Capítulo 05
MANTENHA A BOCA LIMPA!
Assim que as aulas acabam, Angel sai pela porta principal da escola carregando sua bolsa no ombro direito totalmente distraída ao digitar uma mensagem para a sua mãe avisando que chegaria mais tarde em casa, pois iria ao dentista fazer uma revisão geral.
Enquanto andava pelo estacionamento do colégio, ela lia e relia a mensagem que havia recebido mais cedo, esperando que uma luz fosse acender em seu cérebro e lhe dizer quem exatamente tinha enviado aquilo, mesmo que no fundo ela já soubesse que isso nunca aconteceria. Ela não tinha nenhuma ideia de quem, ou porque haviam lhe enviado essa mensagem, ou as outras. Distraída, ela acabou esbarrando em alguém e ergueu a cabeça com o susto, encontrando uma figura conhecida à sua frente.
— Ryan. — Ela sorriu nervosa, olhando rapidamente para os lados.
— Angelina. — Ele pronunciou seu nome com um sorriso um tanto sarcástico brincando nos lábios. - Você tem me evitado.
— O que? Não...
— Não foi uma pergunta. — Seu sorriso aumentou. — Eu sei que você tem me evitado, e não a culpo por isso. Eu também me evitaria se eu tivesse ficado com a namorada do meu melhor amigo...
— Shhh! Chloe pode ouvir! — Angel segurou o braço de Ryan e o levou para uma parte mais deserta do estacionamento.
— Eu não a vejo em lugar algum. — Ele apontou ao redor, e Angel deu um tapa em sua mão, olhando-o irritada.
— O que você quer, Ryan?
— Um ano atrás nós ficamos, e eu não contei para a Chloe...
— Mas você contou para alguém! — Ela o interrompeu.
— Do que você está falando? Eu não contei sobre nós para ninguém!
— Não existe "nós", Ryan. E eu não acredito em você, alguém sabe e eu definitivamente não contei a ninguém!
— Nem eu! Já parou para pensar que tinha dezenas de pessoas naquela casa? Qualquer um pode ter nos visto!
Angel abriu a boca pronta para retrucar seu argumento, mas a fechou em seguida, parando para pensar bem no que ele tinha dito. Talvez ele estivesse certo, talvez... a pessoa que estava lhe enviando as mensagens era alguém que estava naquela festa e os viu aos beijos. Alguém que os conhecia.
— Você pode ter razão. — Concordou pensativa.
— Eu sei. Agora continuando, eu não contei e você me deve. Preciso de um favor seu.
Angel cruzou os braços, respirando bem e pensando duas, três e quatro vezes para ter certeza, antes de responder.
— Tudo bem. O que você quer?
Dependendo do que fosse, ela poderia concordar em ajudar, já que ele de fato manteve a boca fechada.
— Um encontro com a Chloe. — Ele disse de imediato, e Angel o encarou por alguns segundos para ter certeza de que ele estava mesmo falando sério, só então, ela riu. — O que? Não é tão difícil.
— É impossível, Ryan. — Angel respirou fundo para parar de rir e continuou. — Eu não sei por que você e ela terminaram, mas eu sei de uma coisa, ela não quer te ver nem que você apareça pintado de ouro segurando o pacote de doces preferidos dela.
— E qual seria esse doce?
— Jolly Rancher, obviamente. — Ela franziu a testa em desconfiança após falar. — Você não está pensando em...
— Comprar um balde de tinta dourada? — Ele debochou. — Não. Mas você me deu uma ideia.
Ele piscou um olhou para ela e saiu andando em direção ao seu carro que estava estacionado a alguns metros dali. Angel encarou as costas de Ryan enquanto ele se afastava, e arfou em incredulidade. Ele não ia...ia? Ela balançou a cabeça, sem acreditar que ele iria mesmo tentar aquilo, e então, fez o caminho de volta até onde Ryan a havia interrompido, seguindo para o seu carro em seguida.
O dentista ficava no centro da cidade, o que não era longe. Ela levou apenas doze minutos para chegar lá, estacionou seu carro no estacionamento privado do local, entrou no prédio, seguindo para o elevador, e então subiu até o quinto andar, onde ficava o consultório do Dr. Rodrigo Evans.
A sala de espera estava quase vazia, apenas duas pessoas estavam lá, uma mulher loira em seus trinta e poucos anos que Angel nunca havia visto antes, e do outro lado da sala, um cara de capuz mexendo em seu celular. Ele levantou a cabeça para olhar quem havia entrado, e Angel rapidamente o reconheceu. Elliot Jackson. Perfeito. Forçando suas pernas a andar, ela se sentou na última cadeira da fileira, o mais longe o possível dele, e na mesma hora sentiu seu celular vibrar em sua bolsa. Rapidamente o pegou e abriu a mensagem.
Você conta a ela ou eu conto?
Junto da mensagem estava uma foto do encontro que ela havia tido com Ryan no estacionamento da escola. Angel estava com a mão no braço do rapaz, e mesmo que não tivesse acontecido nada demais, na foto parecia que os dois eram íntimos, bem íntimos, o que apavorou a loira. Quase que imediatamente, ela levantou o rosto do celular e olhou para Elliot, que ainda mexia no próprio celular. Sem pensar duas vezes ela se levantou, deixando sua bolsa na cadeira, e caminhou quase que marchando até ele.
— Você acha isso engraçado? — Ela colocou o aparelho bem em frente ao rosto dele para que ele pudesse ver a mensagem.
— Como é que é? — Elliot tirou um lado dos seus fones de ouvido.
— Você acha que isso é engraçado? Ficar mandando mensagens e ameaças para...
— Pode ir parando por aí! — Ele rapidamente a cortou, ficando de pé de frente para ela. — Já não basta a sua amiga me acusando de ter mandado mensagens, agora você também? Porra! Vocês podem por favor me deixar em paz? Por Deus! Minha vida parece até que estava melhor na porra daquela maldita prisão!
— Espera... o que você disse? Minha amiga recebendo mensagens? Quem?
— Quem você acha? Chlodys. — Ele olhou para ela como se ela fosse estúpida.— Agora se me der licença, eu vou entrar para a minha consulta. Ou gostaria de me acusar de mais alguma coisa? - O sarcasmo em sua voz beirava a raiva, e Angel achou melhor não dizer mais nada.
A garota assentiu, saindo da frente dele, e observou em silêncio Elliot seguir até a porta da sala do Dr. Evans, dar duas batidas e entrar, fechando a porta atrás de si. Angel voltou para o seu lugar com a cabeça dando voltas. Então... Chloe também estava recebendo essas mensagens? Por que ela não disse nada? A possibilidade de que a sua melhor amiga estivesse escondendo segredos dela não lhe agradou, mas ela não poderia julgar, já que também havia feito o mesmo.
Deixando seu celular de lado, Angel olhou em volta pela sala, tentando se distrair. Fazia tempo que não visitava o dentista e o local agora estava diferente. As paredes agora tinham um novo papel de parede azul bebê com desenhos de dentes, uma pintura de uma linda paisagem no campo estava pendurada na parede de frente para onde estava sentada, e atrás da porta de entrada tinha um cartaz de uma garota sorridente de dentes perfeitos com os dizeres em baixo "mantenha a boca limpa". Angel desviou os olhos da imagem, sentindo-se extremamente incomodada com a felicidade da garota no cartaz. Ninguém era assim tão feliz no dentista!
Minutos depois, Elliot saiu da sala do dentista, trocou algumas palavras com a recepcionista, e então, foi embora do consultório sem lançar um único olhar para ela, e a garota se sentiu mal por isso. Ela não tinha nenhuma prova de que ele era o responsável pelas mensagens e ainda assim, o acusou. Era injusto, sabia que sim. Mas a recepcionista chamou o seu nome e ela entrou na sala do dentista, decidindo apenas esquecer o que aconteceu por enquanto.
— Chloe, essa é a terceira mensagem que eu deixo, assim que receber, me liga, preciso falar com você, é importante!
Angel deixou a mensagem na caixa postal da amiga e desligou. Precisava falar com ela sobre as mensagens, mas nas últimas horas, Chloe parecia ter sumido da face da terra sem deixar nenhum aviso ou nada parecido, nem seus pais sabiam onde ela estava!
Desistindo da missão impossível que era achar a amiga, Angel se deitou em sua cama e suspirou. Já era noite, e pela janela aberta do seu quarto ela conseguia ver uma pequena parte do céu escuro, assim como algumas estrelas. Seu quarto estava totalmente escuro, a não ser pela luz da lua e dos postes da rua que entravam pela janela, e pela tela do seu notebook ligado em sua escrivaninha. Pela escuridão que se encontrava, foi quase inevitável não perceber uma luz mais forte surgir da janela. Se sentando na cama para ver o que era, ela percebeu que a luz vinha da casa vizinha, mais especificamente da janela do quarto que ficava bem de frente para o seu. E pela janela aberta desse quarto, ela pode ver Isaac, vestido apenas com uma calça moletom verde... e sem camisa.
Seu coração acelerou e sua respiração falhou por alguns segundos. Isaac não tinha um tanquinho como a maioria dos garotos do time de lacrosse do colégio, mas ele tinha os braços e ombros fortes como os do time de beisebol, e isso, combinado a sua aparência de surfista californiano, era extremamente atraente. Entretanto, mesmo adorando a vista, ela não conseguia espantar aquele leve sentimento de estar fazendo algo errado. Espiar era feio. Não iria gostar se fosse ele espiando pela sua janela, iria? ... Iria? Ela não conseguia responder. Mas seguindo esse sentimento, ela se levantou da cama e foi até a janela no intuito de fechar as cortinas. No entanto, assim que se aproximou Isaac olhou na sua direção, e sem pensar bem no que estava fazendo, Angel rapidamente se jogou no chão para que não fosse vista.
— Merda! Merda! Merda! Sua imbecil, ele com certeza te viu!
Ela resmungou, batendo a mão contra sua testa, se sentindo extremamente idiota. O que ela faz agora? Se levantava como se nada tivesse acontecido, arriscando que ele ainda estivesse lá olhando? Ou continuava ali no chão até, sei lá... ele ter dormido?
— Hey... Angel, não é? Tudo bem por aí?
Ela escutou a voz dele e se martirizou ainda mais. Ele definitivamente tinha visto! Até conseguia ouvir resquícios de uma risada em sua voz.
— Hmm, sim... está tudo bem! — Ela responde, tomando coragem para se levantar e encarar o vizinho. — Eu apenas tropecei em um... um... err... eu tropecei.
Mesmo se amaldiçoando por dentro por ter tropeçado nas palavras, Angel sorriu fraco, tentando não suspirar pelo garoto que lhe encarava com um lindo sorriso no rosto.
— Certo... cuidado por aí. E boa noite.
— Boa noite.
Angel acenou com a mão, e quando ele lhe deu as costas, ela fechou rapidamente as cortinas e se jogou em sua cama, cobrindo o rosto com as mãos e praguejando mentalmente palavras que ela nem sabia que conhecia. O que tinha acabado de acontecer? Que reação ridícula foi essa que ela teve? Parecia uma garotinha de quatorze anos, quando na verdade ela já tinha dezoito! Tentando não pensar mais no assunto, ou nos braços definidos de Isaac, ela observou a luz que entrecortava as cortinas diminuir de intensidade e decidiu ir fazer o mesmo que o seu novo vizinho, dormir.
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