Capítulo 12 - 📃Rastros De Mentiras📃
Por um momento, Miguel considerou se entregar. Mas, ao perceber a aliança entre o delegado e o influente Artur, uma onda de desconfiança o invadiu. Se fosse preso, sabia que não sairia facilmente. A sensação de estar sendo manipulado o consumia.
Uma decisão firme se formou em sua mente. Com um movimento rápido, desviou-se do delegado e correu em direção à saída da gruta. Passou por Artur, que carregava Elisa nos braços, e lhe falou:
- Eles querem nos destruir, Elisa... separar a gente... mas não vão conseguir! Sei que você está confusa agora, mas logo voltará em si e saberá que eu sou inocente...
Elisa, ao ouvir as palavras de Miguel, sentiu uma onda de emoções conflitantes. Seus olhos, antes opacos pela confusão, começaram a brilhar com um reconhecimento incipiente. As feições de Miguel evocavam lembranças fragmentadas, como flashes de um sonho esquecido.
Ela tentou articular uma resposta, mas as palavras saíram trêmulas e desconexas, refletindo a batalha interna entre a amnésia e a memória emergente. Sua mente, ainda envolta em névoas, esforçava-se para conectar os pontos dispersos de suas recordações.
O coração de Elisa acelerou, pulsando com a urgência de compreender a verdade oculta em sua mente. A presença de Miguel despertava nela sentimentos profundos e contraditórios, uma mistura de familiaridade e estranheza que a deixava à beira das lágrimas.
Ela balbuciou algo inaudível, com os lábios tremendo enquanto buscava sentido nas imagens que surgiam em sua mente. A confusão era palpável.
Elisa fechou os olhos por um instante, tentando acalmar a tempestade interna.
Os feitiços de Isadora, a bruxa e mãe de Artur, foram fortes e cruéis, lançando Elisa em um abismo de esquecimento e dor. Agora, diante de Miguel, ela sentia as correntes invisíveis da magia sombria começarem a enfraquecer, permitindo que fragmentos de sua verdadeira essência emergissem das sombras.
- Está fugindo?! Não é homem o bastante pra asumir os seus erros?! - Artur o confrontou com olhar cevero.
- Não estou fugindo... estou recuando para contra-atacar. Prepare-se, Artur, a ofensiva será avassaladora!
Artur, inclinou a cabeça para trás e gargalhou alto, com seu riso ecoando pela gruta com um tom de desdém.
Miguel manteve-se firme, sem vacilar diante da provocação.
- Não subestime o que você não entende, Artur. A verdadeira força não está em manipular os outros, mas em ser capaz de se levantar quando tudo parecer perdido.
Antes que Artur pudesse reagir, o delegado gritou:
- Segurem ele!
Miguel acelerou os passos, sentindo o peso da decisão. O som de passos apressados e respirações ofegantes ecoava na gruta. O prefeito, ainda com a mão no peito devido ao ferimento do urso, seguia o delegado.
- Peguem esse matuto! Ele tem que pagar pelo que fez! - bradou Artur, com a voz ressoando com autoridade e desprezo, enquanto seus olhos faiscavam de ira.
Elisa, ainda envolta em um véu de confusão, voltou-se para Artur, com seu semblante refletindo dúvida e desorientação. Artur suavizou a expressão, esboçando um sorriso calculado, e fez uma graça:
- Ele fede a cavalos, você também percebeu?
Diante do insulto velado, Elisa desviou o seu olhar fraco para frente.
Miguel alcançou a saída passando pelo urso abatido, e montou rapidamente em seu animal, que relinchou, impaciente. Galopou por entre as árvores, com o som das patas batendo no solo misturando-se ao vento que cortava seu rosto. O delegado, com o rifle em mãos, apontou e disparou. A bala passou raspando. O prefeito, com um movimento instintivo, bateu na arma, desviando o tiro que acertou o tronco de uma árvore.
Miguel se abaixou, assustado, mas não parou. O som do cavalo galopando e os gritos distantes do delegado e do prefeito ficaram para trás, enquanto ele se perdia na escuridão da floresta.
O prefeito, com o olhar preocupado, perguntou:
- Iria acertá-lo?! Ficou louco?!
O delegado, com um sorriso irônico, respondeu:
- Claro que não... queria acertar o animal, mas você atrapalhou.
O prefeito, com um suspiro, retrucou:
- Deixe-o em paz, estão levando isso muito a sério... o que nós temos são apenas insinuações... não há nada que comprove sua culpa.
O delegado, com um olhar penetrante, insistiu:
- Você mesmo viu, senhor Medeiros... ele nos trouxe direto para sua filha!
O prefeito, com um sorriso tranquilo, respondeu:
- Isso não prova nada... assim como nós, Miguel estava à sua procura... ele é um verdadeiro Mogli, nasceu nesse lugar, conhece cada centímetro dessa mata... talvez, se não fosse por ele, não teríamos encontrado a minha filha.
O delegado, com um olhar desconfiado, retrucou:
- Prefeito... tenho experiência nesses casos, minha intuição nunca falha.
De dentro da gruta, Artur se aproximava com Elisa nos braços. Ela, com os olhos semicerrados, fitava o homem que a carregava, com semblante de admiração e intriga. Seu perfume era inebriante e ao mesmo tempo gostoso, como se fosse hipnotizante. Ela ainda estava confusa e com poucas memórias.
Os dois homens do lado de fora ainda discutiam.
O prefeito, com um olhar preocupado, perguntou:
- Quer ver?! Diga, filha, aquele rapaz, o Miguel... lhe fez algum mal?
Elisa, com um olhar distante, respondeu:
- Não. Acho que não... mas tenho uma leve lembrança dele na gruta...
O delegado, com um sorriso vitorioso, disse:
- Está vendo, prefeito? Quer prova maior que esta?
O prefeito, com um olhar sério, retrucou:
- Está sendo amador agora, delegado...
O delegado, com um olhar surpreso, respondeu:
- Eu, amador?!
O prefeito, com um olhar penetrante, disse:
- Não pode levar esse depoimento a sério, não vê que ela está confusa?!
Artur, com um olhar preocupado, interveio:
- É melhor pararem com essa discussão, a moça está ferida, precisa ser atendida.
O prefeito, com um olhar compreensivo, concordou:
- Você está certo, Artur, vamos cuidar dela!
O delegado, como algum protocolo disse:
- Pode se adiantar, Artur... preciso dar uma breve examinada no local primeiro, na companhia do prefeito.
Artur se foi com Elisa, que arregalou os olhos ao passar pelo urso caído.
- Não tenha medo meu amor, eu o abati.
Artur não perdia tempo de aproveitar cada oportunidade de se vangloriar para a moça. E o " meu amor" de Artur não passou por despercebido, más ela estava fraca de mais para protestar.
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A gruta estava imersa em um silêncio opressor, quebrado apenas pelo eco dos passos dos dois homens que avançavam cautelosamente. O delegado, com o olhar fixo no alto, examinava cada detalhe, enquanto o prefeito o seguia, atento a cada movimento.
- Um... amarras... - murmurou o delegado, interrompendo o silêncio.
Ele se abaixou, com os dedos tocando a corda entrelaçada a uma rocha longa e fina. A textura áspera da corda contrastava com a suavidade da rocha, indicando o uso frequente.
- Elisa estava amarrada... reparei nos punhos avermelhados dela. Isso comprova que estava em cativeiro. - explicou o delegado, com sua voz carregada de certeza.
O prefeito observava atentamente, absorvendo cada palavra.
- Mas isso não prova que foi o Miguel. - comentou o delegado, de braços cruzados, ainda cético, vendo o esforço da autoridade para encontrar provas do envolvimento.
- Posteriormente não, mas... - O delegado se levantou, olhando para o alto. - Interessante... parece premeditado... quem acenderia tochas em um lugar como esse se não esperasse uma visita? - disse, lançando um olhar significativo para o prefeito.
- É, faz sentido. - O prefeito concordou, com a mente trabalhando para conectar os pontos.
O delegado pegou uma das tochas e iluminou o chão, procurando algo.
- Como imaginei... e estão por toda parte... - falou, sorrindo.
O prefeito olhava confuso.
- Pegadas de botas... - o delegado explicou, apontando para as marcas no chão.
- São as de Miguel? - O prefeito perguntou, com dúvida.
- Olhe... - O delegado voltou a passar a tocha no chão, mostrando. - Essas pequenas são de sua filha... essas são suas... - O prefeito saiu do lugar para comparar as marcas. - Essas são de Artur, o emblema de sua marca de calçasos não nega... as minhas... e as de Miguel Fontana!
- Lógico, ele também esteve aqui... - O prefeito revirou os olhos, impaciente.
- Sim, mas elas estão em lugares da gruta que ele não esteve... Ali... - Clareou com a tocha. - Ali também... - Virou a tocha, com o olhar atento do prefeito acompanhando.
- As pegadas estão todas misturadas, delegado, precisa-se de uma comprovação e análise mais profunda... - O prefeito desacreditou.
- Podemos segui-las, talvez nos levem a mais pistas e provas... - O delegado falou, saindo andando, seguindo as pegadas.
O prefeito não o seguiu. Apoiou-se em uma pedra e limpou o rosto com seu lenço, mostrando cansaço.
- Prefeito, venha aqui! Acho que temos algo! - O delegado gritou, e o prefeito foi em direção à saída da caverna.
Existia uma cela com grades, e a porta da grade estava aberta.
O delegado mostrou a porta, a vasilha com água e restos de comida.
- Havia um animal grande preso aqui e solto recentemente... - falou, sorrindo, mostrando a corrente e o cadeado abertos. - Veja as marcas na porta. Foi libertado por alguém. E não há sinais de luta para manter a porta fechada. - explicou.
Medeiros ficou pálido, com a voz trêmula.
- Está querendo dizer que Miguel libertou o urso para... nos atacar? - acariciou o peito onde a camisa azul claro estava rasgada e levemente suja de sangue.
O delegado balançou a cabeça, sorrindo, cerrando os olhos.
- As evidências dizem isso. As tochas, o animal libertado... parece que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
O prefeito fitou o delegado, também ligando os pontos. E o delegado comentou cheio de ironia:
- Parece que o nosso herói tem um lado mais selvagem do que imaginávamos.
- Mas isso prova que o rapaz é culpado? - O delegado questionou, estreitando os olhos e cruzando os braços, suspeito.
- As provas indicam que sim. A violência contra Artur e o fato de ter fugido reforçam as suspeitas. - O delegado falou, ajeitando o rifle pendurado no ombro enquanto observava a reação do prefeito.
O ar na gruta estava denso. Cada palavra trocada entre o delegado e o prefeito parecia pesar toneladas, como se o destino de Miguel estivesse sendo decidido ali, entre as sombras e os ecos da caverna.
O som das gotas de água caindo das estalactites era o único ruído que quebrava o silêncio, como se a própria natureza estivesse assistindo ao desenrolar daquele drama.
O prefeito, com o olhar fixo nas evidências, sentiu um peso crescente em seu peito. Não queria acreditar que Miguel seria culpado, mas estava sendo desafiado por fatos que não podiam ser ignorados.
O delegado, por outro lado, sentia a adrenalina pulsando em suas veias. Cada pista encontrada era uma vitória, cada passo dado o aproximava da verdade que buscava.
E, enquanto a gruta os envolvia em seu abraço frio e silencioso, o destino de Miguel estava prestes a ser selado.
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Horas depois, as autoridades finalmente alcançaram Artur e Elisa no coração da mata. A tarde caía como um manto denso, e os sons da floresta eram uma cacofonia inquietante. As folhas secas estalavam sob os pés apressados, enquanto o ar úmido carregava um cheiro de madeira molhada e terra revolvida.
O prefeito Renato Medeiros, suado e visivelmente ansioso, avançou em passos rápidos.
- Como minha filha está? - perguntou, com a voz carregada de medo e culpa.
Artur, exausto, apoiava os joelhos na terra. Ele deitou Elisa com cuidado, com os olhos dela semicerrados, e o rosto pálido como a lua que começava a surgir no céu.
- Está... fraca demais... Precisamos nos locomover mais rápido. - Sua voz era uma mistura de autoridade e desespero, mas o cansaço traía seu tom.
O delegado, um homem robusto de rosto endurecido pelo tempo, olhou ao redor. O silêncio entre eles parecia mais pesado que o ar.
- Mas no meio dessa mata, com todos esses obstáculos naturais, não há como avançar mais rápido. - Ele falou com pesar, apontando os galhos entrelaçados e os troncos caídos que tornavam a passagem quase impossível.
Artur balançou a cabeça, impaciente.
- Meu helicóptero já devia estar aqui! - murmurou entre dentes, com um brilho de irritação nos olhos.
De repente, um som cortou a tensão. O farfalhar de folhas e o estalo de galhos quebrando se aproximavam. O grupo ficou em alerta.
- Um urso?! - o prefeito deu um passo atrás, escondendo-se atrás do delegado, que apontou o rifle em direção ao som.
Artur, instintivamente, levantou-se e tentou pegar Elisa. Seus olhos arregalados refletiam a luz fraca da lua.
- Preparem-se! - ele ordenou, mas a voz era mais de medo do que de comando.
Então ele surgiu. Um relinchar potente ecoou pela mata, quebrando o silêncio como um trovão. Não era um urso, mas um cavalo. Thunder. Uma visão que parecia arrancada de um sonho.
O animal era majestoso, seu pelo preto brilhava como azeviche sob a luz da lua. As crinas longas dançavam no vento, enquanto suas narinas bufavam, soltando pequenas nuvens brancas no ar frio. Os cascos pesados batiam contra o solo úmido, deixando marcas profundas na lama.
Elisa abriu os olhos ao som do relinchar. Era como se algo dentro dela tivesse sido despertado.
- Thunder... o cavalo de Miguel... - sussurrou com a voz fraca, mas carregada de emoção. Sua mão, trêmula, alcançou a crista do animal, acariciando-a.
Thunder abaixou a cabeça, quase em reverência, com os olhos inteligentes focados na jovem, como se compreendesse sua fragilidade.
O prefeito olhou para o animal, perplexo.
- Parece que Miguel enviou seu amigo para salvar Elisa. - Sua voz estava embargada, misturando admiração e alívio.
Artur e o delegado trocaram olhares rápidos, carregados de desconfiança e desgosto. O subtexto era claro: Miguel não era apenas um adversário, era uma ameaça que conseguia estar presente mesmo na ausência.
- Precisamos ter cautela. Isso está me cheirando a armadilha! - Artur comentou, com seu tom teatral. Mas a dureza no olhar revelava algo mais profundo: insegurança.
O prefeito, como sempre, ignorou o comentário de Artur.
- E então, Artur? É você ou eu quem vai montar? - perguntou enquanto pegava as rédeas com determinação.
Artur ergueu a sobrancelha, forçando um sorriso debochado.
- Quero essa honra. Pratico equitação desde sempre... Só não estou acostumado a montar pangarés!
O insulto foi imediato. Thunder relinchou, ergueu a cabeça e deu um passo para trás, com as patas escavando o chão com força. O grupo recuou, assustado.
O delegado riu baixo.
- Parece que ele não gostou do insulto, Artur.
Artur apertou os lábios, disfarçando o constrangimento.
- Besteira... - murmurou, aproximando-se novamente. Ele ajustou a barrigueira com força, ignorando os protestos do animal. - Vai que o matuto manipulou isso.
Com um misto de elegância e arrogância, Artur subiu no cavalo. Thunder se moveu inquieto, mas o CEO ignorou. Ele ergueu Elisa com cuidado e a colocou à frente. Sua expressão era de triunfo, mas seus olhos traíam uma faísca de desconforto.
O grupo começou a avançar pela mata. Thunder, mesmo com a tensão no ar, caminhava com uma graça quase sobrenatural. Elisa, encostada no peito de Artur, parecia ganhar forças com a presença do animal.
O delegado, caminhando atrás, murmurou para o prefeito:
- O cavalo é esperto. Não sei se confio nele ou no homem que o montou. - Brincou.
O prefeito deu de ombros.
- Confie no instinto do animal. Eles têm mais caráter que muitos homens.
Artur fingiu não ouvir, mas sua expressão endureceu. Seus olhos varriam a floresta à frente, como se buscassem algo que ninguém mais via. Ele sabia que cada passo de Thunder era uma declaração de Miguel, e isso o irritava mais do que queria admitir.
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No acampamento improvisado, onde começaram as buscas, a cena parecia um mosaico de caos e expectativa. O ar estava carregado com o cheiro acre de terra seca misturada à gasolina dos carros de polícia que mantinham seus motores ligados. As luzes das sirenes giravam incessantemente, tingindo de azul e vermelho os rostos ansiosos da multidão.
Marta estava sentada numa cadeira de plástico que rangia sob seu peso, com as mãos trêmulas segurando um copo d'água pela metade. O líquido, morno e insípido, não aliviava o nó na garganta que a consumia. Ao seu lado, Beto estava com as roupas amarrotadas e sujas de lama da busca improvisada que fizera mais cedo, enquanto Ana e Hélia tentavam oferecer conforto com toques gentis no ombro e palavras vazias que pareciam se dissolver no ar.
O ambiente vibrava com murmúrios abafados e o estalar de passos inquietos. Um repórter da televisão local gesticulava animadamente para a câmera, com a voz abafada pelas sirenes e pela agitação crescente da pequena multidão. Amigos, funcionários da prefeitura e curiosos estavam amontoados, movidos por uma mistura de solidariedade e mórbida curiosidade. Todos aguardavam por algo. Qualquer coisa.
Marta ergueu os olhos com lentidão quando ouviu o som de passos correndo na direção do grupo. Um rapaz jovem, com o rosto ruborizado pelo esforço, surgiu gritando entre os curiosos:
- Elisa foi encontrada! Eles encontraram ela!
As palavras cortaram o ar como uma lâmina, e um silêncio momentâneo tomou conta do local antes que as reações explodissem. Olhos se voltaram para o horizonte, buscando confirmação.
Ana deu um passo à frente, com o coração acelerado com uma mistura de alívio e esperança.
- Foi o Mi, mãe! Ele encontrou a Elisa! - exclamou, com a voz repleta de expectativas, e os olhos brilhando.
Mas o que veio a seguir roubou o brilho de sua expressão. O som de cascos quebrando o silêncio do chão ressecado anunciou a chegada de alguém. Eles não imaginavam, não era Miguel, era Artur.
Montado em Thunder, o cavalo negro de porte imponente. Após descer, Artur trazia Elisa nos braços como um troféu, com sua postura ereta e o semblante firme tentando emular a imagem de um herói.
A luz do sol poente, filtrada pelas árvores, refletia no suor do animal e nas crinas revoltas, criando uma aura quase sobrenatural. As duas autoridades caminhava com ar grave.
O sorriso de Ana se desfez, sua expressão congelou numa máscara de incredulidade.
- Não é o Mi... - murmurou, com as palavras escapando de seus lábios como um lamento.
Marta, que observava tudo com olhos marejados, deixou o copo escorregar de seus dedos, derramando a água que escorreu como lágrimas pela terra seca. Ao seu lado, Beto franziu o cenho, dando um passo à frente com hesitação.
- É... Thunder! Mas onde está Miguel? - perguntou, com a voz embargada por uma inquietação crescente.
Artur desmontou com movimentos calculados, carregando Elisa nos braços. Sua expressão altiva não escondia o orgulho, mas seus olhos não encontravam os de ninguém diretamente.
A presença dele dominava a cena, e os fotógrafos não tardaram a capturar cada ângulo de sua chegada triunfal. Os flashes estouravam como relâmpagos, e as palmas de alguns presentes ecoaram em comemoração.
Colocando Elisa delicadamente no chão, Artur se aproximou de Marta, ignorando o tumulto ao seu redor.
- Sua filha está bem, senhora. - anunciou, com a voz carregada de uma falsa humildade que não mascarava a intenção de ser celebrado.
Marta, tomada pela emoção, caiu de joelhos ao lado de Elisa, envolvendo-a num abraço apertado. As lágrimas que rolaram por seu rosto carregavam alívio e um resquício de medo.
- Minha menina... - murmurou, com a voz entrecortada por soluços.
Elisa, ainda fraca e confusa, afastou-se ligeiramente do abraço para olhar a mãe.
- Estou bem, mãe... Estou bem - disse, embora a palidez de seu rosto contasse outra história.
Enquanto isso, Beto caminhava na direção do prefeito, que estava a poucos metros, conversando em voz baixa com as autoridades. Sua expressão era um misto de preocupação e desconfiança.
- E Miguel?! Onde está meu filho?! - questionou, com a sua voz firme, mas carregada de ansiedade.
Renato Medeiros respirou fundo, como se preparasse para um golpe inevitável.
- Beto, eu sinto muito, mas... Miguel pode ser preso a qualquer momento. Há acusações graves contra ele. - A frieza em sua voz fez o coração de Beto vacilar.
As palavras caíram como pedras sobre a pequena família. Ana, que observava de longe, levou as mãos à boca, enquanto Hélia deu um passo atrás, trêmula.
- Isso... não pode ser verdade... - murmurou Ana, quase inaudível.
Um som cortante invadiu o ambiente, crescendo rapidamente até se tornar ensurdecedor. O helicóptero de Artur finalmente surgiu no céu, com suas hélices sacudindo as copas das árvores e levantando poeira no chão. Os presentes se protegiam do vento levantado pelas hélices, mas seus olhos permaneciam fixos na cena.
Ana tetirou seu telefone de um dos bolsos da calça e começou fazer um filme e a tirar fotos. Nada passava por despercebido a sua lente. Assim que Elisa se virou para ela, Ana deu um zoon na ferida estranha e circular no meio de sua testa.
Então, com certo espanto, passou delicadamente seus dois dedos em sua própria testa, percebendo que a marca que recebeu num acidente semanas atrás no bosque, quando se afastou da família para explorar, era semelhante.
Artur olhou para o céu, com um sorriso satisfeito dançando em seus lábios. Ele sabia que aquele momento o consolidaria como a figura heroica do dia, enquanto a ausência de Miguel levantaria ainda mais dúvidas sobre sua integridade.
Mas algo no olhar de Elisa, mesmo fraca, parecia brilhar com uma centelha de desconfiança. Uma pergunta não dita pairava em seus olhos.
Miguel estava em algum lugar, e sua ausência dizia mais do que qualquer palavra dita naquela tarde.
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