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Capítulo 3 - 📄Elisa Ama Miguel De Verdade?📄

O comício do candidato Fernando Píris chegava ao ápice, iluminando a noite abafada de Brisa Nova como um farol de esperança. A praça principal estava tomada por uma maré de pessoas agitadas. Bandeiras tremulavam ao vento, os mastros produziam um leve estalar rítmico. Os gritos da multidão eram ensurdecedores, um misto de fervor e desespero por mudança. O cheiro de pipoca e churrasquinhos se misturava ao odor metálico do suor e da ansiedade coletiva.

No centro do palco improvisado, Fernando Píris, um homem alto, de cabelos grisalhos que refletiam as luzes como prata viva, discursava com uma intensidade que fazia vibrar até os corações mais céticos. Seus gestos amplos, quase teatrais, cortavam o ar como navalhas, enquanto sua voz, rouca e firme, ecoava pelas vielas da cidade:

— Brisa Nova, olhem ao redor! Esta cidade foi abandonada, saqueada por aqueles que deveriam nos proteger! Mas as pesquisas indicam que nossa vitória será esmagadora! O povo quer mudança! Nós seremos a mudança! Vamos tirar nossa querida Brisa Nova das mãos desses corruptos que drenam nossa verba como parasitas e deixam nosso povo à míngua!

Cada palavra parecia um martelo golpeando o silêncio que antes pairava sobre a cidade. Os espectadores iam ao delírio. No meio da multidão, Beto, um homem robusto de meia-idade, e sua filha caçula, Ana, com apenas 12 anos, vibravam como se o próprio sangue queimasse em suas veias. Ana segurava uma bandeira com tanta força que seus dedos ficavam brancos. Seus olhos brilhavam, refletindo a chama da paixão política que havia herdado do pai.

— Fernando Píris! Fernando Píris! — gritavam em uníssono, suas vozes se perdiam na cacofonia coletiva.

Quando o discurso chegou ao fim, o povo irrompeu em um coro frenético. Fernando foi erguido pela multidão como um troféu humano, seus braços estendidos, acolhia a devoção daquele mar de rostos suados e extasiados.

Ana mal conseguia conter a emoção. Assim que Fernando desceu ao chão, Beto a puxou para perto e chegaram ofegantes.

— Já vencemos, Senhor Píris! — gritou Beto, com a voz embargada.

Fernando sorriu, com uma expressão de cansaço e orgulho.

— Com certeza, meu caro amigo!

Beto pousou a mão no ombro da filha, que o olhava com olhos marejados.

— Minha filha Ana é sua fã. Quer muito tirar uma foto com o senhor.

Fernando riu, uma gargalhada grave e sincera.

— Será uma honra!

A foto foi tirada sob o céu estrelado, com as luzes amarelas dos postes lançando sombras longas e dramáticas. Ana mal conseguia acreditar que estava ao lado de seu herói.

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Logo depois, Beto e Ana entraram na velha caminhonete com o banco de couro puído e o cheiro de gasolina impregnado. A estrada de volta para casa era sinuosa, margeada por árvores que sussurravam ao vento. O motor roncava baixo, e os dois conversavam animadamente sobre política, os olhos de Ana brilhavam como faróis no escuro.

De repente, os faróis do carro iluminaram algo que fez o coração de Beto disparar. Uma figura caída na beira da estrada, imóvel como uma estátua quebrada. Ele freou bruscamente, os pneus gritaram contra o asfalto.

— O que é isso, pai? — Ana perguntou, com a voz embargada pelo medo.

Os dois desceram, o ar noturno gelava suas peles suadas. Quando Beto se aproximou, reconheceu o rosto ensanguentado.

— É o Mi, pai! — gritou Ana, incrédula, com as mãos cobrindo a boca.

Miguel, o filho de Beto, estava deitado no chão com sua camisa branca manchada de terra e sangue. Seus olhos se abriram lentamente, como se o peso do mundo os mantivesse fechados.

— Minha nossa... — murmurou Beto, ajoelhando-se ao lado do filho. — Miguel! O que aconteceu?

Miguel tentou falar, mas tossiu e o sangue manchou o canto de sua boca. Sua voz saiu fraca, quase num sussurro:

— Me leve para casa, pai... depois falamos sobre isso.

O tom de Miguel não era apenas de dor; havia algo mais ali, um segredo pesado como chumbo. Beto o ajudou a se levantar, sentindo o calor do sangue no braço ao segurá-lo.

A caminhonete parecia pequena demais para conter o turbilhão de emoções. Ana olhava para o irmão com os olhos arregalados, tentando decifrar o que estava acontecendo. Beto dirigia com as mãos firmes no volante, mas sua mente estava à deriva.

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Mais tarde na casa dos pais de  Miguel...

Miguel sentiu o despertar lento, como se estivesse subindo das profundezas de um sonho pesado. A primeira coisa que notou foi a dor latejante no maxilar. O gosto metálico de sangue seco ainda impregnava sua boca, e ele piscou algumas vezes, ajustando os olhos à luz suave que entrava pela janela do quarto. Os lençóis estavam bagunçados ao redor de seu corpo, e o cheiro familiar de eucalipto, misturado ao perfume da madeira velha da casa, o fez perceber onde estava: seu quarto. Havia algo reconfortante no ambiente, mas o eco distante do soco que levara continuava a pulsar em sua cabeça.

— Mamãe, o Mi acordou! — A voz de Ana, sua irmã mais nova, soou com entusiasmo. Ela estava sentada ao pé da cama, com os olhos arregalados e brilhando de ansiedade, como se fosse testemunha de um milagre.

Antes que ele pudesse responder ou sequer entender o que estava acontecendo, Ana saiu correndo pelo corredor com os pés leves batendo no chão de madeira, fazendo as tábuas rangirem. Miguel tentou se sentar, mas a dor o fez hesitar. Tudo o que ele se lembrava era do soco, do impacto violento no rosto, a sensação de queda, e depois... nada.

Helia, sua mãe, entrou logo em seguida, trazendo consigo aquele olhar sério que ele conhecia bem, mas com um brilho de alívio nos olhos castanhos. Ela parou ao lado da cama com os braços cruzados, mas havia algo de suave em sua postura.

— Enfim acordou! — disse com a voz grave, mas com uma ternura quase imperceptível. Ela estava aliviada, mas como qualquer mãe, escondia a vulnerabilidade por trás de uma máscara firme.

Miguel tentou sorrir, mas a dor o impediu. Levou a mão ao maxilar, sentindo a pele inchada sob os dedos, e fez uma careta.

— Não me lembro de ter voltado pra casa... só do soco. — Ele acariciou o maxilar e suspirou, sentindo a tensão sair junto com o ar. O rosto estava dolorido, e, mais do que isso, a lembrança o deixava inquieto. Havia algo mais profundo naquela agressão.

Helia se sentou ao lado dele, o perfume de seu xampu de ervas preencheu o ar quando ela se inclinou um pouco.

— Seu pai te achou caído e te trouxe de volta. Colocou você na picape e te trouxe pra casa. — A forma como ela disse "caído" carregava um peso que ele não conseguia ignorar. A preocupação velada nos olhos da mãe revelava o medo que ela sempre escondia bem.

Antes que a conversa pudesse continuar, o som de metal batendo contra cerâmica ecoou pelo corredor. O barulho familiar da chaleira de ferro no fogão a lenha e o cheiro adocicado do chá-mate que sempre preparavam à tarde encheu o ambiente. Os passos pesados de Beto, o pai de Miguel, se aproximavam.

Ele entrou no quarto com duas canecas de chá quente, o vapor subia em espirais lentas. Beto era um homem de expressão dura, os traços marcados pelo tempo e pelo trabalho árduo no campo. Parou na porta, observando Miguel por um instante, e depois deu um leve gole na sua caneca, como se refletisse sobre as palavras certas.

— Andou brigando por política de novo, filho? — perguntou com uma voz grave, mas havia um tom de humor misturado, um leve sorriso no canto da boca. — Você deveria parar de defender o Renato Medeiros... ele é o seu futuro sogro, mas dessa vez ele vai perde a prefeitura. — Beto se aproximou, entregando a outra caneca que trazia em mãos e a entregou a Miguel, que a segurou como se o calor do chá pudesse curar mais do que apenas o frio que sentia.

Antes que Miguel pudesse responder, Ana voltou a invadir o quarto, sua energia juvenil iluminava o ambiente.

— Saiu uma nova pesquisa e o nosso querido Partido Nacional está na frente! — disse, quase saltando de alegria. Com o seu rosto corado de entusiasmo e os olhos faiscando como se a vitória de Fernando Píris fosse pessoal.

Beto não conteve um sorriso, erguendo a mão para que Ana a batesse em um gesto de cumplicidade.

— Não foi por política... — Miguel suspirou, sentindo o peso da verdade em suas palavras. — Me bateram... disseram para eu me afastar da Elisa.

O quarto mergulhou em silêncio. Helia, que até então tentava manter a calma, endureceu o olhar. A tensão no ar era palpável, como se a ameaça pairasse sobre eles como uma sombra invisível. A mãe de Miguel foi a primeira a falar, sua voz saiu carregada de uma preocupação crescente.

— Eu nunca fui contra o seu namoro com a filha do prefeito, mas essa relação está ficando perigosa, filho. A Elisa... ela é uma moça bonita e cobiçada. Muitos homens fariam de tudo para ficar com ela. E temo que te machuquem de verdade, ou pior... — Helia não terminou a frase. O medo pairava no ar, grosso e tangível.

Miguel sorriu, tentando dissipar o nervosismo, mas havia algo em sua expressão que mostrava a dúvida. Ele sabia que a situação era mais complicada do que admitia.

— Deixa de drama, mãe. Ninguém vai me fazer desistir da Elisa. Nós vamos nos casar e seremos muito felizes! — Ele tentou soar confiante, mas a dor no maxilar era um lembrete de que o caminho à frente seria difícil.

Beto, prático como sempre, aproximou-se mais, cruzando os braços.

— Sua mãe está certa. Não estamos dizendo pra terminar com a moça... mas é melhor tomar cuidado. Não ande mais sozinho por aí. — Havia algo mais nas palavras do pai, um alerta silencioso sobre os perigos que Miguel ainda não via.

Miguel balançou a cabeça, levou a xícara aos lábios e tomou um gole do chá.

— Estão preocupados à toa. — Tentou brincar, mas até ele sentia a tensão subjacente.

Helia suspirou, se ajeitando na cama como quem quisesse afastar o desconforto da situação.

— Filho... — Ela começou com a sua voz saindo baixo quase num sussurro, como se temesse a resposta da pergunta que faria em seguida. — Elisa realmente te ama?

Miguel não respondeu de imediato, virou- se para a janela onde o vento sacudia as folhas das árvores.
Helia continuava a encarar Miguel, e a sua preocupação era clara no rosto. O seu pai, Beto, observava mais sério, mas com um olhar paciente. Ele sempre tinha esse ar de calma, mesmo nessas situações mais tensas, um contraste direto com a agitação que tomava conta da casa.

Helia, ainda sentada na beira da cama, continuou, com a voz ainda mais suave, quase temerosa.

— Pelo tanto que você a ama... tenho medo de que faça alguma besteira se esse namoro vier a acabar.

O coração de Miguel apertou. As palavras da mãe penetraram fundo, cutucando um ponto vulnerável que ele evitava reconhecer. O amor que sentia por Elisa era intenso, quase obsessivo. Ele faria qualquer coisa por ela. Qualquer coisa. Mas e se esse amor não fosse suficiente? E se Elisa, cercada pelas pressões da política, pelas expectativas do pai, acabasse se afastando dele? Seria ele capaz de suportar isso?

— Mãe... — ele começou, mas sua voz saiu rouca, sem firmeza. — Eu... eu nunca faria nada estúpido. — As palavras pareciam fracas, sem a convicção que ele desejava ter.

Helia olhou para ele, seus olhos ainda estreitos, como se tentasse ver através da fachada de tranquilidade que o filho tentava manter. Ela suspirou e colocou a mão no ombro dele, um toque suave, quase reconfortante, mas cheio de uma preocupação que Miguel não podia ignorar.

— Sei que você acredita nisso agora, meu filho. Mas o amor... o amor pode cegar. — Ela olhou para a janela, onde as cortinas balançavam levemente com a brisa noturna. — E às vezes, quando a gente está cego, pode acabar fazendo coisas que nem imaginava. - A mãe completou.

Miguel desviou o olhar, encarando o teto do quarto. O som distante do vento entre as árvores parecia trazer consigo os murmúrios de um futuro incerto. Ele sabia que Helia estava certa em se preocupar. O amor dele por Elisa o consumia, e, de alguma forma, ele também temia o que seria capaz de fazer se perdesse tudo o que sonhava ao lado dela.

Ana, inquieta como sempre, aproximou-se da cama de Miguel, com seus olhos cheios de uma curiosidade quase insuportável. Ela mal conseguia conter as palavras que estavam prestes a sair.

— O que foi, Mi? — ela começou, franzindo o rosto como se já soubesse o que ele estava pensando. — Está com medo de  Elisa não te amar de verdade? Ela te ama, né? — O tom era levemente zombeteiro, mas carregava uma preocupação genuína, típica de irmã caçula.

Miguel suspirou, tentando ignorar o comentário e o olhar provocador da irmã. Seu maxilar ainda doía, mas a dor física parecia pequena comparada à confusão que sua mãe havia plantado em sua mente.

Beto,  enfiou uma mão no bolso se apoiando na parede do quarto e soltou um suspiro pesado. Ele observou a cena por alguns segundos, ponderando suas palavras com cuidado. Diferente de Helia, que deixava a preocupação transparecer com intensidade, Beto sempre acreditava que as conversas mais sérias precisavam de leveza. Ainda assim, havia algo nos seus olhos, uma certa dúvida que ele tentava mascarar com seu humor.

— Bom, filho... — disse Beto, quebrando o silêncio que havia caído sobre o quarto. Sua voz, era rouca e  encheu o espaço como um trovão distante. — Não é fácil manter uma mulher como a Elisa... — Ele trocou um olhar rápido com Helia, vendo que ela estava prestes a protestar, mas continuou, agora com um sorriso no canto dos lábios. — Mas se a moça te ama mesmo, ela vai aceitar casar-se com você. Só não faça nenhuma bobagem por causa de um rabo de saia, hein? Agora... - Ele trocou um olhar sério com a mulher e com todos fazendo mistério barato e completou: — ... tome logo esse chá, antes que esfrie. —  sorriu debochado.  — Isso vai te ajudar... Às vezes, amor é como esse chá... precisa deixar esfriar um pouco antes de tomar, senão pode te queimar.

Miguel deu um pequeno sorriso, e levou a xícara a boca, reconhecendo o esforço do pai em trazer algum alívio para a tensão do momento. O calor da xícara em suas mãos o acalmava, mas as palavras de Helia continuavam a ecoar em sua mente.

Ana, agora sentada na beira da cama ao lado de Miguel, cruzou os braços e franziu o nariz, claramente impaciente com a conversa mais séria dos adultos. Para ela, o amor parecia simples, quase como nos filmes que assistia à tarde.

— Claro que a Elisa vai casar com você! — Ana falou com uma confiança desafiadora, sem perceber a gravidade da questão. — Você é o Mi, meu irmão mais legal, e a Elisa te adora! Ela vive falando de você, minha golega da escola me contou, vizinha dela... todos sabem. Além disso, quem não iria querer casar com um cara como você? — A última frase saiu com um tom de orgulho, típico de uma irmã que idolatra o irmão mais velho.

Miguel soltou um riso baixo, agradecido pelo otimismo de Ana, mesmo que soubesse que a vida não era tão simples quanto ela imaginava. Ele passou a mão nos cabelos da irmã, bagunçando-os, e Ana reclamou, mas o sorriso no rosto dela não desapareceu.

Helia, ainda com os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas, observava o filho. A preocupação não a abandonava, mas ela permitiu que o momento se suavizasse. Sabia que as coisas poderiam se complicar muito mais do que a inocência de Ana permitia enxergar. Ainda assim, ela olhou para Beto, que agora sorvia o próprio chá, como quem dizia que eles precisavam confiar no julgamento do filho.

— E você, filho? — Helia perguntou de novo, desta vez com um tom mais suave, quase maternal, mas carregado de subtexto. — Você acha que ela vai realmente aceitar casar com você?

O silêncio dentro do quarto era quase palpável, enquanto Miguel ponderava a pergunta da mãe. Sabia que Elisa o amava, mas também sabia das pressões que ela enfrentava. Ele não podia prever o que aconteceria, nem controlar as forças que pareciam se mover contra eles.

— Ela vai. — Ele finalmente respondeu, mas o tom de voz era mais uma tentativa de convencer a si mesmo do que a qualquer outra pessoa no quarto.

Ana, percebendo a tensão, levantou-se e começou a falar sobre o quão maravilhoso seria o casamento, descrevendo em detalhes os vestidos, as flores e a música, numa tentativa de injetar leveza na conversa. Mas nem mesmo o entusiasmo infantil de Ana conseguia dissipar o peso que pairava ali.

Beto deu uma última olhada para Miguel antes de se retirar para a cozinha, deixando mãe e filhos no quarto.

Helia suspirou, inclinando-se para dar um beijo suave na testa de Miguel.

— Apenas prometa que vai tomar cuidado, filho. — Ela disse, antes de sair do quarto. — O amor é lindo, mas também pode machucar.

Miguel a observou sair, e o silêncio voltou a dominar o quarto. Ele olhou para Ana, que o fitava com olhos curiosos, mas sem entender completamente a profundidade de tudo aquilo. Finalmente, ele se deitou de novo, ainda sentindo o calor da xícara em suas mãos, e fechou os olhos, tentando afastar os medos e dúvidas que ameaçavam invadir sua mente.

A brisa leve da noite soprou pela janela, trazendo consigo o aroma das árvores e da terra fresca. Mas, mesmo cercado pela tranquilidade do campo, Miguel não conseguia afastar o peso que carregava no peito.

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