor dizendo, a minha sala de reuniões.
Lyanna já está sentada na ponta da mesa com nossos dois fieis soldados nos lados opostos.
Bomani Mwale encara-me com os frios olhos dourados. O maxilar trincado, destacando a barba fina acima dos lábios grossos e a pequena trilha de pelos no queixo. A pele negra reluzia com os raios alaranjados do final da tarde, que invadiam as finas cortinas cinzas do local. A sua armadura preta está colada ao corpo alto e musculoso. Os seus longos cabelos negros e trançados estão soltos, tocando os ombros largos e o peitoral rígido.
— Quem é vivo sempre aparece. — ironizo ao me aproximar, tomando meu lugar no canto da mesa. A luz solar ilumina as joias em minha cabeça, refletindo uma auréola dourada entorno de mim. Um contraste perfeito da imagem de esposa angelical para o demônio, que espreita durante a noite. — Fui informada por Lyanna de que o povo e o exército de Velstand estão ao nosso favor. Só precisamos firmar a aliança com o reino de Mintaka e teremos força o suficiente para tomar Valfem.
Bomani se acomoda na cadeira que parece pequena demais para seu corpo. Ele cruza os braços, erguendo uma das sobrancelhas grossas.
— Acha que é tão simples assim, Majestade? Valfem já desconfia dos nossos movimentos. Eu e meu exército não podemos sair das fronteiras no momento. Recebi informações de que estão nos vigiando de muito perto. E a equipe do Turner também não pode sair. — aponta para a figura à sua frente.
Turner Leroy sorri de canto, expondo o sorriso sacana que lança a qualquer um. O seu braço musculoso e moreno se ergue para bebericar o vinho na taça de prata em suas mãos, cobertas por luvas de couro. A camisa preta de manga curta expõe os músculos exuberantes dos braços e, também, o peitoral definido. O seu longo cabelo castanho, como de costume, está preso metade em um coque alto e o restante dos fios levemente ondulados roçam em seus ombros.
Ele lambe os lábios, passando a ponta da língua pelos caninos levemente sobressalentes e brancos.
— Mato qualquer um que estiver em meu caminho. Não me importo se o merdinha do príncipe possui espiões. Todos são iguais diante da minha lança.
— A violência imprudente não nos levará à nada, Turner. — repreendo lançando um olhar repleto de significados. — Avery queria destruir Velorum com guerras, a especialidade do seu inimigo. O maior erro que algum guerreiro poderia cometer.
— Precisamos aumentar as alianças de Velstand e conquistar Valfem por direito. — responde Lyanna com sua calma reconfortante. — Em seguida, atingir Aryan quando menos esperarmos. O seu exército é grande, mas não passarão de formigas desesperadas se matarmos a sua rainha. Cartelli e Mandrariam cairão sucessivamente.
Batuco os meus dedos, revestidos pelas garras de ouro, contra a madeira da mesa. O olhar apaixonado focado na albina falando, admirando a forma como cria estratégias perfeitas de guerra.
— Eleonor é dura na queda. — comenta Turner, adotando uma rara postura de seriedade. Ele balança a taça de sua mão, desviando o olhar para uma estante de livros. — Inteligente, durona, guerreira astuta e uma rainha de respeito. Não é uma oponente fácil de derrubar.
— Não foi você que acabou de dizer que todos são iguais perante sua lança? — ironiza Bomani. — Está com medinho dela?
Turner o olha de forma mortal.
— Eu não sou um homem de sentir medo. Nós sabemos disso.
Antes dos dois entrarem em outra longa discursão, interrompo erguendo a mão. Como bons cachorrinhos fieis, se calam imediatamente. Posso não ser uma guerreira igual aos demais na mesa, mas sou tão mortal quanto qualquer espada que já tiveram o desprazer de conhecer.
E farei de tudo para construir um reino inteiramente meu.
— Eleonor é um problema futuro. Primeiramente, vamos resolver a tomada de Valfem. É um reino com um príncipe jovem e imaturo. Ouvi boatos sobre a sua vida boêmia. Nada contra. — digo olhando de canto para Turner que ergue a taça, ironicamente. — Um alvo, só precisamos ser rápidos e silenciosos, senão...
— Vamos atrair a atenção do rei Lorcan. E então, Velstand como uma ruína deixará de ser meros boatos, mas a cruel verdade. — completa Turner.
Lorcan é o nosso maior oponente, afinal tem habilidade o suficiente para derrubar qualquer reino que ouse ameaçar sua paz. Contudo, dedicar minha preocupação para um homem recluso e viúvo é desnecessário.
— Depois da morte da rainha, ele não passa de uma peça velha no tabuleiro. Será descartado o quanto antes. — comento sorrindo de canto. — Seremos tão furtivos que ele nem perceberá que um dos seus reinos foi tomado. Um dos nossos espiões descobriu que Lorcan está recluso demais, vivendo o seu luto.
— Que provavelmente é uma fachada. Ele matou a esposa para ter o poder somente para si. — dizia Lyanna dando nos ombros. — Tudo pelo poder, certo? Os outros reis comentavam que esse monstro sempre teve a vontade de estar no trono. Somente os idiotas do Erick e do Christian que não perceberam isso.
— Péssimas escolhas. O que podemos fazer? — brinca Turner apoiando os braços na mesa. Os pelos lisos e espessos de seus braços se destacam nessa posição. — Mas a pergunta crucial é: O que faremos agora com Valfem, Majestade?
Bato a ponta da garra contra minha bochecha, tocando sutilmente nas pequenas sardas.
— Vamos testar suas forças. Não por nossas mãos, mas pelo reino de Mintaka. Isso irá desviar suas suspeitas e deixá-los confusos.
— E depois? — pergunta Bomani.
— Se formos vitoriosos, será questão de tempo para tomar esse reino. E depois disso, vamos nos espalhar como uma praga até criar um império que nem mesmo Lorcan sonhou.
♔♔♔
O jantar foi uma merda.
Kendric não parava de falar animado sobre a reunião com seus soldados, o que não passava de conversa fiada. Sei muito bem o que andou fazendo durante boa parte do dia, e pouco me importo. Infelizmente, o miserável requisitou minha presença em seus aposentos reais, o que nunca significou algo bom para mim.
— Velorum não passará de cinzas quando eu marchar contra esse reino maldito. — profere retirando o longo manto cinza, seguido por sua camisa. Contenho o enjoo ao ver sua barriga definida à mostra.
— Isso é ótimo, querido.
Forço um sorriso.
Kendric continua a tirar as roupas e, ao olhar por cima dos ombros, franze o cenho.
— Por que ainda está vestida? Eu a requisitei para me servir. É seu dever como rainha.
Comprimo os lábios, contendo qualquer ofensa que estrague minha máscara. Ao invés disso, caminho em passos suaves até o rei, arrastando meu majestoso vestido justo e preto.
— Querido, eu estou cansada. E acho tão interessante ouvir como foi o seu dia. Seria bem proveitoso se eu e voc-...
— Calada! — grita dando um forte tapa em meu rosto. Acabo caindo na cama com a mão sobre a região vermelha. — A sua única função é abrir as pernas, Arabella! E nem isso está disposta a fazer?
Ergo o queixo o encarando de forma intimidadora. O tempo de chorar foi há anos atrás, onde eu ainda tinha esperança de que ele iria mudar.
— Eu posso ser mais do que isso, Kendric. — e eu sou, completo em pensamento.
Kendric se coloca acima de mim, rasgando o meu querido vestido. Logo, abria minhas pernas após retirar as suas calças.
— Ei, espere!
— Eu não mandei ficar calada, sua puta? — profere segurando o meu rosto com força. — Esse casamento existe porque ambos saímos beneficiados. Você se livrou dos seus pais gananciosos e eu consegui um dote capaz de garantir meu lugar na corte. Então, a única coisa que eu peço, querida, é que cumpra o seu papel como mulher.
Não estou em um bom dia. Deixei Lyanna sozinha em seu quarto com o peito doendo, pois queria ter aproveitado cada momento após seu retorno. Por isso, diferente das últimas vezes, eu reluto me debatendo em seus braços. Porém, Kendric dá um forte soco em meu rosto deixando-me zonza e posso sentir o filete de sangue escorrer do meu nariz.
Logo, ele me vira de costas erguendo o vestido até meu quadril. Em um único movimento, o maldito se força para dentro de mim, onde preciso segurar firme o lençol para não ser jogada de forma violenta para frente. Ele geme como um porco, sussurrando obscenidades que aprendi a ignorar.
Ainda assim, é dilacerante ser usada dessa forma. Eu não passei cada maldito dia da minha vida aprendendo lições de dança, música, teatro e qualquer merda que agrade o meu futuro marido para ser o seu depósito de esperma.
Tento me desvencilhar, mas Kendric segura meu rosto e o afunda no colchão deixando-me sufocada. Ele continua a usar meu corpo até estar completamente satisfeito, despejando o seu líquido nojento em meu interior. Ao final, puxava-me pelo cabelo guiando meu corpo ainda fraco pelo quarto junto com o que restou do meu vestido.
— Você anda muito indisposta ultimamente, Arabella. Eu espero que isso não se repita ou sabe quais serão as consequências. — dizia antes de me jogar no corredor, quase nua. — Amanhã temos a visita do povo no castelo. Esteja apresentável. Não use um vestido como esse hoje, ou todos saberão a puta que senta ao meu lado no trono.
Ele fecha a porta com força e espero regular a respiração para ficar de pé. Limpo o sangue com as costas da mão, puxando o tecido rasgado do vestido contra meu corpo enquanto caminho até o quarto.
Em minha cabeça, mentalizo o futuro onde eu e Lyanna estaremos lado à lado no trono, governando Velstand com alguém que realmente mereça a coroa.
E com um sorriso nos lábios tingidos de sangue, murmuro:
— Eu não irei perder essa guera.
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