58
Eu estou com tanta raiva do Dom que eu não quero nem olhar na cara dele. Como ele pôde fazer isso comigo? E eu não falo só dele ter me expulsado de casa, mas também de ter me humilhado na frente daquelas pessoas, ele me julgou por uma coisa que eu não sou.
Se ele tivesse um mínimo de consideração por mim, ele teria me chamado pra conversar no particular para pelo menos tentar entender as minhas razões.
Eu errei, errei feio e assumo, mas depois de tudo que a gente viveu, achei que ele iria me perdoar.
Achei que a gente iria tentar consertar as coisas, mas pelo visto ele cagou pra tudo. Ele quer que eu sofra as consequências dos meus atos, que eu sinta na pele o que ele passou, e tudo bem, ele está com raiva, mas isso não justifica o que está fazendo comigo.
Me mandar pra rua, com uma criança pequena, sabendo do perigo que é lá fora, isso é muita crueldade.
Por onde eu passo, sinto os olhares de julgamento das pessoas, elas me olham como se eu fosse um monstro, mas em nenhum momento elas se colocaram no meu lugar, não passaram pela pressão que eu passei, eu queria ver se fosse elas tendo que apertar o gatilho, como iriam reagir.
Eu sou humana, fiz o que o meu coração estava mandando e lamento que as coisas tenham chegado nesse ponto, mas estou com a consciência tranquila, porque pelo menos eu fiz a minha parte.
Segui até o meu quarto, e assim que passei pela porta, me senti um pouco aliviada por ter me livrado dos olhares de julgamento das pessoas.
Minha imagem está manchada nessa casa.
Sinto que ninguém aqui gosta mais de mim, me sinto sozinha e desamparada, não pensei que fosse sentir essa sensação de novo. É horrível.
Isso me faz querer chorar, mas eu não vou chorar agora, tenho que ser forte pra enfrentar essa barra, eu sou uma guerreira, já passei por muita coisa e não vai ser agora que eu vou fraquejar.
Eu tenho os meus filhos e eu não quero que eles pensem que não tenho capacidade de lutar por eles, e eu tenho sim, eles não merecem pagar por uma coisa que não cometeram.
E o Dom ainda vai se arrepender de ter negado o próprio filho, e eu quero tá viva pra ver a cara dele.
Eu ainda o amo, e esse sentimento não some do dia pra noite, mas depois do que ele fez, eu não sei se vou consegui perdoa-lo.
Eu queria ver como o Joe está, mas é perigoso nem me deixarem chegar perto dele.
Aquela bala era pra mim.
Tirei as minhas roupas do cabide e comecei a pôr dentro de uma mala, até que no meio dessas roupas, eu encontrei uma camisa.
Agarrei ela com as duas mãos, levei até o nariz e aspirei o perfume dela, é inebriante. É a camisa do Dom que eu mais gosto, tanto que escondi para que eu pudesse usar quando eu quisesse.
Ele nem sabe disso.
É uma pena que ela vai ter que ficar aqui, não quero nada dele, comigo, quanto mais rápido eu esquecê-lo melhor.
Depois que fiz as minhas malas, fui até o quarto do Noah e fiz as dele também. Separei algumas peças de roupas e coloquei dentro da sua mochila de escola, até porque não acho que ele vai precisar de tanta roupa assim, já que vamos morar na rua.
No final das contas ele é o único que sempre vai estar comigo,
Ele estava brincando de bola no jardim e vê-lo sozinho encheu os meus olhos porque me fez lembrar do Pablo. Parece que foi ontem que os dois estavam aqui brincando juntos, minutos antes dele me contar toda a verdade, a verdade que nos trouxe até esse fatídico dia pra todos nós.
O que eu vou dizer, quando o Noah perguntar por ele?
No mesmo instante ele olhou pra mim e sorriu. Tentei disfarçar as lágrimas com um sorriso, mas estou acabada por dentro.
Estou tentando não deixar os pensamentos me dominarem, e nem a culpa me consumir, mas está difícil. E é insuportável ficar aqui com todo esse peso sobre os meus ombros.
Noah veio correndo e me abraçou, senti um pouco dessa tristeza se esvaindo. O meu filho é muito especial e sempre que ele me abraça, eu sinto as minhas forças se renovarem.
Dei um banho nele, e brincamos um pouco na banheira pra distrair a tristeza.
Eu contei pro Noah que ele vai ter um irmãozinho, e ele ficou muito contente e disse que ia me ajudar cuidar dele e ensiná-lo jogar bola.
Fiquei feliz e ao mesmo tempo triste porque na verdade eu nem sei se o irmãozinho dele tá bem, aqui a gente se baseia na intuição já que eu não lembro a última vez que fui em um médico.
Tirei o Noah da banheira e vesti uma roupa de frio nele, pois a noite será longa e congelante para nós dois, e fora que eu nem pensei ainda na onde a gente vai dormir.
—– Pra onde a gente vai? — Ele perguntou ao ver as malas
Terminei de amarrar os seus sapatos, e o encarei profundamente.
Eu pensei em inventar uma história pra disfarçar a nossa realidade, mas eu não quero ficar enganando o meu filho toda vez, até porque ele já se ligou que a vida que vivemos não é um mar de rosas.
Apesar dele ter apenas cinco anos, ele já consegue entender muita coisa.
—– Filho, Dom e eu brigamos, e ele não quer mais que a gente more aqui
—– A gente vai voltar pra casa?
—– Não, mas a gente vai procurar uma casa, e a gente vai achar, tá?
Ele balançou a cabeça positivamente, depois me abraçou.
Não consegui segurar as lágrimas por muito tempo e acabei desabando.
—– Tudo bem, mamãe, os mendigos não tem casa, podemos morar na rua com eles
Sorri entre as lágrimas , e depois o apanhei no colo.
Ele deitou a cabeça no meu ombro e agarrou o meu pescoço.
Fiquei com ele assim por um tempo, só pra relembrar de como era a sensação de pega-lo no colo, até porque eu nunca mais fiz isso, sinto que foquei mais na minha relação e nem me toquei o quanto ele está crescendo rápido, pode ser que eu não consiga mais pega-lo no colo.
Agora o único amor que devo priorizar é o amor dos meus filhos.
Quando a gente estava indo em direção a porta de saída, senti a aproximação de alguém.
Imaginei que fosse o Dom, completamente arrependido e confesso que o meu coração acelerou com a possibilidade.
Mas quando olhei pra trás, vi que era a Meg, Tim e Billy, mas apesar de ficar decepcionada, também fiquei contente de ver que pelo menos algumas pessoas vieram se despedir de mim.
Coloquei a mala em um canto e esperei até que eles se aproximassem. Noah se escondeu atrás de mim.
—– Você ia embora sem se despedir, Catrina? — Tim perguntou
—– Pensei que não iriam sentir a minha falta
—– Como não, não tem ninguém igual a você aqui — Billy ressaltou
Sorri fraco pra ele, eu estava contente por não ver mais a tristeza manchando os seus olhos , parece que o conselho que dei a ele serviu pra alguma coisa.
Direcionei os meus olhos pra Meg, e vi que ao contrário dos meninos, ela não está com uma cara tão boa.
Mas também, o namorado dela levou um tiro tentando me proteger, era pra ela estar descontando toda a raiva dela em mim.
—– Como ele está? — Perguntei ressentida
—– Morreu, mas passa bem — Ela disse ríspida
—– Meg, eu sinto muito
—– Tudo bem, eu sabia que uma hora ele ia levar um tiro, só fico surpresa que tenha sido na perna
—– Vocês acreditam em mim? — Olhei para os três ao mesmo tempo e meus olhos transbordaram — Tipo, eu sei que errei, mas eu não sou um monstro
—– Fica difícil com todas as coisas que ouvimos — Meg rebateu — Mas não acho que foi com as piores das intenções, você só não tinha que ter passado por isso sozinha, poderia ter confiado na gente pelo menos
—– Eu não soube o que fazer — Suspirei — Tive muito medo, eu não sou boa em tomar decisões, e só fico adiando, e sabia que uma hora isso iria acabar dando merda
—– Você cometeu um erro gravíssimo, e sua punição era pra ter sido outra, tem sorte de estar tendo uma segunda chance — Tim reforçou
—– Sim, eu vou tentar ver por esse lado — Assenti olhando pra ele
—– Pelo menos come alguma coisa — Billy sugeriu — Você está grávida e pode se sentir mal, se quiser eu ainda tenho alguns bolinhos guardados aqui
Ela enfiou a mão no bolso, mas eu parei ele com as mãos.
—– Não, obrigado, não estou com fome
—– Já sabe pra onde vai? — Tim perguntou
—– Ainda não — Voltei os olhos pra ele, completamente perdida
O Tim mudou de uma expressão triste para um semblante sério em segundos.
—– Desculpa, Olivia, o Dom proibiu a gente de te ajudar, e disse que você não pode usar nenhum dos carros da mansão, nem mesmo o seu, e você vai ter que me entregar o cartão que está contigo, e até melhor pra sua segurança, assim não vão poder te rastrear
—– Está bem — Suspirei pesadamente
Peguei o cartão de dentro da bolsa e as chaves do carro e entreguei pro Tim que apesar de esconder a tristeza, dava pra ver o quanto ele estava desconfortável fazendo isso.
—– Eu também não quero nada dele — Soltei, brava — Não quero mais ter nada a ver com ele, morreu pra mim...
Tim suspirou fundo antes de me olhar.
—– Sinto muito por você — Ele disse — Eu queria poder fazer alguma coisa, mas eu não posso
—– Tudo bem, eu entendo — Falei, depois encarei os outros — Foi muito bom conhecer vocês, os dias que passei aqui, foram incríveis, muito obrigado
Fui até a Meg e a abracei, por algum motivo ela não correspondeu ao meu abraço, mas acredito que é porque ela ainda está um pouco chateada com tudo.
Me afastei e encarei os seus olhos puxados.
—– Fala pro Joe que eu sinto muito e que eu o amo — Falei e ela assentiu
Abracei o Tim, e uma lágrima rolou dos seus olhos.
—– Se cuide — Ele assentiu e limpou os olhos rapidamente
Na vez do Billy, senti que ele colocou algo no bolso da minha calça.
Quando nos afastamos, ele piscou pra mim.
Depois de me despedir de todos eles, peguei a mala e segui em direção a porta de saída.
As lágrimas rolavam pelo meu rosto a todo instante, e uma angústia se instalou em meu peito.
Noah correu até mim, e eu agarrei a sua mão para que pudesse me acompanhar.
Nem me dei conta que estava andando rápido demais, eu só quero sair daqui o quanto antes.
Curiosa, eu enfiei a mão dentro do bolso e puxei de dentro a chave de um carro.
Fiquei muito comovida com essa atitude do Billy, ele sempre foi um ogro, nunca demonstrou carinho ou algo do tipo, mas acho que ele só está querendo me recompensar por ter sido legal com ele.
Não era o meu Bentley, mas dá pro gasto.
Fui até a garagem e avistei o meu carro, fiquei triste porque eu pensei que a gente ia ter muitas aventuras pela frente, acho injusto o Dom me tomar algo que me deu de presente, mas se o Tim disse que é pra minha segurança, então vou preferir ver por esse lado
O carro do Billy é mais discreto e não é o mesmo que ele costuma usar nas missões, deve ser por isso que ele me deu.
Ele me disse uma vez que Jonny e ele costumavam usar esse carro quando pra pescar, eles sumiam por dias e ninguém conseguia rastreá-los.
Noah entrou no carro e sentou no banco da frente, coloquei o cinto nele.
—– Pronto para a nossa aventura? — Perguntei fingindo empolgação
—– Sim — Ele respondeu animado
Sorri pra ele, mas a verdade é que eu queria chorar e gritar pra ver se o meu corpo se alivia de todas as emoções horríveis que estou sentindo.
Passei a noite dirigindo, até estacionar em um posto de gasolina que eu achei que era o melhor lugar pra dormir, mais calmo, silencioso.
O meu carro estava estacionado entre dois caminhões e senti que assim ficaria mais protegida.
Coloquei o Noah pra dormir no banco de trás para ele ficar mais confortável, entreguei o coelhinho de pelúcia pra ele e depositei um beijo em sua testa.
Depois que ele dormiu, tentei me acomodar no banco da frente, mas é óbvio que eu não consegui dormir. A minha mente estava repleta de memórias ruins além do meu corpo estar lidando com os sintomas de uma ansiedade extrema.
Eu não posso dormir sabendo que a qualquer momento alguém pode vir aqui e nos matar.
Esse é o preço que você paga por amar um mafioso.
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