AS MENSAGENS.

Angel mal tinha conseguido dormir, preocupada com o que poderia ter acontecido com Chloe. Na sua última ligação, parecia que algo tinha acontecido, algo ruim, mas ela não ligou novamente e nem apareceu para conversar sobre as mensagens como tinha dito.

Ela desligou o despertador do seu celular e se descobriu, levantando e seguindo para o banheiro. Enquanto escovava os dentes, ela voltou ao quarto e pegou seu celular em cima da cama, checando se tinha alguma ligação ou mensagem de Chloe. E havia uma mensagem, mas não era da amiga, e sim, anônima. Na mensagem não tinha texto, apenas um vídeo, Angel deu play e seu coração deu um pulo quando viu Chloe sendo atropelada.

Isso estava já indo longe demais! Quem quer que estivesse mandando essas mensagens, tinha passado totalmente dos limites! Atropelar uma pessoa? Mas que porra? O que alguém ganharia com isso? Principalmente com a Chloe que não fazia mal a ninguém!

Ela voltou ao banheiro e cuspiu a pasta de dentes na pia, lavando a escova antes de guardar, em seguida, ela ligou para o celular da amiga mais uma vez, suspirando frustrada assim que caiu na caixa postal. Preocupada demais com aquele vídeo, a loira decidiu ligar para o hospital da cidade, era o único hospital que havia em Westville, e se algo de sério tivesse acontecido com Chloe, ela estaria lá.

— Desculpe, nenhuma Chloe Valentine deu entrada aqui ontem à noite. — A atendente informou.

— Tá bem, obrigada.

Isso era uma coisa boa, certo? Se ela não deu entrada, não foi um acidente grave. Sem ter muitas opções, e não querendo ligar para os pais da amiga ainda, ela decidiu ligar para Lily, talvez ela soubesse de algo.

— Alô? — A garota parecia ter acabado de acordar do outro lado da linha.

— Liliane, é a Angel. Você sabe alguma coisa da Chloe?

— Ah, oi Angel, a Chloe? Eu não falo com ela desde ontem mais cedo na escola, porque?

— Hum, nada muito importante, eu só...estou preocupada. Ela saiu para um encontro ontem e ficou de passar aqui em casa depois, mas não apareceu e nem ligou.

Ela fez uma careta de dúvida. Será que mencionava o vídeo e a sua crescente preocupação?

— Vai ver que a noite acabou sendo muito boa. — A garota tinha malicia na voz.

— Deve ser.... Obrigada, Lily, qualquer notícia eu te informo.

— Tchauzinho.

Desligou a chamada e imediatamente ligou para Ryan. Ela havia ido num encontro com ele, ele deveria saber de algo.

— Alô?

— Ryan? É Angel.

— Oi, Angel, eu queria mesmo falar com você. Você já está chegando na escola?

Putz. Ela tinha se esquecido totalmente de que tinha aula.

— Não, ainda estou em casa. Mas eu queria... — Ele a interrompeu.

— Se arruma, passo aí em dez minutos e te dou uma carona.

— Mas eu tenho um car... — Ela tentou protestar, mas ele já havia desligado.

Dez minutos? Como ela se arrumaria em dez minutos? Ela realmente não sabia como, mas deu o seu máximo. Tendo que deixar o banho para mais tarde, já que ele tomaria muito tempo. E um pouco mais de dez minutos depois, ela estava saindo pela porta de sua casa. Ryan já estava em frente à sua casa, esperando dentro de seu carro.

— Bom dia, raio de sol, coloca o cinto de segurança. — Ele pediu.

— Claro. Bom dia. — Ela o olhou de lado, incomodada com a felicidade matinal do rapaz, e colocou o sinto. Ryan saiu com o carro logo depois.

— Então, como eu disse, eu queria falar com você...

— Espera, eu preciso perguntar algo antes. — Ele assentiu e ela continuou. — Ontem, você e Chloe saíram em um encontro...

— Era sobre isso que eu queria falar também. — Ele a interrompeu.

— Como assim?

— Chloe praticamente saiu correndo do restaurante. Ela teve algum problema e precisou sair rápido? Você que é melhor amiga deve saber, pois eu não entendi nada.

— Droga...

— O que foi? — Ele desviou os olhos da rua por alguns segundos para olhar para ela.

— Eu estava torcendo pra que você soubesse de algo. Ela me ligou ontem à noite e parecia estranha. Disse que iria passar na minha casa depois do jantar, mas nunca apareceu, sem falar de um vídeo que eu recebi dela sendo atingida por um carro. Eu estou realmente preocupada!

— Você ligou para os pais dela?

— Não, eles serão as últimas pessoas para quem eu ligarei, não quero preocupá-los à toa.

Ele olhou para ela como se ela fosse louca.

— Você está brincando, não é? Eles deveriam ser as primeiras pessoas a saberem disso! A filha deles foi atropelada e está desaparecida!

— Eu liguei para o hospital e ela não deu entrada. Não deve ter sido algo muito grave.

— Mas ela ainda está desaparecida. O melhor é eles saberem.

Ryan estacionou o carro no estacionamento do colégio e eles desceram, caminhando pelo pátio em direção a entrada.

— Você deve estar certo..., mas vamos esperar um pouco aqui na escola, se ela não aparecer, então eu ligo para eles.

— Tudo bem... — Ele concordou, relutante. — Eu tenho que ir. Qualquer notícia me liga.

Angel assentiu e Ryan caminhou até seus amigos que o esperavam perto de uma árvore no pátio. Ela então suspirou e continuou caminhando. Passou pela entrada principal da escola e seguiu pelos corredores até o seu armário. Estava guardando alguns livros, quando sentiu uma mão em seu ombro e se virou.

— Chloe! Meu Deus, você está bem? Onde você estava? — Ela rapidamente puxou a amiga para um abraço.

— Desculpa não ter ligado, meu celular descarregou, mas eu estou bem. — Chloe se desvencilhou do abraço, sorrindo para a amiga.

— Eu recebi um vídeo de você sendo atropelada e quase entrei em pânico! Estava a ponto de ligar para os seus pais.

— Ainda bem que não fez isso, teria preocupado eles à toa. — A morena levantou os braços, mostrando alguns band-aid. — Não foi nada grave, só alguns arranhões.

— O que aconteceu?

— Eu recebi umas mensagens, fiquei assustada e acabei não olhando para a rua ao atravessar. Por sorte o carro não me atingiu forte ou Elliot estaria em grandes problemas novamente. — Ela explicou.

— Espera, Elliot? Foi ele quem te atropelou? Era com ele que você estava? — Angel olhou para Chloe mais preocupada do que antes.

— Sim, eu passei a noite no apartamento dele, e ele me deixou em casa hoje de manhã.

Seria mais fácil para Angel entender uma equação alienígena vinda do espaço do que o que a amiga havia acabado de lhe dizer.

— Estamos falando da mesma pessoa? Elliot Jackson? — Chloe assentiu, e Angel estreitou os olhos. — Vocês...?

— Não! É claro que não! — Chloe negou rapidamente e Angel suspirou, um pouco aliviada. — Eu só não estava me sentindo bem, queria ficar longe, afastada de tudo por um tempo. Ele me deixou dormir lá, mas foi só isso.

— Chloe, caramba, você deveria ter ido para a minha casa! Teríamos conversado... eu estou desconfiada de que seja ele o responsável pelas mensagens.

— Eu também pensei nisso no começo. Mas é tudo confuso demais.

— Confuso? Ele te atropelou!

— Não foi proposital, eu que entrei na frente. Elliot foi educado o suficiente para me ajudar. — Ela reforçou.

— Ele ainda é um assassino, amiga.

— Eu sei...

Angel observou Chloe suspirar, percebendo que a morena já não tinha tanta certeza disso quanto antes.

— Você pelo menos descobriu ou viu algo suspeito lá?

— Não. Ele se mudou recentemente e estava tudo uma bagunça. Mas Angel, não podemos acusá-lo sem provas novamente. Eu fiz isso, você fez isso, não é justo.

— Eu sei. — A loira assentiu, entendendo que isso realmente era o mínimo. — Vamos conversar melhor sobre isso hoje depois das aulas, ok?

— Ok.

Ela viu Chloe se afastar e ir até o seu armário para pegar as coisas necessárias para a aula, e quando o sinal tocou, as duas caminharam juntas pelo corredor em direção a sala.

— Por onde começamos? — Angel perguntou.

Ela e Chloe estavam sentadas no chão de seu quarto, de pernas cruzadas e de frente uma para a outra.

— Se a gente quiser ter a menor chance de descobrir quem está mandando as mensagens, temos que analisar tudo. Vamos anotar todas as mensagens em um papel e tentar ver se descobrimos algo, o que acha? — Chloe sugeriu.

Angel sentiu seu sangue gelar em suas veias. Se Chloe visse algumas de suas mensagens ela descobriria que ela e Ryan ficaram juntos na festa. Talvez se ela mostrasse só algumas... aquelas que não falavam sobre Ryan? Angel alcançou seu celular em seu bolso e na mesma hora que iria colocar nas mensagens, ela recebeu uma.

Você tem um minuto. 59...58...

O que? Não! Na última mensagem que tinha recebido, havia escrito que ela teria que contar a verdade a Chloe ou quem quer que estivesse mandando aquelas mensagens o faria. Então, se ela tivesse entendido bem... ela só tinha um minuto para contar tudo.

— Chloe, antes de tudo, se estamos juntas nesse barco, precisamos ser completamente honestas uma com a outra... — Ela começou. Tentando reunir forças para contar aquilo. — Eu preciso te contar algo que aconteceu naquela festa.

— O que foi? — A morena elevou os olhos da tela do celular para ela.

— Eu... — Ela tentou, mas as palavras não saíam. — Eu...

— Você está começando a me assustar agora. É tão sério assim?

— Mais ou menos. Eu...

E antes que ela pudesse pensar em continuar, o celular de Chloe alertou o recebimento de uma nova mensagem. Ela abaixou o rosto para ler e Angel viu a expressão no rosto da amiga mudar drasticamente enquanto lia a mensagem. Era tarde demais agora.

— Do que essa mensagem está falando, Angel? — Ela entregou o celular a Angel, e com as mãos um pouco trêmulas, a loira leu.

Quase ter sido atropelada por um carro deve ter doído, mas não tanto quanto ser esfaqueada nas costas pela sua melhor amiga. Se não sabe do que eu estou falando pergunte a Angel... ou ao Ryan!

— Chloe, eu posso explicar... — Angel ergueu os olhos do celular e encarou a amiga, vendo nos olhos dela que ela estava em uma luta interna entre acreditar ou não naquela mensagem.

— Me diz que não é verdade, que você e o Ryan não...

Ela nem mesmo conseguiu completar a frase. Mas não foi preciso, pois Angel entendeu. Só que ao ver a amiga lutar contra as lágrimas que se formavam em seus olhos, ela desejou não ter entendido.

— Não é o que você deve estar pensando. Eu não sabia quem ele era quando nós nos beijamos na festa. E foi apenas isso, alguns beijos. Quando eu descobri quem ele era no final da noite, nada nunca mais aconteceu. Eu juro!

Angel sentiu uma dor em seu coração quando as lágrimas da amiga começaram a escorrer pela sua bochecha. Ela se sentia culpada. Muito culpada. Mas ao mesmo tempo, livre, pois finalmente havia tirado aquele peso da sua consciência.

— Por que você não me contou antes? Nós nos encontramos dois dias depois no piquenique, você poderia ter me dito! Talvez até não naquele dia, mas depois! Isso foi há mais de dois anos atrás e você nunca me contou, Angelina!

Angelina. Angel engoliu em seco. Chloe nunca a chamava assim. E toda aquela mágoa que sua voz transbordava só deixava tudo ainda pior.

— Eu queria, amiga, mas eu tive medo que nossa amizade acabasse. — Sem perceber, ela começou a chorar também. — Me perdoa, por favor?

— Eu não sei se eu posso fazer isso agora. — Chloe balançou a cabeça para os lados, negando o pedido.

A morena passou a mão pelo rosto em uma tentativa falha de enxugar as lágrimas, e então, puxou seu celular das mãos de Angel, se levantando do chão e seguindo até a porta. A loira fechou os olhos com força, se amaldiçoando por causa daquela merda de beijo, e em meio ao silêncio, o som de uma nova notificação soou pelo quarto.

Chloe quebrou o coração de Ryan, e você quebrou o dela... adivinhe quem é a próxima?

Enfurecida, Angel jogou o celular para longe e se deitou ali mesmo no chão. Desejando que aquelas malditas mensagens parassem e sua vida voltasse ao normal.