17
Acordei no sofá sem saber ao certo como fui parar ali. Eu simplesmente capotei.
Lembro de ter ficado até tarde da noite, escutando o Dom e os membros do seu grupo conversarem sobre negócios, eu lutava incessantemente pra manter os olhos abertos.
Mas pelo visto, perdi essa guerra.
Olhei ao redor e me deparei com um cenário perfeito para um delicioso café da manhã.
Vários corpos espalhados pelo chão, um verdadeiro banho de sangue, e os responsáveis por esse massacre, dormiam tranquilamente, alguns no chão, outros no tapete.
Dom estava dormindo em sua velha poltrona de couro.
Olhei pra ele ali sentado com os braços cruzados e respirando profundamente e pensei.
Esse é o único momento em que ele está vulnerável, a oportunidade perfeita para enfiar uma bala na cabeça dele e fugir.
Com tantas armas no chão, e só o que falta é a coragem, mas acredito que não vai ser eu quem vai apertar o gatilho.
Por mais que eu odeie ele, tem algo dentro de mim que quer que ele esteja vivo
E espero que não seja amor.
Eu não quero me apaixonar pelo Dom, e ter que aceitar as atrocidades que ele faz. Não quero viver o tempo todo em perigo, e correr o risco de perde-lo a qualquer momento.
E por que isso me dá tanto medo?
Eu deveria querer que alguém acabasse logo com ele, mas não quero, e isso é tão confuso.
Ele me sequestrou, me bateu e tentou me matar , e mesmo assim eu não consigo odia-lo.
Por que?
A imagem minha e do Pablo na nossa casinha vivendo o nosso felizes para sempre, está ficando cada vez mais distante na minha cabeça, e eu tenho medo que ela desapareça de vez.
Tenho medo de não amar mais o Pablo, e nunca mais conseguir sair dessa situação.
Tenho medo de gostar dessa vida, e de quem eu sou agora, e nunca mais voltar a ser quem eu era.
Antes eu era uma simples garota sem ambição na vida, e olha só pra mim agora, usando perfume importado e roupa de grife.
Uma coisa que eu pensei que jamais aconteceria.
Uma lágrima escorreu dos meus olhos.
Olhei para o Noah que estava dormindo em outro sofá, e suspirei arrasada por tê-lo colocado nessa situação, mas o que mais eu podia fazer, minha mãe era uma dissimulada que só se importava com ela mesma, não podia deixá-lo naquela casa, sofrendo.
E aliás, é comigo que ele tem que ficar.
Continuei olhando para ele até que notei algo estranho.
Ele estava inerte, e se tratando de uma criança que se mexe muito durante o sono, isso é um pouco incomum.
Sem contar que já era pra ele ter acordado.
Fui até lá, já com o coração acelerado, virei ele de barriga pra cima e encostei o ouvido no seu peito pra escutar seu coração bater, e não consegui ouvi nada.
Meu corpo gelou.
Mais uma vez ele havia parado de respirar.
Isso liberou um gatilho terrível em mim.
Dominada pelo desespero, comecei sacudir ele, mas seu corpo não reagia, ele estava pálido e molenga, sua boca e seus olhos estavam semi abertos.
____ Noah - Gritei em meio as lágrimas
Todo mundo acordou com os meus gritos.
____ Olivia, o que houve? - Joe perguntou assustado, vindo correndo na minha direção
____ O Noah, ele não está respirando - Berrei em pânico
Imediatamente, ele pegou o garoto dos meus braços, e o colocou no chão, mas ficou em choque e não soube o que fazer.
Fui até o Billy completamente descontrolada e o agarrei pela gola da camisa.
____ O que você deu pra ele? - Perguntei irada, e ele arregalou os olhos e mexeu os lábios pra falar, porém as palavras não saíram
____ Olivia, fica calma - Timóteo me agarrou pelo braço - Acha mesmo que iríamos matar o garoto
Puxei o meu braço de volta e meti o empurrão nele, depois corri os olhos por todos eles.
____ Acho que vocês são capazes de tudo - Cuspi as palavras - Se acham os donos do mundo, do que eu deveria chamá-los? Os valentões?
Ri incrédula
_____Gostei do nome - Tim falou
Joe pegou o garoto do chão e o entregou pra mim aos plantos, lamentando por não ter conseguido salva-lo.
Eu sabia que ninguém ali moveria um dedo sem a ordem do Dom, então eu peguei uma das armas que estava jogada no chão e apontei pra ele.
Automaticamente os outros voltaram suas armas pra mim, inclusive o Joe.
Cinco contra um.
Tô vendo que não tenho nenhum amigo aqui, mas entendo que a função deles é proteger o líder a todo custo, mesmo que não queiram.
E Dom parecia bem tranquilo quanto a isso.
____ Dá a ordem - Exigi entre os dentes
Ele continuou olhando pra mim como se minha ira não o incomodasse, como se o fato de eu estar com uma criança desacordada nos braços não o comovesse.
Todos ignoraram completamente a minha dor, e mais uma vez colocaram seus interesses acima de uma vida.
____ Dá a porra da ordem - Gritei histérica, ao perceber que as horas estavam passando e que se o Noah não recebesse o atendimento necessário, provavelmente iria morrer nos meus braços.
Eu nao sabia usar uma arma, e inclusive era a primeira vez que eu segurava uma.
E a sensação de poder é tentadora, mas eu tenho que me lembrar que eu não sou como eles e nunca serei.
Jonny deu um passo à frente e destravou o rifle, movido pelo seu instinto assassino, mas antes de apertar o gatilho, Dom o acalmou tocando em seu ombro.
____ Tudo bem, Jonny - Assegurou, olhando pra mim - Vamos ver se ela tem mesmo coragem de atirar.
Ele caminhou lentamente na minha direção, parou, depois pegou a minha mão que estava com a arma e posicionou na sua testa.
____ Atira - Ordenou fazendo meu corpo tremer e as lágrimas saltarem dos meus olhos.
Ele estava extremamente calmo, enquanto eu estava totalmente descontrolada e ofegante, movida por um impulso violento.
____ Atira - Gritou, me fazendo fechar os olhos e tremer ainda mais.
Deixei a arma cair no chão e comecei chorar desesperada. Ele me agarrou pelos cotovelos e aproximou os lábios do meu ouvido, me fazendo encolher.
____ Só aponta uma arma pra mim se for mesmo atirar, caso o contrário nem tente - Sussurrou, depois me soltou, e deu de ombros.
____ Por favor Dom, tem que levar ele para o hospital - Apelei aos plantos- Eu faço o que você quiser, eu nunca mais te desobeço, eu prometo
Mas ele continuou andando sem se importar.
Caí de joelhos no chão e fiquei balançando o Noah nos braços, sem conseguir respirar, implorando pela misericórdia daquele povo cruel que assistia o meu sofrimento sem fazer nada.
Exceto o Joe que sofria por cada lágrima derramada por mim, porém não podia fazer nada sem a ordem do Dom.
Ele é o poderoso chefão, o que tem controle sobre a vida e a morte.
Continuei gritando por ele até não ter mais voz.
Por fim, ele parou e suspirou fundo, demonstrando que não é tão duro quanto aparenta ser.
____ Joe, Tim acompanhe ela até o hospital - Ordenou, ainda de costas
_____ Sim, senhor - Os dois disseram ao mesmo tempo e vieram correndo na minha direção.
Entreguei o menino para o Joe, que o apanhou cuidadosamente em seus braços, e saiu correndo até o carro.
Eu fiquei no chão tentando recuperar as minhas forças que eu não tinha nem pra chorar.
Enquanto Dom me encarava sem um pingo emoção.
____ Eu te odeio - Gritei com todo ódio do mundo - Te odeio, quero que você morra
_____ Eu também - Ele desabafou
O pouco de força que eu consegui juntar, eu usei pra me levantar do chão e partir pra cima dele.
____ Te odeio - Repeti várias vezes, enquanto batia nele.
Ele não reagiu, talvez por realmente achar que era digno de punição.
Timóteo me agarrou e conseguiu me tirar de lá, mas eu ainda não consegui descontar toda a raiva que eu estava sentindo, acho até que se matasse ele, ainda não teria sido suficiente.
Então continuei gritando em meio às lágrimas o quanto eu o odiava e queria que estivesse morto, enquanto era carregada por Tim para o lado de fora da casa.
____ Ei - Timóteo agarrou o meu rosto e encarou os meus olhos - Se acalma, porra.
____ Ele iria deixá-lo morrer - Suspirei arrasada.
____ Mas não deixou, e acredite, o Dom não costuma fazer isso, na verdade desde que conheceu você, ele é outro homem, e lamento dizer que isso não é bom para os negócios..
____ Quem liga para os negócios, quando tem uma pessoa morrendo?
Ele nem precisou responder.
Olhei para ele, horrorizada.
Fomos às pressas para o hospital, chegando lá, o Tim ficou esperando do lado de fora do hospital, e eu corri pra sala de emergência, mas não me deixaram entrar.
Joe também ficou do lado de fora, e o que nos separava do Noah era apenas uma pequena janela de vidro.
Cada choque que ele levava dóia em mim.
Foram várias tentativas, e nada do coração do Noah voltar.
____ Não, por favor - Implorei aos plantos com as mãos coladas na janela.
Colei a testa no vidro e fechei os olhos, e os meus pensamentos me levaram para a primeira vez que Noah havia parado de respirar. A imagem do seu corpo imóvel na cama, a sensação de impotência que eu senti. O medo, o desespero, todas essas emoções recaíram sobre mim em dobro.
Não sentia mais o chão embaixo dos meus pés, e meu coração estava quase parando, quando escutei algo apitar aos poucos, e quando abri os olhos, percebi que era o coração do Noah.
Ele estava voltando pra mim.
Um sorriso enorme se abriu em meu rosto e junto com ele vieram as lágrimas de alegria.
Eu estava mergulhada em um êxtase infinito.
Ele foi levado para um quarto onde precisou ficar em observação, e o médico disse que ele teria que fazer alguns exames para descobrir o que ocasionou tudo isso, mas só foi o médico virar as costas que Tim invadiu o quarto e por pouco não arrancou a porta do lugar.
Eles são tão imprevisíveis.
____ Temos que ir
____ Mas o garoto ainda não se recuperou direito - Joe protestou
____ São ordens do Dom.
Bufei de raiva.
____ Pois diga pro Dom que eu não vou a lugar algum, sem antes assinar a alta do Noah - Engrossei as palavras
____ Se não saímos daqui agora, não vai dar tempo de você assinar nada, e o garoto não vai nem abrir os olhos, portanto cala a boca e obedece.
Sua afirmação me deixou com um pouco de medo.
____Você não tem limite mesmo - Joe disse com um leve sorriso
____ Que? - Tim questionou confuso
____ Você esqueceu o zíper aberto.
Tim desceu os olhos até a sua calça e depois olhou para o Joe e sorriu descaradamente, fazendo ele revirar os olhos.
Bem que eu vi que a enfermeira que veio ver o Noah estava com o batom levemente borrado.
Se não fosse trágico, seria cômico.
____ Vistam isso, vamos daqui direto para o aeroporto - Disse jogando algumas sacolas na nossa direção.
Na minha sacola havia duas mudas de roupas, isso significa que mesmo dormindo o Noah também teria que trocar de roupa.
O que não será uma tarefa muito fácil.
A gente mal se recupera de uma emoção e já temos que partir pra outra.
Depois que já estávamos todos vestidos, deixamos o hospital sem sermos vistos.
Chegando no aeroporto, avistamos de longe os outros membros do grupo, todos estavam bem arrumados e elegantes.
Cada um de nós recebeu uma passagem, e eu tive que ficar do lado do Dom, pra variar.
Eu mal conseguia disfarçar a raiva que era gritante dentro de mim, ao mesmo tempo que tentava não me iludir com a sua elegância e o cheiro delicioso do seu perfume.
Ele tinha que ser tão bonito?
Todos tinha um papel pra encenar. Dom e eu éramos o típico casal cujo filho acabou dormindo durante o trajeto de carro até o aeroporto.
Quando, na verdade, ele estava sedado por conta da medicação forte. Sem contar que ele foi tirado à força do hospital, e a essa hora, a polícia já deve estar atrás da gente.
Esse povo adora uma adrenalina.
Olhei pra trás e percebi que Joe e Meg estavam de mãos dadas, mas era apenas pra encenar o outro casal que estava nos acompanhando.
O que é uma pena, já que Joe parecia estar levando isso muito a sério.
Os outros estavam vestidos como membros comuns da família. E todos estava atuando muito bem, exceto eu que estava muito nervosa.
Afinal nunca tinha fugido do país antes, e também não faço ideia do que me espera do outro lado.
E isso me deixa muito ansiosa.
Noah estava vestido socialmente, com colete e tudo, além de sapatos pretos com cadarços finos.
Me questionei se essa seria a forma que ele se vestiria daqui pra frente, e se esse seria nosso novo estilo de vida.
Como vou voltar pro Brasil? E a minha mãe? O Pablo?
Antes que eu começasse a entrar em pânico, senti uma mão se entrelaçar na minha, e vi que era a do Dom.
Senti uma eletricidade percorrer por todo o meu corpo.
Ele fez um gesto com a cabeça me fazendo olhar pra frente, dando de cara com a moça do check in.
____ Sua passagem, por favor - Ela pediu educadamente
Procurei dentro da bolsa, porém minhas mãos trêmulas fez com que ela caísse no chão.
Billy a pegou, e aproveitou pra me passar um olhar ameaçador antes de me entrega-la de volta.
Engoli a seco, depois entreguei para moça, que sorriu simpática.
Enquanto ela verificava, fiz um esforço absurdo para não deixar transparecer o meu nervosismo.
Meu coração começou bater acelerado. Olhei para o lado e vi alguns seguranças, e pensei em gritar por socorro, mas se eu fizesse isso, estaria assinando a minha sentença de morte.
Meus braços estavam doloridos de tanto segurar o Noah, afinal ele era uma criança pesada.
Então acabei deixando escapar um suspiro de cansaço.
A moça levantou os olhos e olhou pra mim.
____ Ele está bem? - Perguntou levemente desconfiada
Isso me deixou muito nervosa, a ponto de não conseguir esconder mais, e eu mal consegui abrir a boca pra responder.
____ Ele está bem, só está um pouco cansado da viajem de carro - Dom respondeu por mim - E a minha mulher só está um pouco nervosa, porque é a primeira vez que vai viajar de avião. Não é mesmo meu amor?
Ele me ameaçou com os olhos, e eu balancei a cabeça positivamente.
Realmente era a primeira vez que eu viajava de avião, mas eu estava ocupada demais pensando em uma forma de fugir, que nem liguei pra isso.
Por incrível que pareça, a moça acreditou no Dom e liberou a nossa passagem.
Os outros também foram liberados, e todos seguimos para o avião.
Enquanto eles riam eufóricos, comemorando o fato de ter conseguido fugir das autoridades mais uma vez, eu chorava desolada, sabendo que a minha vida nunca mais seria a mesma desde então.
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