21
Eu estou ficando mal acostumada com as babás do Noah, elas tem passado tempo demais com ele, e eu quase não o vejo, e isso faz eu me sentir mal porque eu sempre estou distante dele de uma forma ou de outra, e acabo não participando do seu crescimento, sem contar que ele é só uma criança, e precisa de cuidados especiais. Aqui ele tem o próprio quarto, horário pra comer e dormir, além de frequentar a escola, acompanhado por um bando de homens armados, com cara de mal.
Ele é tão pequeno pra entender tudo isso, tenho medo que ele cresça e vire um maluco igual a todo mundo aqui.
As babás cuidam dele melhor do que eu, e até ensinam ele a falar outras línguas, enquanto eu não faço absolutamente nada, fico vagando por essa casa imensa atrás de alguma coisa pra fazer e não acho, não nasci pra ficar parada, ficar parada me enche de ansiedade e me faz lembrar de coisas ruins.
E o Dom nem está aqui pra eu possa atormenta-lo, ele disse que ficaria fora uma semana, e já vai fazer um mês.
Às vezes eu fico me beliscando pra ver se não é um sonho, já que do nada eu fiquei rica, e eu nem precisei chupar nenhum velho pra isso.
Na verdade tudo nessa nova vida me impressiona, porque eu vim de uma vida miserável, então simples fato de poder comer todos dias já é motivo pra comemorar. Hoje eu tenho roupas de grife, maquiagem cara, jóias, coisas que eu só via na casa das madames que eu trabalhava e hoje eu tenho tudo que elas tem e um pouquinho mais.
Agora eu não preciso mais vestir as roupas com medo da patroa chegar em casa, porque a patroa sou eu, e isso é tão assustador e ao mesmo tempo empolgante.
Minha mãe tinha razão, você pode até rejeitar a riqueza no começo, mais uma vez dentro dela fica difícil resistir, mas ao contrário dela, eu não sou doente. A vida de alguém sempre vem primeiro que um par de brincos de ouro, mas se a vida dela estivesse em jogo, talvez eu iria preferir os brincos, eu até iria procurar um vestido pra combinar com eles.
Ela me vendeu, mas isso não foi a pior coisa que ela já fez por dinheiro. Agora mais do que nunca, eu reconheço isso, e quero que ela pague, quero que ela sinta na pele a dor que eu senti.
Ela sempre se aproveitou da minha ingenuidade pra me usar, quando eu era pequena ela me deixava com fome por dias para que tivesse magra o suficiente para ele me levar pra feira e fazer o seu teatro de sempre, na maioria das vezes funcionava, e quando não dava certo, ela sempre descontava suas frustrações em mim.
Ele me expôs aos piores tipos de pessoas possível, e me obrigou a passar pelas piores humilhações por causa de dinheiro. Uma vez fiquei doente depois dela me deixar dormir no frio por várias noites, e ela ergueu toda uma campanha para arrecadar dinheiro para o meu tratamento, eu quase morri, e ela só se preocupava com o saldo da sua conta bancária.
Eu nunca entendi a ganância dela, nem motivo dela me maltratar tanto, eu não conheci o meu pai, e ela nunca falou sobre ele, uma vez ela me disse que casou com um homem rico, mas quando ele descobriu que ela estava grávida, ele a deixou, talvez seja por isso que me odeia tanto, porque eu a impedi de usufruir da sua riqueza como ela queria.
Ao contrário dela, a minha avó me adorava, ele me deu todo amor que pôde até o dia da sua morte, que foi o pior dia da minha vida. Ela morava com a gente, minha mãe cuidava muito mal dela, roubava todo seu dinheiro, e a deixava com fome. A irmã da minha mãe que morava em outra cidade ia nos visitar às vezes, mas a minha mãe sempre arrumava um jeito de deixar tudo normal.
Assim que minha avó morreu, minha mãe enfiou um homem dentro de casa, e tudo ficou ainda pior. Eu nunca mais fui feliz, até o dia que conheci o Pablo, ele trouxe cor para o meu mundo preto e branco, é doloroso dizer que a cada dia que passa, o amor que eu sinto por ele vai diminuindo, eu simplesmente não penso nele com a mesma frequência que antes, sua imagem não é a primeira que aparece quando fecho os olhos, e isso me deixa muito mal. Eu costumava pensar que estava vivendo um conto de fadas ao lado dele, mas agora vendo do lado de fora, percebo o quanto nossa relação era tóxica.
Repleta de traição e mentira, a maioria da minha parte, o seu pai tinha razão, eu não merecia o Pablo, tudo que fiz foi fazer ele sofrer, eu o abandonei pela segunda vez e o motivo nem foi tão cruel quanto o outro.
Ter ido embora foi a melhor coisa que deveria ter feito, por mais que eu me negue a aceitar isso.
É melhor que ele nunca saiba a verdade se não vai me procurar e pode acabar morrendo, e eu não quero que isso aconteça.
......
Tim está me ensinando dirigir, e escolheu o melhor lugar pra fazer isso, uma avenida lotada de carros e pessoas passando pra lá e pra cá.
Ele é um bom instrutor apesar da falta de paciência e dos palavrões que ele fala.
Até agora já atropelei três lixeiras e bati em um carro parado, e Tim ainda queria matar o motorista pelo incidente que nós mesmos causamos.
Eu sempre tive interesse em aprender a dirigir, pois achava o máximo ver aquelas mulheres na tv dirigindo um conversível, era muito sexy.
E eu quero ser sexy, quero mais do que nunca impressionar o Dom, e mostrar pra ele o que é que manda de verdade.
E nada melhor do que levando ele pra dar uma voltinha de carro pela cidade.
Mas antes tenho que tirar o carro do ziguezague, e isso vai levar um tempinho, ainda mais com um psicopata como instrutor.
____ Esse daí, você pode passar por cima - Tim ordenou, se referindo a um pobre idoso que atravessava a rua em câmera lenta
Fuzilei ele com os olhos, e ele sorriu como se não fosse nada.
____ O que, ele já tá quase morrendo mesmo.
Um mês, e eu estou tentando ao máximo não pensar no Dom, nem me preocupar, mas a verdade é que eu estou morrendo de saudade dele e não consigo mais esconder, e os meninos aqui da casa não perdoam, sempre que tem oportunidade, eles ficam fazendo piadinhas da minha situação.
O Joe é o único que não está rindo da minha cara, até porque ele não está aqui, se não, não me deixaria em paz um segundo, foi pra ele quem eu mais falei que odiava o Dom, sem contar que ele sabe do meu segredo, pelo menos de parte dele.
As vezes eu me esqueço disso. Às vezes eu esqueço que a qualquer momento esse sonho pode virar pesadelo.
Estava passando pelo corredor quando vi a Donna saindo de um quarto, ela estava toda misteriosa.
Me escondi assim que ela olhou na minha direção, ela ficou olhando um tempo depois trancou a porta e saiu.
Dominada pela curiosidade, fui até a porta e olhei o número.
234.
Esse número ficou martelando na minha cabeça o dia todo. De quem era aquele quarto? Porque a Donna estava saindo de lá?
Me assustei com o toque da Meg no meu ombro.
____ E aí cunha.
Ela estava toda de preto, com uma jaqueta de couro, botas de cano curto e cadarços finos que são a marca registrada deles
Além do seu cabelo grande e liso, que brilha como ceda.
Estávamos na cozinha, que é o lugar que eu mais gosto, pois além de pensar eu posso descontar minha ansiedade na comida.
____ Tá apaixonada por mim? - Ela questionou estranhando a forma como eu a olhava
Nem eu percebi que estava encarando tanto.
Mas como não olhar, sua beleza é surreal, ela é completamente diferente dos irmãos, e eu tenho medo de perguntar por quê.
____ Não, só estou pensativa - Desviei o olhar
____ Tá pensando em que? - Perguntou mordendo uma maçã.
____ Em tudo, eu nem sei porque eu estou aqui, nem o meu propósito..
____ Na real, ninguém sabe o verdadeiro propósito, do nada a gente surge na terra e do nada vamos embora ..
____ Não estou falando disso.
____ Quer saber por que o Dom te escolheu?
____ Sim.
____ Só ele vai poder te dizer.
____ Ah, claro - Suspirei, aborrecida - A explicação de é " Se eu vejo algo bonito, eu compro.
Imitei a voz do Dom, fazendo a Meg sorrir, mas depois ela fechou a expressão rapidamente, como se sorrir fosse um erro.
Ele se levantou da cadeira e me encarou profundamente.
____ Eu sei que ele é um pouco cruel às vezes, mas poderia ser pior, isso aqui não é um filme de romance e tragédia não, Olivia, é só tragédia, muitas mulheres são vendidas como escravas sexuais, torturadas e mortas, e se você tá tendo tempo de fazer drama então se sinta vitoriosa, nem todas tem essa sorte...
Ela só pode ser a versão feminina e chinesa do Dom.
Dito isso, ela saiu, me deixando apenas com os meus pensamentos.
Ela tem razão, poderia ter sido pior. Talvez eu devesse ser mais grata ao invés de reclamar da sorte, não significa que tenho que abaixar a cabeça, o Dom ainda tem muito o que aprender.
Mas se não fosse por ele, eu ainda estaria morando com a minha mãe, tendo que aguentar as chantagens dela, pelo menos aqui eu não preciso trabalhar pra alimentar ninguém, muito pelo contrário eles quem trabalham pra mim.
E muito breve eu também vou ter voz ativa aqui e muitas coisas vão mudar, porque...
A patroa chegou.
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