37
Dom.
O motivo de eu não ter acordado a Olívia não é só porque ela parece um anjo quando está dormindo, mas também porque surgiu um imprevisto de última hora.
Digamos que eu vou ter que me encontrar com um velho conhecido meu que está causando alguns problemas e a Olívia não tem que participar disso.
Quando eu voltar quero me desculpar com a ela por ontem, não foi minha intenção machuca-la.
Infelizmente eu não controlo os meus impulsos, e eu queria poder dizer pra ela que isso nunca vai acontecer, mas sei que estaria mentindo.
Mas eu vou me esforçar pra dar mais sorrisos a ela do que lágrimas.
Vou dizer a ela que eu a amo, e foda-se se vou parecer um trouxa dizendo isso, eu não me importo, só quero que ela saiba pra não ter mais dúvidas.
Assim que entrei no bar, vi que Victor me aguardava em uma mesa próxima a janela, exatamente onde eu imaginei que ele estaria.
Me sentei de frente pra ele e virei a cabeça pra trás apenas para fazer um sinal pra moça me trazer o de sempre.
Era nesse bar que eu costumava afogar as mágoas, as vezes saia daqui arrastado.
É uma vida da qual eu não sinto falta, bebi até meu fígado falar, chega.
____ É a primeira vez que o vejo sozinho, o que houve com o seu fiel companheiro? - Victor perguntou
____ Eu o mandei em uma missão importante - Falei serenamente - Eu reparei que apesar de você estar sozinho nessa mesa, seus companheiros estão sentados em mesas aleatórias calculando cada movimento meu e eu não preciso nem olhar pra saber onde ele estão
____ Sua percepção é mesmo impressionante.
____ Eu até viria sozinho, mas estou sem a minha arma da sorte e me sinto em desvantagem perto de você que ao contrário de mim trouxe o exército inteiro.
____ Corajoso da sua parte aparecer desarmado, não tem medo que eu possa te matar?
____ Você não entendeu, Victor, eu não estou sozinho
Ele olhou ao redor e depois me olhou confuso.
____ Não entendi mesmo, porque não vejo ninguém.
____ Não é só você que tem o seus truques
____ Não me diga que eles estão no teto - Ele debochou, depois olhou pra se certificar
____ Você tem uma visão boa?
____ O que?
____ Olhe pela janela, especificamente para aquela montanha ali - Apontei
Ele sorriu incrédulo, depois seguiu o meu dedo e estreitou a visão, logo sua expressão se fechou.
Tim estava deitado naquela montanha, camuflado em meio a rasa vegetação só esperando o meu sinal pra estourar os miolos dele.
____ Antes de atirar em mim, você já estaria morto - Sorri vantajoso
____ Ah, você trouxe o seu atirador? - Ele disse sem graça
____ Você e sua mania estúpida de sentar perto da janela, não pensou que poderia estar na mira de um " atirador "?
____ Nem todas as pessoas que eu me encontro, trás um fuzileiro.
Sorri ironicamente.
A garçonete trouxe a bebida e eu pisquei pra ela, fazendo a mesma sorrir maliciosa.
Se fosse outra época, eu teria aproveitado a oportunidade, mas agora estou estupidamente apaixonado por uma maluca.
Abri a garrafa e despejei a bebida no meu copo e no copo dele.
____ Bebe - Ordenei, ameaçando ele com os olhos
____ Não vou beber..
____ Ah que isso, não vai tomar uma comigo hoje?
____ Você tem o infeliz hábito de oferecer bebida antes de matar as pessoas
Abri um sorriso maldoso, o deixando incomodado, depois tomei a bebida de uma só vez, batendo o copo na mesa.
Depois inclinei e encarei bem os seus olhos tortos.
____ Vou ser bem direto, para de perseguir a minha mulher, o seu problema é comigo, porra, sei que colocou os seus capangas no encalço dela, e sei que vai gostar de saber que estão todos mortos, e você vai ser o próximo - Ameacei
Ele sorriu me encarando, doido pra me ver perder o controle, mas isso não vai acontecer porque eu tenho uma carta na manga.
____ Agora que eu descobri onde fica o seu calo, terei o prazer de pisar nele - Falou
____ Eu também descobri onde fica o seu..
Ele tentou se manter inabalável, mas o desespero o tomou de repente, e ele rapidamente pegou o celular e apertou os botões com os dedos trêmulos.
____ Mere? - Ele falou com os olhos fixos em mim - Verifique se o Nicolas está no quarto
Ele esperou um tempo na linha, enquanto olhava pra mim, depois fechou os olhos e respirou aliviado.
____ Filho de uma puta - Ele se exaltou
O homem que estava atrás se levantou e apontou uma arma pra mim.
As pessoas que estavam no bar se assustaram, e foram todas pra debaixo da mesa.
Encarei ele serenamente, e coloquei um belo sorriso no rosto.
____ Fica longe do meu filho - Gritou as palavras
____ Fica calmo se não você vai ter um infarto, não esquece que você é um velho, apesar de consegui a dádiva divina de ter um filho com essa idade..
Seu comparsa se aproximou, mas ele fez um sinal com a mão para ele parar.
Acomodei na cadeira e olhei pra ele, ali em pé, se esforçando pra respirar.
____ Por favor, não o machuque, ele é só uma criança, não tem culpa de nada..
____ Não vou, mas se continuar colocando seus homens para perseguir a minha mulher, vou garantir que nunca mais veja o seu filho..
Ele engoliu a seco.
Tirei um dinheiro do bolso e coloquei sobre a mesa, depois arrastei a cadeira e me levantei.
____ Passar bem - Falei pra ele e para seus comparsas que estavam com sangue nos olhos
____ Tem sorte de não ter filhos - Ele disse antes que eu pudesse sair pela porta - Não sabe como dói só a ideia de perde-los
Não sei porque me veio o Noah na cabeça, ele nem é o meu filho e tão pouco o da Olívia, mas não deixa de ser uma pessoa importante pra mim.
Eu não me perdoaria se algo acontecesse com ele, a Olívia não me perdoaria.
Então tenho que fazer o possível pra proteger ele.
Me virei e olhei pra Victor.
____ É exatamente por isso que eu não quero ter filho nenhum.
Ao sair pela porta, peguei o telefone e liguei para o Marcos que fica responsável por pegar as crianças na escola.
____ Chama o Patrick pra ir com você, não estou com um bom pressentimento - Falei depois desliguei
Notei que havia algumas ligações da Donna, mas quando fui retornar o celular caiu no chão e quebrou.
Droga!
Um calafrio tomou o meu corpo de repente, olhei para o alto da montanha e reparei que Timóteo não estava lá.
Meu corpo entrou em estado de alerta.
Não tem como ficar pior, desarmado e sem celular em uma cidade desconhecida.
Virei o rosto e encarei Victor pelo vidro da janela. Ele me lançou um sorriso intimidador.
Deve ter farejado o meu medo.
Eu posso até estar com medo, mas ele jamais saberá disso, pois nunca deixo transparecer.
Eu não tenho medo de morrer, lido com a morte o tempo todo e estou convicto de que vou para o inferno.
Porém hoje não é um bom dia pra morrer, está muito calor e a rua está deserta, não quero acabar servindo de comida para os abutres.
Não faço ideia de onde está o meu irmão, da última vez que ele sumiu, encontrei ele dentro de uma lixeira, e ele só tinha dez anos, e havia fugido da escola porque quebrou um dente de um colega e estava com medo de eu espancar ele.
Espanquei ele mesmo assim, mas não me lembrava disso até então.
Abri um sorriso por essa provavelmente ser a única lembrança que eu vou ter.
E se essa porra foi sequestrado?
Talvez eu prefira morrer, do que passar pela dor de perder outro irmão.
Suspirei fundo, e caminhei até o outro da rua que era onde estava o meu carro, mas antes de abrir a porta, senti a presença furtiva de alguém.
Então me virei e acertei um soco no seu nariz fazendo o mesmo cair no chão.
____ Dom, calma sou eu - Tim disse colocando a mão na frente do rosto enquanto eu o segurava pela gola pronto pra desferir outro soco
Soltei ele, fazendo o mesmo bater a cabeça no chão.
Ele se contorceu no chão, olhei para os lados com o coração acelerado e ofegante, depois me voltei pra ele.
____ Quer me matar de susto, caralho?
Ele grunhiu e colocou a mão no nariz que estava sangrando.
____ Vamos, não é seguro ficarmos aqui
Ele levantou e me olhou com cara de bravo.
____ Onde você estava?
____ Eu fui cagar no mato, me deu uma dor de barriga, acho que foi a coxinha que comi mais cedo e...
Antes dele terminar de falar eu o abracei, suas mãos não corresponderam acredito que foi pela estranheza.
Não costumamos fazer isso, mas depois de hoje eu só queria dizer que o amo, e não tem outra forma melhor de expressar isso se não com um abraço.
____ Vamos dar o fora daqui - Falei e ele ficou parado por um tempo, depois entrou no carro
Ele encarou as mãos por um momento, depois olhou pra mim com olhos cheios de lágrimas.
____ Dom, desculpa, eu..
____ Não - Interrompi ele, e depois liguei o carro
Ele suspirou fundo e virou o rosto para a janela.
Olhei para os seus cabelos cheios de galhos e folhas, e sorri sozinho.
Antes de irmos pra casa, passei em uma joalheria pra comprar um presente especial pra minha morena.
A moça do balcão se assustou ao olhar pra Tim, mas tentou disfarçar e manter o profissionalismo.
____ Está tudo bem com ele? - Ela perguntou, vencida pela curiosidade
____ Está, ele.. - Olhei para o meu irmão e fiz uma breve observação - Caiu
Ela fez uma cara de pena, parece ter gostado dele, isso é um acontecimento histórico, alguém que gostou do Tim sem ele precisar abrir a boca.
Tim virou a cabeça e me fuzilou com os olhos, e eu me segurei pra não rir.
____ Quero que mostre todas as suas jóias, por favor - Fui direto ao ponto
Ela sorriu e me conduziu por um tour pela pequena loja.
Tim também aproveitou para olhar algumas jóias.
____ O senhor se interessou por alguma? - A moça perguntou, sorridente
____ Sim, gostei dessa - Falei apontando para uma aliança - Pode embrulhar
____ Ok.
Enquanto ela embrulhava a aliança ,eu olhei para Tim que estava ali namorando um colar e uns brincos.
____ Não acho que a moça da loja é do tipo que gosta de pedras, ainda mais, esmeraldas - Falei, me aproximando
____ Não é pra ela.
Ok, isso me deixou bem surpreso.
____ Então é pra quem?
____ É pra Milena, combina com a cor dos olhos dela - Ele disse com um certo brilho nos olhos
Mais um soldado que perdeu uma guerra.
____ Por acaso, você pretende se envolver com a Milena?
____ Sei lá, eu gosto dela.
____ Acho que você bateu com a cabeça forte demais - Me aproximei e pus a mão na sua testa - Com febre não está.
Ele agarrou a minha mão e tirou lentamente do seu rosto.
____ Eu estou falando sério dessa vez - Disse, convicto
____ Ok, eu acredito
A moça voltou com um sorriso radiante
____ Aqui está - Falou me entregando o embrulho - O senhor deseja mais alguma coisa?
____ Pode embrulhar o colar e os brincos de esmeralda, vou leva-los também - Falei fazendo Tim sorrir abertamente
Me sinto um imbecil, mas pelo menos hoje fiz uma coisa boa hoje.
____ Você acha que ela vai gostar? - Ele perguntou enquanto íamos para o carro
____ São caras, ela vai gostar só por isso - Falei me aproximando do carro e abrindo a porta
Sentei no banco do motorista e peguei o anel de dentro da sacola e observei por um instante.
É o mais caro da loja, mas acredito que o preço não vai importar mais do que o significado.
Quero me casar com ela, o quanto antes.
____ Antes de fazer o pedido, você tem que contar a verdade pra ela, Dom, sobre a Melinda - Tim falou
Peguei o anel e guardei dentro do bolso do meu paletó.
____ Eu vou contar - Falei com um pouco de medo
Tenho mais medo de perder a Olívia do que de morrer.
____ Porque isso pode influenciar na resposta dela - Ele completou
____ Eu sei.
____ Porque se não..
____ Tim..
____ O que?
____ Cala essa boca.
____ Ok.
Eu pensei em comprar um buquê de rosas, mas achei que ficaria muito brega, então desisti.
Porque eu teria que ajoelhar, e eu não sou homem de me ajoelhar aos pés de ninguém.
Quando cheguei em casa estavam todos com cara de velório, e pelo visto eu era o morto.
Já que assim que me viram, arregalaram os olhos como se tivesse visto uma assombração.
Olivia veio correndo até mim e me abraçou, depois tocou o meu rosto com as mãos frias me fazendo estremecer.
O jeito que ela me olhou, fez o meu coração disparar.
____ Pensei que estivesse morto - Suspirou com os olhos cheios de lágrimas e depois me bateu - Porque não atendeu o telefone?
Depois que recebe uns tapas na bunda, reclama.
Mas vou dar uma trégua dessa vez, já que ela passou o dia chorando por mim, e mesmo que não tenha acontecido nada, é bom ter alguém que chora a toa por você.
Agarrei seu rosto e encarei os seus lindos olhos cor de mel.
____ Desculpa, eu deveria ter atendido o telefone - Falei o que ela queria ouvir
Ela se agarrou a mim e não soltou mais.
____ Quanto drama desnecessário - Tim disse, depois foi até a Milena que estava roendo as unhas aflita
Ela olhou pra ele com a unha ainda na boca, e se assustou ao ver o seu estado.
____ Gatinho, o que houve com você? - Perguntou segurando o rosto dele com as duas mãos
____ Nada, eu - Ele me olhou com cara feia - cai.
____ Minha nossa, pelo visto, essa queda foi feia, está todo sujo, cheio de mato no cabelo, tadinho.
Ela começou tirar alguns galhos do cabelo dele, e isso me fez entender o porquê ele gosta dela, pelo simples fato dela cuidar dele.
A nossa mãe morreu quando o Tim nasceu, ele nunca conheceu o amor de mãe, talvez por isso ele vive nessa busca incessante por alguém que preencha esse vazio.
____ Eu trouxe uma coisa pra você - Ele disse com uma enorme cara de bobo
____ Pra mim? - Ela apontou pra si mesma
Ele balançou a cabeça positivamente, em seguida entregou o embrulho pra ela.
____ Ursinho, não precisava comprar nada pra mim - Falou, alisando o rosto dele, depois pegou rapidamente o pacote.
Ursinho, que patético. Tomara que a Olívia não invente nem um apelido carinhoso pra mim.
E se ela inventar, eu juro que eu me mato, prefiro quando ela me xingue, é mais emocionante.
Olhei pra ela e vi que estava sorrindo. Ela não faz ideia de como o sorriso dela é lindo, e não faz ideia de como ver ele me deixa feliz.
Ela olhou pra mim de repente, e eu desviei o olhar, primeiro pra baixo e depois para o Tim e a cara de idiota dele.
A Olívia debochou de mim, porque conseguiu captar minhas emoções melhor do que eu.
Ela sabe como me desconcertar.
A Milena, é claro, amou o presente e o Tim amou a reação dela, é um iludido mesmo.
____ Você comprou alguma coisa pra mim? - Olivia cobrou
Abri a boca, mas não consegui dizer uma palavra.
Caramba, ela me deixa nervoso.
Lembrei do que o Tim disse sobre contar a verdade pra ela, e até pensei em pular essa parte, mas vamos começar uma nova etapa nas nossas, não seria certo iniciar com segredos e mentiras.
A Olívia tem o direito de saber.
____ Dom? - Ela procurou os meus olhos
Então olhei pra ela e sentir o ar faltar. Falar sobre esse assunto não é tão fácil pra mim.
____ Olivia - Suspirei - Precisamos conversar
____ Ok.
Sorri fraco depois peguei em sua mão e subi com ela para o nosso quarto.
Ela se agarrou no meu braço e repousou a cabeça sobre ele.
Isso me fez sorrir, mas depois me fez ter medo, talvez ela nunca mais me veja com os mesmos olhos depois dessa conversa.
Certamente, será uma conversa longa e difícil.
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