Capítulo 10
O jantar foi extremamente agradável.
A rainha Artemísia nos apresentou a sua irmã e mãe do Henrik, Emmeline Henriksdóttir, uma bela mulher de longos cabelos loiros — puxados da mãe, segundo a própria rainha. Também tivemos o prazer de conhecer os fiéis escudeiros de Artemísia, Robin Dansson e Lisa Trygvesdóttir.
Tristan não conteve a língua, vez ou outra enaltecendo a beleza de Artemísia e de sua irmã, convidando as duas para um passeio no dia seguinte. Não sei como o meu coturno se manteve intacto depois de inúmeros chutes na perna do ruivo.
Após o jantar, em que comemos pato assado com batatas, fomos para uma enorme sala ao lado onde o melhor vinho de todos foi servido. Henrik sentou ao meu lado no enorme sofá, balançando as pernas enquanto me olhava com um sorriso.
— Vai me ensinar a lutar quando, tio Aloys?
— Seja paciente, Henrik. — adverte Artemísia do outro lado da sala, próxima à sua irmã.
A forma como ele me chama causa um calor reconfortante no coração. Henrik não tirava a expressão admirada da minha cicatriz, esticando o curto braço na tentativa de tocá-la.
— Como o senhor a conseguiu?
É quase impossível esconder o sorriso triste. Não sou um bom mestre na arte de disfarçar emoções como o Lorcan. A Roseta nunca perdia a chance de jogar na minha cara que a transparência será uma das minhas ruínas.
— Eu a consegui em uma batalha, pequeno. Bem, amanhã cedo iremos ao treino. O que acha?
Há uma sagacidade no olhar de Artemísia que causa um leve rubor em minhas bochechas. Sou inteligente o suficiente para saber que ela notou a mentira, mas foi sensata em não fazer nenhum comentário à respeito. Pelo menos, por enquanto.
— Oba! Amanhã estarei cedinho na porta do seu quarto, tio Aloys! E não vale mentir.
Solto uma risada com seu comentário.
— Eu não ousaria. Sou um homem de palavra, pequeno.
Ao final da agradável conversa, Emmeline se despediu da gente junto com Henrik. Tristan foi cavalheiro em se oferecer para acompanhá-la, fazendo uma reverência onde suas longas mechas ruivas deslizavam pelos ombros fortes.
— O que me diz de um passeio? — pergunta Artemísia depositando a taça de vinho em cima da cômoda de madeira.
Lanço um olhar para a janela, onde a enorme Lua nos agraciava com sua presença.
— Bem, eu...
— Não se preocupe com o frio. Hoje é uma noite quente, pode acreditar.
É difícil explicar, mas confiava nessa mulher. Ela parecia conhecer o seu reino com a palma da mão, da menor formiga até as montanhas ao sul. Por isso, ofereço o meu braço ao qual ela enlaçava com o seu. Noto os músculos por baixo do tecido do vestido e não escondo o sorriso.
— O seu treinamento foi rígido, pelo visto.
Ela vira a cabeça para o lado, erguendo brevemente o queixo. Artemísia é uma mulher alta, mas ainda precisa erguer um pouco o queixo para encarar meus olhos.
— O seu também, se me permite comentar.
Sorrio um pouco sem jeito. Seguimos pelo belo jardim analisando as flores dos mais diversos tipos. Havia uma, em especial, de pétalas vermelhas como as mais fortes brasas e acabo lembrando de uma certa ruiva.
Pigarreio para ocultar outro sorriso. Desta vez, acompanhado de um estranho sentimento aconchegante no peito.
— Sobre as cicatrizes... Perdoe-me a atitude do meu sobrinho. Ele é curioso e, às vezes, não controla a língua.
Como o imaginado, a rainha havia notado a minha mentira. Não me sinto desconfortável em ser descoberto. Pelo contrário, estou aliviado em poder contar o que há em meu peito. Por não sermos conhecidos, não preciso esconder a dura verdade.
— O seu sobrinho é adorável, não há motivo de pedir desculpas. E quanto às cicatrizes, elas foram feitas por pessoas de confiança. Ou pensei que seriam. — sussurro tocando a cicatriz no canto do lábio. — Não é uma cicatriz de guerra, como disse ao Henrik. Também peço desculpas por ter mentido, mas achei que uma história épica seria mais interessante do que um jovem que confiou nas pessoas erradas.
Artemísia interrompe bruscamente a caminhada. O seu longo vestido vermelho para de se mover com a mesma graciosidade que os seus movimentos. O cabelo da mulher está preso em uma trança, formando uma coroa ao redor da cabeça. Os seus cílios grossos se erguem junto com seu olhar intenso.
— As suas cicatrizes são marcas de um guerreiro, príncipe Aloys. As batalhas não são travadas apenas nos campos, também há aquelas dentro dos nossos castelos e, acima de tudo, de nossas mentes. Cada uma tão perigosa quanto a outra. Eu o admiro e o respeito por ter sobrevivido e vencido à essa luta.
Abaixo a cabeça para poder admirar suas feições suaves. De forma relutante, afasto alguns fios de sua testa com a ponta dos dedos. Artemísia aceita a carícia de bom grado, sem esconder o leve sorriso em seus lábios avermelhados.
Reconheço a sua beleza. O brilho de seus olhos acinzentados, a suavidade da pele alva, a maciez dos cabelos negros, os seios fartos contra o espartilho que delineava a sua cintura fina. Mas, além desses atributos visíveis, reconheço a beleza do seu coração. Se o mundo tiver mais rainhas amáveis e competentes como Artemísia Demetria, sei que estaremos desfrutando da verdadeira paz.
— Obrigado, Majestade. Não é todo dia que ouvimos palavras de conforto. Geralmente, preciso ser um líder frio e seguro para proteger o reino, mas... — suspiro com pesar, escondendo uma mecha de cabelo solto dela atrás de sua orelha. — Há momentos onde só quero estar trancado em uma enorme biblioteca e desfrutar de um bom romance. Acha-me fútil por isso?
Ela nega com a cabeça, segurando a minha mão que agora se encontra contra o seu rosto.
— Como poderia achar fútil um dos sonhos mais bonitos que já ouvi, príncipe Aloys? Eu sei muito bem como se sente. Apesar de amar governar Astana e ver o meu povo feliz, reconheço o peso da coroa. Nem sempre tomaremos decisões que nos deixem confortáveis e, durante a vida, abdicamos mais do que ganhamos. Mas ainda vejo esse "fardo" como uma honra. Tente fazer o mesmo.
Somente depois dessa conversa com Artemísia que noto como sou imaturo. Como um monarca, deveria encarar os problemas de cabeça erguida e parar de ver apenas como um fardo. Sinto-me envergonhado por todas as vezes em que não reconheci a honra de ter o povo de Valfem em minhas mãos.
Amis pode ter instaurado uma era de terror, mas cabia à mim dar a paz que Valfem precisava.
E ao lado de Artemísia, tudo poderia ser mais fácil. Ou melhor, tudo seria mais fácil.
Entrelaço nossas mãos a encarando de maneira profunda. Tenho consciência de que estou sendo rápido, mas Valfem precisa de uma rainha forte e decidida como Artemísia. Ela será o pilar perfeito em minhas reuniões, além de que me daria herdeiros fortes e saudáveis.
— Majestade, eu gostaria de...
— Perdoe-me a interrupção, dróttning e Alteza. — dizia um de seus guardas, o tal Robin. — Há assuntos que necessitam da sua atenção.
Suspiro profundamente soltando suas mãos e as colocando dentro do meu longo manto acinzentado. Noto a expressão brevemente frustrada dela e, por isso, sorrio de forma condescendente.
— Amanhã conversaremos mais. Cuide-se, Majestade.
Ela balança suavemente a cabeça.
— Boa noite, Alteza. — então, virava-se para Robin enquanto os dois caminhavam para o interior do castelo. — O que houve?
— É sobre Ulstan. Camargo está avançando de forma sorrateira e...
Decido seguir para o meu quarto, apesar da curiosidade sobre essa conversa falar mais alto. Ao entrar nos meus aposentos, retiro o longo manto e as luvas de couro. Quando me viro em direção ao banheiro, dou um pulo com a presença de Noah sentado na janela balançando as pernas de forma descontraída.
— Pelas estrelas! Quer me matar de susto?
Ele também dá um pulinho, assustado com minha exclamação. Rapidamente, desce da janela e faz uma demorada reverência como um pedido de desculpas.
— Não é para tanto, Noah. Eu só tomei um baita susto.
— O nosso neném é tão fofinho! — exclama Tristan saindo do meu banheiro com uma toalha enrolada na cintura e outra secando o longo cabelo vermelho.
— Posso saber porque, diabos, você está no meu banheiro?
— Pensei que a água da alteza fosse melhor, então quis tirar a prova, mas vi que é tudo igual mesmo.
Reviro os olhos apoiando as costas na porta e cruzando os braços.
— Admita que você queria ouvir as informações do Noah de antemão.
— O que posso fazer? Eu amo uma fofoca da monarquia. — dizia dando nos ombros e virando o rosto em direção ao mais jovem. O cabelo molhado está colado ao peitoral musculoso e descia até o seu quadril. — Então, o que descobriu?
Noah tinha a habilidade especial de observar tudo sem ser notado. Ele é a sombra dos cantos dos escritórios. São os olhos e ouvidos de Valfem. Nenhum detalhe passa despercebido pelo meu espião. Nenhuma mentira é proferida diante daquele que se mistura com a própria escuridão.
Ele estica um relatório de dez páginas para mim e uma cópia feita à mão para o ruivo. Os seus dedos calejados são rápidos e precisos, além de que sua caligrafia é perfeita.
Leio rapidamente o relatório contendo as informações necessárias para entender sobre Astana, descobrindo sobre sua cultura e economia nesse resumo bem elaborado. Noah pode não falar com os lábios, mas seus dedos se comunicam com mais clareza do que muitos conselheiros que já conheci.
— Esse tal de Camargo é um reino miserável, hein. — profere Tristan enquanto passava para a próxima página. — Quem diria que um reino tão estabilizado como Astana teria uma pedra no sapato.
— Qual o reino que não tem? — questiono analisando as informações. Noah detalhou tudo com uma precisão assustadora. — Mas enfim, o que me preocupa é que o rei Ulstan é um homem ardiloso. A rainha precisou deixar o nosso passeio para resolver questões sobre Camargo. Bem, foi isso que eu ouvi.
— A rainha já lutou contra Camargo quando ainda era uma princesa. A rixa entre reinos é antiga, desde quando Astana ainda era dois reinos separados: Gralana e Astéria. Nossa! Astana é bastante organizada com seu conselho de 30 membros. É muito parecida com Velorum.
— De fato, Tristan. O que me leva a crer que ela reinaria bem melhor ao lado de Lorcan.
— Nada tira da minha cabeça que ele e a rainha Diane são perfeitos juntos.
Sou obrigado a concordar. Diane, além de uma rainha imponente e forte, era a minha amiga. Ela enfrentou muitas adversidades para atingir o trono, ganhando o respeito do povo ao mesmo tempo que sujava as mãos de sangue.
Se Diane ainda estivesse aqui, ela e Artemísia seriam boas amigas.
— Esse Gerard me parece um bom conselheiro no quesito guerras. — murmura o ruivo enquanto lia. — E o tal Edwin deve ter tido um bom treinamento, assim como a rainha.
— O reino é composto por várias pessoas competentes. Imagino quantos anos foram necessários para atingir essa estabilidade. Astana é um reino bastante evoluído e, voltado à educação, como deu para notar pelas diversas academias espalhadas por seu território.
Tristan ergue o olhar para mim e suas íris cor de mel transmitem uma mensagem silenciosa.
— É o reino perfeito para se unir à Valfem.
— Eu sei, eu sei... Estava prestes à pedir a rainha em casamento até que...
— Pela Grande Estrela, Aloys! Você já ia pedir a rainha para ser sua esposa? Que danadinho! — exclama aproximando-se e dando leves cotoveladas em minha costela. Movimento esse que tento inutilmente desviar. —Mas com aquele corpo e aqueles olhos, até eu pediria. Se você demorasse um dia a mais, eu iria me ajoelhar diante dos pés dessa deusa e proclamaria as mais belas juras de amor.
Bufo em resposta. Noah solta uma risada silenciosa cobrindo a boca com a palma da mão, revestida por suas luvas de couro.
— Isso é tudo o que conseguiu, Noah? — questiono e ele assente. — Pois bem, acho que já basta. Pode ir descansar.
Com uma reverência, o espião salta pela janela e some em meio à escuridão da noite.
Volto-me para o meu amigo.
— Amanhã farei o pedido formal, após a reunião com o conselho.
Tristan dá leves tapinhas em meu ombro.
— As crianças crescem tão rápido.
Forço um sorriso que sai mais como uma careta. É difícil ocultar o embrulho no estômago.
♕♕♕
Como o prometido pelo garoto, Henrik estava na porta do meu quarto assim que o Sol surgiu no horizonte. Por sorte, estou acostumado a acordar cedo para um longo treino antes do meu desjejum. Ele me guiou até o pátio entre pulos animados e comentários eufóricos.
— Como arranca a cabeça de alguém, tio Aloys? — questiona virando-me para mim e empunhando a espada de madeira. — É muito difícil?
Não contenho a risada.
— Calma, garoto. Isso é uma lição para um tempo muito distante. Por enquanto, empunhe essa arma corretamente. Está afrouxando demais o cabo e precisa se lembrar de que a espada é uma extensão do guerreiro. Não pode deixá-la cair, senão você morre.
Henrik demonstra uma seriedade surpreendente, acatando minhas ordens. O tempo com esse garoto passa voando. Em um momento, estou ensinando a execução dos golpes com o menor copiando os meus movimentos; em outro estamos simulando uma luta. Ele aprende rápido, pois logo está atacando com perfeição.
Rio quando o pequeno tropeça nos próprios pés, caindo. Ele me acompanha na risada, mal notando os passos firmes que se aproximam do campo.
— Vejo que estão se divertindo. — comenta Artemísia, abrindo os braços quando o sobrinho corre ao seu encalce, abraçando-a com força. Os olhos cinzas e sagazes se erguem em minha direção. — Tem um grande apreço por crianças, príncipe Aloys.
A sua observação me deixa em alerta. É claro que ela sabe o meu passado, não é um comentário aleatório. Forço um sorriso, assentindo suavemente com a cabeça.
— Antes das academias em Valfem fecharem, eu era tutor dos pequenos.
Ao mesmo tempo que dito tais palavras, sou puxado para um mar de lembranças dolorosas. O sorriso torto e sem dentes das crianças quando iam em minha direção. As risadas altas em cada brincadeira. Os gestos repletos de admiração sempre que ensinava um golpe novo.
E Amis conseguiu destruir tudo.
Destruiu os meus sonhos e a minha antiga vida.
— Descanse um pouco, Hernik. Você está suado e ofegante, meu grande guerreiro. — brinca a rainha, afagando os cabelos dele.
— Certo, tia! Mas antes, eu tenho um presente para o Aloys. — dizia puxando um papel do bolso e, sob o olhar repreensivo da mulher, pigarreia alto. — Digo, príncipe Aloys.
Dispenso a formalidade com um balançar de mão. Henrik se aproxima esticando o papel dobrado e o seguro, murmurando um agradecimento. Ao abrir o papel, sou contemplado com o desenho de uma enorme fênix pintada de vermelho e laranja. As chamas se destacam nas longas asas do pássaro.
— Que lindo, Henrik! Você tem talento para isso, sabia?
O sorriso do pequeno aumenta.
— Ela me lembra o senhor, então decidi dá-la de presente.
— Eu amei. — digo bagunçando seu cabelo. — Muito obrigado.
Sorrindo diante da cena, Artemísia diz:
— Foi muito gentil da sua parte, querido. Bem, creio que sua mãe esteja o procurando.
— É mesmo! Nós precisamos tomar o desjejum juntos.
Ele corria brandinho a espada para os empregados e guardas que encontrava no caminho, arranhando sinceras risadas por onde passava.
— Pretende abrir as academias?
— Claro, só estou esperando que as crianças voltem a preencher o meu reino.
— Fiquei sabendo sobre a tragédia em Valfem...
É claro que sabia. Todo monarca que se preze espiona o reino que supostamente vai se aliar.
—... Deve ser bem difícil governar em circunstâncias como essa. Pedirei para que os deuses o ajudem nessa jornada.
Olho no fundo de seus olhos, refletindo sobre tudo o que vi em Astana. É um reino estável e forte. Se houver uma aliança com Valfem, não serão apenas os benefícios que serão englobados, como também as dificuldades.
Sou capaz de prendê-la nesse martírio?
— É... A fé se torna uma boa alternativa.
♕♕♕
A reunião com a rainha e os jarls seria proveitosa, se não tivesse de antemão todas as informações dispostas. Noah cumpriu com perfeição seu papel, dando-me um panorama imparcial e completo do reino. Como o imaginado, Astana é um reino próspero que, infelizmente, tem um inimigo poderoso: Camargo. Por isso, Artemísia encontra-se em constante estado de alerta, sabendo do perigo que a rodeia e, principalmente, assola o seu povo.
Valfem, graças às estrelas, não possui mais inimigos declarados. Contudo, ainda está se recuperando da última guerra interna que teve, o que custou a vida de muitos inocentes.
Astana precisa de todos os recursos para uma possível guerra e, se Artemísia fosse minha esposa, abriria mão de parte dos recursos para ajudar um reino que, há meses atrás, sequer conhecia.
Não me parece justo.
Ao final da reunião, eu e ela passeamos pelos vastos jardins enquanto Tristan e Emmeline nos acompanhavam alguns metros atrás. Henrik estava na academia, estudando, por isso não pôde nos acompanhar.
— Estou curiosa para saber como Valfem é.
Sorrio com a lembrança do meu reino, a terra onde cresci e formei vínculos.
— É um reino pequeno, voltado para a agricultura local e o comércio de pólvora. Nós usamos o dinheiro para investir nas academias e, principalmente, na medicina.
Artemísia para ao meu lado, encarando o vasto jardim. A brisa gélida não nos atingia devido às pesadas roupas de couro.
— Parece-me um reino próspero e belo.
Viro o rosto em sua direção, exibindo o meu melhor sorriso.
— Tão lindo quanto Astana.
O clima entre nós é leve, descontraído. Aconchegante. Mas sinto algo faltando, algo que talvez nenhum título possa oferecer.
— Majestade, eu...
— Pode me chamar de Artemísia, eu já disse.
Seguro a sua mão com afeto.
— Artemísia, você pensa em se casar?
Ela pisca os olhos, um tanto surpresa.
— Sim, futuramente. Por que?
Dou uma rápida olhada no ambiente ao meu redor, memorizando cada detalhe do belo jardim que nos cerca. Depois, encaro a bela mulher diante dos meus olhos. Uma mulher que superou muita coisa para o bem do seu reino e que, provavelmente, sofreria ao se unir com outro que mais traria problemas do que benefícios.
— Por nada, Artemísia. Só uma curiosidade tola.
♕♕♕
No outro dia, fui agraciado pela presença da rainha em outro passeio noturno. Sob a promessa de tomar hidromel em uma taberna da cidade, nos despedimos diante daquele belo céu estrelado.
A partida chegou mais rápido do que o esperado e, na frente do cais, Tristan dividia o peso de uma perna e na outra com um olhar cheio de curiosidade.
— O pedido foi romântico ou rolou uma troca de beijo antes? — pergunta encarando brevemente a rainha que conversava com um dos marinheiros da embarcação. É incrível como ela estava na mesma altura que o povo sem dar a menor importância do que os outros pensariam.
— Eu não fiz o pedido. Não poderia fazê-lo.
Os olhos do ruivo quase saltam da órbita. De canto, noto um ser encapuzado subir pelos fundos do navio e se esconder em um dos compartimentos. Noah sendo discreto, como sempre.
— Você ficou maluco, grandão? Por acaso, o frio daqui congelou o seu cérebro? A rainha Artemísia é perfeita para salvar Valfem da miséria!
— Ela, sozinha, manteve esse reino em paz; por isso, é rainha por direito. Se eu quero ser digno da coroa, preciso reerguer Valfem com minhas próprias mãos. Estarei mentindo e sendo injusto com meu povo se usar a máscara de falso rei. Quero ser um rei por direito assim como a rainha Artemísia é!
Tristan pisca os olhos para, segundos depois, dar um tapa em minha nuca.
— Ai! Precisava de violência?
— Você é um cabeça dura, grandão; mas sou obrigado a concordar com suas palavras. Estive tão empenhado no plano de encontrar uma rainha, que esqueci do que realmente importava. Em como você se sentirá ao usar a coroa pela primeira vez. Não quero que seja um peso, Aloys; quero que seja uma dádiva.
Aperto suavemente o ombro do meu amigo.
— Agora entende o que eu quis dizer, não é?
Artemísia surgia de forma sorrateira e graciosa. Ela segura minhas mãos com amabilidade e, mesmo ambos usando luvas, posso sentir o calor reconfortante de seu toque. Sorrio ao mesmo instante que a rainha expõe os belos dentes brancos, realçados pelo batom vermelho.
— Foi uma honra tê-lo em Astana, príncipe Aloys. Saiba que és bem-vindo em meu reino, junto com seu amigo.
Tristan dava uma piscada galante.
— Nem precisa convidar o Aloys, Majestade. Garanto que sou uma companhia igualmente agradável e... — ele se cala diante do meu olhar mortal. — Deixa para lá.
— Valfem também estará de portas abertas para ti, rainha Artemísia. O meu reino é simples, mas o povo é bastante acolhedor.
— Sinto que será uma viagem proveitosa quando for visitar seu reino.
O recado silencioso foi dado. Nós iremos nos encontrar em outro momento, quando as circunstâncias forem mais favoráveis para ambos os lados.
Após as devidas formalidades, seguimos para o interior do navio. Artemísia acenava sem tirar o sorriso gentil dos lábios, observando a nossa embarcação se afastar cada vez mais das terras acolhedoras de Astana. Quando ela não passa de um ponto distante no horizonte, permito-me tirar o sorriso dos lábios e sentar no piso do navio. Tristan não diz nada, apenas senta ao meu lado e seu olhar se foca nos marinheiros andando de um lado para outro.
— Já que decidiu adiar o plano de ter uma rainha, o que fará? — questiona quebrando o longo silêncio.
Deixo o ar escapar dos meus pulmões em um pesado suspiro.
— Essa é uma pergunta ótima, Tristan. Uma pena que não faço a mínima ideia de como respondê-la.
♕♕♕
Notas da autora:
Primeiramente, gostaria de agradecer a todos que acompanham Veritate. Não é fácil iniciar um segundo livro, quando o primeiro exigiu muito da minha criatividade, mas estou feliz em mostrar a história de Aloys e Alene.
Sério, esse casal é tudo de bom! Sei que muitos não gostaram do jeito da Alene no primeiro livro, mas creio que a visão mudará nesse segundo.
Bem, eu queria exaltar o trabalho da @Nightshade0511, uma escritora incrível que eu admiro demais! Artemísia vem do universo dela, diretamente do livro A Rainha de Ferro. Aconselho lerem esse livro incrível e se apaixonarem por Mia e seu reino, Astana. Desde a primeira vez que li, já me encantei por cada detalhe.
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