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Capítulo 7 - 📃Elisa Não Apareceu📃

Helia, Beto e Ana estavam sentados à mesa de jantar, onde as sombras das velas projetavam um tremor inquieto sobre seus rostos. A ausência de Miguel tornava o ambiente mais pesado, como se o silêncio carregasse o peso do que não era dito. Ele estava trancado no quarto desde que chegara, e cada um ali sentia o vazio deixado por sua ausência.

- Ele está lá, fechado no quarto desde que chegou. - comentou Helia, com o olhar fixo no prato ainda intocado.

Beto franziu o cenho. - E ainda deixou, Thunder desatrelado. Ele nunca faz isso.

Ana, olhando a mãe com olhos que denunciavam sua própria tristeza, acrescentou, quase num sussurro: - Eu espiei pela janela hoje. Vi ele chorando, Mi, está mesmo muito triste.

Helia suspirou, tentando decidir entre respeitar o silêncio de Miguel ou ir até ele. Por fim, levantou-se, suavemente, como se o barulho dos talheres pudesse agravar a dor do filho. - Podem começar a comer, volto logo. Vou ver o que há.

A cada passo até o quarto de Miguel, o coração de Helia acelerava. Bateu na porta com a suavidade de quem temia acordar um sono profundo, mas recebeu uma resposta abafada e triste.

- Miguel, o jantar já está na mesa. Venha comer, meu filho.

- Não estou com fome, mãe.

A voz dele era um sussurro quebrado, algo que a deixou mais preocupada ainda. Sem hesitar, Helia empurrou a porta e entrou. O quarto estava mergulhado na penumbra, e Miguel estava sentado na beira da cama com os olhos avermelhados e o olhar perdido em algum ponto distante. Ele segurava uma pequena caixa de veludo nas mãos.

- O que aconteceu, filho? - A pergunta veio como um sussurro, quase temendo a resposta.

Miguel baixou a cabeça, e as palavras saíram como um peso insuportável: - A Elisa recusou o meu pedido de casamento.

Por um momento, Helia ficou sem fala, com o choque estampado em seu rosto. - O quê? Como assim?

Miguel ergueu o olhar, triste e cansado. - Eu a pedi em casamento lá na nossa casinha... - disse, com a voz vacilando ao lembrar-se do momento. - Ela disse que seria melhor para nós dois se não ficássemos juntos.

Helia fechou os olhos por um instante, digerindo as palavras. - Não consigo acreditar, Miguel. Ela parecia tão convicta... Ela parecia te amar tanto...

Ele suspirou. Era uma amargura que parecia maior que ele próprio. - Eu também achava isso, mãe. Até ela dizer 'não'.

Helia se sentou ao lado do filho, tocando seu ombro com uma leveza maternal. - Sempre achei que Renato Medeiros era contra o namoro de vocês. Ele pode ter pressionado a Elisa a se afastar de você.

Miguel balançou a cabeça, frustrado e confuso. - Não sei, mãe. Só sei que ela me negou.

Helia suspirou, puxando-o para um abraço apertado. - Há algo estranho nisso tudo, filho. Algo que vai além das palavras dela. Mas agora... me prometa que você não vai fazer besteira.

- Eu tento, mãe... Mas, sem ela, o que sobra?

Ela passou a mão em seus cabelos, num gesto de consolo. - Talvez, amanhã, seja bom você conversar com ela. Quem sabe... ela esteja enfrentando coisas que você nem imagina.

Miguel assentiu, mas as dúvidas ainda lhe rondavam os olhos. - Não sei, mãe. Parece que não há mais nada que eu possa fazer.

Ela beijou sua testa antes de se levantar. - Vou terminar de jantar e volto para lhe fazer companhia.


Quando Helia voltou à mesa, a expressão no rosto dela era suficiente para alarmar os outros. Beto, impaciente, não tardou em questionar:

- E então? Como ele está?

Helia suspirou, jogando-se na cadeira. - A Elisa recusou o seu pedido de casamento.

O choque foi instantâneo. Ana arregalou os olhos, sem acreditar no que ouvia. - Não pode ser!

Beto, por sua vez, bateu a mão na mesa com raiva, e o som ecoou na sala. - Deve ter dedo do prefeito nisso! Renato Medeiros quer destruir nossa família só porque não apoiamos a campanha dele! Ele deve ter pressionado a menina!

- Calma, homem! - Helia tentou suavizar, mas sua voz revelava a mesma indignação. - Amanhã eu mesma vou conversar com ela.

Claudio franziu o cenho, cruzando os braços. - Miguel não é mais uma criança, querida. Deixa ele resolver seus próprios problemas.

Ana, alheia à tensão, comentou com um sorriso malicioso: - Agora que Renato não é mais sogro de Mi, ele pode votar no Píris.

Mas Helia mal ouviu. Sua mente estava em Miguel, em suas lágrimas e na incerteza que pesava sobre eles todos. Algo dentro dela sabia que aquela história estava longe de acabar ali, e uma chama de preocupação queimava em seu peito. O amanhã traria respostas, ou talvez, mais perguntas.

O telefone de Helia tocou, quebrando o silêncio pesado que pairava sobre a mesa. O som pareceu um alarme, ecoando pela sala e despertando a atenção de todos, que se entreolharam com expressões ansiosas. Ela atendeu de imediato, com os olhos arregalados de preocupação.

- Dona Rita?! - Helia murmurou ao ouvir a voz do outro lado da linha, enquanto o restante da família a observava, atentos. - Não, Elisa não está aqui. Já faz algumas horas que se foi. O quê?! Ainda não chegou em casa?!

Miguel, veio logo assim que ouviu falar o nome dela. Os outros ao redor da mesa ficaram imediatamente em alerta.

- O que aconteceu, Helia? - Beto perguntou, inclinando-se à frente, com a preocupação estampada em sua expressão.

Helia ergueu a mão, pedindo silêncio. - Está bem, Dona Rita, vou perguntar ao Miguel. Talvez ele saiba onde ela está.

Ela desligou o telefone e pousou-o na mesa, com o olhar fixo em Miguel. O silêncio era espesso, quase palpável.

- O que houve, mãe? - Ana perguntou, com a voz baixa, visivelmente tensa.

Helia respirou fundo antes de responder. - Elisa ainda não voltou para casa. Rita e Renato estão muito preocupados.

Beto se levantou de imediato, com os olhos esbugalhados. - Meu Deus, onde essa menina foi parar?

Miguel abaixou a cabeça, culpado e preocupado. - Ela não me esperou... Saiu correndo de mim, como se quisesse fugir. Não consegui ir atrás dela de imediato, quando conseguí, a procurei e não mais a avistei. A negativa dela me deixou... sem forças. Achei que ela precisava de um tempo sozinha, que iria para algum lugar tranquilo para pensar. Assim que cheguei, liguei varias vezes para ela e não me atendeu. Julguei que realmente não queria falar comigo.

Helia o olhou com uma mistura de compreensão e inquietação. - Mas, Miguel... são quase oito da noite, e ainda não deu sinal!

Miguel olhou ao redor, com uma urgência crescendo em seus olhos. - Vou atrás dela! Não vou deixar Elisa sozinha por aí, especialmente a essa hora!

Beto se aproximou, determinado. - Vou com você, filho, é perigoso ir sozinho.

Ana, animada com a ideia de ajudar, deu um pulo da cadeira. - Eu também vou! Não quero ficar de fora!

Apesar da situação, Helia lançou um olhar divertido para a filha. - E quem vai me ajudar com a louça, então?

Ana revirou os olhos, bufando com indignação. - Ah, claro... A parte chata sempre sobra para mim! Que droga! - resmungou, saindo da mesa a passos pesados.

- Ana! Não é hora de querer aventuras! - disse Beto, sério, mas com um toque de carinho na voz. - É perigoso sair à noite - Completou.

Ana cruzou os braços, desafiadora. - Sei me cuidar, pai. Não sou mais uma criança!

Helia suspirou, resignada. - Certo, depois que terminarmos aqui, podemos ajudar a encontrar Elisa. Vamos orar para que a encontrem, e esteja bem.

Ana fez um movimento impaciente com as mãos. - Tá bom, tá bom... Mi, você promete que vai encontrar a Elisa? - Sua voz vacilou um pouco, com a coragem mascarando o medo que sentia. - Eu gosto tanto dela!

Miguel a olhou, tentando transmitir a força que ele próprio buscava. - Prometo, Aninha. Ela está bem, não se preocupe.

Ele pegou uma lanterna grande do armário, e a testou. De repente, o som de pneus rangendo no cascalho do lado de fora captou a atenção de todos, e os latidos dos cães estouraram na noite escura. Beto se aproximou da janela, espiando para fora.

- É o carro do prefeito. - anunciou, virando-se para os outros, com a expressão séria. - Deve ter vindo pelo sumiso da filha!

Todos se entreolharam, com os rostos sombrios. Miguel apertou a lanterna com mais força, como se se preparasse para algo maior do que uma simples busca. A presença de Renato Medeiros trazia uma onda de ressentimento, um conflito latente que parecia se intensificar a cada segundo. Helia, ciente da tensão entre eles, respirou fundo, consciente de que aquela noite estava longe de terminar.

Ao abrir a porta e dar de cara com o prefeito, Miguel sentiu o coração disparar. Em algum ponto dessa busca desesperada, sabia que não era apenas Elisa que procuravam; havia algo mais naquela noite que se revelaria. - verdades escondidas, mágoas enterradas, e talvez, um amor forte o suficiente para sobreviver ao próprio orgulho.

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