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Capítulo 7

Quando chegamos em casa, o sol se empoleirou entre uma nuvem e outra. Nicholas tinham milhares de novos pratos para preparar e impressionar — pois certamente o faria — os garçons e os clientes do restaurante onde seria suchefe — e onde permaneceria até que fosse apenas chefe.

Não é difícil ver o Nick sorrindo como alguém de porre, as vezes você o pega entre uma flor e outra, sorrindo. O mesmo acontece para o contrário. Ele não é bom em esconder seus sentimentos, ou talvez nunca tenha tentado, não em casa, não para mim, não para esse mundo em que ele é a distorção — a distorção que o mundo deveria agradecer por ter.

— O que deu em você? — peguei ovos e leite na geladeira, como ele havia pedido e deixei sobre o balcão enquanto ele revirava as caixas ainda empilhadas num canto da sala.

— Você sabe como sou quando se trata de cinzinha. Nem é preciso explicar.

— Sei, mas... Sei lá. Você está muito mais feliz do que de costume. É quando digo muito, quero dizer em proporções inimagináveis pelo homem — sentei sobre o balcão.

— É? — folheou um livro com um bolo gigante na capa. — Acho que estou como sempre estou.

— Louco?

— Achei! — gritou. As pessoas na rua certamente gritaram junto.

Com os passos apressados, ele correu até o balcão e escolheu uma página — o que significa: receita — e iniciou sua procura por ingredientes.

O telefone reclamou no quarto de Nicholas.

— Eu pego! — gritou, desde que chegamos aqui, Nick está sempre gritando. — Procure açúcar mascavo pra mim, por favor!

— Sim, mestre — resmunguei e desci do balcão para procurar seus açúcares mágicos.

Um pote com algo sem nome, entre um vidro de requeijão e outros dois de azeitona, me sorriu tão alegre quanto o homem que o preencheu.

— Nick — chamei, adentrando a casa a sua procura. — É isso aqui?

Quando cheguei a base da escada, a voz de Nicholas banhou tudo. Ele parece com medo, alertando alguém sobre os perigos de outrem.

Permaneci ali, ouvindo-o atentamente com o vidro cheio de uma farinha marrom como areia de praia.

Ele disse que alguém é uma fera, uma fera cuidadosa, uma fera ingênua, uma fera faminta... Uma fera. Dentes e garras e pelos e olhos vermelhos. Uma fera doentia. Ele disse para ter cuidado, que as vezes ele não é ele, e é bom quando isso acontece. Disse também para manter-se por perto — ele nunca fere quem o acolhe —, mas não tão perto — ele fere quem o invade.

— Mantenha-se calma, Brie...

Brie?

—... como se não soubesse de nada.

Brie?

— Esse é o único jeito.

Brie? Brie está com...a fera?

Corri casa à dentro, procurando Nicholas, invadindo os cômodos... Ele nunca está atrás da próxima porta.

Ace, calma! — ele entrou em minha mente antes que o encontrasse. — Brie está bem. Está tudo bem. Estão todos bem. Não há razão para escândalos, não precisamos de mais um problema.

Ainda estou tonto demais para parar e com medo demais para ter calma.

Mas, a Brie...

Parei. Atrás da porta onde minha mão amassa o metal rígido da maçaneta, Nicholas está empunhando uma mentira para manter Brie onde ela está, para mantê-la calma, para tentar salvá-la da tal fera.

Ela está bem. Eu juro, que está.

Nicholas... — o metal geme entre meus dedos, eu quero abrir e pegar aquele telefone e dizer para Brie fugir. Eu quero saber quem é a fera e quero matá-la antes que faça algo estúpido.

Mas Nicholas sabe o que está fazendo, ele sempre sabe.

Seus lábios ainda falam sobre o perigo e Brie ainda tenta se manter calma do outro lado da linha. Eu só queria estar lá... Eu só queria ser Nicholas e ter atendido aquele telefonema e estar ouvindo sua voz e salvando-a dessa forma.

Talvez a fera não seja uma fera. Talvez seja um tipo menor de fera. Algo que Brie consegue acompanhar como um roteiro, algo que ela pode pisar e matar ou desfazer. Algo inofensivo. Talvez Nicholas esteja aumentando a fera. Talvez ela não seja uma hecatombe como minha mente a imagina, talvez seja apenas uma fera..

O aço frio estremeceu sob meus dedos. Eu poderia girar a maçaneta. Eu poderia não ter ouvido sobre a fera e, assim, não querer ir à International Falls. Eu queria nunca ter saído...

— Eu juro.

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