Capítulo 10
A CAIXA.
Chloe não sabia como lidar com isso. Definitivamente não. Ter que ver o rosto de Angel e Ryan todos os dias na escola estava sendo difícil. Ryan pelos motivos óbvios, mas Angel.... argh! Ela teria entendido se a amiga tivesse chegado e explicado o mal-entendido logo quando aconteceu, era só dizer que não sabia que ele era seu namorado e pronto! Contar a verdade era tão difícil? Mas não, durante todo esse tempo Angel continuou fingindo que nada tinha acontecido e isso era o que mais a magoava. Ela ter mentido por dois anos!
— Hey, Chloe, podemos sair para uma caminhada? Eu queria muito falar com você. — Ryan disse assim que a morena abriu a porta de casa.
— A essa hora? — Ela ergueu as sobrancelhas, já estava perto da meia-noite.
— Tem algum problema? — O garoto colocou as mãos no bolso do casaco de forma despreocupada.
Estava sendo uma noite fria, como muitas outras, mas o frio era a única coisa que ela tinha a temer, já que Elliot Jackson havia sido levado preso há alguns dias e as coisas na cidade estavam começando a voltar ao normal de sempre.
— Não tinha um assassino em série atacando garotas na cidade aqui do lado? — Ela lembrou de ter visto algo sobre isso na TV. Aparentemente três garotas já haviam morrido.
— Se não me engano, são apenas garotas loiras, e na cidade vizinha ainda mais, acho que você e esse seu cabelo escuro vão estar em segurança comigo aqui na rua. — Ele debochou.
— Tá, tá bem. — Entortando os lábios, Chloe voltou até a sala para pegar e vestir o seu casaco que estava em cima do sofá, e em seguida, calçar suas botas ugg que estavam perto da porta e seguir Ryan pela calçada. — Então, o que aconteceu?
— É que... bem... eu estarei indo para a Califórnia em alguns dias.
A garota parou de andar, ficando estática. Preocupado, Ryan pensou em acrescentar algo, dando mais contexto para sua namorada, mas ela pareceu chegar a uma conclusão por contra própria, voltando a andar e a sorrir.
— Okay... vai ser difícil todo esse lance de namoro à distância, mas acho que a gente consegue fazer funcionar.
— Chloe... — Foi a vez do jovem parar de andar, segurando a garota pelo antebraço para que fizesse o mesmo. — Não tem jeito certo de falar isso, mas.... eu não quero um namoro a distância.
A voz dele saiu receosa, e Chloe a recebeu como um tiro.
— Ryan... — A voz dela quase não saiu. — Por quê? Eu pensei que estávamos bem?
— Eu sei, e estávamos, eu só... acho que eu não estou mais apaixonado por você.
— Você está terminando comigo? — Sua voz saiu fraca novamente enquanto ela segurava o turbilhão de emoções dentro de si.
Sem conseguir responder à pergunta, Ryan apenas assentiu, se sentindo mal por quebrar o coração da garota a sua frente. Ele já chegou a pensar um dia que ela seria a sua namorada para sempre, sua futura noiva, mãe dos seus futuros filhos, mas agora... desde os acontecimentos das últimas semanas... o seu coração não era mais o mesmo. Não era mais dela. Se é que realmente foi um dia.
— Sinto muito, Chloe... acho melhor eu ir agora.
Ele se aproximou para depositar um beijo rápido no topo da cabeça da jovem, e então, seguiu em frente sem olhar para trás. Chloe permaneceu parada onde estava, sentindo seu corpo fraco e o coração palpitando. E se deixando levar por suas emoções, ela libertou as lágrimas que tentava ao máximo segurar. Seria uma noite difícil, como tantas outras antes dessa, mas ela não tinha como evitar a realidade. Em meio a tamanha fragilidade, a jovem apenas deixou que um pouquinho do frio daquela noite penetrasse seu coração.
Ela nunca tinha contado a verdade a Angel, ou para ninguém, na verdade. A história que todos conheciam era a de que ela tinha dispensado o Ryan, e não, o contrário. Ryan não se importou com essa versão e nem tentou desmentir, apenas seguiu com a sua vida e dias depois se mudou para a Califórnia como havia dito.
Deitada na cama no escuro de seu quarto, Chloe pensou na possibilidade de Ryan ter terminado com ela por causa de Angel. Talvez ele tivesse se apaixonado por ela, talvez não, ela não sabia. Não conseguia pensar direito. Nem mesmo sabia se ela sequer se importava de fato com isso ainda. Estava totalmente confusa. Se levantando rapidamente da cama, ela caminhou até o banheiro e jogou um pouco de água no rosto antes de encarar o seu reflexo no espelho a sua frente. Por um breve segundo a jovem não reconheceu a imagem refletida nele, e isso a assustou um pouco. Quem era aquela garota destruída à sua frente? Certamente não era Chlodys Valentine.
Pegando a toalha ao seu lado, ela enxugou o rosto e ajeitou sua maquiagem. Em seguida, se trocou, colocando o vestido preto que tinha escolhido para ir a tal festa no centro da cidade. Não estava com muita vontade de ir, mas Lily a convenceu de que talvez, com essa festa, ela pudesse esquecer um pouco os seus problemas. E ela contava com isso. Calçou os saltos, vestiu um sobretudo preto por cima do vestido curto, soltou o cabelo e se olhou uma última vez no espelho, deixando a garota destruída para trás antes de deixar o quarto.
Seus pais estavam no hospital fazendo uma visita ao Sam e não poderiam deixá-la na festa, ela decidiu também não aceitar a carona que Lily ofereceu e ir a pé, seria bom para pensar um pouco e esvaziar a mente. Ajeitou os fones Bluetooth nos ouvidos e iniciou uma playlist aleatória antes de guardar o celular na bolsa e pendurá-la em seu ombro. Em pouco mais de vinte minutos ela já estava no centro da cidade, entretanto, não no lugar onde a festa aconteceria, e sim, em frente ao prédio onde Elliot Jackson estava morando. Sentiu o seu coração acelerar assim que se deu conta disso, e se virou rapidamente, ficando de costas para o prédio para encarar a rua à sua frente.
Não sabia como e nem por que ela estava ali, mas estranhamente... a hipótese de ficar naquele apartamento parecia mais atrativa do que ir à uma festa cheia de estranhos, e isso a assustava. Talvez não apenas isso, como Elliot também, ele era um assassino, certo? ... CERTO? Ela já não sabia. Talvez o que mais a assustasse fosse essa sensação estranha que percorria todo o seu corpo sempre que ela pensava nele.
Quando viu, já estava saindo do elevador e batendo na porta do apartamento, torcendo para que Elliot não achasse isso estranho demais, já que ela certamente achava. Ele a ajudou uma noite simplesmente por tê-la atropelado, ela tinha certeza de que aparecer ali novamente o pegaria de surpresa, mas não conseguia mais voltar atrás. Segundos, que mais pareceram minutos para ela que tinha o coração acelerado de nervosismo, se passaram, e então, a porta foi aberta. Um Elliot sem camisa, com uma toalha enrolada na cintura e com o corpo molhado e cabelo ainda pingando água apareceu na sua frente. A respiração da jovem falhou.
— Chloe? O que você está fazendo aqui? — Ele a encarou surpreso.
Não tão surpreso quanto ela.
— Eu... hum.... — Ela piscou algumas vezes. — Eu não sei. E nossa, foi uma péssima ideia, você claramente está ocupado! — Ela cobriu o rosto com as mãos, envergonhada. Elliot apenas riu.
— Está tudo bem, você pode entrar se quiser. — Ele abriu mais a porta, dando passagem, mas ela continuou insegura a sua frente. — De verdade, você não está atrapalhando nada. — Ele insistiu, e a garota, que segurava na alça da sua bolsa como se segurasse pela sua vida, assentiu, decidindo entrar. — Eu só vou terminar o meu banho, e já volto, ok? Fique à vontade.
— Ok...
A porta foi fechada e Elliot voltou para o banheiro. Tentando deixar toda a sua vergonha de lado para se sentir confortável como da outra vez, Chloe tirou seu sobretudo e o deixou em cima do sofá para ir olhar em volta. O apartamento estava bem diferente da última vez que esteve ali, não havia mais caixas para todos os lados, o lugar agora se encontrava mobiliado e organizado. Ela notou que a estante, que antes estava vazia, agora estava cheia de livros e porta-retratos, e se aproximou para ver. Tinha uma foto dele com os pais quando era pequeno, parecida com a que ela tinha em casa, só que Elliot era filho único, enquanto ela tinha o Sam. Outra foto apenas de sua mãe sorrindo, a foto parecia um pouco antiga. Algumas outras de quando ele era bebê que ela achou fofo e não pode deixar de sorrir ao olhar. E a última foto era dele e de Isaac, Elliot tinha um braço por cima dos ombros do primo, e os dois sorriam para a câmera, a foto parecia ser recente. Não recente tipo, após ele ter sido solto, mas provavelmente tinha sido tirada nos meses ou semanas antes dele ser preso.
Voltou para o sofá e se sentou para esperar por Elliot, mas foi então que notou uma caixa no chão perto da janela. O lugar todo estava organizado e brilhando, exceto por aquela caixa velha e deslocada. Desviou o olhar para a televisão desligada a sua frente, tentando não pensar muito sobre isso, mas não conseguiu, sua curiosidade já tinha sido atiçada. Por que ainda havia uma caixa se ele tinha desempacotado tudo? O apartamento estava impecável!
Olhou na direção do banheiro. Talvez desse tempo de espiar o que tinha lá antes dele sair? Se levantou do sofá e se abaixou em frente a caixa, torcendo para que não fosse uma cabeça como naquele filme com o Brad Pitt, entretanto, não poderia estar mais errada, e assim que abriu a caixa, percebeu. Não, não era uma cabeça ali dentro, e sim, vários recortes de jornais que falavam sobre a morte de Jessica, assim como várias fotos dela. No entanto, não eram fotos normais dela olhando para a câmera, e sim, fotos tiradas como se ela estivesse sendo seguida, ou melhor, espionada.
O som da porta do banheiro batendo ecoou pelo pequeno apartamento e Chloe se levantou com o susto. Ainda com as fotos na mão, ela encarou Elliot enquanto ele caminhava até a cozinha.
— Você quer beber alguma... — Ele parou de falar e caminhar assim que notou onde ela estava parada e o que segurava. — Merda, Chloe... — Ele rapidamente caminhou na direção dela. — O que pensa que está fazendo? — Ele quase gritou, parecendo irritado e nervoso.
— O que é tudo isso, Elliot? — A garota perguntou, temendo ter se equivocado e de fato estar de pé na sala de estar de um assassino.
— Não é da sua conta. — Rosnou. — Você deveria ir embora agora...
— Você matou a Jessica? — A pergunta escapou por seus lábios, e ao mesmo tempo em que se sentia apreensiva, ela se sentiu mais leve por ter posto a dúvida para fora.
Parte de si queria acreditar que ele era mesmo inocente, caso contrário, ela não estaria ali. Mas isso... isso era estranho, não? Por que queria isso?
— Você só pode estar brincando comigo... — Ele expirou e abaixou a cabeça, rindo de forma sarcástica.
— Eu não estou brincando, Elliot. As coisas nessa caixa... você estava obcecado por ela? — Chloe acusou, sentindo o seu coração acelerar mais e mais a cada segundo com o olhar que Elliot lhe lançava.
— E o que isso tem a ver com você? — Ele rebateu. — Eu te ajudei naquele dia e agora você acha que é minha namorada ou algo assim? Vem quando quer, decide mexer nas minhas coisas sem permissão, caralho... — Ele passou a mão pelo cabelo, nervoso. Chloe queria falar algo, se defender, qualquer coisa, mas sua voz não saía. Ela sabia que também não estava certa nessa história. — Quem você acha que é para exigir alguma coisa de mim?
— Eu sei que não sou ninguém, ainda assim, eu preciso saber...
— Por quê? — Ele a interrompeu.
— Por que sim, caramba! — Ela bateu o pé. — Por que eu estou no seu apartamento, porque eu...
— Mas eu não pedi que viesse! — Ele mais uma vez a interrompeu, irritado, e inconscientemente, Chloe começou a andar para trás na medida em que ele andava na sua direção. — Você vem aqui, mexe nas minhas coisas, me insulta... — A voz dele foi ficando cada vez mais rouca, e aos poucos, a jovem foi se sentindo mais e mais acuada por perceber que não havia mais para onde ir, ela estava entre ele e a parede. — Eu acho que você deveria ir embora agora, Chlodys, você não é mais bem-vinda aqui. — De forma rude, Elliot tomou as fotos da sua mão e as jogou na direção da caixa, que agora estava longe dos dois.
Tentando relaxar e não parecer tão assustada, ela respirou fundo e ajeitou sua postura, erguendo o rosto para encarar o rapaz a sua frente nos olhos de igual para igual.
— Já eu acho que você a matou. — Ousou dizer, sua voz abaixando um tom por causa da proximidade.
— Se acha mesmo isso, então me responde uma coisa.... — Ele eliminou completamente o espaço que os separava para falar algo em seu ouvido, e Chloe sentiu todo o seu corpo estremecer quando a respiração dele alcançou seu pescoço. — O que me impediria de fazer o mesmo com você? — A voz do rapaz saiu ainda mais baixa, como um sussurro no silêncio que os cercava.
A garota expirou, ofegante, e engoliu em seco antes de prosseguir.
— Aqui não tem uma escada.
A respiração de Elliot bateu contra o seu rosto quando ele riu, e Chloe quase fechou os olhos ao sentir o estado do seu corpo piorar. Entretanto, o rapaz se afastou dela antes que isso acontecesse, encarando-a com desdém.
— Bate a porta ao sair.
E sem dizer mais nada ou sequer voltar a reconhecer a sua presença ainda ali em seu apartamento, Elliot caminhou até a pequena cozinha e colocou uma chaleira com água para esquentar no fogão.
— Acho que o que as pessoas dessa cidade dizem sobre você deve ser verdade mesmo.
Ele ouviu a jovem resmungar enquanto pegava as suas coisas do sofá.
— Eu poderia dizer o mesmo sobre o que falam de você, "Chloe". — Ele rebateu, ainda sem olhar para ela.
O silêncio foi se expandindo pelo apartamento até não haver mais espaço algum para as suas próprias respirações, e apenas quando ouviu a porta bater foi que Elliot se permitiu respirar novamente, ofegante.
O que caralhos acabou de acontecer? Ele pensou. E o mesmo fez a garota atordoada do outro lado da sua porta de entrada.
Chloe encostou na parede do corredor em busca de apoio e respirou fundo, tentando entender o que havia acontecido ali. Seu coração estava mais descompassado do que nunca, e ela simplesmente não entendia o porquê. Tinha tanto medo assim dele?
Isso ainda poderia ser chamado de "medo"?
Passou a mão pelo seu longo cabelo, jogando as madeixas para trás em busca de ventilação, e suspirou, decidindo não pensar muito nisso, ou nele.
O ar gélido da noite a abraçou assim que ela pôs os pés para fora daquele prédio, e não demorou nada para que ela percebesse que não estava com a mínima vontade de ir para uma festa. Desejando a calmaria do seu quarto ao invés de músicas ensurdecedoras, ela deu meia volta e caminhou para casa.
Durante todo o caminho, os acontecimentos recentes pareciam se repetir em sua mente, a deixando extremamente confusa. No entanto, outra coisa parecia atormentar a sua cabeça ainda mais do que as fotos que ela viu e as coisas que ele disse, e isso era o fato de que ela não conseguia parar de pensar em Elliot Jackson! Maldito o seja por isso! Pois mesmo após ele a ter encurralado contra uma parede e dito aquelas coisas absurdas e assustadoras, o seu corpo parecia estar respondendo a tudo isso de uma forma um tanto quanto.... inusitada. A noite estava fria, mas ela caminhava atormentada por tanto calor, sequer vestiu o seu sobretudo, carregando-o no antebraço durante todo o percurso.
Levou a mão até a testa para descobrir se estava com febre, e ao constatar que não, pulou imediatamente para a segunda hipótese: ela estava enlouquecendo. É claro! Só poderia ser isso!
Assim que chegou no jardim frontal da sua casa, seu celular vibrou no bolso do sobretudo. Tateando o tecido grosso pelas mãos, ela achou o aparelho e olhou para a tela. Era uma mensagem de Angelina. Resistiu à vontade de ignorar e decidiu ler. Precisava de familiaridade após acontecimentos tão estranhos.
Chloe, preciso de você. É urgente!
Junto da mensagem havia um endereço. Chloe olhou para a garagem e notou que o carro estava ali, o que significava que os seus pais já haviam retornado da visita ao hospital, e sem pensar duas vezes, ela vestiu o seu sobretudo e entrou em casa, pegando a chave do carro no chaveiro perto da porta. Sua amiga havia entendido que ela precisava de um tempo e tinha se afastado para que ela pudesse lidar com tudo o que estava acontecendo, então, se ela havia mandado essa mensagem alertando sobre algo urgente, realmente só poderia ser algo muito urgente.
O endereço era perto de onde acontecia a festa, e em dez minutos, Chloe estava estacionando o carro do outro lado da rua em frente ao local. A casa era enorme, e além de velha, parecia estar abandonada. Havia uma placa com o nome "Bellevue" coberta por poeira e teias de aranhas no chão do pequeno terraço em frente a porta principal, e após tentar abrir a porta e não ter sucesso, ela decidiu mandar uma mensagem para a loira.
Estou aqui, cadê você?
A resposta chegou em poucos segundos.
Nos fundos.
Chloe guardou o celular no bolso do sobretudo e se afastou da porta, olhando para a casa em pé no jardim de entrada, a estrutura era grande, devia ter uns três andares, mas aparentemente tinha sido abandonada no meio de uma reforma, pois algumas partes pareciam estar mais conservadas do que outras. Sem falar dos materiais de construção que ela viu espalhados por todo o terreno na medida em que adentrava e seguia pela lateral que dava para os fundos. Havia uma porta de grade ali que deveria estar trancada com uma corrente de metal e cadeado, mas ambos estavam jogados no chão e a porta estava entreaberta. Sem fazer barulho, ela passou pela porta já enferrujada que separava o jardim frontal do quintal, e viu Angel vir na sua direção. A jovem estava chorando, a maquiagem em seu rosto estava toda borrada, e suas mãos... Deus, as suas mãos... estavam cobertas de sangue.
— Angelina.... — Chloe olhou assustada para a amiga. — O que diabos aconteceu com você?
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