CAPÍTULO 02 - POINT OF BEING RIGHT
MÚSICA QUE INSPIROU O CAPÍTULO:
https://youtu.be/yJPw789HSwY
OBS IMPORTANTE: Este romance é um spin off de FALSAS VERDADES e crossover com LUAS DE MARIAS. Você não precisa ter lido nenhum dos dois para compreender esta história, mas claro que quem leu vai aproveitar bem mais a volta das personagens.
AVISO IMPORTANTE: ESSE ROMANCE VAI SER PUBLICADO PELA EDITORA VIRA LETRA, POR ISSO SÓ FICARÃO DISPONÍVEIS OS TRÊS PRIMEIROS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.
A primeira coisa que Marina fez quando acordou sozinha em sua cama no dia seguinte foi pensar em Débora. O fato de não ser capaz de seduzi-la com facilidade, como acontecia com as outras, a excitava, claro. Mas era mais do que isso. Estava interessada, como há muito não ficava. Desejava Débora com a força que se cobiça tudo que parece ser inalcançável.
"Passa assim que a gente trepar."
Afirmou mentalmente, tentando convencer a si mesma, sem grandes resultados. Voltou a pensar nela, desta vez de uma maneira bem mais carnal. A lembrança dos beijos que haviam trocado foram o bastante para deixar Marina no mesmo estado em que havia chegado em casa na véspera. Sem pensar duas vezes, desceu as mãos pelo próprio corpo, pronta para se resolver sozinha, exatamente como havia feito antes de dormir.
Foi interrompida pelo som do celular, cuja insistência a fez abandonar a ideia de não o atender. Por um instante insano, cogitou a possibilidade de ser quem queria, por mais improvável que fosse.
Deixou escapar um suspiro profundo ao ver que era Amanda e atendeu com um humor ainda mais ácido que o de costume:
- Estás viva?
Amanda não fez rodeios:
- Você e a Débora nos trouxeram aqui em casa? Ou eu sonhei?
Marina fez uma pausa do outro lado antes de responder:
- Não foi sonho. A Débora me ajudou, tivemos quase que carregar vocês. Depois levei ela em casa.
Impossível para Amanda esconder a surpresa:
- E as duas sobreviveram?
A pausa que Marina fez foi ainda maior do que a primeira. E, por fim, acabou dizendo apenas:
- Prefiro não falar mais sobre ontem.
Aquilo causou em Amanda a mais terrível desconfiança:
- Eu fiz alguma coisa da qual devo me arrepender?
A resposta veio de uma maneira absolutamente debochada:
- Deixa eu ver... Você tentou me agarrar, se esfregou em mim em público, insinuou que a Débora é ruim de cama e todo mundo que estava na festa ontem sabe que você pegou uma professora chamada Michelle. Ou melhor, que ela pegou você. Só isso. Nada demais.
Só havia uma única coisa a dizer:
- Puta merda!
Assim que encerrou a ligação com Marina, ligou para Débora:
- Eu queria me desculpar por ontem. A Marina me falou que...
Débora nem a deixou completar:
- O que ela falou? Com certeza quis contar vantagem!
Confundiu Amanda completamente:
- Como assim? Não estou entendendo...
A indignação de Débora era tão grande que a impediu de perceber que estavam falando de coisas diferentes:
- Ué, ela não te contou sobre ontem à noite?
Apesar do medo que estava de perguntar, Amanda precisava saber:
- Afinal, o que foi que aconteceu?
O desespero na voz de Amanda fez Débora finalmente compreender que tinha falado demais. A primeira reação que teve foi surpresa. Marina não tinha se vangloriado, sequer havia contado. Era algo que jamais esperaria dela. Preferiu não pensar no motivo que a levara a ser tão discreta. Por fim, acabou dizendo:
- A Marina me beijou.
Revelação que não era totalmente inesperada. Impossível deixar de perguntar:
- E você não beijou ela de volta?
Óbvio que Débora não iria, não tinha por que mentir:
- Beijei, mas...
Uma breve pausa antecedeu o momento em que se permitiu desabafar:
- Ah, nós ficamos. No seu apartamento e depois no carro dela. Mas a gente só se beijou.
Débora acolheu como verdade a ideia de que provavelmente era essa a razão de Marina ter se mantido calada. Afinal, não seria nem um pouco positivo para a reputação dela de "pegadora" não ter conseguido nada além de beijos bem comportados.
Sem saber o que era mais inacreditável, Débora e Marina terem ficado ou não terem feito sexo, Amanda só conseguiu dizer:
- Não acredito!
Assim que se recuperou do choque, foi tomada pela mais intensa curiosidade:
- Mas como assim? Me conta isso direito! O que você achou? Como é que foi?
Saiu numa explosão:
- A Marina é louca! É uma inconsequente, uma safada que não vale nada! Uma vadia! Uma cafajeste!
Amanda riu:
- Não foi isso que eu perguntei.
Mudou completamente o tom, foi incisiva quando a questionou:
- Você gostou ou não gostou?
Débora, suspirou, hesitou, mas não negou. Confessou muito mais para si mesma:
- Gostei.
No entanto, aquilo não mudava nem o que pensava sobre Marina, muito menos o que já tinha decidido:
- Mas não vai acontecer de novo.
Depois que a conversa com Débora terminou, Amanda ligou para Marina outra vez:
- Eu não acredito que você ficou com a Débora ontem e não ia me contar!
Na voz de Marina havia uma tensão e uma ansiedade que não lhe eram habituais:
- Ela te contou? O que ela falou?
Amanda se ateve aos fatos:
- Que vocês ficaram, aqui em casa e no seu carro, mas que só se beijaram.
Marina deixou escapar um suspiro:
- É. Foi isso.
E se calou, obrigando Amanda a dizer:
- Tá, mas quero saber mais.
Nem assim conseguiu quebrar o silêncio de Marina. Insistiu:
- Como é que foi, o que você achou? Foi bom?
Saiu numa explosão:
- A Débora é muito certinha, toda comportada, colocou limites, tirava a minha mão, e... Não deixou rolar nada, me deu só uns beijos e me cortou. Me senti de volta aos tempos da escola.
Chegava a ser engraçado ver Marina daquele jeito. Amanda riu e perguntou, exatamente como tinha feito com Débora:
- Mas você gostou?
Não houve hesitação alguma por parte de Marina. Pelo contrário, ela aproveitou para desabafar:
- Gostei. Mas não fiquei nem um pouco satisfeita. Ah, eu queria mais, né?
Era surpreendente:
- Quer dizer então que a Débora te deixou com um gostinho de quero mais?
Impossível para Amanda deixar de pensar: "Garota esperta!". Mesmo sabendo que Débora não tinha agido de forma calculista nem proposital. O resultado tinha sido melhor do que o esperado, pois nunca tinha visto Marina tão desconcertada:
- Depois a gente fala sobre isso.
Amanda estava sentada com Juliana, Débora e Bruno no barzinho de sempre, quando Marina chegou. Não foi coincidência, a própria Amanda tinha avisado onde estariam, "caso Marina quisesse aparecer". Algo lhe dizia que não faria mal dar um empurrãozinho nas duas cabeças duras.
Assim que Débora viu Marina entrando no bar, foi inevitável, sentiu o coração acelerar. Olhou furiosa para Amanda, sabia que era coisa dela. Amanda a ignorou completamente, fingiu que nem percebeu.
Marina se aproximou, caminhou diretamente para a mesa em que eles estavam, manteve os olhos fixos em Débora, que desviou os dela, visivelmente perturbada. Tomando a reação que obteve como estímulo, Marina rodeou a mesa, cumprimentou um por um: Bruno, Juliana e Amanda. Deixou Débora por último, pois queria dar a ela uma atenção especial. Segurou-a pela cintura, teve que fazer um esforço imenso para conter a vontade que sentiu de beijá-la na boca. Limitou-se a roçar os lábios no rosto dela, o simples contato causando um arrepio que lhe subiu pela espinha de um jeito deliciosamente inevitável.
Débora, por sua vez, até tentou se manter firme, mas foi impossível ignorar a reação que a proximidade causou, estremeceu de forma involuntária quando Marina a beijou no rosto e novamente quando ela soprou em seu ouvido:
- Não consigo esquecer a sua boca...
Não foi capaz de responder, muito menos de deixar de ruborizar. Indignou-se consigo mesma, com Amanda por ter compactuado com Marina e com a própria Marina, por se sentar grudada nela, sem sequer perguntar se podia.
A raiva de Débora aumentou ainda mais ao se deparar com as colocações dela. Discordou de tudo que Marina dizia, foi rascante, propositalmente rude e agressiva. Contestou-a, de uma maneira absolutamente agressiva, irônica, quase ácida:
- Não é todo mundo que tem a necessidade de se exibir. Tem quem prefira não se expor.
A réplica de Marina foi dada no mesmo tom:
- É, tem quem prefira esconder o que faz.
Olhou significativamente para Débora, que sustentou o olhar dela, mas não foi capaz disfarçar o próprio desconforto. Deixou claro que não queria nem iria permitir outra aproximação:
- Tem coisas que é melhor esquecer, fingir que nem aconteceram.
A mensagem foi imediata e inteiramente compreendida por Marina. Havia uma mágoa indisfarçável na voz dela quando disse:
- É, acho que é esse o caso.
Antes de se levantar, lançou para Débora:
- Vou jogar sinuca na mesa apropriada.
Retirou-se da mesa com um ar abatido, quase magoado, que fez Débora pensar e repensar e depois se arrepender.
Foi num impulso, movido pelo que realmente sentia - e não pelas falsas verdades que havia dito – que anunciou que ia ao banheiro e se levantou, buscando o que desejava, aquilo em que havia pensado durante a noite que passara insone inteira e todo o dia que se seguira.
De onde estava, Marina tinha uma percepção completa do ambiente. Viu perfeitamente quando Débora surgiu, mas fingiu estar concentrada no jogo.
Assim que Débora atravessou a porta que separava o lado de fora da parte fechada do bar, localizou Marina. Perto da mesa de sinuca, com um taco na mão e um copo de cerveja na outra. Estaria mentindo se dissesse que não a achou deliciosa, sedutora e irresistível. Estava perdida, inteiramente atraída. E, naquela noite, disposta a assumir e usufruir disso.
Respirou fundo e caminhou diretamente para ela, parou na frente de Marina:
- Acho que precisamos conversar.
Claro que Marina gostou. Na verdade, adorou. Mais uma vez, Débora a surpreendia. Mas o embate anterior a deixara na defensiva:
- Pode falar. Estou ouvindo.
Débora já esperava que Marina se fizesse de difícil. Mais do que isso, compreendia a razão de ela estar agindo assim. Tinha dado motivos. Falou de um jeito suave, quase doce, mas sem nenhum artifício:
- Me diz uma coisa? Por que você veio aqui hoje?
A sinceridade na voz de Débora fez com que Marina finalmente olhasse para ela. Foi igualmente honesta:
- A Amanda me disse que você estaria aqui. Vim por sua causa. Eu queria te ver. Queria ficar com você.
Um sorriso amargo antecedeu a conclusão:
- Mas já entendi que foi só aquilo, não vou insistir. Pode ficar tranquila.
Teria se afastado se Débora não a impedisse, segurando-a pelo braço:
- Espera...
Tirou o copo de cerveja da mão de Marina e o depositou na mesa mais próxima. Fez o mesmo com o taco, livrou-se dele antes de afirmar:
- Você entendeu errado.
As duas se olharam. Marina em suspensão, imóvel e calada, esperando que Débora desse o próximo passo. E Débora não a decepcionou, não se fez de rogada. Puxou Marina pela cintura e a puxou para si antes de beijá-la. Foi inteiramente correspondida, perdeu por completo a noção de espaço, tempo e qualquer outra coisa que não consistisse na boca e no corpo dela, cada respiração, gemido e carícia conduzindo-as a uma necessidade imperativa e inegável, que Débora verbalizou numa confissão deliciosa, quase dentro do ouvido de Marina:
- Hoje eu quero mais do que beijos...
Colou a boca na dela uma última vez antes de dizer:
- Te espero lá fora.
Com um sorriso incandescente, Marina acompanhou Débora com os olhos até perdê-la de vista. Pelo entusiasmo dos beijos que tinham trocado, sabia que a noite prometia.
Com a pulsação completamente acelerada, as pernas fracas e as mãos trêmulas de expectativa, foi até o caixa e pagou duas cervejas antes de sair. Passou pela mesa que a ausência dela fazia parecer vazia, se despediu de Bruno, Amanda e Juliana com um aceno rápido e foi ao encontro de Débora, pronta para se deixar arder e enlouquecer mais ainda.
Assim que entraram no carro, Marina se virou para Débora:
- Pra onde?
A resposta foi imediata:
- Minha mãe tá em casa.
Não havia necessidade de dizer mais nada. Marina foi surpreendentemente gentil, mais pediu permissão do que sugeriu:
- Vamos pra minha casa então?
Não houve hesitação alguma por parte de Débora:
- Sim.
Marina sorriu. De um jeito lindo, que deixou Débora inebriada. Depois a beijou de leve nos lábios antes de se virar para a frente, girar a chave na ignição e dar partida no carro.
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