Capítulo 06
O ENCONTRO.
Chloe fechou a porta e desceu os poucos degraus do terraço até o jardim da frente de sua casa. Ryan estava esperando encostado em seu carro vestido em uma calça jeans, uma camisa vermelha com o símbolo do Flash com um paletó preto por cima, e um Jordan enorme nos pés. Uma mistura que apenas Ryan conseguiria usar e arrasar.
Quando Chloe aceitou sair para jantar com ele não pensou que ele estava levando aquilo mesmo a sério, já que Ryan era um idiota de marca maior quando eles namoravam, contudo, talvez ele tivesse mudado. Ele até mesmo lembrou qual era o seu doce favorito e lhe deu uma cesta cheia deles junto de um ursinho de pelúcia fofo. Ele estava se esforçando, e talvez dar outra chance a ele não fosse tão difícil assim.
— Uau, você está linda!
Chloe sorriu. Estava usando um curto vestido preto que era justo até a sua cintura e então, caía rodado até a metade das suas coxas. Já nos pés, um salto alto da mesma cor.
— Obrigada, você também está muito bonito.
— Eu faço o que posso. — Ele deu de ombros, com um sorriso convencido no rosto. — Vamos?
Chloe assentiu e ele abriu a porta do carro para que ela entrasse, fazendo a volta para entrar do lado do motorista e dar partida. Como Westville era uma cidade tranquila, não tinha muito trânsito, por isso, em menos de quinze minutos eles já estavam no centro da cidade. Ryan entregou a chave do carro ao manobrista e eles entraram no restaurante.
Chloe conhecia o lugar, era um restaurante francês e um dos melhores da cidade. Um dos mais caros também, só tinha estado nele uma vez, quando seu pai ganhou uma promoção no trabalho e a família foi comemorar. Uma das poucas memórias felizes que ela tinha com o seu irmão caçula, já que ele passou a maior parte da vida preso dentro de um hospital cuidando de um câncer.
— Tem certeza que pode pagar esse restaurante, Ryan? — Ela perguntou baixinho, enquanto eram conduzidos até a mesa reservada. A família dele havia acabado de passar por um divórcio, afinal.
— Não se preocupe.
Ryan piscou um olho e puxou uma cadeira para que ela sentasse. Chloe assentiu e se sentou, decidindo deixar suas dúvidas lá fora e aproveitar o jantar. Ryan fez o pedido, já que o menu estava todo em francês e Chloe não entendia uma palavra. Como eles não tinham idade para beber ainda, Ryan pediu sucos de morango para os dois.
— Quando você aprendeu francês?
— Como você já sabe, os meus pais se separaram, e minha mãe e eu fomos "obrigados" a passar um bom tempo na casa da minha tia enquanto o processo rolava, o marido dela é francês, então, tivemos que aprender o básico para nos comunicarmos.
— Que interessante... o que mais você fez? Ouvi boatos de que você estava estudando em um dos melhores colégios da Califórnia.
— Não sei se era o melhor colégio, mas era bem legal. As pessoas, assim como o clima, eram bem calorosas. — Chloe notou que seus olhos se perderam um pouco, como se ele recordasse o que estava comentando.
— E o que o trouxe de volta ao frio de Westville?
— Minha mãe ganhou a casa no divórcio. — Ele brincou de forma ácida. As coisas não deveriam estar legais com o seu pai. — Mas acho que não tem lugar como sua casa, não é? — Ele sorriu e Chloe assentiu. Logo seus pratos chegaram e eles começaram a comer, mas sem parar a conversa. — E você? O que fez nesses anos? Namorou alguém?
Ele foi bem direto e Chloe quase engasgou com a comida, dando um gole em seu suco para responder.
— Eu saí com alguns garotos, mas namoro mesmo não.... e você?
— O mesmo. Califórnia é um ótimo lugar, mas lá não tinha ninguém igual a Chloe Valentine. — Ele deu de ombros e a garota sorriu, se sentindo um pouco encantada. Ryan sempre foi um perfeito galanteador.
Eles terminaram o jantar sem deixar a conversa morrer, e logo, a sobremesa foi servida, um sorvete com calda de chocolate que só de olhar, Chloe já sentiu água na boca. Amava chocolate. Levou uma colher a boca e se deliciou com o incrível gosto do sorvete de baunilha misturado à calda. Então, seu celular começou a tocar e pedindo licença, ela abriu a bolsa e o tirou de dentro, ignorando a ligação sem nem ver quem era, no entanto, isso a lembrou de algo. Angel tinha ligado algumas vezes, mas ela não tinha visto, pois o celular estava no modo silencioso e ela estava ocupada demais escolhendo a roupa para esse encontro, será que essa seria uma boa hora para retornar as ligações da amiga? Era um pouco tarde... Ryan entenderia?
— Eu tenho que ir ao banheiro, tudo bem? — Perguntou, colocando o celular de volta dentro da bolsa pronta para se levantar.
— Tudo bem. Mas antes de você ir, eu queria saber se.... eu ainda tenho alguma chance com você?
Surpresa demais com a pergunta repentina, Chloe engoliu em seco, sem realmente saber como responder. Ryan não aparentava ser mais o idiota de sempre, parecia mais maduro e sério... talvez merecesse uma nova chance. Mas ela queria voltar a namorá-lo? Ela sentiu o celular vibrar dentro da bolsa, e piscou.
— Posso responder quando voltar? — Perguntou, sem graça. Ryan apenas assentiu e ela se levantou da cadeira, seguindo para o banheiro do lugar.
Assim que entrou, ela notou que algumas mulheres conversavam em frente ao espelho enquanto se maquiavam, então ela seguiu para uma das cabines, fechou a porta, e abaixou a tampa do vaso sanitário para se sentar, tirando da bolsa o seu celular. Tinha recebido uma mensagem de Angel dizendo para ela retornar à ligação e assim o fez.
— Chloe? — A voz de Angel soou sonolenta do outro lado da linha.
— Eu te acordei? Desculpa.
— Eu estava indo dormir, eu te liguei várias vezes, onde você estava?
— Eu perdi suas ligações, pois me distrai me arrumando para um encontro com o Ryan. Mas depois conversamos sobre isso, aconteceu algo importante?
— Eu encontrei o Elliot hoje no dentista... — A interrompi, preocupada.
— Ele fez alguma coisa?
— Não, nada disso. Mas eu o questionei sobre... — Ela hesitou. — Sobre umas mensagens que eu ando recebendo, ele me disse que você também o acusou de mandar mensagens a você.
— Você também tem recebido as mensagens anônimas? — Chloe perguntou surpresa, mesmo que no fundo já soubesse.
— Sim, e eu estou apavorada! Acha que pode vir aqui em casa para nós conversarmos? Onde você está?
Chloe já iria responder, quando a luz do banheiro se apagou de repente, deixando o lugar em uma total escuridão. Só então, ela notou que não ouvia mais as vozes das mulheres que conversavam no espelho antes, e isso a deixou em alerta.
— Olá? Tem alguém aqui? — Ela perguntou, na esperança de que não estivesse sozinha naquele banheiro escuro e frio.
— Chloe, tudo bem? — Angel perguntou do outro lado, lembrando-a de que ela ainda tinha o celular contra seu ouvido.
— Espera um pouco, amiga... — Pediu, levantando-se do vaso e lentamente abrindo a porta para sair da cabine. Esticou uma mão na frente do seu corpo ao andar pelo banheiro, tentando não esbarrar em nada, e assim que pensou em usar a luz do seu celular para enxergar algo, as luzes do banheiro voltaram. — Meu Deus...
— Chloe? Chloe? O que está acon...
Ela deixou o celular cair da sua mão enquanto olhava assustada para o espelho a sua frente, nele, havia escrito com batom vermelho a frase "Vadias mentirosas devem morrer!". O coração de Chloe acelerou e ela sentiu como se ele pudesse sair pela sua boca a qualquer momento.
Apavorada, ela correu em direção a porta do banheiro, tentando sair, mas a porta estava trancada por fora. Gritou por ajuda algumas vezes, mas ninguém apareceu. Talvez as paredes fossem a prova de som? Ela não sabia. Sem escolha, ela voltou alguns passos e se abaixou para pegar seu celular no chão.
— Angel? Você está aí? — Perguntou, mas em vão, a ligação havia caído.
Com as mãos trêmulas, ela olhou para a tela sem saber o que fazer. Ligar para a polícia? Para Angel? Ryan? Seu celular vibrou em sua mão, e ela quase o derrubou no chão novamente com o susto. Olhou para a tela do aparelho e expirou pesadamente ao ver que tinha recebido uma nova mensagem. Uma mensagem anônima.
Quebre o coração de Ryan, ou eu o farei por você!
O que? Não! Pensou.
Então, ouviu o barulho da tranca da porta se abrindo e correu na direção, tentando ver quem era o desgraçado que a havia trancado ali. No entanto, ao abrir a porta, encontrou apenas um garçom confuso pela porta estar trancada em primeiro lugar. Pensou em dar o fora dali no mesmo segundo, mas então, parou. Não poderia deixar aquilo no espelho. Voltando alguns passos, ela ligou a torneira e pegou um pedaço de papel, molhando-o na água para passar no espelho e limpar a mensagem. Ainda dava para ver o batom quando ela parou, mas entender o que estava escrito não seria possível.
Ela deixou o banheiro e voltou para mesa, onde Ryan não só esperava por ela, como também por uma resposta.
— Então? — Ele mal esperou que ela se sentasse para perguntar, sem conter o nervosismo.
— Eu... — O que responder? Ela não sabia. — Eu...
— Você...?
— Eu... — Seu celular vibrou em sua mão na hora em que iria responder, e ela abaixou a cabeça encarando a tela do aparelho. Tinha recebido um vídeo.
Ela perdeu o fôlego ao ver as imagens. O vídeo mostrava Angel em seu quarto, mexendo em seu celular, tinha sido gravado escondido e da janela do quarto. O vídeo tinha apenas cinco segundos, mas foi o suficiente para assustá-la de vez. Essa pessoa não parecia estar apenas brincando, e se poderia gravar algo assim... o que mais estaria ao seu alcance? Poderia fazer algo de ruim a Angel? Ao Ryan? O celular vibrou novamente e uma nova mensagem apareceu na conversa, logo abaixo do vídeo.
Faça, ou ela também pagará o preço!
Chloe não entendia o que diabos estava acontecendo, mas reconhecia uma ameaça de longe. A mensagem no espelho e agora isso... ela não tinha escolha! Levantando o rosto e sentindo que começaria a chorar a qualquer momento, ela encarou Ryan a sua frente.
— Está tudo bem, Chloe? — Ele perguntou preocupado, analisando o rosto triste da garota, que apenas negou com a cabeça.
— Desculpa, Ryan..., mas não. Você nunca terá uma chance comigo novamente. Na verdade, eu prefiro andar sobre lava a voltar com você um dia. O jantar foi legal, mas acabou. Me esqueça.
E sem esperar que ele dissesse alguma coisa, ela se levantou da cadeira e caminhou para fora do restaurante, sentindo o seu coração bater forte contra o peito e as suas pernas a ponto de despencar no chão a qualquer momento de tão trêmulo que o seu corpo estava. Ela se sentia mal, muito mal. Olhando para os lados sem saber para onde ir, ela avistou um ponto de ônibus do outro lado da rua e decidiu ir até lá, sem notar que um carro vinha em sua direção.
O motorista até tentou frear, mas Chloe foi atingida do mesmo jeito. A morena caiu no chão, sentindo tudo à sua volta rodar, e antes de apagar completamente, ela viu um familiar par de olhos azuis acinzentados como um dia nublado encarando-a.
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