Capítulo 23
A música do silêncio
Sentada no chão as gotas de chuva entravam em contato com a pele do meu rosto violentamente, levando toda a minha angustia. Passei a mão sobre o rosto afastando meus cabelos grudados. Sentia como se um buraco tivesse a minha frente, impedindo que eu acalcasse o outro lado. Sentia vontade de ter Dixon para me esquentar e me envolver em seus braços.
Levantei-me quando a chuva começou a intensificar e os trovões soarem ainda mais alto, os relâmpagos iluminavam o céu cinza e tenebroso. Minhas roupas pesavam, enquanto eu caminhava até a porta principal da mansão.
— Se continuar assim, irá pegar um resfriado — disse alguém atrás de mim. Virei-me para encara-lo.
— Louis... — minha voz saiu fanha.
— Espere-me aqui, pegarei toalhas para você se secar.
— Obrigada.
Louis, antes de se afastar para buscar as toalhas, examinou meu rosto como se fizesse uma pergunta silenciosa, depois de alguns segundos ele saiu. Fixei meu olhar no céu cinzento, meus pensamentos estavam em Dixon. Se depois do que aconteceu ele não falasse comigo e se afastasse, como ficaria o clima entre nós?
Deixei de pensar em coisas irrelevantes para o momento. Louis não tardou em voltar com as toalhas, mas antes que eu pegasse ele se recusou a entregar em minhas mãos. Observei-o colocar ela sobre a minha cabeça enquanto delicadamente passava ela por meus cabelos.
— Não se incomode com isso, Louis, obrigada.
Ele deixou que eu continuasse a me secar sozinha.
— Eu preciso ir agora — ele abriu um sorriso casto, olhando rapidamente para suas botas pretas antes de olhar em meus olhos. — Olha, um soldado nunca recua, mesmo que as circunstância peçam o contrário.
— Vou me lembrar disso, obrigada.
Ele assentiu se retirando. A silhueta de Louis ficava cada vez mais distante. Quando me vire levei um susto ao ver Demitri escorado no batente da porta de braços cruzados.
— Há quanto tempo está ai?
Demitri sorriu ladino, olhou para dentro da sala e voltou à atenção para mim, novamente.
— Tempo suficiente para vermos você e Louis — ele respondeu.
— Vermos? — não tinha mais ninguém com ele.
— Você não pode ficar desse jeito, vai pegar um resfriado — ele ignorou minha pergunta. — Entre e tome um banho. Encontre-me daqui a vinte minutos na sala de jogos. Greice e eu queremos falar com você.
— Sala de jogos?
Ele me olhou incrédulo.
— Dixon! — praguejou. — Pedirei a Greice que te espere na sala. Tudo bem?
— Tudo bem.
Demitri deu passagem para que eu pudesse entrar. Na sala não havia ninguém — ainda bem — então fui diretamente para meu quarto tomar um banho. Mesmo que eu tivesse falado para Louis sobre ficar na cama o dia inteiro, daria muito trabalho para Mirian. Eu não queria ser um fardo.
Abri o chuveiro e deixei que a água escorresse pelo meu corpo por alguns minutos sem me mover. Eu estava receosa e ansiosa para saber o que Demitri e Greice queriam comigo, sabia que Dixon o assunto principal.
Depois do banho escolhi uma roupa mais quente por causa do clima, e fui ao encontro de Greice. Na sala Greice já esperava por mim, ela estava inerte em seus próprios pensamentos e não sentiu minha aproximação.
— Está tudo bem?
Greice levou um susto.
— Ally! — ela levantou-se. — Eu quem pergunto isso a você.
— Eu já estive bem melhor.
— Vai melhorar, você vai ver — seu otimismo era estranho. Greice não costumava ser assim, de qualquer forma, era bom vê-la acreditar que tudo podia dar certo. — Vamos, Demitri está esperando por nós.
Ela levou-me para o lado oposto da mansão, onde eu ainda não tinha ido. As várias portas em que passávamos estavam todas fechadas.
— Dias chuvosos costumam ser tão tristes e melancólicos — ela comentou, ouvindo o trovejar. — Quando você não esta em um clima bom, a tempestade te deixa mais deprimida ainda. E pelo que ouvi vai chover durante essa semana inteira — ela deu um longo suspiro.
— Pretendia fazer alguma coisa?
— Sim, eu queria ir ao orfanato da cidade, mas essa chuva me deixa sem ânimo — respondeu gesticulando para uma enorme janela encharcada pela chuva que tinha no corredor.
Orfanato?
— Posso ir com você se quiser — me ofereci ao me lembrar de Alicia. Ela não estaria lá, mas haveria outras crianças.
— Sério? Então esta bem. Terça- feira está bem pra você?
— Eu quero ir, embora não acho que posso sair.
— Ally, você vai estar comigo! — sua afirmação confiante, era sinal de que Dixon cedia os pedidos da cunhada.
— Se você diz! Onde é essa sala, já passamos por várias portas.
— É a próxima — apontou para duas enormes portas de madeira.
— Essa mansão é surpreendente.
— A arquitetura é impressionante — completou.
Greice abriu as portas revelando uma enorme sala com maquinas de jogos por todo canto. Não tinha como descrevê-los, a não ser uns que pareciam videogames.
— Agora sei onde Karl e James ficam — comentei.
— Dixon fez essa sala exatamente para quando os sobrinhos viessem ficar aqui. Mas, há tempos não viemos, então ficou fechada. Demitri está ali atrás venha. É uma salinha a prova de som.
Demitri estava com as mãos entrelaçada uma na outra olhando para a janela semiaberta da pequena salinha.
— Amor — Greice sentou-se ao lado dele.
Sentei-me na cadeira de frente para ela.
— Obrigada por vir, Ally. Obrigada querida — ele sorriu para Greice. — Tenho certeza que sabe que essa conversa envolve meu irmão.
— Não foi difícil de adivinhar.
— Bom, sabemos que aconteceu entre vocês — me mexi desconfortável na cadeira. — Não se preocupe, entendemos o seu lado.
— Por que me chamou aqui, exatamente?
— Quando nossos pais morreram, eu já tinha dezenove anos e Dixon quinze. Como a máfia na Rússia ficava por conta de um membro da família e teve sua vida tirada em uma missão, eu tive que assumir lá. Dixon e Steve assumiram aqui juntos, por que ainda eram adolescentes, então ambos ficaram no comando.
— Eu sinto muito, embora não entenda o que isso tem haver — tentei não ser insensível. Demitri estava me contando mais a respeito de Dixon, mesmo assim não entendia onde ele queria chegar.
— Dixon já teve alguns relacionamentos, antes de encontrar Solange. Mas, em nenhum deles, eu vi meu irmão querer privar e ceder ao mesmo tempo para uma mulher. Para alguém se apaixonar de verdade é preciso que um esteja disposto a cometer loucuras para conquistar o outro, e foi isso o que aconteceu.
Demitri suspirou olhando rapidamente para a janela e voltou a fixar seus olhos em mim.
— Mostrar que você é diferente não muda ninguém, mas amar alguém que é diferente de você muda tudo. Você foi a primeira mulher a aceitar Dixon por quem ele é, e não pelo dinheiro dele. Foi a única que levantou a voz não se deixando abater por sua atitude superior. E, que acima de tudo, com todas as coisas que Dixon deve ter feito a você, deixou as diferença de ambos e se arriscou permitindo que seu coração se abrisse para ele. Ele sabe tudo sobre você e incontáveis vezes seu nome sai da boca dele. Por que acha que ele não deixou Steve se declarar?
— Sentiu ciúme e não quis admitir.
— Certo! Ele sentiu ciúme. Dixon está ciente dos sentimentos dele por você, mas não quis admitir, embora eu saiba que ele não quer machucar ninguém, não entendo o porquê de rejeita-la... Não quero vê-los sofrendo quando sabem o que sentem um pelo outro, mas Dixon não cede.
— Eu sei que ele sente alguma coisa, a expressão dele confirmou isso. Mas, se algo o prende, eu vou esperar. Não vou jogar aos ares tudo que pode dar certo.
— Você é realmente compreensiva, assim como Steve disse. Mesmo que isso seja bom, tem o lado ruim. Se deixar que o tempo resolva pra você, a morte te levará muito antes que Dixon resolva ceder aos sentimentos oprimidos dentro dele. Sendo assim, você precisar mexer uns pauzinhos — Demitri cruzou os braços escorando-se na cadeira. — Eu deixei um aviso ao mein irmão, e como prova de que não estou errado o colocarei a prova.
— Prova? Dixon é um mafioso, Demitri. Ele não é burro!
— Quando se trata de negócios ele é mestre, mas em questão de sentimentos, ele pode ser complicado. Por isso foi enganado.
— Querido! — Greice chamou atenção do marido. — Ally, o que Dimi está tentando fazer é pelo bem e a felicidade de você e Dix.
— Sem falar que você disse que vai sequestrar o coração dele — disse Demitri. — Então por que não adiantar a promessa de sequestro? Certamente que sua postura obstinada terá sucesso.
Pela cara deles sabia que nada do que eu falasse os faria mudar de ideia. E se eram para me ajudar, eu estava disposta a aceitar.
— Hoje no jantar, os primeiros passos serão dados. Se há uma coisa que Dixon não suporta é ver uma chance escapar por entre seus dedos e não ter feito nada. O restante eu deixo nas mãos da minha esposa. Será uma honra ter você como parte da família Wisentheiner.
Ele levantou-se e Greice e eu fizemos o mesmo. Demitri seguiu em direção aos filhos no final da sala concentrado em algum jogo, e Greice me acompanhou para fora da sala.
— Isso vai ser difícil — murmurei, mas saber que eu era aceita já era uma grande motivação.
— Mas, não impossível.
Seguimos em silêncio ao som da chuva. Mas, de repente o som de uma melodia começou a ecoar pela mansão. Parei de andar olhando para o lado onde a música estava mais alta.
A melodia cessou, logo voltando de maneira rápida e intensa. Era como se os sentimentos da pessoa que tocava estivessem confuso. Dei um longo suspiro, clássicos lembravam meu pai, um amante de música clássica. Sorri ao pensar nele.
— Ally? — Greice cutucou meu braço.
— O som não parece ser de um rádio ou algo parecido — comentei. — Está perfeitamente nítido.
— É o Dixon. Ele é apaixonado por clássicos.
Um mafioso musicista?
— Quer ouvir de perto? — Greice sugeriu. — Não se preocupe, você pode ir. É aquela porta branca à frente.
Ela desceu as escadas me deixando sozinha. Segui até a porta sentindo um nó se formar em minha garganta. Por sorte a porta estava aberta. Dixon costas para mim, deslizava delicadamente seus dedos pelas teclas do piano branco. Seu corpo se movia vagarosamente para um lado e para o outro.
Ele parou de tocar por alguns segundos antes de voltar e parar novamente.
— Senti o aroma do seu perfume. Não vai se aproximar? — ele perguntou, permanecendo de costas para mim.
Eu nada respondi. Dixon suspirou.
— É uma bela melodia — prosseguiu. Novamente eu nada disse. — Se adequa ao momento, tanto pra mim quanto pra você, estou certo?
Sua cabeça se inclinou minimamente para baixo.
— Pode se aproximar...
Ao contrário do que ele disse, eu sai. Tinha que esperar o momento dele. O próximo passo não poderia ser eu a dar novamente.
Na sala encontrei Greice conversando com a Mia, sem querer dialogar fui para meu quarto e fiquei deitada por horas, até dar a hora do jantar. Estava quase adormecendo quando Greice bateu na porta e entrou.
— Com licença, estou entrando.
— Já está na hora do jantar?
— Ainda não, mas vim aqui para ajudar você a escolher uma roupa.
— O closet é ali. Pode escolher sozinha.
— Vocês conversaram?
— Não. Ele tentou dialogar, mas eu não quis.
— Por mais que eu queira, não posso dizer nada a respeito disso.
Ela caminhou para dentro do closet. Estendi a mão para alcançar o Macbook. Assim que abri, uma caixa de mensagem esquisita apareceu. Tentada a saber o que era, pensei em abrir, mas Greice voltou para o quarto com a roupa que escolhera pra mim.
— Aqui está. Deixe seu cabelo solto, as mechas vão combinar com a cor do vestido. Nos vemos no jantar.
**************************
Hello! Tudo bem?
Quem se lembra do jantar?
Chegamos à um milhão! 🎉🎉 E isso é por sua causa. Você faz parte disso, você quem fez esse livro chegar até aqui. #vocessaoincriveis
Se você chegou até aqui, viu o capítulo das indicações. Aquele capítulo é o mais importante no livro, voltem lá. Apreciem aqueles livros incríveis, vamos fazê-los chegar a um milhão para que todo o wattpad conheça as obras incríveis que temos aqui.
#vamoscompartilhar
Fiquem com Deus. Agradeçam pelo dia de hoje.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro