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Capítulo 9 - 📃Toda Ajuda É Bem-Vinda📃

Naquela manhã, Ana levantou-se antes do sol nascer. O canto dos galos ainda ecoava pela fazenda, misturado ao som dos primeiros passos do gado nos pastos úmidos. Do lado de fora, o cheiro de terra molhada da chuva noturna invadia o ar, e uma leve névoa cobria o campo, como um véu sutil que escondia os segredos daquela manhã.

No quarto de madeira simples, as tábuas do piso rangiam sob seus pés descalços enquanto ela pegava a mochila pequena e vermelha encostada na parede. A mochila estava velha, com um zíper que sempre emperrava e marcas de terra nas alças, mas era confiável. Ana vestiu sua calça jeans surrada, com uma das barras desfiadas, e uma jaqueta de tecido grosso, marrom-escura, que havia sido de seu pai. Calçou as botas de couro rachadas e amarrou o cadarço firmemente, como se estivesse se preparando para a batalha.

Aos 12 anos, Ana tinha um rosto anguloso, com olhos castanho-escuros que pareciam guardar uma tempestade. O cabelo longo, preso em um rabo de cavalo, balançava levemente enquanto ela se movimentava pelo quarto. Apesar de sua figura magra, havia uma força em sua postura, como se carregasse mais do que o peso da mochila: Era o peso do desaparecimento de Elisa.

Com cuidado, arrumou a cama. Pegou dois travesseiros, empilhou-os, colocou algumas roupas, e cobriu tudo com um adredon florido, criando a ilusão de que ainda estava dormindo. Quando terminou, deu um passo para trás e avaliou. A silhueta parecia convincente, mas não pôde evitar um sorriso amargo.

— Talvez isso engane mamãe por algumas horas... — murmurou, apertando as alças da mochila enquanto o olhar caía no espelho trincado ao lado da cama.

O reflexo devolveu a imagem de alguém decidida. Não era mais só sobre Elisa; era sobre Miguel também, seu irmão mais velho. Sabia que havia passado a noite na mata, gritando o nome da namorada. A dor dele deveria ser grande, e Ana não aguantaría vê-lo definhar de tristeza.

— Não posso ficar parada... vou encontrar Elisa e Mi ficará muito feliz!

Com passos leves, ela saiu do quarto, atravessando o corredor estreito da casa de madeira. Parou por um instante ao passar pela porta do quarto da mãe. Hélia estava de joelhos, com as mãos juntas e os olhos fechados em prece. Sua voz era baixa, mas carregada de emoção, pedindo forças e proteção para todos que estavam na busca.

Ana sentiu um aperto no peito. Mas não podia voltar atrás. Pegou uma maçã da fruteira na cozinha, mordendo-a apressadamente, enquanto a casa permanecia mergulhada no silêncio e na penumbra.

Do lado de fora, Rex seguia seus passos, com a cauda se movendo suavemente, atento a qualquer som.

O ar da manhã era frio e úmido quando ela abriu a porta da frente. A luz do sol nascente começava a pintar o horizonte de tons alaranjados, refletindo no riacho que cortava a fazenda. Rex avançou na frente, farejando o caminho e olhando para trás de tempos em tempos para garantir que Ana o seguia.

— Vamos, Rex. É só a gente agora.

A menina e o cachorro desapareceram na névoa, com a determinação e a coragem refletindo em cada passo que davam juntos rumo ao desconhecido.

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Ana caminhava pela trilha úmida, os raios de sol filtrando-se entre as copas das árvores. O barulho da cachoeira ficava mais forte a cada passo, e ela não conseguia conter o sorriso ao imaginar Miguel e Elisa finalmente juntos novamente.

"Mi ficará tão feliz!"

Pensou enquanto saltava sobre um tronco caído, com Rex trotando ao seu lado, o rabo abanando de vez em quando enquanto farejava o chão.

Ao chegar perto da clareira onde o riacho despencava, Ana parou ao ouvir uma voz familiar.

— Ana? É você que está aí?

A garota deu um passo à frente, olhando ao redor, mas não viu ninguém. Rex, por outro lado, parou de abanar o rabo e ficou alerta, com o corpo rígido como uma corda tensa.

— Sim, Mi! Onde você está? Encontrou a Elisa? — respondeu, empolgada.

— Graças a Deus, sim! — A voz parecia vir de trás de uma grande pedra próxima à cachoeira. — Até tomamos banho de cachoeira!

Ana arqueou as sobrancelhas e soltou uma risadinha, mas Rex começou a rosnar baixinho, dando passos em direção à pedra.

— Sério? Cadê você? Aparece logo!

— Estou aqui, mas... não se aproxime. Elisa me pregou uma peça e escondeu minhas roupas. Estou pelado aqui atrás!

A gargalhada de Ana ecoou pelo vale.

— Isso é tão a cara dela! — comentou, divertida, mas Rex não parecia achar graça. O cachorro agora rosnava de forma mais audível, com os pelos do pescoço eriçados, indo até a pedra e voltando para Ana, como se quisesse alertá-la.

— O que foi, Rex? Farejou alguma pista? — perguntou Ana, seguindo o cachorro com curiosidade.

Rex latia com insistência, com os olhos fixos no local onde a voz vinha. Ele avançava, cheirava, recuava e olhava para Ana, como se estivesse tentando dizer algo.

— Ei, ei, calma aí, Rexzinho... Sou eu, o Miguel! — disse com a voz, um tanto apressada. — O que há com ele, Aninha?

Ana sorriu, mas ainda observava Rex com estranheza.

— Sei lá... Talvez ele esteja estranhando você sem roupas! — brincou, gargalhando.

— Isso! Com certeza é isso! — Infatizou reforçando, para que Ana não mais questionasse o comportamento do cão.

Ela se abaixou e deu uma bronca em Rex, segurando-o pelo pescoço. — Quieto, Rex, para de ser dramático, é o Mi, não está vendo?!

Rex soltou um último rosnado e baixou as orelhas, caminhando para longe, mas ainda lançava olhares desconfiados para a pedra.

— Ah, bom menino. Não liga pra ele, Mi. Vou ajudar você! — Ana disse, vendo as roupas dobradas sobre uma rocha próxima.

— Por favor, Aninha. Você é minha irmãzinha do coração, não é?

— Sou! — respondeu, sorrindo, mas um pouco hesitante. — O que eu ganho com isso?

— Eu te conto um segredo!

— Então conta!

— Não diga à Elisa, mas estou sabendo que Renato vai realmente perder as eleições. Aonde eu chego, só ouço falar no Fernando Píris.

Ana soltou uma gargalhada.

— Isso papai e eu já sabíamos, mas vou levar as roupas. — Ela deu de ombros, pegou as peças e as abraçou contra o peito. — Quer que eu trava roupas para você?

— Sim. Se puder fazer isso... - Miguel respondeu com a voz soando grata.

— Tudo bem. Eu volto logo.

— Obrigado, Aninha!

Sem questionar mais, Ana se afastou da clareira, seguindo de volta pela trilha com as roupas de Elisa. Por um momento, sentiu um arrepio estranho, como se algo estivesse fora do lugar, mas sacudiu a cabeça. Era só Miguel sendo Miguel, nada demais.

Assim que desapareceu entre as árvores, o silêncio tomou conta da cachoeira. Uma brisa soprou, espalhando gotas d’água no ar, enquanto uma sombra espreitava de trás da grande pedra, imóvel e satisfeita.

Rex ficara para trás. Porém, ao longe, seus latidos ecoaram novamente, agora mais altos e alarmantes.

Ana virou-se, inquieta.
Os latidos ficaram mais distantes, até que foram interrompidos por um som agudo de dor que fez Ana congelar. Parecia que o cachorro havia se machucado.

— Rex?! — chamou, mas o silêncio  dominou na mata.

Ela apertou os olhos, sentindo um leve arrepio, mas deu de ombros.

— Tomara que não tenha sido nada grave. - Comentou com olhos preocupados.

Ana continuou sua missão, mas o som do grito de Rex ecoava em sua mente, enquanto a clareira atrás dela mergulhava em um silêncio quase antinatural.

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Naquela manhã, o frio parecia penetrar até os ossos, e a neblina envolvia a mata ao redor, como uma cortina pesada de incerteza. A tensão entre os presentes era palpável. Beto e o prefeito Medeiros estavam ao lado da picape, segurando xícaras fumegantes de café que ofereciam um calor temporário em meio à apreensão. Medeiros, com a voz firme e mãos trêmulas, segurava o telefone como se fosse uma arma para ordenar o resgate de sua filha.

- Quero a prefeitura inteira aqui, está me ouvindo? Tragam todos os funcionários, minha filha precisa ser encontrada! - Sua voz cortava o ar, carregada de desespero e autoridade.

Marta, ao seu lado, estava à beira de um colapso. Suas mãos se apertavam nervosamente, e as lágrimas escorriam sem resistência, refletindo o vazio de uma mãe que não sabia onde estaria sua filha.

- Não aguento mais essa agonia! Elisa deve estar precisando de nós, sozinha, perdida por aí... - Marta soluçava, com sua voz embargada pelo choro. O lamento era tão profundo que parecia diminuir ainda mais sua figura já fragilizada pela dor.

- Calma, querida. Vamos encontrá-la. Já falei com o secretário, e logo a prefeitura inteira estará mobilizada para ajudar. - Renato tentou soar confiante, mas sua expressão denunciava a ansiedade que ele mal conseguia disfarçar.

- E se ela... se ela não estiver mais...? - Marta balbuciou, sem coragem de concluir o pensamento.

- Vire essa boca pra lá, mulher! Não diga besteira! - retrucou Renato, nervoso, com sua voz ganhando um tom cortante. - Elisa está viva, ela precisa estar viva!

Marta estreitou os olhos, encarando o marido com estranheza. Havia algo no tom dele que a deixou desconfiada, e sua pergunta veio como uma lâmina:

- Está tão desesperado para encontrá-la porque a ama... ou porque precisa dela para se safar da justiça?

- Ah! - Renato bufou, com o rosto vermelho de raiva e a esbofeitiou com força a fazendo virar o rosto. Ele a encarou por alguns segundos antes de responder com um tom seco:

- Eu ainda mato você, Marta! Não estamos em um momento para acusações.

Marta deu um passo à frente com a mão no rosto dolorido pelo tapa e a dor transbordando em sua voz:

- Se algo acontecer com nossa filha, você será o culpado! Tudo isso... por causa desse maldito contrato!

Renato olhou ao redor com pressa de olhos arregalados e se aproximou rapidamente murmurando:

- Shiuuu! Marta, cale essa maldita boca!

A menção ao contrato fez Beto, que estava próximo, levantar os olhos. Ele tentou disfarçar o interesse, colocando as mãos à frente em um gesto conciliador.

- Calma, pessoal, por favor! Sei que estamos todos desesperados com o desaparecimento da Elisa, mas precisamos manter a calma.

Ana chegou ao acampamento improvisado, onde o carro do prefeito e a picape de seu pai estavam, com passos leves e rápidos, o rosto iluminado por um sorriso radiante, como se carregasse uma notícia que mudaria tudo.

Beto foi o primeiro a notar a presença da garota. Ele franziu a testa, preocupado, e deu um passo à frente.

— Ana? Você veio sozinha? Cadê sua mãe? — perguntou, com a voz grave marcada por um tom de reprovação.

Ana respirava com dificuldade, visivelmente ofegante pela caminhada, mas a animação no rosto dela quase fazia parecer que a tensão ao redor não existia.

— Mamãe ficou em casa... orando. — A voz dela saiu apressada, quase atropelando as palavras. — Não aguentei mais ficar parada, sem fazer nada. Eu precisava agir, então saí sem que ela percebesse e vim ajudar a procurar a Elisa.

Beto ergueu as sobrancelhas, claramente alarmado.

— O quê?! — exclamou. — Sua mãe deve estar lá, morrendo de preocupação!

Ana apenas sorriu, balançando a cabeça com confiança.

— Mas valeu a pena, porque eu tenho uma boa notícia! O Mi encontrou a Elisa! — anunciou, com o sorriso largo como se tivesse acabado de salvar o dia.

Marta, que estava  ao lado de Renato, ergueu a cabeça rapidamente. A esperança iluminou seus olhos cansados, e ela se aproximou, olhando para Ana com uma mistura de ansiedade e descrença.

— Miguel? Está falando sério? — perguntou, com a voz vacilando entre a dúvida e a necessidade desesperada de acreditar.

Ana confirmou com a cabeça, sorrindo ainda mais.

— Sim! Podem parar com as buscas!

Porém, antes que pudesse dar mais detalhes, Miguel surgiu na clareira, montado em Thunder. Ele estava visivelmente exausto, com a camisa manchada de suor e o rosto carregado de preocupação. Seus passos firmes e apressados chamaram a atenção de todos, que imediatamente se voltaram para ele.

O prefeito foi o primeiro a reagir. Ele deu um passo adiante, com os olhos fixos em Miguel, cheio de expectativa.

— Elisa... onde está nossa filha?

Miguel parou e olhou para ele, confuso.

— Eu queria muito saber, senhor. Mas ainda não a encontrei.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O sorriso de Ana desapareceu no mesmo instante. Todos os olhares se voltaram para ela, que murchou os ombros e arregalou os olhos, incrédula.

— Ma— mas você a encontrou! — insistiu, com a voz trêmula. — Você me disse agora há pouco, lá na cachoeira!

Miguel cruzou os braços, fitando a irmã com uma expressão séria e intrigada.

— Não, Aninha. Eu não disse nada. Essa é a primeira vez que estou te vendo desde ontem à noite.

O rosto de Ana ficou pálido. Ela olhou ao redor, como se buscasse apoio.

— Mas era você! Eu ouvi sua voz! Inconfundível!

Marta, cansada e desgastada pela preocupação, suspirou pesadamente, cruzando os braços.

— Menina... Estamos todos aflitos pela Elisa, e você aparece com uma brincadeira dessas? — falou com a exaustão refletida em cada palavra.

Renato assentiu, com o tom grave e contido.

— Isso não ajuda em nada, menina.

Beto se aproximou, com a expressão de reprovação clara no rosto.

— Filha, o que você está fazendo? Sua mãe já tem preocupações demais!

Ana balançou a cabeça, tentando conter as lágrimas que começavam a se formar.

— Mas é verdade! Eu juro! Eu ouvi o Mi!

Miguel apiou de Thunder e inclinou a cabeça, um sorriso breve e irônico surgindo em seu rosto.

— Você me viu, Aninha?

— Não, mas era a sua voz! Era você!

Miguel se abaixou, ficando na altura dela, e segurou gentilmente seus braços. Seus olhos encontraram os dela, com uma expressão firme, mas suave.

— Aninha, estamos todos desesperados. O cansaço nos faz ouvir coisas, imaginar coisas... Mas obrigado por tentar ajudar. — Ele sorriu levemente. — Agora, volte para casa. A mamãe deve estar muito preocupada.

Beto se aproximou com uma xícara de café e um pedaço de pão. Ele os entregou para Ana, que pegou automaticamente, sem tirar os olhos de Miguel.

— Toma, minha filha. Depois disso, vamos para casa.

— Coma algo também, filho. Você precisa de força. Enquanto você descansa um pouco, continuaremos as buscas. — Beto falou lhe entregando uma xícara e despejando o líquido negro fumegante.

Miguel pegou aceitou, mas recusou gentilmente o conselho do pai, com uma expreção sombria em seus olhos.

- Não vou ficar parado. Não descansarei enquanto não encontra-la!

De repente, o ronco de motores quebrou o silêncio da floresta, e todos se viraram para ver uma picape preta seguida por várias motos e um caminhão. A poeira levantada pela chegada dos veículos criava uma espécie de neblina adicional, adicionando um ar de mistério e urgência à cena.

A porta da picape se abriu com um estrondo, e botas de couro desgastado tocaram o chão. Artur, o CEO conhecido como Feiticeiro, surgiu da sombra do veículo. Ele vestia uma jaqueta preta reforçada com couro e bolsos utilitários, como um soldado de elite pronto para a batalha. Sua presença emanava um magnetismo poderoso, uma confiança fria que impunha respeito e intimidação.

A porta do Carona da Ranger se abriu com um rangido pesado, revelando um homem que parecia carregar o peso de décadas de experiência em seus ombros largos. Ele era alto, robusto, e seus movimentos, embora precisos, exalavam a calma de quem já enfrentou o pior que o mundo podia oferecer.

Os cabelos pretos, agora pontuados por alguns fios grisalhos, estavam alinhados com uma precisão quase militar, e sua barba rala adicionava um toque de autoridade ao rosto marcado pelo tempo. Ele vestia um conjunto verde-oliva que parecia moldado ao seu corpo forte. A jaqueta, apertada e cheia de bolsos, dava a impressão de que ele estava sempre preparado para qualquer emergência, cada compartimento possivelmente guardando um instrumento essencial.

Um rifle descansava em suas mãos grandes, segurado com a familiaridade de quem já o empunhou mais vezes do que podia contar. Não era um adereço para ele, mas uma extensão de sua própria existência.

O homem deu um passo para fora do veículo, suas botas ressoaram no chão como o compasso de um tambor marcial. Apesar do peso que sua presença trazia, havia algo desarmante em seu sorriso fácil, como se quisesse transmitir que, apesar da gravidade da situação, tudo ainda poderia ser resolvido.

Ele se colocou ao lado de Artur, que parecia tenso e ansioso.

- Vou encontrar sua filha, prefeito. Eu prometo. - A voz de Artur era firme, carregada de uma certeza quase desumana, os seus olhos brilhavam com uma intensidade glacial.

Beto murmurou, intrigado:

— O CEO Feiticeiro!

Ana arregalou os olhos curiosa. Pegou seu celular e começou a filmar.

Miguel, ao ouvir o nome, estreitou os olhos com surpresa e desagrado estampado no rosto.

Marta se aproximou com passos vacilantes, segurando um lenço já amassado, que ela usava para enxugar as lágrimas incessantes. Seus olhos estavam vermelhos, e a voz embargada mal conseguia conter o desespero que transbordava em cada palavra.

— Por favor, senhor Artur... ache minha filha! Ache Elisa! — disse ela, com a voz trêmula, como se sua alma dependesse daquela súplica. — Eu não aguento mais essa angústia, não aguento!

Artur fechou os punhos, sentindo o peso daquela responsabilidade repousar sobre ele. Seus olhos endureceram com determinação, mas sua voz manteve uma nota de conforto, um fio de esperança para a mãe desesperada à sua frente.

— Eu vou encontrá-la, senhora Marta. Nem que eu precise virar esse bosque de cabeça para baixo, eu prometo... Você  terá sua filha de volta.

Quando Artur respondeu, sua voz firme cortou o silêncio como uma promessa que os presentes não esperavam ouvir, mas Marta e Renato precisavam desesperadamente acreditar. Miguel se mexeu desconfortável e trocou olhares com Beto. 

Medeiros franziu a testa, examinando Artur e o seu companheiro com uma expressão cautelosa e então o enquadrou:

- Como soube do desaparecimento de Elisa?

Artur o fitou, com seus olhos penetrantes, desprovidos de hesitação.

- As notícias correm. Mas isso não importa. O que importa é que estamos aqui para ajudar.

- Toda ajuda é bem-vinda nesse momento. - respondeu o prefeito, dando um passo à frente, com os olhos cansados e desesperados. - Beto, Miguel... este é Artur, um amigo da família.

Beto acenou educadamente, mas Miguel manteve o olhar desconfiado, quase hostil.

Artur ignorou o olhar de Miguel e virou-se para seu próprio pessoal.

- O delegado vai nos ajudar nessa busca. Ele é Experiente e conhece essa região como ninguém. - Artur falou cheio de orgulho trocando olhar com homem imponente ao seu lado.

O prefeito retirou o lenço branco do bolso do paletó e o passou pela boca, como se quisesse apagar os vestígios de ansiedade que teimavam em se manifestar. Sua voz, carregada de cansaço e tensão, quebrou o silêncio.

- A polícia já vai ajudar? Me surpreende muito... Afinal, não se completou 48 horas do desaparecimento. - Seus olhos estreitaram, refletindo mais incredulidade do que alívio.

Ana psssando o celular em um rosto a outro, estava gostando da conversa dos adultos.

Do outro lado, o homem de verde-oliva deu um leve sorriso, aquele tipo de sorriso que não revelava nada, mas também não escondia. Ele ajustou o rifle no ombro com um movimento experiente antes de responder. Sua sua voz grave cortou o ar como um comando velado.

- Não é a polícia, prefeito. Minha ajuda é... pessoal. - Ele fez uma pausa, deixando as palavras pairarem por um instante, como se quisesse medir o impacto delas. Seus olhos se voltaram para Artur, que estava parado ao lado, claramente tenso. - Artur, meu grande amigo, me convenceu a vir.

O prefeito ergueu as sobrancelhas, surpreso. Por um momento, parecia perdido entre a formalidade de seu cargo e a informalidade dessa aliança inesperada. Guardou o lenço com um gesto lento, como se estivesse a ganhar tempo para processar a informação.

- Acho a espingarda um exagero. - O prefeito falou encarando o homem com desdem.

- É um rifle. - Corrigiu achando graça antes de continuar. - É para minha própria defesa. Com ursos e lobos não se brinca.

- Então é assim? - Ele disse, quase murmurando, enquanto cruzava os braços. - Imagino que você não tenha vindo aqui só por amizade.

O delegado não respondeu de imediato. Ele encarou o prefeito com um olhar que parecia avaliar, medir, talvez até julgar. Depois, deu um passo adiante.

- Vim porque tenho experiência em situações como essa. E porque sei o que é perder alguém importante. Não quero que ninguém mais tenha esse sentimento, especialmente você.

A sinceridade em sua voz fez o prefeito desviar o olhar, como se aquelas palavras tivessem atingido um ponto sensível.

- Vamos encontrá-la. E precisamos ser rápidos. Cada minuto conta. O delegado falou se voltando ao seu pessoal.

Homens e mulheres comuns e ainda muito jovens. Eles carregavam equipamentos de busca e comunicação, prontos para desbravar a mata.

- Vamos nos empenhar para encontrar a moça! - Artur, bradou desdobrando e estendendo um papel sobre o capô da picape. - Este é o mapa da região... faremos uma varredura a cada sete metros. Vamos atravessar esta floresta e nos encontrar no final dela. Vou dar uma recompensa de dez mil a quem encontrar Elisa ou alguma pista valiosa sobre seu paradeiro.

A proposta de Artur era clara, mas havia um tom de competição e arrogância que provocava Miguel. O jovem deu um passo à frente, cruzando os braços, com sua expressão denunciando descontentamento.

- Esse plano não é viável... A varredura em toda a área será impossível. Nessa floresta existem penhascos e locais de difícil acesso. Você vai colocar essas pessoas em perigo! - Falou após avaliar o grupo. Fora o delegado, o restante parecia realmente com pouca experiência.

Artur o encarou, estreitando os olhos como se analisasse cada palavra e gesto de Miguel.

- Eu sei o que estou fazendo. Afinal, quem é você?

Miguel manteve o olhar firme, cruzando os braços com desafio.

- Sou... sou o namorado de Elisa.

Artur ergueu uma sobrancelha, e um leve sorriso de escárnio curvou em seus lábios.

- Deveria ter cuidado melhor dela.

— Que abusado! — Ana murmurou entre os dentes, chamando a atenção do pai.

O delegado se divertía com um sorriso de canto observando a conversa enquanto acendia um cigarro.

Miguel, com os punhos cerrados e o orgulho ferido, deu um passo ameaçador, mas foi contido por Beto, que segurou seu braço firmemente.

- Sua filha precisa de um homem de verdade ao seu lado, prefeito... - disse Artur, com desdém, ignorando completamente a presença de Miguel.

Miguel se soltou do pai, com sua raiva fervendo sob a pele, e com os olhos faiscando de indignação.

— Isso, Mi, quebra a cara dele! — Ana murmurou novamente ainda gravando toda a cena com seu celular.

- É melhor você voltar para a cidade com esse bando de mulherzinha... vai acabar nos dando mais trabalho para te encontrar também!

Ana soltou uma gargalhada alta que foi percebido por todos.

O delegado virou-se para Artur com um semblante divertido esperando uma resposta a altura.

Artur soltou uma risada sarcástica, um som seco e carregado de desprezo. Sem responder, ele se virou para seus homens, batendo palmas para dar ritmo à missão.

- Vamos nessa, pessoal. Foco total! - Sua voz ecoou enquanto ele caminhava em direção à mata, com sua presença quase hipnotizando o grupo a segui-lo sem questionamentos.

Miguel montou em seu cavalo, respirando fundo para conter a ira.

- Calma, filho... não perca a cabeça. Você vai encontrá-la! - disse Beto, mas Miguel já partia em galope, deixando uma nuvem de poeira e fúria para trás.

Artur desviou no último segundo para evitar ser atropelado, o que arrancou dele um sussurro envenenado.

- Filho da puta!

Ana que olhava tudo com seu olhar atento e curioso, de criança, cruzou os braços lançando um olhar ácido para Artur e soltou:

— E ainda insulta a minha mãe!

A tensão estava lançada. Artur e Miguel eram forças opostas, atraídas e repelidas pela mesma mulher e pela missão de resgate. Cada um com seu próprio orgulho, ego e uma determinação feroz, mas com visões de mundo diametralmente opostas. Quem venceria essa batalha de vontades? Quem encontraria Elisa primeiro? Dar para sentir que há algo mais por trás das aparências, algo que transforma o resgate numa batalha de poderes, desejos e segredos.

E agora, com essa rivalidade inflamando a busca, a floresta deixava de ser apenas um cenário; tornava-se um campo de guerra, onde a vitória poderia significar muito mais do que encontrar uma pessoa.

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