Capítulo 13
Sei que é tarde e, provavelmente, o príncipe está descansando após o nosso passeio. Porém, não controlo o impulso bobo e bato na sua porta, após despistar os guardas no início do corredor. Aloys não demora muito para abrir a porta, usando apenas uma longa calça preta como peça de roupa. O seu cabelo molhado tocava suavemente os ombros enquanto a água do pós-banho escorria pela barriga definida.
Com muito esforço, mantenho o olhar fixo em seu rosto.
— Eu... Eu não entendo, Alteza. Por que me deu aquele vestido?
Ele demora alguns segundos para responder, cruzando os braços e apoiando o ombro na porta.
— Não gostou?
— Claro que gostei! Qual mulher não gostaria de algo tão belo? Eu só não entendi o porquê do presente. Eu não o mereço, sou somente a sua concubina.
— Você é uma companhia agradável. Uma boa ouvinte. É óbvio que merece esse presente.
Corro os olhos por toda a extensão do seu rosto, desde o maxilar definido até os fios de cabelos levemente arrepiados, em busca de algum sinal de que está mentindo. Manipulando.
Assim como eu.
Mas não o encontro.
— Dá presentes assim para todas as concubinas que o agradem?
O seu sorriso de canto surge.
— Talvez. Sentiria ciúmes se eu fizesse isso?
Tento inutilmente não enrubescer.
— Por que sentiria? É você quem aparenta estar me cortejando.
Aloys inclina o corpo, quase tornando a distância entre nós inexistente. O seu hálito quente e de menta bate em meu rosto conforme falava.
— Sou apenas um homem que valoriza gestos carinhosos como esse. Se eu estivesse a cortejando, ganharia mais do que um vestido. Eu compraria a porra da loja inteira.
Por um instante, esqueço até mesmo de respirar. Dou um passo para frente e fico na ponta dos pés, tocando o canto de sua boca com meus lábios em um lento beijo. Fecho por olhos, concentrando-me no calor e na textura da sua pele. Ao me afastar, estou com um sorriso bobo. Por outro lado, Aloys está levemente boquiaberto encarando-me como se eu fosse uma miragem da sua mente.
— O que...
— Um agradecimento por toda a sua gentileza, Alteza. E também, uma breve demonstração do que faria se você estivesse me cortejando. — digo apoiando as mãos em seu peitoral, sorrindo de forma doce.
O olhar do príncipe demora nas minhas mãos para, enfim, focar nos meus lábios. Inexplicavelmente, desço o olhar para os seus também, prendendo a respiração.
Por que quero tanto beijá-lo? Isso não deveria estar acontecendo.
— Use-me como desejar, Alteza. — murmuro arranhando suavemente sua pele com a ponta das unhas. É notório como o rapaz estreme e fica arrepiado. — Não é uma forma de agradecer o presente, eu só quero senti-lo.
O seu olhar oscila de surpresa para incredulidade, mas o príncipe se mantém em silêncio. Por um instante, a atenção dele é voltada para dois guardas cruzando o corredor e se aproximando enquanto conversavam. Então, Aloys me puxa para o seu quarto e fecha a porta.
— Nossa, Alteza. Como é rápid-...
A minha fala é interrompida ao ser jogada contra a porta e prensada por aquele corpo gostoso e musculoso, totalmente molhado e — ao mesmo tempo, que maldita ironia do destino — queimando contra minha pele. Aloys não dá brecha para qualquer comentário, pois sua mão contorna minha nuca e os dedos se enroscam no longo cabelo solto, puxando-o para trás. Em consequência, arqueio a cabeça e o corpo também se contorce quando sua coxa se coloca entre minhas pernas.
Uma respiração lenta e ofegante escapa da minha boca.
— Há certas coisas que não se pode falar para um homem, Alene. Ou ele vai querer levá-la para a cama e usar esse corpo da forma mais profana possível.
Não oculto o sorriso felino, passando lentamente a língua pelos lábios rosados.
— Então, creio que fiz a escolha certa de palavras.
Para quê usar a imagem de inocente? Pelo visto, essa abordagem não funciona no Aloys como funcionava no Christian. E eu vou ser quem ele quer que eu seja, para que possa seduzi-lo.
— Vamos ver quem vence esse jogo então, Alene.
Aloys cola seus lábios nos meus em uma selvageria profana, quase um pecado tê-lo movendo a língua dessa forma contra a minha. Brigando por espaço, ou melhor, mostrando quem está no comando. O aperto em meu cabelo se intensifica e encontro-me paralisada por seu movimento possessivo, demonstrando que estou totalmente à mercê das suas vontades.
A mão livre do príncipe contorna a lateral do meu corpo até alcançar a coxa, onde a apertava colocando-a contra a sua cintura. Arqueio o quadril para senti-lo mais e estremeço diante do volume enorme e pulsante entre minhas pernas. Aloys começa a se mover para frente e para trás como se estivesse me fodendo.
Sei que estamos de roupa mas, nesse momento, sinto como se não houvesse nenhum maldito tecido nos atrapalhando.
Aloys está praticando fodendo a minha boca com esse beijo; ora chupando a minha língua, ora a enroscando contra a sua de uma maneira erótica.
Então, ele solta meu cabelo segurando minha outra perna e a prendendo em sua cintura. À partir desse momento, o seu corpo pressiona o meu, a parede de músculos me cobrindo por completo. Aloys segura ambas as minhas mãos e as coloca acima da cabeça, apertando meus pulsos enquanto a outra mão descia pela minha coxa. O aperto de seus dedos me faz ter a certeza de que, no outro dia, haverá uma marca na pele.
Mas não iria apenas ser domada dessa forma. Puxo o príncipe contra meu corpo, roçando o quadril contra o seu e notando como seu corpo reagia positivamente ao toque. Também movo a língua com intensidade em sua boca, antes de morder o lábio inferior dele e puxá-lo para outro beijo.
Não há espaço para respirar, e muito menos pensar. Deixamos que nossos corpos falem por si mesmos.
Céus! Como esse homem consegue me segurar com apenas um braço de forma tão simples?
Aloys interrompe o beijo quando nós dois precisamos recuperar um pouco do fôlego, descendo os lábios para o meu pescoço onde dava uma mordida. O meu corpo se arrepia por completo e já estou pronta para contra-atacar, mas sou deixada no chão com uma delicadeza surpreendente.
— Essa sua boca maldita é viciante. — ele dizia recuando um passo, jogando o cabelo molhado para trás. — Ainda bem que não apareceu aqui usando o vestido que eu comprei para você. Era bem provável que ele não passasse de meros trapos em cima da minha cama.
Mordo o lábio inferior, inchado e vermelho por causa dos beijos e mordidas, apoiando as costas na parede. Tenho ciência de que minha camisola quase transparente e colada ao corpo é tentadora, mas não imaginei que ele pretendia me tomar com uma roupa pouco decotada como aquele vestido.
Isso é um sinal de que seu desejo pelo meu corpo já está incontrolável.
— Que sorte que minha camisola não é tão valiosa. — comento descendo lentamente a alça fina, mas a mão do príncipe segura a minha. — O que foi? Quer tirá-la você mesmo? À vontade, Alt-...
— Não iremos fazer nada hoje, Alene.
Demoro meio segundo para processar a informação.
— Por que?
— Lembro-me muito bem que comentou minha incapacidade de dar prazer a uma mulher na cama. Então, eu a farei implorar por mim; mas não apenas com palavras. Quero que o seu corpo responda por si mesmo. — dizia segurando uma mecha de cabelo, depositando um suave beijo nele; como um verdadeiro cavalheiro faria. — Sinto estar preso em um jogo perigoso de sedução, mas depois de provar seus lábios não consigo pensar com muita razão. Por isso, quero ter plena certeza de que me deseja. De que está pronta para receber tudo o que eu tenho a oferecer.
Antes de responder, sou agraciada por outro beijo do príncipe. Desta vez, ele é rápido mas ainda traz uma sensação calorosa no peito. Aloys se despede brevemente, abrindo a porta e me conduzindo até o meio do corredor, conferindo se há algum guarda presente. Em seguida, se dirige ao seu quarto sem olhar para trás.
Enquanto estou totalmente paralisada... Tanto por seu beijo quanto por suas palavras.
Então, você quer jogar? Eu não aceito perder, Aloys. E farei com que se arrependa da sua escolha.
❀❀❀
— E naquele dia, o meu pai me proibiu de sair de casa porque o filho do padeiro me cortejou. Como se a culpa fosse minha! Dá para acreditar? — resmunga Abbie, interrompendo nossa caminhada no jardim para parar diante de mim, cruzando os braços. — Por acaso, está me ouvindo, Alene?
Choco meu corpo no seu, finalmente retornando à realidade. Pisco os olhos, atordoada.
— Perdão, acabei me distraindo.
— Desde semana passada você anda no mundo da Lua. O bichinho do amor te picou?
Franzo o cenho.
— Não! Claro que não!
— Então, o que houve?
Sei que não há motivo de ocultar o beijo do príncipe, mas guardei o fato para mim. Não quero que nenhuma concubina pense que tem o direito de tocá-lo, pois isso afetará meu plano de levá-lo para cama.
Só pode ser esse o motivo do meu incômodo interno.
Já havia se passado uma semana do nosso beijo e, desde então, Aloys andou ocupado. À noite, algumas concubinas jantavam com ele e participavam de longos passeios pelo jardim. Consegui extrair de um empregado, após prometer alguns beijos nele, que o príncipe está trocando cartas com uma princesa de um reino aliado de Valfem. Tentei conseguir mais informações, só que o rapaz sabia o mínimo.
Pelo visto, a corte de Aloys é bastante reservada.
Pensei que apenas Velorum era aliada de Valfem. O que você esconde, Aloys?
— Eu estou entediada de ficar aqui, Abbie. Só isso.
As mãos dela se posicionam em sua cintura enquanto abria um sorriso malicioso.
— Não é o que andam comentando pelos corredores. Soube por um guarda de que você e o príncipe foram vistos saindo do castelo. Então, não adianta mentir para mim. Conta tudo logo!
Suspiro com pesar. Abbie demonstrou ser uma pessoa que ama uma boa fofoca. Mas não posso negar como as noites que tivemos rindo e comentando sobre o castelo foram especiais para mim. Afinal, poderia me distrair e fugir da dura realidade.
Guio a jovem para um banco próximo, conferindo se não estávamos sendo seguidas por algum guarda. Estranhamente, nos últimos três dias a segurança do castelo aumentou.
Devido à minha experiência no castelo de Velorum, sei que os dias de paz estão ameaçados.
— Eu estou tentando ser amiga do príncipe. Só isso.
Ela ergue uma sobrancelha.
— Príncipes não se tornam amigos de concubinas. Você sabe disso, Alene.
Eu sei. Não houve nenhum histórico de um monarca que se envolveu com uma concubina para algo além do sexo. Mas foi a única desculpa de última hora para justificar minha proximidade com o Aloys.
— Ele é uma boa pessoa. Não me parece do tipo que se importa com rótulos.
Abbie respira fundo, apoiando as costas no banco. As suas mãos, repletas pelas luvas de bordado branco, se apoiam no vestido azul bebê.
— Disso eu não posso negar. O meu encontro com o príncipe foi único, mesmo não acontecendo nada; mas ele segurou minha mão quando desci da escada e olhava em meus olhos enquanto conversávamos... Como se eu fosse algo além de um objeto disposto a servi-lo. Nem mesmo o filho do padeiro ou qualquer outro homem me olhou assim. Sinto como se pudesse facilmente me apaixonar por ele.
Mordo o lábio contendo o estranho fervor em meu sangue. Aliso o meu longo vestido lilás que abria em uma fenda enorme pela coxa. Mais uma das roupas sensuais dadas por Dalibor, como se reconhecesse que minha única capacidade fosse abrir as pernas para um homem.
Mas eu sou inteligente. Enquanto ele pensa que me tem em mãos, estou elaborando algum plano para fugir com Izobel.
Não sou idiota. Sei que, após passar todas as informações necessárias para Dalibor, serei assassinada por saber dos seus planos. Em um tabuleiro de monarcas, quem sabe demais e não tem poder social é morto.
Por isso, de forma escondida, todas as noites escondo um talher de prata na hora do jantar para, futuramente, vendê-lo em busca de moedas o suficiente para fugir daqui. Eu e Izobel teremos uma vida melhor longe dessa briga pela coroa.
— O amor é algo belo... — murmuro encarando o horizonte, avistando uma empregada ao longe acariciar a sua barriga sobressalente. — Soube que o número de grávidas vem aumentando lentamente.
— Depois de tudo o que houve no nosso reino, é uma ótima notícia. A primeira criança vai nascer no início do verão.
— Já está tão perto, então!
— Por que se preocupa tanto? Pelo seu sotaque de quinta, você não é daqui. — dizia uma voz feminina atrás da gente. Olho para Emma que estava com as mãos na cintura, apoiadas no espartilho de couro que combinava com seu vestido cinza. Os curtos cabelos loiros estavam perfeitamente alinhados e havia uma sutil maquiagem no rosto. — Coloque-se em seu lugar, Alene! Você não me engana com esse sorriso inocente e olhos de cachorro sem dono. — Emma se inclina em minha direção, analisando-me com desprezo. — Sei que quer seduzir o Aloys à todo custo, mas alguém como você não o merece.
A resposta está na ponta da língua, mas Abbie é mais rápida.
— Seja menos amarga, Emma. Todas nós somos iguais aqui, independente se a sua família é a mais rica de Valfem. Eu sei que quer ser a próxima rainha, mas sabemos que o príncipe não a escolherá. Na verdade, ele não escolherá nenhuma de nós.
Sinto um estranho aperto no peito. As palavras de Abbie foram direcionadas à loira invejosa, porém me afetam de alguma forma.
— A inveja é algo tão deprimente. — digo baixinho para apenas a Emma ouvir e me levanto, puxando a cacheada para perto. — Vamos, Abbie. Estou me sentindo um pouco indisposta.
— Sua vadia aproveitadora! — rosna Emma aproximando-se de mim. — Eu vou acabar com você.
Abro um sorriso de canto, movendo os lábios para formular a frase "quero ver tentar, invejosa"; até a Abbie empurrar Emma para longe.
— Não me faça chamar os guardas, Emma!
A loira estala a língua no céu da boca, saindo do jardim bufando de raiva. Quando Abbie se vira para mim, já estou com a máscara de garotinha assustada e recebo um abraço de conforto.
— Não fique assim, Alene. Ela só está falando essas coisas da boca para fora.
— É o que eu espero, Abbie...
... ou vou ter que tirar essa vadia do meu caminho.
❀❀❀
Após o jantar me ofereci à Joana para ajudá-la na cozinha. A senhora abriu um sorriso doce, agradecendo pela gentileza durante todo o caminho. Enquanto lavava a louça, ouvia as conversas dos empregados.
Não havia gentileza em meu gesto, queria chegar o mais próximo possível dos serventes. Se tem uma coisa que aprendi no castelo de Velorum é que os empregados sabem de tudo o que acontece ao redor. Todos os boatos possuíam um fundo de verdade, bastava ser inteligente o suficiente para filtrar a mentira descarada de uma verdade aveludada.
Nesse meio tempo, descobri que o príncipe está planejando fazer uma viagem para um reino distante, o mesmo reino em que trocava cartas com a tal princesa. Será que ele vai se casar? Nem pensar, logo quando estava perto de tê-lo em minhas mãos!
As fofocas rolam mais devagar em Valfem, diferente de Velorum. A cozinheira comenta algo sobre um baile que ocorrerá na próxima estação, o cocheiro surge para falar do aumento do fluxo de mercadorias no reino, e a moça ao meu lado compartilha a informação de que o príncipe investiu parte das finanças para construir um lugar voltado ao cuidado das grávidas e recém-nascidos.
Isso sim despertou minha atenção.
O príncipe é tão bondoso assim?
— ... deve ser por isso que ele irá para Canopeia. Aposto que Vossa Alteza trará os melhores médicos do mundo.
— Por que? — questiono virando o rosto em direção à moça.
— Não sabia? A princesa de Canopeia estudou aqui e, após voltar para sua casa, desenvolveu a área da medicina por todo o reino. É conhecimento geral de que Canopeia e Valfem se tornaram fortes aliados depois que a princesa virou amiga do príncipe.
Seria essa a tal princesa Alyssa?
— Os dois são apenas amigos?
— É o que o príncipe diz, mas suspeitamos que os dois são amantes do passado. — comenta o cozinheiro ao passar por mim, depositando mais pratos para lavar. — A única certeza é que devemos a longevidade de nossas vidas às academias de medicina daqui e de Canopeia. Agora, trabalhe mais e converse menos, garota!
Resmungo baixo e volto a lavar a louça, mantendo em mente essa conversa e em como posso me aproveitar dessas informações.
❀❀❀
Ao final do dia, apareço no corredor do príncipe valendo-me da sua "permissão" para andar livremente pelo castelo. Como Vossa Alteza andou ocupado com o trabalho, pensei em aliviar a sua "tensão" usando minhas habilidades.
Porém, ao passar pelo escritório real, escuto vozes conhecidas. Tristan e Aloys, eles parecem tensos.
— Isso só pode ser uma puta brincadeira de mau gosto— a voz irritada do ruivo se sobressai.
— Bem que eu gostaria, mas é a informação que recebemos. — responde Aloys. — Estávamos suspeitando esses dias e, agora, temos a confirmação. Só nos resta redobrar a segurança.
— Temo pela sua segurança, Aloys. — diz uma voz grossa e imponente, vinda de alguém que não conhecia. — A sua vida corre perigo.
Um calafrio gélido e mortal percorre minha espinha com essa frase. Aproximo-me mais da porta na tentativa de ouvir melhor a conversa, aflita para saber porque diabos a vida do príncipe está em perigo. Infelizmente, o destino é cruel comigo, ou talvez eu tenha sido imprudente demais, pois a porta cede com o peso do meu corpo e acaba se abrindo.
Então, caio no meio da sala de reunião, diante de olhares surpresos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro