Capítulo 12
O cheiro amadeirado e intenso do príncipe, junto com a brisa primaveril, me embala em um breve cochilo. Acordo somente quando o cavalo para de forma brusca, fazendo-me dar um pequeno sobressalto nos braços do rapaz. A sua risada grave me traz para a realidade, onde ergo a cabeça para fitar suas feições descontraídas.
— Pensei que fosse babar em minha camisa, Alene.
Estreito os olhos, cruzando os braços.
— Não sou uma dama desse tipo. E creio que uma camisa a mais ou a menos não fará falta em seu guarda roupa, Alteza.
Aloys desce do cavalo com graciosidade.
— Quem disse que eu jogaria a camisa fora? Não é todo dia que tenho uma bela dama babando em minha presença... Literalmente.
Contenho a risada, mas é quase impossível. Ela explode de dentro de mim como um broto florescendo no início da primavera. Traz uma paz e leveza à alma que eu nunca havia experimentado antes.
— Nossa! O senhor é um péssimo piadista. — digo entre risadas.
O príncipe estica ambos os braços musculosos em minha direção, abrindo um largo sorriso. Logo, sinto as mãos firmes em minha cintura ajudando-me a descer do cavalo.
— Vendo você desse jeito, tenho minhas dúvidas. E... — murmura apertando suavemente a cintura antes de soltá-la. O toque é rápido, mas o calor de seus dedos permanece como brasas. — Sem isso de "senhor". Eu não sou velho, Alene.
Apoio as mãos nas costas, fingindo um sorriso inocente.
— Lembro-me de que o seu amigo o chamou de neném.
Ele revira os olhos.
— Nem ouse dizer isso ou vou obrigá-la a dar banho no Pegasus. E eu garanto que é mais trabalhoso do que aparenta.
Como se entendesse nossa conversa, o cavalo relincha. Aloys afaga o animal antes de prendê-lo em uma árvore próxima. Em seguida, estica o braço para o ambiente atrás de mim como se fosse um pintor expondo sua obra.
— Bem-vinda à Mizar, a capital de Valfem.
Viro-me para trás, sendo pega de surpresa com a beleza do local. Aloys parou no topo de uma pequena colina, onde posso visualizar a enorme cidade no horizonte. Não havia nenhum muro ao redor de Mizar, exceto uma floresta de carvalhos circulando o local. Conforme descemos a colina, noto que há uma estrada de pedras seguindo para o interior da cidade.
As casas são pequenas e todas uniformes, como se fossem construídas pela mesma pessoa. As cores azul e amarelo se destacam nas construções. Aloys explica que o povo de Mizar gosta de seguir um padrão, tornando-se uma cidade única.
No centro da cidade, há uma fonte rodeada por bancos de madeira. Os comerciantes, em sua maioria, não vendiam em lojas; e sim em pequenos carrinhos os quais puxavam com suas próprias mãos. É uma forma de comércio inédita, até mesmo em Icarus — com toda a sua elegância e evolução — nunca vi algo do tipo.
Alguns homens e mulheres, utilizando o fardamento militar de Valfem, faziam a ronda no local.
— Aqui... Aqui é lindo!
— Nunca esteve em Mizar, Alene? Que curioso, quase todos os habitantes de Valfem visitaram essa cidade em algum momento de suas vidas.
Paro de andar na mesma hora, sentindo as mãos suarem. Não podia demonstrar que vim de outro reino, afinal seria uma forte suspeita de espionagem. Por isso, viro-me para o príncipe colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto sorrio como uma donzela tola e apaixonada.
— Passei muito tempo reclusa em casa... Estudando.
Aloys apoia as mãos nas costas, inclinando o corpo para estar na mesma altura que a minha. Instantaneamente, travo diante de um olhar tão intenso e penetrante.
— Pode ser sincera comigo. Eu não vou julgá-la, Alene.
As pessoas passam por nós; algumas apontando para o príncipe com surpresa e admiração, e outras apenas acenando com sorrisos descontraídos. Mas não consigo dar atenção para os acontecimentos ao nosso redor, pois estou completamente presa às suas palavras.
Aloys quer criar uma relação de confiança entre a gente. Preciso me aproveitar dessa sua vulnerabilidade.
Uma verdade por outra.
— Comecei a trabalhar desde cedo para ajudar meus pais. Por isso, nunca tive tempo de sair do vilarejo que nasci.
Há um brilho de compreensão no olhar do príncipe. O seu sorriso surge de maneira lenta, mas causa o efeito instantâneo de trazer calor ao ambiente.
— Estou diante de uma guerreira, então.
Paraliso imediatamente. Quando as pessoas sabiam do meu esforço, comparavam-me com um ser frágil que precisava ser cuidado como se fosse de porcelana. Mas uma guerreira? Nunca.
— Mas... Mas é o senhor, digo você, quem sabe usar espadas e...
— Guerras acontecem em vários tipos de lugares, até mesmo em nossa mente. Aprendi com uma nova amiga. Então, permita-se ser considerada uma guerreira porque nem todos possuem força o suficiente para enfrentar as mesmas dificuldades que você, Alene.
Nem percebo que estou sorrindo, apenas quando sinto o canto de boca tremer por ficar muito tempo na mesma posição. Inclino a cabeça, tendo ciência do movimento lento e atrativo que meu longo cabelo vermelho faz ao escorregar pelo ombro. O olhar do príncipe recai sobre o decote por uma fração de segundos, antes de focar em meus olhos.
Sei que você deseja utilizar o meu corpo, só está esperando o momento certo.
Por um momento, penso lançar algum comentário sensual para fisgá-lo, mas algo atrás do príncipe chama a minha atenção.
— O que é aquilo? — aponto em direção à barraquinha ambulante, onde um vendedor girava uma pequena alavanca na tampa da panela. Um cheiro atrativo se espalhava pelo ambiente.
Aloys gira na direção do meu dedo, voltando a sorrir como sempre fazia.
— É pipoca.
— Pipoca? O que é isso?
— Céus, esqueci que é uma comida criada em Valfem. É grão de milho com um pouco de sal e óleo de vegetais frescos.
Franzo o cenho.
— Quem teve a ideia de preparar milho dessa forma? Deve ser horrível.
Aloys puxa-me pelo braço sem deixar de rir, acenando para o senhor de bigode preto que vendia a tal pipoca.
— Vem, vou mostrar que é uma delícia.
— Vossa Alteza, como é bom vê-lo em Mizar. — cumprimenta o vendedor com uma reverência.
— Senhor Joseph, quanto tempo! — dizia Aloys apertando a mão do senhor, surpreendendo-me. Nenhum monarca tem contato direto com o povo, e muito menos lembra o nome de um simples comerciante. O príncipe nota os meus olhos levemente arregalados, não deixando de rir. — Eu o conheço desde que era um pirralho cheio de lama e uma espada velha de madeira.
O senhor ria de forma nostálgica, voltando a mexer a panela e espalhando mais ainda o aroma agradável do milho frito.
— O príncipe Aloys brincava com seu amigo ruivo. Os dois faziam uma bagunça e tanto na academia de Artes.
Viro o rosto para o jovem.
— Essa é uma história que gostaria de ouvir.
Aloys olha para mim sem tirar o sorriso dos lábios. Céus, esse homem não cansa de sorrir? Não é porque tem um sorriso bonito que precisa exibi-lo o dia todo e... Espera, estou admirando o seu sorriso? Não, não!
— Nós possuíamos várias academias, especializadas nas mais diversas formas de conhecimento. Artes, matemática, literatura, agricultura e medicina. Essa última sendo a maior especialidade de Valfem.
— Os reinos ao redor nos conhecem como "os senhores da vida". — responde Joseph. — A arte de manipular a vida tem sido a nossa maior habilidade. Os melhores médicos de todo o continente vieram daqui. Até mesmo estrangeiros estudaram medicina em Valfem, mais especificamente em Phoenix, a capital da vida.
— Bons tempos... — murmura o príncipe.
— Por sinal, onde está aquela garotinha de cabelos cacheados e sorriso gentil? A princesa Amanda, Alice... Ai, como minha memória é ruim.
— Alyssa vai bem. Nós mantemos contato frequentemente. O senhor me lembrou de que preciso fazer uma visita ao seu reino, sinto falta da sua companhia.
O sorriso do príncipe muda para algo mais afetuoso e, internamente, me questiono quem é essa tal Alyssa. Uma amante do passado? Sua futura esposa? Uma amiga com segundas intenções?
A única certeza é que estava incomodada com essa ideia.
Joseph abre a panela e inspiro profundamente o aroma delicioso a emanar dela. Logo, com uma colher de madeira, o senhor retira um punhado de pequenos flocos brancos e os coloca em uma cesta de palha, estendendo-a para mim. Aloys tira do bolso um punhado de moedas de ouro e as estica para o homem.
— Não, Vossa Alteza. Não posso aceitar que me pague. O senhor é o príncipe, é meu dever servi-lo.
— Pelo contrário, senhor Joseph. O dever é meu de servir o meu povo e fico mais do que feliz em pagar por algo tão delicioso.
O senhor agradece com uma demorada reverência. Em seguida, Aloys me guia para o chafariz onde nos sentamos em um dos bancos. Ainda calada, experimento um desses flocos e me surpreendo com o sabor agradável dançando em minha boca. Logo, estou atacando a pipoca sem parar.
— Calma, Alene. Não queremos que fique engasgada. — brinca apoiando o braço no banco, quase tocando minhas costas. O contato é inexistente, por isso não sei o porquê de sentir a pele ficar quente.
— Não sabe salvar vidas? Não me diga que o príncipe só sabe brincar de mover pincéis. — provoco.
Ele arqueia a sobrancelha, aceitando o desafio.
— Sei muito bem lidar com um engasgo, mas não quer dizer que devo deixá-lo acontecer. E pintar é um dos ensinamentos aprendidos na academia de artes. Como frequentei todas as academias do reino, sei um pouco de tudo.
Quase engasgo com a pipoca, olhando para o rapaz com as bochechas cheias.
— Está brincando? Sabe de matemática à artes?
Ele não se importa se falei de boca cheia, pois sua expressão descontraída permanece.
— Um pouco de tudo, eu diria.
— Creio que esteja sendo humilde, Alteza.
— Ou verdadeiro.
Por mais tentador que seja continuar no assunto e extrair mais informações do príncipe, dedico mudar a minha abordagem. Por isso, pego um grão de pipoca e o aproximo dos lábios do príncipe que, surpreso, o aceita inclinando a cabeça em minha direção.
— Obrigado, Alene.
Sorrio suavemente.
— Não precisa agradecer, Alteza. Eu gosto de servi-lo. — digo dando um tom mais enfático à última palavra. Quero que seus pensamentos libidinosos o dominem. — Eu nunca tive a chance de estudar em qualquer academia. Os meus estudos foram feitos em casa. Sei ler e escrever, só que... Gostaria de saber mais.
— As academias em Valfem serão abertas em breve, só estou esperando esse momento de crise econômica passar. Sinta-se à vontade para estudar em alguma que seja do seu interesse. Ou em todas, se assim desejar.
Mordo o lábio descendo o olhar para o vestido. Dessa vez, não estava atuando. Sentia-me sem jeito por ter sido convidada para algo que não fosse uma noite de sexo.
Sei que não deveria me deixar afetar por isso, mas é inevitável.
Infelizmente, não terei muito tempo em Valfem. Após reunir informações, preciso ser rápida em sair do reino pois, sendo descoberta da traição, minha cabeça estará à prêmio.
Mas preciso mentir. A minha missão com Aloys é enganá-lo com doces palavras.
— Talvez eu faça artes. Eu sempre quis ser dançarina.
— Tenho certeza de que será uma dançarina incrível.
Apoio a minha mão sobre a dele, entrelaçando os nossos dedos. O príncipe tenta se desvencilhar do toque um pouco sem jeito, só que o puxo mais ainda contra mim.
— Obrigada por ter fé em mim, Aloys. Quero que saiba que também tenho fé em sua capacidade para governar. Sei que será um grande príncipe, amado e respeitado por todos. Trará a Valfem a paz que tanto necessita.
Não estava mentindo, por mais que o plano fosse esse. Mas, depois ver como se preocupava e se dedicava ao seu povo, só consegui pensar em como Valfem será um reino de sorte por tê-lo como seu monarca.
— Como... Como pode ter tanta certeza...? — murmura deixando a voz travar por um instante. A máscara caiu por meros segundos, deixando-me ver a sua insegurança.
— Porque você me traz essa sensação de paz e, com certeza, todos ao seu redor se sentem assim também.
O seu olhar vacila e a boca se abre diversas vezes sem emitir som. Então, Aloys apoia os cotovelos nas coxas torneadas e encarava o horizonte. Não sorri como antes, mas havia uma expressão serena e estranhamente agradável em sua face.
— Obrigado... Acho que precisava ouvir algo assim.
Sorrio diante dessa cena. Depois disso, optei pelo silêncio enquanto "alimentava" o príncipe diretamente em sua boca com pipoca. Ele fingia desviar dos meus finos dedos mas, logo, abocanhava a pipoca com vigor; o que rendia risadas sinceras da minha parte.
Em seguida, passeamos pela praça enquanto Aloys me explicava mais sobre a cidade. Descobri que Mizar foi construída pelo seu avô, que desejava uma cidade focada na produção intelectual. Por isso, o ambiente era silencioso e calmo, havendo poucas casas além do centro da cidade. Mizar é rodeada por academias nos seus cinco pontos, afinal o príncipe me explicou que a cidade tem o formato de uma estrela de cinco pontas.
Conforme andava pela frente das academias, admiro os enormes prédios com estátuas do rei Dominc e o avó de Aloys; ambos segurando livros com o olhar focado no horizonte.
O Sol já se despedia no horizonte quando retornamos ao centro da cidade que, para a minha surpresa, estava mais movimentado do que antes. O príncipe explica que Mizar é parada pelo dia, onde os estudantes se encontram nas academias; porém, o movimento noturno se dá pelas festividades na taverna do centro.
Paro diante de uma loja de roupas, em que uma senhora atendia um casal de dois estudantes. O rapaz mostrava para o seu companheiro alguma camisa que havia gostado, enquanto o outro ria diante da animação do amado.
Porém, a minha atenção volta-se para o belo vestido rosa que descia até os joelhos do manequim com elegância. A segunda camada era comporta por um tecido transparente com bordado de rosas vermelhas. Não havia nenhum decote ou abertura sensual na roupa. O vestido representava a própria pureza e inocência.
As duas coisas que perdi há muito tempo.
Ainda assim, encaro o vestido por um bom tempo. Aloys é inteligente o suficiente para respeitar o meu espaço, permanecendo em silêncio até o momento em que dou continuada a caminhada.
— Vamos por aqui. — ele diz.
O rapaz guia-me para o interior da taverna. De imediato, sou surpreendia pela música alegre tocada no piano, junto com os casais dançando ao redor do instrumento. Algumas mesas estão dispostas nos cantos, onde grupos de estudantes conversam de forma animada.
— Olha quem temos aqui. O nosso convidado de honra. — brincava uma garçonete ao se aproximar.
Noto o seu rebolar sensual ao andar em nossa direção. A mulher é um pouco mais alta do que eu e o seu curto cabelo loiro longo está repicado. A forma como se inclina deixando o considerável decote à mostra, expondo os fartos seios, me coloca em alerta.
Ela quer levar o príncipe para a cama. Que maldita!
— Sabrina, quanto tempo!
A Sabrina envolve os braços entorno do pescoço de Aloys, depositando um demorado beijo em sua bochecha. Ao se afastar, olha para mim de cima à baixo erguendo a sobrancelha.
— Quem é essa, Aloys?
Odeio a forma como ela o chama de forma tão íntima, provavelmente porque atrapalha a minha missão.
— Alene essa é Sabrina, uma amiga de longa data.
Ela morde os lábios exageradamente vermelhos.
— Amiga é um termo um pouco complicado. Você sabe disso.
Ele simplesmente ri sem jeito e nos guia para uma mesa em um canto mais afastado, onde sento ao seu lado com uma expressão de poucos amigos. Porém, após o príncipe pedir cerveja e brindar comigo, deixo o estranho incômodo de lado.
A verdade é que Aloys tem o poder de tornar qualquer ambiente agradável.
Sempre que Sabrina passa pela gente, segurando uma bandeja com cerveja e petiscos, tocava suavemente as costas do príncipe.
Preciso marcar território. Esse jogo de sedução só tem espaço para uma!
Salto do meu banco, subindo no colo de Aloys que, inicialmente, recua surpreso. Então, sento de frente ao príncipe apoiando as mãos nos seus ombros largos. De canto, lanço um olhar de vitória para a vadia da Sabrina. Em resposta, ela me fuzila com uma expressão de poucos amigos.
— Er... Alene, acho que sua cadeira é ali.
— Eu vi um rato passando pelo balcão, fiquei com medo e eu só consigo me sentir protegida perto de você. — minto aproximando-me mais ainda. O corpo do rapaz trava, mas segundos depois suas mãos firmes estão em minha cintura.
— Todos estão nos olhando.
— Eu sei, mas não me importo. Você se importa, Alteza?
Aloys dá uma olhada por cima dos ombros e depois foca em mim. A intensidade do seu olhar faz com que minhas bochechas, involuntariamente, fiquem vermelhas.
— Nenhum pouco. Você é minha concubina, acho que tê-la em cima do meu pau na frente de dezenas de pessoas não seja um problema.
Droga. Sabia que sou concubina e das atribuições que me seguem porém, escutar a verdade dos lábios do príncipe faz os pelos da minha nuca se enriçarem.
— Não... Não imaginava que esse linguajar fosse permitido para um príncipe.
Aloys se inclina o suficiente para que haja apenas uma respiração de distância entre nossos lábios. O seu hálito quente misturado com o álcool deixa-me inebriada. As mãos em minha cintura descem um pouco mais, puxando meu quadril para frente de forma abrupta. Sem querer, acabo soltando um gritinho, o que arranca uma risada convencida do príncipe.
— Há muitas coisas que não sabe sobre mim.
Toco suavemente seu rosto, passando a ponta dos dedos pela barba rala.
— Eu quero saber tudo sobre você, Alteza. Pode parecer um desejo tolo já que meu tempo no castelo é limitado, só que quero conhecer o verdadeiro Aloys Rilley.
Ele está tão surpreso quanto eu. Na verdade, não imaginava falar com tamanha naturalidade tais palavras apenas para ganhar sua confiança. Mas, por um instante, esqueço da missão para focar no brilho esperançoso em seu olhar; como se houvesse esperado uma eternidade por alguém que realmente desejasse conhecê-lo por quem é.
— Para uma concubina, você é muito curiosa.
Abro um sorriso de canto.
— Você nem faz ideia.
Nós dois passamos longos segundos nos encarando sérios, para sorrirmos feito dois idiotas. Logo, Aloys chama um rapaz e sussurra algo em seu ouvido puxando algumas moedas do bolso. Antes do desconhecido se afastar, Aloys pede à Sabrina um papel, uma pena e um tinteiro, escrevendo algo e entregando para o rapaz.
A curiosidade está aflorada, porém controlo a língua. O meu único foco é desfrutar da companhia do príncipe. Se ele vai mandar bilhetes para alguma amante, não é do meu interesse.
Mas espero estar errada.
❀❀❀
Bebemos até altas horas. Dessa vez, o dono da taverna insistiu para que o príncipe não pagasse; pois sempre frequentou o local e a sua presença atraía clientes. Em seguida, caminhamos pelas ruas da cidade enquanto Aloys contava histórias da sua infância.
Quando narrou o dia em que encheu a comida de Tristan de pimenta, apoiei a mão na barriga sentindo leves dores de tanto rir. Ele também contou o dia onde o amigo se vingou, dando-lhe um chá laxante minutos antes de uma importante prova.
Não posso negar como admiro a amizade dos dois.
Logo, estamos retornando ao castelo montados em seu Pegasus. Apoio-me em seu peitoral, relaxando ao som da sua respiração calma. Ao abrir os olhos, já estou no palácio e desço do cavalo com sua ajuda. Quando Aloys segura minha cintura, propositadamente desço o olhar para meus lábios e percebo como imita o meu movimento.
O príncipe me acompanha até a porta do meu quarto. Um gesto cavalheiro que, sem ter o mínimo controle, o meu coração gravará.
— Tenha uma boa noite, Alteza. — digo fazendo uma reverência.
— Aproveite e descanse, Alene. Nos veremos em breve.
Entro no quarto, trancando a porta e me apoiando na parede. Abaixo a cabeça para ocultar o sorriso bobo que some ao dar espaço para uma expressão surpresa. Há uma enorme caixa quadrada em cima da minha cama. Em passos lentos, aproximo-me dela e puxo o laço vermelho que a envolvia. Retiro a tampa e, nesse instante, quase caio para trás.
Um vestido rosa de segunda camada transparente com bordados de rosas vermelhas está disposto dentro da caixa. O mesmo vestido que vi na loja horas atrás.
— Não... Não é possível...
Os meus dedos trêmulos seguram o bilhete em cima do vestido. Mal percebo a visão embaçada pelas lágrimas, lendo em voz baixa:
— "Para combinar com a pureza do seu olhar e a doçura da sua alma. Com carinho: Príncipe Aloys."
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