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Dom correu os olhos brevemente pelo seu carro, e depois olhou pra gente com uma expressão serena.
____ De quem foi a ideia?
Fui burra em pensar que ele não desconfiaria de nada, mas não tem como esconder nada desse homem.
A gente estava a caminho do mecânico pra encobrir as provas, quando o Joe recebeu uma ligação dele dizendo que estava esperando pela gente em casa.
Eu deveria pensar que sendo o carro dele era óbvio que ele conseguiria rastrear através do smartwatch que tem no pulso.
Mas é óbvio que eu não pensei nisso na hora, só estava pensando em fugir da situação como sempre faço.
____ Foi minha - Confessei, dando um passo a frente
Ele direcionou seu olhar furioso pra mim me fazendo tremer um pouco.
____ Por que será que eu não estou surpreso com isso? - Ironizou
____ Olha só, deixa a Milena e o Joe fora disso, eles não tem culpa de nada, eu que sugeri que fossemos no seu carro - Alterei a voz - Quer punir alguém, me puna
Ele riu brevemente, depois fechou a expressão e olhou pra Milena fazendo ela encolher de medo.
____ Pode nos dar licença, por favor? - Ele pediu educadamente e ela assentiu cabisbaixa depois saiu do quarto e Joe a acompanhou
Quando Dom ia abrir a boca pra falar, eu virei as costas.
O Dom odeia que vire as costas pra ele quando ele está falando, e eu só faço pra provocar.
Adoro provocar ele de todas as maneiras.
Ele me agarrou pelos cotovelos e me virou pra ele fazendo meu cabelo bater em seu rosto.
Olhei para o meu braço e depois pra ele e sorri de deboche.
Ele ainda acha que pode me controlar, coitado.
____ Não vire as costas pra mim - Soltou entre os dentes, fazendo o meu sorriso desaparecer
Puxei o meu braço de volta e o confrontei.
____ Se não o que?
Ele levantou a mão, mas se arrependeu no mesmo instante e recuou.
____ Que foi, eu não posso ir ao shopping com a minha amiga? - Acompanhei ele com os olhos enquanto andava pelo quarto - Não foi pra isso que você mandou ela aqui? pra me fazer companhia enquanto você trabalha o tempo todo e não tem tempo pra mim, você até deu um cartão pra ela..
Ele agarrou os cabelos, impaciente, depois se voltou pra mim e suspirou profundamente
____ Não é sobre isso - Gritou
____ Então é sobre o carro?
____ Também não é sobre o carro, caralho, é sobre comunicação
Soltei uma risada incrédula.
____ Sério que você quer discutir sobre isso, você nem conversa direito comigo, e está exigindo comunicação da minha parte, vai se fuder.
Ele olhou pra cima como se pedisse uma ajuda divina, depois respirou fundo e voltou a olhar pra mim.
____ Quem te ensinou a dirigir? - Perguntou tentando se controlar
____ Não te interessa - Soltei irada
Ele avançou na minha direção e outra vez eu bati de frente com ele, ficamos nos encarando por um tempo.
Eu prometi pra mim mesma que jamais iria abaixar a cabeça pra homem nenhum e o Dom não é uma exceção.
Ele fechou o punho e recolheu a mão, depois suspirou pesadamente e foi até a janela afrouxando a gravata como se precisasse de ar pra respirar.
____ Sobre o que, quer conversar? - soprou as palavras
____ Sobre o seu dia, como foram as coisas no trabalho...
Ele virou pra mim e assumiu uma expressão dura.
____ Você não vai querer saber.
____ Vou sim - Falei convicta- Eu já sei quem você é, agora quero saber o que faz
____ Eu quero te poupar disso tudo, te proteger, então é melhor que você não saiba
____ Mas você nem sempre vai poder estar aqui - Suspirei e meus olhos se encheram - Quantos Demetrios mais, eu terei que enfrentar?
Ele abaixou a cabeça e encarou o anel em seu dedo, um pouco ressentido.
____ Eu tenho que me preparar, não sei o que me espera..
____ O Demétrio foi inesperado , mas aqui a segurança é reforçada, você não tem que se preocupar - Disse cabisbaixo
Agarrei o seu rosto e o levantei.
____ Eu quero fazer parte disso, eu quero lutar, essa guerra também é minha, Dom - Falei olhando dentro dos seus olhos
____ Não, não é - Ele recuou - E eu prometo que quando essa guerra acabar, a gente vai se mudar daqui, ter uma casa só pra gente, criar os nossos filhos..
Por um instante eu me senti feliz com isso, mas depois voltei a ficar triste porque talvez isso nunca aconteça.
Eu me apaixonei por um mafioso e estou mais do que ciente das consequências que terei que enfrentar.
Não exuste um final feliz.
____ Não, você só está me iludindo - Falei secando as lágrimas rapidamente - Essa guerra só vai acabar quando você estiver morto, e Dom, eu não quero que isso aconteça
____ Não vai acontecer - Ele disse convicto indo se sentar na sua poltrona
____ Como tem tanta certeza disso?
____ Porque até lá você já vai ter me matado de raiva - Ele falou com um meio sorriso depois fez sinal para eu me sentar no seu colo
Deixei escapar uma risada em meio às lágrimas.
Só ele pra fazer piada disso.
Fui até ele com passos lentos e me sentei no seu colo.
____ Idiota - Bati em seu peito de leve
Ele colocou um mecha do meu cabelo atrás da orelha e me encarou profundamente.
____ Agora me diga uma coisa, o que fazia fora da cidade?
Seu olhar estava me interrogando, e isso me fez tremer um pouco, mas eu não podia contar a verdade pra ele.
____ O gps...
____ Não, não tem nada de errado com o gps do meu carro, uso ele pra viajar e está funcionando normalmente.
Engoli a seco, e pensei em outra desculpa pra inventar.
Contar mentiras faz parte da minha personalidade.
____ Olivia, por favor, não minta pra mim
____ Não estou mentindo, eu segui a rota que estava pedindo no gps e acabei me perdendo - Falei, olhando nos olhos dele
____ Ok - Ele suspirou indignado me tirando de cima do seu colo
Eu sei que errado mentir pro Dom, mas ele também nao me conta nada sobre o passado dele, então estamos kits.
Apesar do clima tenso, a gente tomou banho juntos, e depois descemos pra jantar.
Estavam todos reunidos, o que não acontece com frequência, mas como é o primeiro jantar da Milena em casa, eles queriam causar uma boa impressão.
Ela estava sentada em uma cadeira entre o Billy e o Tim, pra variar.
Sanguessugas.
____ Vamos blindar a chegada da Milena em nossa casa - Dom sugeriu levantando a taça e depois todos fizeram o mesmo
____ Seja bem vinda, Milena - Donna disse com um meio sorriso
____ Obrigado - Ela agradeceu timidamente
____ É um prazer imenso tê-la aqui conosco - Tim falou olhando diretamente pra ela - Literalmente
Milena sorriu fingindo uma vergonha que ela não tem, depois tomou um gole de vinho.
O jantar foi tranquilo até um certo ponto, pois Tim quando bebe perde totalmente o controle de suas palavras e sai falando um monte de palavrões desnecessários.
Ainda bem que jantamos separados das crianças, imagina quantas palavras novas elas não iriam aprender.
Mais tarde levei a Milena até o quarto do Noah para que ela pudesse vê-lo, o Call também estava por lá.
Aproveitei para vê-lo também, pois apesar de morarmos na mesma casa, nunca nos encontramos.
Noah ficou feliz em vê-la, eles se dão muito bem. Já o Call parece não ter gostado muito da presença dela.
____ Olha, Olivia, eu fiz um desenho - Disse Noah, empolgado me trazendo uma folha de papel
____ Sério, meu amor, deixa eu dar uma olhada - Falei sorridente, pegando a folha de papel
Ele tinha desenhado uma casa igual à que morávamos antes, e também tinha desenhado duas mulheres e um garoto, uma representação da nossa antiga família.
____ Gostei, ficou muito bonito - Elogiei devolvendo a folha pra ele
Ele sorriu e levou a folha de papel de volta pra cama que é onde estão o resto das coisas.
____ Também fiz um - Call disse, sério
____ Que ótimo, deixa eu ver?
Eu estava me sentindo uma professora de pré - escola.
Mas ao ver o desenho do Call, fiquei um pouco incomodada. Ele havia desenhado ele ao lado do pai, ambos com uma arma na mão, e no chão haviam alguns corpos ensaguentados.
Voltei os olhos para o Call e ele sorriu de uma maneira que me deixou desconfortável.
Perdi até as palavras.
Milena puxou a folha de papel das minhas mãos e visualizou.
____ Muito criativo, garoto, mas que tal você deixar a gente sozinha com o Noah - Ela sugeriu entregando o desenho de volta pra ele - Precisamos conversar um pouco com ele
Fuzilei Milena com os olhos porque não gostei do tom que ela usou com ele.
Call tirou os olhos de mim e os direcionou pra Milena, e fechou a cara.
____ Ela tem razão, Call - Chamei sua atenção - Outra hora, você vem brincar com o Noah
Sua expressão suavizou um pouco e ele saiu do quarto levando o desenho com ele.
Assim que ele saiu, eu me sentei na cama um pouco chocada.
____ Você deixa ele brincar com o Noah? Ele não é grande demais pra isso? - Milena perguntou
Levantei os olhos e olhei pra ela.
____ Não se deixe enganar pelo tamanho, ele tem apenas treze anos, ainda é uma criança e gosta muito do Noah
____ Credo, treze anos, ele é maior do que eu - Ela riu surpresa - Mas eu notei como os homens dessa casa são grandes, principalmente o Billy, e eu não falo só da altura
____ Dar pra você não falar essas coisas, perto do Noah?
____ Ops, foi mal - Ela riu - Mas é sério, o desenho que aquele garoto fez não foi nada legal
____ É só um desenho.
____ Um desenho onde a cor mais predominante é a vermelha ou seja ele descreveu um verdadeiro massacre.
____ Ele é um adolescente, costumam ficar fascinados por esse tipo de coisa, mas depois passa..
____ Sei.
____ Ele é um garoto bom, apesar de viver em um ambiente extremamente violento, e ter tido um péssimo pai, na verdade o pai dele era um monstro..
Milena estranhou a forma como eu me referi ao pai do Call, e ela nem sabe da história.
Um dia vou contar pra ela sobre o que aconteceu, mas agora não é o momento pra ter essa conversa.
Eu ainda não me sinto confortável pra falar sobre o assunto.
____ Mais um motivo pra você se preocupar, então
____ Eu vou ter uma conversa com ele, tá bom pra você?
____ Tá otimo, amiga, assim eu fico mais tranquila.
A Milena sabe que o Noah é o meu filho, contei pra ela quando iniciei como acompanhante e disse que esse era o motivo de eu estar ali, e sempre que eu pensava em desistir, ela me lembrava que eu tinha um filho e que ele precisava de mim.
Ela pegou muito no meu pé durante esse tempo.
E isso pra mim foi essencial pois me ajudou a me ver como mãe e perceber que eu devia amor ao meu filho mais do que qualquer outra coisa.
Eu sou muito grata a Milena por toda a raiva e estresse que ela me fez passar, tentando enfiar isso na minha cabeça.
A gente ficou um tempo colorindo desenhos com o Noah, e depois que ele dormiu, fomos para os nossos quartos.
Dom já estava dormindo, e eu por outro lado não consegui pregar o olho pensando no desenho que o Call fez.
Eu sei que garotos costumam desenhar esse tipo de coisa, mas se tratando do Call, isso é preocupante, considerando o que ele vivenciou.
E a forma como ele me olhou, deu pra enxergar uma faísca de maldade, ainda que bem pequena.
Foi assustador.
Levantei da cama, inquieta, e fui até o quarto do Noah pois sentir que não iria ficar em paz enquanto não fizesse isso.
Ele estava dormindo para o meu total alivio, depois fui até o quarto do Call e vi que ele também dormia.
A cortina estava aberta, e a luz da lua iluminava parcialmente o quarto.
Talvez seja apenas uma paranóia minha, e ele só tinha feito um desenho qualquer.
Corri os olhos brevemente pelo quarto e vi um pote de vidro, e dentro dele havia a bituca de cigarro que o seu pai havia dado a ele naquele dia fatídico.
Não acredito que ele guardou como recordação.
Vai ver o Demétrio que eu conheci não era o mesmo que ele conheceu, e ele deve sentir muita falta.
Ele não era o melhor pai do mundo, mas acredito que era o melhor pra ele.
Sorri comovida, depois puxei a porta devagar e fechei.
O Call nunca vai ser igual ao Demétrio, ainda tem luz nos olhos dele, quando eu olhava para o Demétrio não via nada além de escuridão.
E o Call é a única coisa boa que ele deixou, e eu não quero que ele acabe ficando igual ao pai, mas por outro lado não posso evitar que isso aconteça.
Se eu não cuido nem do meu filho, como vou poder cuidar dos filhos dos outros.
Bom, mas isso não precisa virar o motivo da minha insônia, e nem a tal comunicação que o Dom quer propôr, sendo que ele próprio troca duas palavras comigo e quer que eu me contente com isso.
Mas talvez eu esteja mal acostumada, o Pablo costumava me colocar em um pedestal, e fazia questão de demonstrar sempre o seu amor, e como o Dom não faz nada disso, acabo pensando que ele não me ama de verdade.
Porque acredito que amor seja isso, infinitas demostrações de carinho e afeto, mas aos poucos vou percebendo que não precisa de um " Eu te amo" pra convencer a pessoa de que você realmente ama ela.
Talvez o Dom me ame do jeito dele, e demostre através de minúsculos gestos de gentileza, dá pra ver que ele está se esforçando. Ele aprendeu a ser durão, não vai ser do dia pro outro que seu coração de pedra vai amolecer.
Eu só preciso ter um pouco mais de paciência.
Mas ainda tem essa tal de Melinda, não sei qual é a dela, e não sei se o Dom de alguma forma ainda sente algo por ela, e por isso não quer se entregar pra mim.
Fico com ciúmes só de pensar.
E se ela de alguma forma aparecer e tentar destruir o que estamos tentando construir?
Ainda falta muitos tijolos.
O mesmo serve para o Pablo, eu estou mais do que certa de que não sinto mais nada por ele, porém não sei como irei reagir se ele aparecer um dia, afinal de contas, ele foi o meu primeiro amor.
São sentimentos que não somem assim do nada.
Mas eu não quero pensar nisso agora, e não vou pensar, só quero dormir e descansar a minha mente, se não é bem provável que eu sofra um colapso mental.
Amanhã reflito melhor sobre tudo isso.
Mas assim que fechei os olhos, comecei a escutar gemidos e barulhos estranhos vindos do quarto ao lado.
E lá se foi a minha chance de ter uma boa noite de sono.
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