Capítulo 16
Kai saiu ao cair da noite, Billie o viu e o seguiu até a cidade, mas foi interrompido pela quadragésima ligação do Mountain mais velho. O que talvez tenha sido uma ótima oportunidade para manter o idiota do meu irmão vivo por mais algum tempo - mas digamos que manter-se vivo não é bem o objetivo de Billie, descobrir a verdade parece vários por cento mais satisfatório que viver sem respostas.
Quando o visitei mais cedo, não me pareceu que Kai era um assassino dessa natureza. Ele pode até ser um demônio, mas de demônios International Falls está cheia, alguns com poderes e sede de sangue, outros com estados mentais duvidosos e álcool até o cérebro, um poucos apenas medrosos e indefesos, que precisam ir a escola quando as férias acabarem.
A verdade é que todos nessa cidade levam algum segredo esmagador no peito, ou nos bolsos, ou nas mãos... Todas as cidades são assim, por mais pacatas que pareçam. Um demônio a mais ou a mesmo, não faz tanta diferença.
O engraçado sobre Kai é que ele parece extremamente assustador à primeira vista, como uma interrogação após uma frase que, por si só, já foi muito ruim de entender, então você pisca e vocês trocam de lugar. Por um momento, é ele quem está assustado. Você é a interrogação agora, você é a grande pergunta sem resposta, que ele irá ler e ler, várias e várias vezes. Ele seria ótimo no papel de senhor Buscove na peça da escola, muito melhor que o Noah - embora Noah não seja ruim. E, há outra coisa sobre Kai que é fácil notar: a distância imposta por ele mesmo para ele mesmo.
Kai não é exatamente ruim em conversar com as pessoas ou em demonstrar seus sentimentos. Ele só não te deixa prestar atenção por tempo suficiente. Se parar um pouco, se quiser mesmo ver, qualquer um nota que a bagunça que há nele é sempre um pouco maior do que a que acha que ele carrega - disso, International Falls está inundada até o talo. Aparentemente, todos os nossos visitantes, principalmente os meio-mágicos, têm o psicológico bagunçado por algo que ocorreu há várias e várias décadas atrás.
Essa cidade está virando uma bagunça, uma zona de sobrenaturais depressivos, um criadouro de insanos... Eu com certeza estou no meio desses últimos.
- Ele está saindo da cidade, é só isso que sei - Billie está sentado no chão, como sempre, com as pernas esticadas para debaixo da cama, me observando enquanto seco o cabelo desajeitadamente.
Suas fugas pelo basculante, no banheiro, o estão deixando mais temperamental que o motivo para fazê-lo.
Billie nunca foi muito imprudente. Era um estudante dedicado, de poucos mas bons amigos, sempre caidinho por uma garota que parecia muito quando ele falava, mas não era tanto quando se conhecia. Seus olhos sempre foram mágicos assim, a ponto de ver o melhor nas pessoas. No entanto, isso nunca foi desculpa para denunciar o pior, esconder o necessário, fingir demência de vez em quando...
Ele é o tipo de homem que te faz suspirar em livros e dúvida que existe na vida real - ou talvez eu tenha olhos mágicos assim, para enxergar um "diferencial" nas pessoas.
- A rodovia? - comentei.
- Não... Quer dizer, quase. Ele foi por outro caminho - se jogou no chão, o barulho seco de suas costas causaram, se propagando pelo assoalho. A irritabilidade está pairando sobre sua cabeça, uma gigante e muito nebulosa nuvem.
- Como assim outro caminho? Só dá pra sair por...
- A floresta, Cara de Queijo! Qual outro caminho um assassino desse tipo seguiria? Você nunca assistiu filmes de terror? - a irritação de Billie é quase cativante, principalmente quando se nota que ela só existe pelo simples fato de esse cara estar totalmente louco para saber a resposta por trás dos assassinatos.
- Todos os assassinos de filmes dirigem normalmente por rodovias. A não ser os mascarados... Não, até mesmo os mascarados! De que tipo de filme estamos falando?
- Do tipo em que vampiros existem, idiota! - o "idiota" soou menos raivoso do que ele quis pronunciar.
Ri de seu stress enquanto procurava por um pente e meu creme de cabelo.
- Ah, então você acreditou! Eu sabia que você não era tão cabeça fechada!
Billie fez uma cara de nojo e levantou-se.
- Digamos que eles existem e que esse tal Kai é um animalzinho com uma fome maior que a deles - a cada palavra, seus olhos parecem mais cansados. - Temos que fazer alguma coisa.
- E aqui estamos nós com mais um dilema cinematográfico: somos adolescentes idiotas com o segredo que possivelmente apenas o Pentágono - o pente ficando um pouco preso no cabelo embaraçado não ajudou muito no ênfase em "Pentágono" - detém e precisamos salvar o mundo secretamente. Voto por encontrar um semideus no caminho. Um que possa atirar raios-laser com os olhos!
Notei o grande esforço de Billie para não me atirar janela à fora. Ele respirou fundo umas três vezes.
- E o que você quer que eu faça? Chame a polícia? - o oscilar entre a raiva e a calma é a única coisa que realmente faz sentido entre suas perguntas idiotas. - A polícia resolveria um problema desses? Os seus amiguinhos, pelo visto, não podem fazer nada, não é?
Acenei negativamente com a cabeça. Nem ousaria dizer alguma coisa, não com o Billie nesse estado. Quando as veias em sua testa começam a ficar visíveis com seu stress resguardado, o melhor a fazer é deixar a fera pôr para fora cada uma das ideias insensatas que a cabecinha dela produzir.
- Então só resta a nós fazer alguma coisa. Ver toda essa bagunça acontecer e não fazer nada é o mesmo que estar no meio dela! A gente precisa fazer alguma coisa, qualquer coisa. Mesmo que só... - Billie saiu do quarto, as mãos no cabelo, pensando, ou talvez perdido. Muito provavelmente os dois.
- Vou ligar para o Nicholas - com o cabelo ainda por pentear, procurei por meu celular. - Ele deve saber alguma coisa. Até agora, só ele tem respostas para qualquer pergunta que venha com um Kai entremeado.
- E de que adiantaria? - murmurou, quase no fim do corredor.
- Ele pode nos dizer algo que sirva como pista, ou sei lá.
- "Ou sei lá" é uma boa - e lá está meu irmão, usando a maçaneta como apoio, esperando eu ligar para o vampirão loiro.
Nicholas, Nicholas, Nicholas... Um dia ainda serei morta por gastar tanto em ligações internacionais, mas você é tudo o que temos contra os demônios assassinos.
- Alô? - A voz de Ace soou do outro lado da linha, suave e austera como sempre. Se eu fosse um vampiro como ele, teria ouvido seu coração ruir quando pedi que chamasse o Nick. Se eu fosse esse tipo de demônio, certamente não quebraria seu coração.
- Desculpe.
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