27
Eu nem acredito que a encontrei depois de quase ter desistido de procurar.
Estou eufórico, meu coração está batendo forte, e eu pensei que nem tinha um, depois dele ter parado de bater uma vez.
Porra, não consigo respirar, minhas mãos estão suando, e sinto que tem algo revirando no meu estômago e espero que não seja as tais borboletas.
E eu não queria sentir nada disso por ninguém, mas são coisas que não consigo controlar quando acontece.
Depois de um tempo sem sentir isso você até se assusta, fica paralisado, sente medo.
E eu tenho medo de sentir isso de novo, tenho medo de me perder como eu me perdi.
A primeira vez que ocorreu, era como se eu estivesse renascendo depois de tanto tempo morto. Melinda trouxe luz para minha escuridão, ela me fez enxergar cores em um mundo preto e branco onde só havia morte e destruição, e era o principal causador de todo esse caos, toda vez que ela me abraçava eu me sentia seguro, vivo, e agora tudo é motivo para eu me sentir ameaçado.
Aquilo era novo pra mim, viciante, nunca havia experimentado algo tão intenso. Eu me joguei de cabeça e sofri um traumatismo craniano, eu sofri calado, e assim como a droga, eu vivi dias terríveis de abstinência.
Agonia, dor, desespero.
Aquilo foi me consumindo, me tirou a paz e a vontade de viver.
Não quero sentir isso de novo, não sei se conseguiria suportar, não quero me sentir como se eu estivesse despedaçando por dentro.
E às vezes sinto dores no peito pra me lembrar do quão ruim foi tudo isso, e pensar duas vezes antes de me afundar de novo.
De todos os meus inimigos, o amor é o único que não consigo derrotar.
Pensei em recuar, mas eu não consigo me mover do lugar.
Ela está lá como um belo rio na minha frente que tenho muita vontade de entrar, mas tenho medo de me afogar.
Essa mulher tem que estar na minha vida de um jeito ou de outro.
____ Dom, que bom que te encontrei, pensei que tinha acontecido alguma coisa - Joe disse ofegante se apoiando no meu ombro - Te liguei várias vezes, porque não atendeu?
____ Fui roubado - Suspirei ainda com os olhos grudados no belo rio
____ Sério? E o senhor está bem? - Joe, perguntou assustado se colocando na minha frente
____ Sim, eu estou ótimo - Empurrei ele para o lado e dei um passo adiante, mas depois parei.
Não, Dom, é arriscado demais.
Joe ficou sem entender até ver o que estava tirando o meu foco ou quem.
Ela me atraiu feito um ímã, por mais que eu tente não consigo sair do seu efeito magnético.
____ É ela?
____ Sim.
Ela estava vestida com pedaços de roupas, igual a maioria das mulheres que tem por aqui.
Eu não quero que ela se vista assim, então a primeira coisa que irei fazer é jogar todas suas roupas fora e comprar outras que vão favorecer seu belo corpo sem deixá-la vulgar.
Não quero homens desejando o que é meu, ao mesmo tempo que quero que eles vejam a bela mulher do meu lado, e saibam que jamais poderão possui-la.
Quero tirar ela dessa vida, para que ela reconheça seu verdadeiro valor, e quero acima de tudo, ajudá-la.
Mas querer não é poder, e tenho um pressentimento que esse diamante bruto vai dá trabalho pra lapidar.
____ Ela é mesmo muito linda, senhor - Joe suspirou admirado, olhei torto pra ele - Com todo respeito é claro
Encarei minhas mãos trêmulas, e tentei controlar a respiração.
Eu consigo não me envolver, ela deve ter algum defeito que eu abomino e vai me fazer perder o interesse por ela.
Por enquanto só irei usá-la, eu preciso de uma mulher pra me distrair, e ela é uma perfeita distração.
Tudo que sinto no momento é carência, e quando passar, ela será apenas uma mulher qualquer.
Quando eu voltei a olhar pra ela, percebi que havia desaparecido novamente.
Num piscar de olhos.
A raiva me fez cerrar os punhos com tanta força que se eu socasse alguém era perigoso essa pessoa ir parar no espaço.
Minha raiva é do tipo, se eu não canalizar sinto que irei explodir.
____ Dom, o que houve? - Joe me tocou assustado e confuso.
Fechei os olhos e respirei fundo para não acabar descontando nele a minha ira.
Então usei toda minha energia pra procurar por ela, naquela feira lotada.
E como já era de se esperar, eu não a encontrei.
Agarrei os cabelos, impaciente, e então olhei para a mulher com quem ela estava conversando e decidi me aproximar.
____ Você aí - Chamei sua atenção, ela levantou os olhos e me encarou confusa
____ Eu o que? - Retrucou brava
Percebi que algo se mexia debaixo da barraca, a princípio pensei que era um cachorro, mas era apenas um garoto.
O que é pior.
Ele se levantou e me olhou acuado, depois agarrou a barra da saia da velha.
Estava maltrapilho e com a aparência um pouco debilitada, como se estivesse doente.
Eu nunca gostei de criança, mas confesso que esse garoto me deixou um pouco incomodado, pra não dizer comovido.
São poucas as coisas que me comovem.
Desviei os olhos dele e encarei a velha que já estava me encarando a um bom tempo.
____ Por acaso sabe pra onde aquela garota, foi? - Perguntei sério
Joe se aproximou e parou do meu lado, mas não dava pra levar ele a sério vestido daquele jeito.
Parecia que tinha acabado de chegar do Havaí.
____ Sim, e pra que você quer saber? - Ela cruzou os braços
____ Isso não te interessa
____ Me interessa sim, pois ela é minha filha, e não te darei nenhuma informação enquanto não me dizer o que deseja com ela.
Odeio quando as pessoas me desobedecem, isso me tira do sério e a vontade que tenho é de mata-las, mas preciso dessa velha pra chegar até a filha dela.
Então terei que ser mais cauteloso, vou tentar outra abordagem.
____ Me desculpa senhora...
Joe me olhou sem entender o porquê eu estava pedindo desculpas, sendo que eu nunca faço isso.
E a verdade é que nem eu sei.
____ Eu me excedi, é porque eu não moro aqui, e na minha cidade as coisas funcionam de outro jeito, eu não queria assusta-la.
____ Percebi mesmo que não é daqui - Ela deu uma volta por mim, e me olhou de cima a baixo - Bonito, elegante, e rico
Ela enfatizou bem a palavra rico, então sei como posso falar a mesma língua que ela.
____ Sua filha, achei muito bonita, e estou interessado nela, eu estou disposto a pagar o preço que for pra tê-la ao meu lado - Falei baixo
Um sorriso ambicioso se estendeu em seus lábios.
Eu não consumo julgar as pessoas até porque não sou um bom exemplo, mas essa mulher é o ser mais desprezível da face da terra, pelos simples fato de trocar a filha por dinheiro.
Mais um motivo pra querer salvar a Olívia dessa vida miserável.
Ela não merece isso.
A raiva que eu sentia no início parecia ter evaporado e deu lugar para um instinto protetor que eu só costumo ter pelos meus irmãos.
De repente eu queria protegê-la de tudo e de todos.
Ao longo da conversa contei aquela mulher quem eu era de verdade e quais eram minhas reais intenções com a sua filha, e ela não pareceu ligar muito só queria saber do dinheiro.
Dei a ela um adiantamento e disse que ela teria que convencer a Olívia a se casar comigo, pois eu não queria forçar a barra, não queria que a Olívia tivesse uma impressão errada de mim.
Logo eu, que tenho as mãos manchadas de sangue, mas eu não quero nunca que a Olívia saiba quem eu sou de verdade, nem as coisas que eu já fiz e faço.
Não quero que ela me odeie igual todo mundo, e nem quero que sinta medo de mim, mas também não quero que ela me ame, pois me amar nesse momento será muito desgastante, porque eu não vou saber lidar.
Mas vou satisfazer todas as necessidades dela, vou protegê-la, e dar a ela a vida digna de princesa.
Isso eu garanto, desde que ela fique bem longe do meu coração.
Já tenho uma bala alojada no peito, não quero outra.
Dei para aquela mulher o meu endereço e um número de telefone novo para mantermos contato.
Marcamos aquele almoço na casa dela, onde meus olhos se encontraram com os de Olivia pela segunda vez e ela parecia não se lembrar de mim como eu me lembrava dela.
E eu me lembro nitidamente da noite em que ela me insultou e me deu um banho de vinho, e o que antes era motivo de raiva, hoje me faz rir.
Por mais que eu tentasse disfarçar bem, eu estava ansioso esse dia, minhas mãos tremiam enquanto eu manuseava os talheres, minha boca ficou seca, coração acelerado, e a comida nem descia pois tinha um nó na minha garganta.
E ela não fazia a menor ideia.
Puta merda!
Pela primeira vez na vida eu me senti assim, com a Melinda era tudo tão natural, ela não me julgava, eu conseguia ser eu mesmo perto dela.
E com a Olívia, eu tenho medo, medo que ela descubra coisas ruins sobre mim e isso mude sua forma de me enxergar.
A roupa que eu comprei caiu como uma luva, e ela estava deslumbrante.
Eu não consigo me controlar quando estou perto dela, ela me faz perder a postura.
Seu olhar é o único capaz de me desconcertar.
Nesse almoço, ela me fez sentir prazer, alegria, raiva e fez eu ir embora puto da vida.
Puta garota abusada.
E desde então isso é tudo que ele vem causando em mim, ela me irrita pra caralho, e me faz passar dos limites, eu me arrependo amargamente por todas as vezes que a fiz chorar, não foi pra isso que trouxe ela pra cá, nada disso estava nos meus planos.
Eu tirei a rosa mais linda do jardim e estou fazendo o possível para não deixar ela murchar, mas é muito difícil.
Essa é a minha essência, não tem como mudar da noite pro dia e nem sei se isso é possível, eu tento salvá-la de tudo, mas as vezes esqueço que eu não sou uma excessão.
Preciso protegê-la de mim.
Eu não sei como vou faze-la feliz, se só faço merda, mas vou tentar. Eu preciso dela aqui, pois sinto que se eu perdê-la, eu me perco e perco tudo.
Mas agora eu preciso de um tempo pra processar o que aconteceu, eu fecho os olhos e tudo vem a tona, parece um pesadelo que nunca acaba, eu falhei, falhei com quem eu deveria proteger, e matei quem eu deveria perdoar, mas como perdoa alguém que fez algo tão desumano, eu não consigo entender, ele dei tudo a ele, justamente para não tomar o que era meu, confiei cegamente e mesmo assim ele me traiu.
Foi muito difícil tomar aquela decisão, eu dei uma chance dele se redimir, mas ele simplesmente ignorou, e suas palavras vão me atormentar pelo resto da vida, eu fiquei cego na hora, não pensei direito e agora ele está morto.
É tudo culpa minha.
Eu sofri muito quando me entregaram o corpo do meu outro irmão, eu fui até o inferno buscar o assassino dele e não tive piedade.
Estamos condenados por essa maldição de família que cedo ou mais tarde alcançará todos nós.
Mas o Demétrio, ele mesmo se condenou, ele sabia do que iria acontecer com ele e não hesitou em machucar o meu bem mais precioso.
Eu estou sem chão, sem rumo, quase entrando em coma alcoólico, não tenho lágrimas, não tenho força, e queria passar o resto da minha vida em cima dessa cama.
Tem quem diga que mafioso não sofre, eu sofro pelos meus.
Mas eu não posso me abalar agora, eu ainda sou o Dom e tenho que terminar a guerra que comecei, antes de entregar as armas.
Preciso me reerguer.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro