Capítulo 38
O vídeo acima é importante para o capítulo, transmite, em maior intensidade, o que Ally estará sentindo dentro de si.
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Verdades ocultas
Era véspera de Natal.
E meu aniversário de vinte e quatro anos.
Dixon não poupou esforços para fazer uma festa elegante para mim, mesmo com tantos protestos. Eu já tinha o que queria, só precisava de mais duas pessoas ali e tudo estaria perfeito.
Havia notado que embora fosse, também, véspera de Natal, não havia um clima natalino pairando pela mansão. E ninguém parecia notar, ou se notavam não tinham dado muita importância para aquela data do ano. Isso me deixava curiosa e confusa. Teriam deixado isso de lado por causa do meu aniversário?
Parte de mim dizia que aquela noite seria de surpresas e revelações, boas eu esperava. E uma delas era saber que Dixon não deixaria meus pais de fora dessa vez. Ele não podia, era nossa chance de colocar tudo a limpo.
Poxa, era meu aniversário!
Afastando as divagações concentrei minha atenção nas pessoas perambulando pelo salão. Os que chegavam colocavam os presentes em uma mesa reservada e já bem lotada. Era estranho receber presentes caros de quem eu nem conhecia, mas estava adorando.
Bendito eram as alfaces que valiam ouro.
— Fiquei sabendo que esta festa custou mais de onze milhões — disse uma senhora ao meu lado, avaliando a decoração. Ela trajava um vestido vinho cumprido realçando suas belas curvas. Seus cabelos eram tingidos de um preto azulado omitindo sua verdadeira idade. — Tem muita sorte de ser noiva do Sr. Wolks minha jovem. Ele é um rapaz maravilhoso e educado, vejo o quão importante você é para ele. A outra moça com quem ele estava não teve todo esse privilégio.
As pessoas estavam comparando a minha festa com a de Solange?
Olhei para o luxo e não me senti mal pela comparação. Sabia que, ao contrario de mim, Solange não teve por que era gananciosa e não soube dar valor aos homens que tinha. Aquela festa podia ser a mais bombástica do ano, ou a mais cara, mas não era isso que importava. Eu via ali, em cada detalhe, o carinho e amor que Dixon e os demais tinham por mim. E eles sabiam que isso era o mais importante.
— Sim, eu tenho sorte — confessei. — Preciso achar meu noivo. Aproveite a festa.
Dixon estava conversando com alguns convidados enquanto Greice e Mandy faziam o mesmo para eu não ter que enfrentar toda aquela gente sozinha. Senti um arrepio na espinha, aquela mesma sensação de antes quando estava fazendo compras com Dixon e Noah. O nervosismo estava me deixando paranoica, não tinha ninguém olhando para mim com algum interesse obscuro.
Depois de cumprimentar um aqui e outro ali, dediquei total atenção para a porta. Ainda estava cedo e muitos convidados já estavam presentes, e parecia não faltar ninguém... Mas eu sabia que as principais pessoas que eu esperava, com tanta ansiedade, ainda não haviam chegado. Na verdade, estavam demorando até demais. Onde estariam eles?
Dixon não deixaria meu aniversário passar daquele jeito sabendo que sem meus pais ali eu não seria completa. Cada novo ano eram eles quem me lembravam de que eu tinha envelhecido. Eram os primeiros a me parabenizarem, os primeiros a me lembrarem, ano após ano, que a responsabilidade ficava ainda maior e mais pesada. E me deixavam saber que, acima de tudo, estariam comigo, me apoiando, em qualquer decisão que eu tomasse. E por esse motivo àquela ocasião era ainda mais perfeita do que minha festa de noivado para dizer-lhes sobre Dixon e Noah.
Noah, minha mãe ia adora-lo, depois que me desse um longo sermão.
— Srta. Backer — virei-me reconhecendo aquela voz. — Minhas felicitações.
Agora não!
— Obrigada, senhor prefeito.
— Deixei seu presente para dar pessoalmente mais tarde, se não se importa.
— Não precisava se preocupar com isso — na verdade não estava contente em aceitar algo vinda daquele homem. Ele me deixava sinistramente nervosa.
— Hoje será uma noite inesquecível para todos nós — comentou, olhando ao redor.
— Espero que sim — me limitei a dizer mais alguma coisa. — Oh, preciso ir cumprimentar os convidados. Com licença.
Lua entrava no salão com Vivian e Van ao lado. Ele fez uma breve inspeção ao redor e em seguida olhou na direção onde Dixon se encontrava. Steve ainda não havia chegado e aquilo também me deixava um pouco deprimida.
— Aniversariantes não costumam ter essa expressão — disse Lua, me envolvendo em um abraço rápido. — Minhas felicitações, colorida.
Vivian se aproximou e repetiu o gesto. Van ficou parado carregando os presentes dos três. Em um gesto que me surpreendeu, ele beijou minha testa e desejou felicitações.
— Obrigada Van. Pode deixar os presentes ali... Já não tem espaço.
— Não se preocupe, eu dou um jeito.
— Coloque na sala de estar, vai poupar estresse.
Van saiu em direção à sala.
— Embora não haja outras intenções com esses beijos — olhei para Dixon se aproximando. — é impossível não sentir ciúme. Desculpe por deixa-la esperando. Steve acabou de chegar, logo ele vem falar com você.
— Fico feliz, estava preocupada — e tinha outra coisa me preocupando. — O que está acontecendo com a Mia? — perguntei, ela não parava de olhar e se quer se aproximava. Ela vinha se mostrando rude sem motivo aparente. Teria brigado com o homem que gostava?
— Nada com que se preocupar.
— Tarde demais, Dix.
— Mia é minha amiga, mas ela tem andado estranha ultimamente. Talvez sejam problemas em casa.
— Como nunca vi vocês conversando? Às vezes pareciam que nem se conheciam. Por que nunca me contou. Não podemos ajuda-la?
— Já não temos muita aproximação desde que estava com Solange, então não achei que se tocasse nesse assunto você poderia querer saber mais, como está fazendo agora. Não se preocupe com nada agora, Ally.
— E por quê? — essa história estava muito mal contada.
— Conversamos depois, não quero estragar sua festa. Hoje é seu dia, aproveite — ele beijou meus lábios rapidamente e me avaliou sem dizer uma palavra.
— Você está esperando mais alguém? — arrisquei perguntar.
— Gostaria, mas não estou.
Soltei um "Ah" sem som e desviei meu olhar do seu. Novamente meus pais não haviam sido convidados. Eu estava começando a achar esquisito Dixon não convida-los para nada.
— Eu vou ver como Noah está — me afastei.
— Ally... — Dixon segurou meu braço. Ele parecia travado para continuar.
— Eu voltarei logo para dar inicio a festa. Você pode me responder algumas preguntas depois? É importante.
Dixon assentiu e acenou para Mandy e Greice se aproximarem. Quando estava saindo, elas seguiram diretamente comigo.
— Está gostando da festa Ally? — Mandy perguntou.
— Sim, embora esteja faltando algumas pessoas.
Esperei para ver se Mandy se pronunciava a respeito. Ela me conhecia, sabia a que me refira, no entanto nenhum comentário partiu dela.
— Greice — se ninguém queria tocar naquele assunto, eu partiria para outro. — É sobre a Mia. — Ambas me olharam sem entender. — Ela tem andando estranha e, agora pouco, fiquei sabendo que ela é amiga do Dix, mas desde que cheguei aqui não me pareceu isso.
— Está muito preocupada hoje, Ally — foi a sua resposta.
— Acordei assim, hoje. Então...
— Lembro-me que quando os conheci, eles eram muito chegados... Quando fui embora com Dimi, eles ainda eram. Mas, agora que estamos de volta percebi a distância entre os dois, mas achei que isso fosse coisa da minha cabeça. Dixon é um homem muito ocupado e não tem tempo para conversar direito. Achei que você soubesse sobre a amizade deles.
— Acho que estou deixando passar muitas coisas. — Parei e abri a porta me certificando se Noah estava mesmo em seu sono profundo.
Quando descemos novamente, os convidados estavam sentados e as portas estavam fechadas. Dixon segurou a minha mão e caminhou comigo até a nossa mesa de frente para o enorme telão que eu não havia notado por causa das cortinas.
As luzes foram apagadas e fotos minhas surgiram no grande telão. Eram fotos que eu não tinha tirado e nem mesmo tinha consciência da existência delas. Momentos descontraídos entre meus sobrinhos e eu com Noah.
— De onde elas surgiram? — me inclinei para perguntar a Dixon. — O fotografo soube pegar bem os ângulos.
— Obrigado pelo elogio — ele afagou meu braço.
— Você?
— Em cada camisa eu tenho um botão câmera. É programado para tirar fotos sem intervalo. Caso meus olhos deixem passar detalhes importantes as fotos ajudam. Bom, só houve uma vez que estava sem elas e aquilo foi só um aviso de que estava me descuidando muito.
— Aquela reunião que eu invadi?
Ele riu.
— Pensando agora, sou grato aquele episódio — ele refletiu. — Através dele tivemos nossa primeira aproximação. Foi uma noite reveladora e maravilhosa, passei a noite ao seu lado.
— Sou grata àquela noite também, você foi um belo sem noção.
— Foi assim que me viu?
— Estava machucado e mesmo assim decidiu brincar comigo, tirou uma com a minha cara por conta de minha inexperiência em beijos.
— Não me arrependo. Faria outra vez... Veja, está perdendo outras.
Eram fotos nossas no parque, no mercado, na rua, nos brinquedos. A última foto fechando comigo concentrada em tirar uma foto de um peixe no aquário. Inclinei-me aproveitando a luz apagada e tomei os lábios dos Dixon em um beijo de agradecimento até ouvir a voz de minha mãe vinda de algum lugar em alto som.
— O que é isso! — Dixon levantou-se bruscamente. Por pouco não mordi seus lábios. — Desliguem!
As luzes foram acesas e Dixon saiu em direção onde estava o encarregado de passar o vídeo. Murmúrios tomou conta do salão enquanto eu era o centro das atenções. Demitri e Steve seguiram na direção onde Dixon sumira.
Onde estava minha mãe?
— Estava ficando interessante. Por que acha que seu noivo não deixou o vídeo passar?— O prefeito parou ao meu lado. — Era a minha surpresa pra você. A julgar pela sua expressão, vejo que não está entendo. Pobre jovem.
— O que está insinuando? — o prefeito ganhou toda minha atenção.
— Minha querida, não desconfia de tal atitude? —neguei incerta. — Bem, já que não pode ver o vídeo, vou conta uma de minhas histórias favoritas. Em uma bela noite, uma linda jovem foi sequestrada... Pobre moça... — ele suspirou animado. — No dia seguinte ela foi espancada e nessa mesma hora seus pais estavam sendo assassinados, por um dos meus homens.
Dei um passo para trás, era evidente que aquela história era sobre mim. Mas, eu desconhecia a outra metade.
— Qual a sensação de se sentir órfã? — ele perguntou. Seu olhar perscrutando cada traço do meu rosto. — Ah, você não sabe. — Ele riu.
Os convidados percebendo o clima, voltaram à atenção para nós dois. Demitri e os outros se aproximaram junto com Dixon.
— Ally, você está bem? — Dixon perguntou me envolvendo em seus braços. — Está pálida, o que houve?
— Eu só... — minhas pálpebras se abriam e fechavam de forma pesada, como se estivesse em um transe de câmera lenta olhando o rosto do prefeito se retorcendo em expressões malignas.
— Ah, é uma história de uma jovem órfã que estou contando a ela. — respondeu o prefeito. — Dixon amigo, eu fiquei surpreso ao ver que você colocou os corpos dos Backer no cemitério dos seus ancestrais.
— Mortos — sussurrei, virei para encarar o homem que me envolvia em seus braços. — O que ele disse?
— Não caiu a fixa, minha querida? — O prefeito interferiu antes que Dixon pudesse dizer alguma coisa. — Seus pais foram mandados para outro mundo. Puff! Evaporaram.
Em um único movimento Dixon estava em cima de um prefeito rindo histericamente como um palhaço do mal.
— Mortos — eu repeti voltando a mim. Não, eles não estavam. — Dix, solte-o. Meus pais estão bem.
— Bem mortos! — Gritou o prefeito ainda rindo como um psicopata.
— Pare, pare de brincar com isso. É horrível. Dix diz a ele sobre a carta, você leu... — eu suplicava, não entendendo porque estava procurando justificativas para as brincadeiras daquele homem.
Dixon se manteve calado imobilizando o prefeito no chão.
— Ah, a carta. Foi eu quem mandei. Convincente não foi? — disse o homem pavoroso. — Dixon, não acredito que escondeu o assassinato dos pais dela. Que tipo de noivo é você?
— Dix, mande-o parar — me abaixei e agarrei sua camisa. — Eles estão bem.
— Ele não está mentindo — Dixon confessou por fim, sem me encarar.
Foi com uma força sobrenatural que eu me levantei.
— Esse é o tipo de brincadeira que eu odeio Dixon! É meu aniversario, por favor.
— Não era...
— Eu tenho provas... — o prefeito o interrompeu.
Demitri entregou uma arma na mão de Dixon e me abraçou apertando meus ouvidos.
— Não! — gritei, conseguindo me soltar. — Ele tem a verdade, deixe-o, eu quero provas.
— Não, Ally! — Antes que Dixon pudesse dizer mais alguma palavra de recusa, a voz da minha mãe soou no aparelho celular na mão daquele que se dizia amigo de Dixon.
"Ally, minha menina, que Deus a proteja"
E um disparo foi ouvido.
— Antes de morrerem de forma prazerosa, imploraram para deixarmos a bebezinha deles em paz, eu aceitei. Mas quando soube que você estava envolvida com um homem que está no meu posto da Darker, minha vontade foi maior de torturar seus pais. Em plena morte pensar na filha. Que mãe doce.
E mais um disparo. Dixon tirara a vida do prefeito.
— Ally, meu Deus, diga alguma coisa! — Greice me chacoalhava. — Ally, por favor.
— Você sabia Dixon? — senti minha cabeça inclinar pesadamente para o lado.
Era um pesadelo. Um pesadelo longo e assustador.
— Ally eu...
— Sabia? — minha voz saiu ameaçadoramente calma. — Desde quando?
— Sim, foi no dia em que... as suas costas. — ele disse aquilo com a voz cheia de dor, mas não era o mínimo do que eu sentia.
— Todas as vezes que eu te questionava sobre eles você tencionava, eu chorei sentindo que algo estava errado, eu nunca mandei carta, fotos. E... e aquele e-mail... eu... eu fui enganada...
— Eu estava...
— Não! — Gritei ao momento que minha mão foi de encontro ao seu rosto. — Você mentiu pra mim, me enganou, me usou, eu chorei por você, me rebaixei ao extremo pra te conseguir e você... Você se aproveitando de mim.
— Não Ally, por favor... — Dei outro tapa em sua cara. Não tinha medo do que podia me acontecer, Dixon muito menos parecia irritado com minha atitude.
— Mia Agora! — gritou alguém do outro lado.
Mia se aproximou atirando em nossa direção. Dixon me empurrou para o lado, mas perdi o equilíbrio e cai. Homens, de não sei onde, começaram a atirar.
Eu não tinha sido a única a ser traída aquela noite.
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