Jeon Jungkook

Era simplesmente natural, transformar sua dor em raiva e desejo de vingança. Estava de luto por seu irmão, mas usou sua dor para fomentar seu ódio. Podia notar que Taehyung fazia o mesmo, estavam todos na parte traseira do carro de Yoongi, todos quietos e imersos em seus próprios problemas, provavelmente faziam o mesmo que ele. Usavam o que havia acontecido como gás para terem forças e conseguirem enfrentar o que estava por vir. Jungkook estava com uma faca em mãos, ele analisava cada detalhe dela minuciosamente, imaginava como aquela lâmina tiraria a vida de cada um que se colocasse contra ele e sua vingança, pois estava disposto a ir até o fim, tivesse o que custar. Seus ouvidos pinicavam, mas não doíam ou zumbiam mais, podia ouvir bem, sabia que provavelmente não estava cem por cento, entretanto, somente o fato de ouvir uma altura menor que a de ontem era reconfortante.

Quando chegaram próximo ao local em que iriam pegar as provisões, Yoongi estacionou o carro escondido atrás de uma loja. Havia uma lona escura guardada no carro, que ele usou para cobri-lo e mantê-lo fora das vistas de sobreviventes. Todos caminharam sorrateiramente, Yoongi e Hoseok atrás, Jimin e San por estarem feridos caminhavam no meio, enquanto Taehyung e Jungkook abriam caminho. Jeon estava acostumado a sentir aquele medo e adrenalina de estar vulnerável do lado de fora, então seus sentidos estavam aguçados, manter-se sempre em alerta. Taehyung se manteve atento aos detalhes que Jungkook não conseguia ver, como rastros deixados por outros contagiados fora da classe de corredores. Jimin sussurrava as coordenadas enquanto caminhavam, de acordo com ele o abrigo mais próximo estava dentro de uma loja de colchões, que ficava bem no centro de uma avenida.

Um lugar favorável a ter contagiados.

— Você acredita no Kalel? — Uma voz desconhecida e abafada pela distância assustou Jungkook. Com os sons de passos e a voz se aproximando, precisou entrar no primeiro local “seguro” que encontrou, uma mercearia.

— Sobre o que? — Uma segunda voz perguntou e Jungkook praguejou, com medo de serem muitos. Quando todos estavam dentro da mercearia, escondidos pelas prateleiras, viram dois homens aparecerem pela esquina que vieram. 

Jungkook os analisou, eles estavam com dois fuzis e a julgar pelos bolsos cheios com balas para as armas e com granadas também, suspirou, não conseguiriam neutralizá-los em um confronto direto, seriam baleados, a não ser que acertassem os tiros de onde estavam. Pegou a arma de seu coldre e encarou Taehyung, que assentiu e pegou a própria arma, os dois apoiaram as armas sobre as prateleiras e miraram em direção aos homens. Provavelmente aqueles tiros chamariam muita atenção, com sorte eram apenas os dois e com mais sorte ainda, se houvessem outros, pensariam que eram tiros dos próprios Serpentes atirando nos contagiados. Porém, antes que apertasse o gatilho, Yoongi colocou a mão sobre seu ombro, seu rosto esmorecido demonstrava pura preocupação, o que o deixou confuso, se ele fosse reagir assim toda vez que encontrassem os Serpentes teriam problemas.

— Ouça o que estão dizendo… — Yoongi sussurrou e encarou Taehyung em seguida.

— Sobre a morte do Yoongi — Um dos Serpentes perguntou ao outro, chamando a atenção de Jungkook. — Não acha estranho?

— Claro que eu acho, o Kalel sempre odiou ele, aí do nada o Yoongi aparece morto? Bastante conveniente — O parceiro dele respondeu. Aquilo fez Jungkook encarar Yoongi, o quão abalada era a relação entre os Serpentes para eles desconfiarem uns dos outros daquela maneira? — Mas não temos o que fazer, ele levou os Sussurradores para a prefeitura, realmente houve um confronto.

— Um confronto? — O outro riu. — Eram em sua maioria crianças, mulheres grávidas, idosos e alguns adolescentes. Todos feridos. Aquilo não foi um confronto, foi um massacre, por isso que eu desconfiei, que risco aquelas pessoas trariam para o Yoongi? 

— O que está me deixando mais desconfiado é o fato do Kael ter levado somente a galera que baba o ovo dele para lá, por que não levou nenhum de nós? — O homem perguntou e o outro permaneceu em silêncio, pensativo no que acabou de ouvir. — Me cheira a emboscada, não acho que os Sussurradores tenham matado o Yoongi, acho que o Kalel forjou tudo isso.

— Mas não temos como provar. — Suspirou e continuou a caminhar para longe da entrada da mercearia. — Nossa esperança é alguém mais ousado que o Kalel aparecer e nos livrar dessa furada…

— Capaz da própria Evangeline matar ele — O outro homem riu. — Não foi ela que matou o próprio pai para dar o posto dele para o Yoongi? Se o Kalel pisar na bola, ele é o próximo.

— Eles são aliados. — Yoongi disse com o olhar fixo ao de Jungkook. Aliados deles? Ou apenas de Yoongi? 

Jungkook quis perguntar, mas apenas guardou a arma no coldre novamente. A contra gosto Taehyung fez o mesmo, Yoongi ficou nitidamente aliviado por terem desistido da ideia de matar os dois Serpentes, mas apenas fez aquilo por não querer ser igual as pessoas que massacraram sua resistência. Jeon estava com os ouvidos atentos, pois se tivesse que matar aqueles dois para que seu plano de resgate desse certo, ele faria. No mínimo sina que desseml de que eles iriam estragar tudo, atravessaria uma bala na cabeça deles sem qualquer remorso. Yoongi avisou que teriam que buscar mantimentos em outro abrigo, pois se haviam Serpentes ali, provavelmente já haviam pego o que havia guardado por lá. Então Min abriu o mapa novamente e traçou uma rota para o abrigo mais próximo que ficava há quase dois quilômetros de onde estavam, mas mesmo assim decidiram ir a pé, pois se haviam dois, poderiam haver outros Serpentes por perto.

Esperaram alguns minutos na mercearia e caminharam cautelosamente pelas ruas, aproveitaram as carcaças dos carros destruídos pelo tempo para se esconderem, durante o caminho encontraram apenas alguns contagiados desgarrados, que conseguiram conter sem problemas. Jungkook estava ofegante, o frio deixava seu nariz ardido e sua boca certamente estava arroxeada, mas seu corpo suava por conta das lutas que teve que travar contra alguns infectados. Não foi nada que exigisse muito de suas habilidades, visto que, eram apenas corredores comuns, mas não deixava de ser cansativo. Ao encarar os outros cinco de seu bando, viu que todos estavam na mesma situação, até mesmo Jimin, que com o braço machucado não deixou de lutar e ajudá-los a limparem o caminho. Mas Jungkook surpreendeu-se com a pouca informação que os Serpentes tinham a respeito da contaminação, pois tanto Jimin quanto Yoongi estavam prontos para ignorar o sangue na lâmina da faca.

— A contaminação é feita pelo sangue também, não só pela mordida! — Taehyung explicou enquanto limpava a própria faca na roupa do contagiado que havia matado. — Por isso sempre limpe a lâmina da faca de vocês, um mínimo corte no dedo pode infectar vocês caso tenha sangue na lâmina.

— Como conseguiram sobreviver tanto tempo com conhecimentos tão básicos? — Jungkook perguntou inconformado. Ele também havia acabado de limpar a própria lâmina, pois haviam nove contagiados no caminho que estavam indo.

— Nós não saíamos tanto quanto vocês. — Yoongi explicou. — Tudo o que sabemos é que eles são atraídos pelo som, que há três tipos diferentes de zumbis e que morrem com um tiro na cabeça.

— São seis classes de contagiados. — Hoseok explicou com o cenho franzido em confusão. Yoongi e Jimin o encararam com os olhos arregalados.

— Seis?! — Jimin perguntou chocado e Hoseok assentiu. — Nós encontramos apenas três durante as nossas expedições. Os zumbis normais, os que ficam agarrados no teto e os que perseguem.

— Corredores, cuspidores e espreitadores. — Jungkook listou, o que atraiu a atenção dos dois Serpentes. — Ainda tem os berradores, demolidores e empilhadores.

— Sem contar as espécies animais! — Taehyung continuou, os dois Serpentes demonstrando surpresa ao ouvirem suas palavras.

— Como aprenderam tudo isso? — Yoongi perguntou perplexo.

— Muito estudo, prática e mortes. — San explicou com um tom sério e triste. — Perdemos muitos amigos para diversas classes. Da nossa equipe, de vinte Sentinelas e Especialistas que iniciaram com a gente, apenas nós, Minjae e Lisa sobrevivemos.

— Onde estão os outros dois agora? — Jimin perguntou cauteloso.

— Esperamos que vivos… — Taehyung respondeu junto a um suspiro pesaroso. — Estavam na nossa resistência quando saímos. 

Aquilo trouxe uma pulga atrás da orelha de Jungkook, pois Minjae e Lisa eram muito talentosos, muitos experientes e certamente não se renderiam fácil a uma invasão. Fez uma nota mental enquanto encarava a faca empunhada em sua mão.

— Precisamos ensinar muitas coisas a vocês, se quiserem sobreviver nos trilhos. — Taehyung constatou com uma expressão séria. — Lá é o lar ideal dessas espécies raras, podem ter certeza que não encontraremos somente corredores.

— Sou todo ouvidos! — Yoongi respondeu, abaixando-se para cumprir o primeiro ensinamento; limpar a faca após matar um zumbi. 

— Explico enquanto caminhamos. — Taehyung disse ao voltar a caminhar, Jimin e Yoongi o acompanharam, junto a San. Porém antes que Hoseok fizesse o mesmo, Jungkook o puxou.

— Hobi, quando você fez o reconhecimento dos corpos no laboratório, encontrou apenas Sussurradores? — Perguntou baixo e caminhou devagar, lado a lado com seu melhor amigo.

— Não! — Ele respondeu baixo, no mesmo tom. — Haviam outras pessoas, com roupas diferentes das nossas, nunca vi eles no laboratório.

— Tenho certeza que Minjae e Lisa os matou, você encontrou o corpo dos dois? — Perguntou vendo Hoseok negar. 

— O corpos dos nossos novos sentinelas também não estavam lá. — explicou e Jungkook sentiu novamente a esperança tomá-lo quase por completo. — Tenho certeza que eles ajudaram a diminuir o número de mortes.

— Espero que tenham conseguido fugir… — Jungkook disse enquanto encarava os quatro à sua frente, eles estavam imersos na conversa sobre as características de cada classe de contagiados. — Os Sussurradores não podem ser extintos, precisamos crescer, passar nosso conhecimento, se Yoongi for realmente um visionário como ele parece, nos ajudará com isso.

— Você confia nele? — Hoseok disse quase num sussurro.

— Confio na raiva dele. — Respondeu seguro e encarou seu amigo. — Tomaram o que era dele, confio que fará o que for possível para ter tudo de volta.

— Eu confio neles! — Hoseok explicou com os olhos atentos aos arredores, pois ainda estavam do lado de fora e não podiam baixar a guarda. — Vi granadas e os pentes de munições deles cheios, se quisessem nos matar, já teriam feito isso há tempos.

— Ele tem ideias parecidas com as de Namjoon. — Jungkook divagou. O filho não tinha nada a ver com o pai, enquanto Joseph era um homem preso no tempo, Namjoon pensava no futuro.

— Eles irão se dar muito bem! Espero que Namjoon esteja vivo… — Hoseok suspirou. — Espero que nós sobrevivamos para ver isso acontecer.

— Não se preocupe. — Jungkook desviou o olhar para encarar Hoseok. — Eu vou garantir isso.

(...)

Durante o percurso até o abrigo, Taehyung explicou o básico para Jimin e Yoongi sobre os contagiados, coisas que as crianças da resistência dos Sussurradores aprendiam de suas tutoras desde muito pequenos, pois o conhecimento dos dois sobre o assunto era tão limitado quanto o das crianças. Porém ao chegarem em certa parte da cidade, a explicação teve de ser deixada de lado, pois havia uma concentração muito maior de contagiados aglomerados por lá, não poderiam conter todos, então tinham de ser o mais furtivos e silenciosos possível. De acordo com Yoongi, o abrigo era em um supermercado, o que deixou todos os sussurradores com semblantes confusos, pois era um péssimo lugar para ser um abrigo, mas ninguém o questionou sobre o porquê da escolha atípica. Não encontraram com nenhum Serpente durante o caminho, mas pela quantidade de contagiados espalhados perto do abrigo era nítido o motivo.

— Nunca vi tantos zumbis perto deste abrigo. — Yoongi disse ofegante, ele se levantou após perfurar a cabeça de um contagiado no chão. Estavam todos cansados, pois desde que entraram naquela parte da cidade, contiveram os corredores que entravam em seu caminho, sem chamar a atenção dos outros.

— Alguma coisa atraiu eles para cá. — Taehyung respondeu após respirar fundo, uma fumaça densa saiu de seus lábios arroxeados pelo frio.

— Precisamos sair daqui! — Jungkook disse ao olhar em volta. Estavam no ponto cego de muitos contagiados, pois a carcaça de um caminhão os escondia, atrás também de uma imensa fileira de carros. — Se atraímos uma horda estamos fodidos.

— Acho que conseguiremos passar por ali! — San apontou para uma abertura nos ferros da grade que cercava o estacionamento do supermercado. 

Jimin foi o primeiro a caminhar até a abertura e passou sem muitas dificuldades, em seguida todos os outros fizeram o mesmo, Jungkook ficou por último e virou-se para trás para analisar o lugar antes de seguir para a entrada do supermercado. O lugar onde estavam era perfeito para serem cercados por uma horda, estavam dentro de um lugar cercado por grades de ferro, carros e poucas saídas, se chamassem atenção, não teriam muitas chances de conseguirem escapar com vida. Hoseok, San e Taehyung pareciam pensar o mesmo que ele, pois observavam todos os lados com expressões hesitantes, lugares como aquele já foram palco de muitas mortes entre os Sentinelas e Especialistas. Enquanto caminhavam pelo estacionamento Jeon percebeu que não haviam contagiados por ali, o que significa que estavam todos ou fora, ou dentro do supermercado, mas não precisou esperar muito por sua resposta, pois a entrada do supermercado mercado estilhaçada explicava por si só.

— Imagino que isso não estava assim da última vez que vieram. — Jungkook constatou o óbvio e Yoongi negou. Os vidros da entrada pareciam grossos, havia sangue, cacos e corpos de contagiados caídos no chão.

— Esse sangue ainda está fresco — Taehyung apontou para um lugar específico do vidro, onde um sangue vermelho vivo escorreu. — Não faz muito tempo que isso aconteceu.

— Serpentes? — San perguntou a Yoongi, que tinha o semblante preocupado.

— Teremos que conferir! — Yoongi respondeu ao adentrar o mercado. Ele estava com a faca em mãos, pois mesmo que quisessem, não poderiam usar as armas, o barulho alto do disparo chamaria todos os contagiados até onde estavam.

— Olhos no teto! — Taehyung disse com os olhos fixos a uma parte específica, onde o vidro estava fixado a uma viga de concreto. Haviam marcas de garras. — Não há apenas corredores aqui.

— Como vamos lidar com ele sem usar a arma ou os óculos? — Hoseok perguntou com um suspiro, mas adentrou o supermercado ao notar que Yoongi já estava afastado do grupo.

— O que tem aqui? — Jimin perguntou confuso ao caminhar para dentro também, onde foi seguido pelos outros três.

— Cuspidores. — Jungkook respondeu com os olhos atentos no teto.

Após sua resposta, Jimin ficou em silêncio, ele apenas assentiu com uma expressão receosa. Todos caminharam silenciosamente pelo primeiro corredor, havia apenas um corredor ocioso parado próximo ao final do corredor, o que trouxera dúvidas para cabeça de Jungkook, aquele lugar estava vazio demais para ser um lugar invadido. Tinham muitos do lado de fora, mas apenas um pelo corredor no  qual estavam? Yoongi foi quem cuidou do corredor ocioso, ele estava parado à espera de estímulos, mas silenciosamente o serpente o conteve sem quaisquer problemas, sem chamar a atenção dos outros. Estavam atentos ao teto e arredores quando ouviram um chiado alto por conta do eco daquele supermercado vazio, que chamou a atenção de todos, pois logo em seguida puderam ouvir o som grotesco e rouco de contagiados agitados. Jungkook e Taehyung se encararam de imediato, pois a julgar pelos sons, haviam muitos contagiados reunidos.

— … Bruce? — A voz de alguém reverberou pelo lugar e todos paralisaram, o som vinha de um rádio a julgar pelos chiados. — Alguém na escuta encontrou o esquadrão do Bruce?

— Eles foram até o supermercado do outro lado da cidade

 — uma segunda voz se fez presente pelo auto falante do rádio, o que fez os ruídos dos contagiados aumentar. O som do rádio os deixava agitados.

— Ouvimos tiros vindos de lá. — Outra pessoa respondeu. — Alguém me explica o porque Kalel mandou eles para lá? É a área mais perigosa!

— Evangeline disse para tirarmos os suprimentos dos abrigos, porque alguns Sussurradores fugiram, para que não tenham onde se esconderem — a primeira voz se pronunciou novamente. Aquilo chamou a atenção de Jungkook, que encarou Taehyung novamente. — Será que o esquadrão do Bruce foi pego pelos Sussurradores?

— Daquele lado da cidade? — Um homem perguntou. — Nós estamos próximos, vamos ir checar, é provável que sejam apenas zumbis.

— Precisamos sair daqui! — Taehyung disse a Yoongi, que assentiu e se esgueirou pelas intensas prateleiras para olhar em volta.

— Os zumbis estão todos reunidos perto do rádio. — Min disse e virou-se para trás, para que pudesse encarar todos. — Os suprimentos estão do outro lado, podemos dar a volta por onde viemos e nos esconder entre as prateleiras.

— Vamos usar o som do rádio a nosso favor — Taehyung concordou e todos assentiram. — Eles ficarão distraídos enquanto houver som vindo do rádio.

Todos assentiram e caminharam silenciosamente pelo caminho que vieram, tomaram cuidado para que não os vissem entre as brechas das prateleiras, haviam muitos alimentos estragados e embalagens, mas havia também muitos espaços vazios que certamente poderiam denunciar a presença deles a algum contagiado. Quando deram a volta encontraram dois contagiados parados, eles estavam ociosos e de costas para eles, por isso Taehyung e Jungkook se prontificaram em se livrar dos dois obstáculos no meio do caminho, sem quaisquer problemas os dois lidaram com rapidez e eficiência, como já era o esperado. Com a passagem livre, caminharam até estarem atrás de um balcão, Yoongi silenciosamente olhou para os lados e atravessou uma pequena passagem entre o balcão e as prateleiras, para que pudesse se esconder atrás dela e todos fizeram o mesmo.

Haviam contagiados distraídos com o rádio do outro lado, mas se permanecessem em silêncio, não os veriam. Quando todos estavam escondidos atrás do balcão, Hoseok e San se colocaram de vigia, como estavam em um lugar muito vulnerável, alguém precisava ficar de olho em cada movimento perigoso dos contagiados, pois mesmo que estivessem distraídos, poderiam notar suas presenças e imediatamente mudar de alvo. Yoongi puxou debaixo do balcão uma mochila, ele a abriu e suspirou aliviado ao notar que haviam munições e bombas, ele pegou as munições e deu a Jimin, Jungkook e Taehyung, para que guardassem o máximo que conseguissem nos bolsos sem que precisassem carregar uma mochila. Enquanto Jungkook colocava uma das granadas no bolso de sua calça, uma movimentação estranha chamou sua atenção pela visão periférica, o grande problema, era que a movimentação vinha do teto, onde havia uma placa escrita “padaria”. Assim que seus olhos se levantaram, viu aquilo que tanto temia encontrar desde que pisaram os pés dentro daquele supermercado. Havia  um contagiado com garras longas e afiadas, fincadas na placa, seu corpo magro e feições destruídas pelo vírus só o tornaram ainda mais assustador, mas o verdadeiro pânico veio quando Jungkook notou que ele não era o alvo. Quando a criatura abriu a boca, pronta para cuspir sua saliva contaminada e ácida, Jungkook não pensou duas vezes, apenas pulou em direção a Jimin e puxou para o chão junto a ele. Os dois rolaram pelo chão e a gosma nojenta e esverdeada do cuspidor atingiu o balcão, o que assustou tanto Taehyung, quanto Yoongi, que estavam distraídos, pois temiam que as ameaças viessem dos contagiados no chão, sequer notaram a presença de outro sob suas cabeças.

Jimin gemeu de dor assim que pararam de rolar, ele se levantou rapidamente com a expressão confusa e olhou para o contagiado que o encarava, a imagem o impactou, pois ele arregalou os olhos e engoliu em seco. Mas para o desespero de todos, o cuspidor não gostou de ter sua vítima salva, pois ele abriu a boca novamente e Jungkook rezou, rezou para que ele fosse cuspir novamente, apesar de saber que o contagiado precisava de um tempo para repor sua saliva contaminada, pois assim, eles teriam como desviar, mas não foi o que ocorreu. O cuspidor soltou um grito extremamente alto e rouco, seu timbre parecia tão agudo e atroz que machucaria a garganta de qualquer um que tentasse reproduzir, por isso Jungkook, com seus ouvidos já sensíveis os tapou com as mãos, pois a dor atingiu seus tímpanos quase que imediatamente. Mas não deixou que a dor o distraísse do perigo, pois agora, todos os contagiados sabiam que estavam ali.

— Porra! — Taehyung praguejou e mirou sua arma em direção ao cuspidor. Ele atirou de maneira certeira na cabeça do contagiado, que caiu no chão próximo a eles.

— Precisamos sair daqui. — Hoseok disse enquanto olhava fixamente para o lugar onde os outros contagiados estavam. San se encontrava tão preocupado quando ele. — Agora!

— Vamos! — Jungkook se levantou e ajudou Jimin a fazer o mesmo.

Yoongi largou para trás o que não conseguiu pegar e os outros passaram reto da mochila também, pois suas vidas eram mais importantes que algumas munições. Quando os contagiados começaram a persegui-los, a adrenalina voltou a correr pelo sangue de Jungkook, que corria junto a Jimin na frente dos demais, mas pelo som grotesco dos contagiados, que estavam desesperados para pegá-los, não conseguiriam fugir por muito tempo. Quando estavam prestes a atravessar o corredor, apareceram mais contagiados no caminho, o que os impediu de avançar, não estavam em grande número quanto os que estavam atrás deles, mas certamente lhe dariam um pouco de trabalho. Jungkook olhou para os lados de maneira aflita enquanto os infectados se aproximavam, sua melhor escolha no momento era arriscada, mas era a única saída.

— Subam! — Jungkook pediu ao se agarrar nas laterais das imensas prateleiras. Ele escalou as prateleiras e viu os outros o seguir também.

Apesar das prateleiras serem grandes o suficiente para suportar o peso deles, tinham medo daqueles contagiados não serem corredores comuns, pois se eles fossem empilhadores não adiantaria muito subir, eles escalaram e os pegariam. Na melhor das hipóteses, apenas derrubariam a imensa prateleira. Enquanto subia, Jungkook notou vários tubos cilíndricos e teve uma ideia, por isso pegou alguns e os colocou por dentro de sua roupa, pois seus bolsos estavam cheios e precisava usar suas mãos para escalar. Por conta de suas ações, Jeon acabou sendo o último a chegar no topo, Hoseok e Taehyung o ajudaram a subir assim que chegou até o final, quando olhou para trás Jungkook notou que os contagiados não conseguiam escalar, o que fez um suspiro de alívio escapar de seus lábios.

— Não são empilhadores… — Jungkook constatou e Taehyung assentiu. Mas o alívio durou pouco, pois a prateleira balançou e ameaçou tombar.

— Se forçarem muito irão nos derrubar… — San disse ao tentar se equilibrar, seria uma queda feia se caísse lá de cima.

— Tem mais vindo de fora — Taehyung disse ao encarar o estacionamento. Jungkook preocupado se aproximou e conseguiu ver os contagiados entrarem pelo estacionamento, atraídos pelo som do tiro. 

— Droga! — Jungkook praguejou e tateou suas roupas à procura dos cilindros que pegou. Quando um deles estava em suas mãos, leu o rótulo. — Desodorante aerosol.

— O que está procurando? — Taehyung perguntou confuso, mas Jungkook não respondeu, porque estava focado à procura de uma informação na embalagem, assim que encontrou o que precisava, sorriu.

— Inflamável. — Jungkook respondeu e encarou Taehyung, que pareceu entender o que faria.

— Você tem certeza? Vamos ficar presos aqui se der errado! — Ele perguntou preocupado e Jungkook assentiu.

— É um cilindro pequeno, a explosão vai ser pequena também — Jungkook disse ao retirar o restante dos cilindros e colocá-los no chão. — É só para atrasá-los, é melhor do que gastarmos as granadas ou gastarmos munição. — Assim que pegou sua faca encarou os outros. — Vou precisar da ajuda de vocês, cada um pegue um cilindro, deixe somente um comigo, vou usar o último para incendiar o restante.

Todos assentiram e se abaixaram para pegar um cilindro, Jungkook explicou que era para todos fazerem um furo pequeno na lata, apenas suficiente para sair o conteúdo, mas não grande o bastante para retirar tudo de uma vez só, pois iriam jogá-los entre os contagiados. Todos seguiram o que ele disse e fizeram um pequeno furo na embalagem de metal, rapidamente as jogaram onde estavam os contagiados. Sem demora, Jungkook levantou-se com a arma em mãos e encarou Taehyung, que estava com o último cilindro, assim que ele jogou o último tubo de desodorante intacto, mirou em direção a ele e se concentrou para não errar. Assim que apertou o gatilho, a bala foi certeira na lata, a bala ricocheteou e acertou um contagiado, mas o que chamou a atenção foi o fogo, que se espalhou rapidamente assim que a lata explodiu.

Foi uma explosão pequena comparada ao que uma granada era capaz de fazer, mas não deixava de ser perigosa. A prateleira tremeu e Jungkook pediu para todos se abaixarem para que pudessem se segurar, sua ordem não demorou a ser acatada e em poucos segundos todos estavam abaixados para terem mais estabilidade. Uma por uma, as latas que haviam perfurado explodiram, foram no total, sete explosões, todas balançaram a imensa prateleira que a cada minuto parecia mais instável, podia ouvir os sons guturais que saiam da boca dos contagiados, que agora eram consumidos pelo fogo. Jungkook rezou para que a prateleira aguentasse o impacto das explosões e dos contagiados, mas no momento que sentiu seu corpo inclinar, soube que a prateleira iria tombar. Seu coração acelerou e se levantou de imediato, junto aos outros.

— Vamos ter que pular! — Jungkook gritou eufórico. Seu corpo sequer conseguiu se manter parado, pois assim que disse, tomou impulso para pular. 

— Pular?! — Jimin perguntou tão eufórico quanto, mas a resposta a pergunta dele foi o salto de Jungkook.

Seu corpo simplesmente agia por instinto em situações como aquela, sua sede por sobrevivência falava mais alto que a razão, por isso apenas pulou na prateleira à sua frente, do lado oposto onde a outra iria tombar. Sequer olhou para trás para ver se estava sendo seguido, apenas se agarrou nos ferros da prateleira a sua frente quando seu corpo se chocou contra a borda, suas mãos rapidamente se prenderam aos ferros e suas pernas o ajudaram a se firmar. Quando virou-se para trás, viu Taehyung, San e Hoseok saltarem, apesar de hesitante, Jimin não demorou a fazer o mesmo, com Yoongi em seu encalço. Por terem pulado por último, a prateleira onde Jimin e Yoongi estavam já estava bastante inclinada, então o salto que deram era em uma distância bem maior do que a que Jungkook pulou. Yoongi foi rápido ao se agarrar, mas Jimin não conseguiu fazer o mesmo por conta de seu braço machucado.

— JIMIN! — Yoongi gritou assim que viu seu parceiro quase despencar. Da altura que estavam ele não morreria, mas se machucaria o suficiente para não conseguir fugir dos contagiados.

— Eu estou bem — Jimin respondeu ao se agarrar com o braço que não estava machucado, ele usou as pernas para conseguir um apoio. 

— Eu o ajudo a subir — Hoseok disse ao descer para ajudá-lo, por ser o mais próximo a ele.

Jungkook olhou para baixo a tempo de ver os contagiados que estavam no estacionamento se juntarem aos que tentavam pegá-los. O som estrondoso das prateleiras ao tombar certamente chamou a atenção do restante dos contagiados que estavam ociosos, uma por uma, as prateleiras tombaram uma por cima das outras, até restarem somente três, contando com a que estavam. Jungkook agora pensava em como iriam sair dali, pois o fogo ainda consumia os contagiados quando os outros chegaram, estavam tão desesperado em pegá-los que se juntaram aos que eram incinerados, eles simplesmente se jogaram contra o fogo, o que mostrava que não se importavam com absolutamente nada para conseguir infectá-los. Enquanto pensava em uma maneira de fugir, notou Taehyung retirar uma das granadas do bolso e mostrar a Yoongi quando todos estavam no topo da prateleira novamente.

— Como ela funciona? — Taehyung perguntou e Yoongi franziu o cenho.

— Ao puxar o pino vai ser liberado um gás de enxofre — Yoongi explicou com o cenho franzido. — Depois a própria granada vai criar uma faísca, que causa a explosão.

— Não é uma boa ideia usá-la! — Jimin disse ao encarar Taehyung. Ele segurava o braço com uma expressão dolorida. — O alcance dela é imprevisível, quanto mais tempo o pino demorar para criar a faísca, mais gás irá soltar e maior será a explosão. Vocês viram o que ela fez na Smith Tower.

— Precisamos de uma distração e uma rota de fuga — Taehyung respondeu e Jungkook sentiu seu coração quase parar ao prever o que ele diria. — Eu vou garantir que vocês consigam sair daqui em segurança.

— E ficar para morrer na explosão? — Jungkook perguntou incrédulo e Taehyung o encarou. — Não, não mesmo! O fogo matou bastante os contagiados, não precisa fazer isso!

— Eu não vou me sacrificar, apenas abrir caminho — Taehyung explicou, mas Jungkook negou da mesma maneira. — Eu não vou morrer aqui!

— As chances de dar errado são mais altas que as de darem certo! — Jungkook negou ao se aproximar, pronto para tomar a bomba das mãos de Taehyung. 

— Eu não irei falhar. — Ele respondeu, escondendo a bomba atrás de seu corpo. Jungkook estava com os olhos fixos aos de Taehyung, há poucos centímetros de distância. — Eu prometo! — Ele disse ao levantar o dedo mindinho.

Aquilo era algo que faziam quando eram mais jovens, quando prometiam algo um ao outro entrelaçavam os mindinhos, pois leram em um livro que no mindinho era ligado o fio de seus destinos e se estivessem interligados, nada iria separá-los. Jungkook sentiu seu coração bater descompassadamente em seu peito, a lembrança tão antiga e feliz de seu relacionamento com Taehyung, que sempre sorria em sua direção com ternura, tornando-se turva, já que não cabia na tensão em que estavam. Aquilo foi mais do que uma certeza para Jungkook de que ele estava sério sobre não falhar, pois desde que se conheceram, ainda na infância, Taehyung jamais quebrou suas promessas. Estava extremamente receoso, mas sabia que o Kim era mais do que capaz de lidar com qualquer situação colocada à sua frente, ele faria aquilo com uma maestria que nenhuma outra pessoa teria, não era de seu feitio colecionar fracassos.

— Não ouse falhar! — Jungkook entrelaçou seu mindinho ao dele. 

— E eu já falhei alguma vez? — Perguntou com um sorriso.

— Espero que essa não seja a primeira! — San disse atrás de Jungkook, o que chamou a atenção de Taehyung.

— Não morra agora que fez as pazes com o Jungkook. — Hoseok disse sem olhar em direção a Taehyung. Ele se fazia de durão, mas sua muralha era de papel, com um soprar ela iria ao chão.

— Qual é o seu plano? — Yoongi perguntou.

— Eu vou servir de distração ali! — Taehyung apontou para a ponta da grande prateleira em que estavam, devia ter mais ou menos quinze metros de comprimento, Jungkook pensou ao encarar o final. — Vocês irão descer pela ponta contrária assim que eu reunir o máximo de contagiados daquele lado. 

— Você tem no máximo dez segundos após tirar o pino da bomba — Jimin esclareceu e Taehyung assentiu.

— Será o suficiente — Respondeu e encarou Jungkook novamente. — Consegue lidar com os contagiados que restarem até eu chegar?

— Claro que sim, foque em voltar inteiro. — Jungkook disse, vendo Taehyung assentir mais uma vez.

Taehyung virou-se para o lado contrário da saída e correu até o final da prateleira, Jungkook e os outros fizeram o mesmo ao correr para o lado contrário, ficaram todos na ponta abaixados, tentaram ficar no ponto cego dos contagiados. Jungkook pôde ver muitos contagiados correrem desesperados para dentro do supermercado, aquilo o deixou muito receoso, eram muitos, se pressionassem demais a prateleira onde estavam, ela iria tombar como todas as outras. Quando Taehyung estava no final, ele olhou para trás uma última vez, para se certificar que estavam todos no lugar certo, assim que constatou que sim, ele virou-se para frente e deu um passo perigoso para a ponta. Ele gritou e fez barulhos com os pés, para atrair os contagiados para onde estava, Jungkook observou os contagiados correrem em direção a onde ele estava, até mesmo alguns que estavam em chamas, que correram para longe da pilha de corpos carbonizados.

Assim que a grande maioria dos contagiados estavam dentro do supermercado, Jungkook se preparou para descer, mas seus olhos encontraram os de Jimin, que olhava para baixo de maneira receosa, pois seu braço estava machucado. Mesmo que tivesse que focar em sua própria sobrevivência, decidiu ser altruísta, pelo menos com as pessoas que estavam sobrevivendo junto a ele, por isso agarrou-se com mais força no ferro da prateleira e estendeu a mão em direção a Jimin, silenciosamente ofereceu ajuda. Jimin sorriu agradecido e Jungkook, junto a Yoongi, o ajudou a descer sem que precisasse usar o braço machucado. Quando estavam na lateral da prateleira, a sentiram tremer e aquilo os fez agarrar os ferros com mais força, pois ela estava nitidamente perto de perder a estabilidade, mas aguentou bem, por isso se apressaram. Jungkook rezou para que Taehyung conseguisse se equilibrar com a instabilidade da prateleira, pois se ele caísse, os contagiados o matariam.

Quando estavam todos no chão, Jungkook olhou para trás e pegou sua faca, haviam poucos contagiados, os desgraçados agora corriam em direção a eles, então contou: 2, 4, 6… 8. Olhou em direção a Hoseok e Yoongi, que já estavam com suas facas em mãos, pediu a San e Jimin que só se envolvessem caso fosse muito necessário, pois estavam machucados e uma piora na lesão seria mil vezes pior na situação em que estavam. Jungkook correu em direção ao primeiro contagiado, usou a placa de aço em seu braço esquerdo assim que ele arreganhou a boca para mordê-lo, a faca em sua mão perfurou a cabeça dele sem demora, usou bastante força para ter certeza de que a lâmina atravessaria seu crânio. Assim que o corpo do contagiado caiu, correu para o próximo, o som grunhido dos contagiados estavam altos e assustadores como sempre, mas Jungkook usou seu medo como combustível para deixá-lo mais atento.

Mesmo que Jimin e San tenham ficado para trás, os três conseguiram conter os contagiados sem problemas, a fumaça densa saiu dos lábios de Jungkook quando ofegou cansado. Ao olhar para o céu o viu coberto de nuvens, o tempo estava nublado e muito frio, talvez alguns graus abaixo de zero, pois mesmo que estivesse cansado e suado, sentia o frio invadir suas vestes e arrepiar todo seu corpo, por isso precisavam procurar por outras vestes, aquelas não eram mais suficientes para aquecer seus corpos. Jungkook olhou em volta, à procura de algum contagiado, mas não encontrou nenhum no estacionamento, ao olhar para trás viu apenas as sombras do que parecia um aglomerado de contagiados em volta da prateleira onde estavam anteriormente. Sentiu novamente o medo de algo acontecer a Taehyung, pois eram muitos para que ele pudesse conter sozinho caso algo desse errado, por isso não conseguiu conter sua inquietação.

— Ele não está demorando? — Jungkook perguntou preocupado ao encarar o interior do supermercado.

— Ele vai conseguir. — Hoseok tentou lhe passar mais confiança, mas o medo era maior que qualquer coisa, por isso as palavras dele não conseguiram apaziguá-lo.

Jungkook conseguiu ver o momento em que uma fumaça amarelada cobriu os contagiados, pôde ver de longe Taehyung correr pela extensão da prateleira, em direção a saída e se perguntou como ele iria descer antes da explosão. Imaginou que ele provavelmente pularia e tentaria se segurar no letreiro da entrada, ou desceria da mesma maneira que eles, mas sua resposta veio logo em seguida quando viu a prateleira inclinar-se em direção ao chão. Jungkook sentiu seu sangue correr de maneira mais espessa nas veias, o medo o paralisou de tal forma que tudo o que conseguiu fazer foi colocar a mão sobre os lábios em choque, pois antes mesmo que Taehyung conseguisse pular, a explosão o atingiu. O fogo consumiu tudo o que estava dentro do supermercado, a última coisa que conseguiu ver foi Taehyung pular no último momento antes da prateleira chegar ao chão, pois o fogo logo cobriu toda sua visão. 

A explosão foi mil vezes maior que as causadas com os cilindros de desodorante, tanto que os vidros do supermercado estouraram e houveram outras explosões atrás daquela, o barulho havia sido tão alto que Jungkook se encolheu no chão e tapou os ouvidos. O som extremamente alto fez seus ouvidos sensíveis doerem como o inferno, por isso gemeu de dor e apertou as palmas com força em suas orelhas, na esperança de abafar o ruído que tomou sua audição após a explosão. Estavam próximos o suficiente para serem atingidos pelos vidros e destroços dos supermercado, o corpo de Jungkook foi empurrado pela força de outra explosão, pois a terceira veio logo após as outras duas, provavelmente causadas pelas granadas deixadas para trás na mochila. Quando se levantou, Jungkook pôde ver o exato momento em que o teto do supermercado cedeu e uma cortina de poeira cresceu junto à fumaça do incêndio.

— TAEHYUNG! — Jungkook gritou ao se levantar. Sequer se importou se seu ouvido doía, se não podia enxergar nada por conta da cortina de fumaça, estava pronto para correr para os destroços. Mas seu braço foi segurado.

— Não pode ir para lá! — Yoongi o impediu. — Precisamos sair da cortina de poeira, podemos ser pegos por algum zumbi e não conseguiremos ver!

— Não! — Se soltou seu braço do aperto de Yoongi, pronto para correr. — Ele ainda está lá dentro!

— Jungkook, não dá para você entrar lá agora! — Hoseok disse ao puxá-lo para longe da entrada, Jeon apenas tropeçou nos próprios pés ao ser arrastado para longe de onde estavam. As lágrimas cobriram sua visão no momento em que se afastaram da poeira.

— Hobi, ele ainda está lá! — Jungkook disse com a voz embargada, mas o aperto da mão de Hoseok o impedia de correr de volta para a entrada do supermercado.

— Se ele não conseguiu sair, não há muito o que fazer… — Jimin disse com o tom extremamente dócil, mas não impediu que o choro irrompesse pela garganta de Jungkook, que jurou após a morte de seu irmão não ter mais lágrimas para derramar.

O desespero de ter perdido mais uma pessoa quase o derrubou, a dor o atravessou como um tiro diretamente em seu peito, foi tão doloroso quanto antes, o vazio que antes era preenchido pela tristeza e a impotência voltou a ser preenchido pela dor do luto. Podia sentir todo seu corpo tremer com a emitente constatação da morte de Taehyung, Jungkook não conseguiria suportar mais uma morte, não conseguiria de maneira alguma seguir em frente com a morte de mais uma pessoa importante, era demais para ele que já havia perdido muito. Seu choro estava tão quebrado e dolorido quanto no dia anterior, ao ver seu irmão morrer em seus braços. Naquele momento sua vontade era correr em direção às chamas e morrer junto a Taehyung, encerrar seu sofrimento a qualquer custo, de qualquer maneira, mesmo que fosse com a morte mais dolorosa existente. Mas Hoseok o mantinha no lugar, o segurava como se sua própria vida dependesse daquilo, não o deixava dar um passo sequer para longe.

O som de passos atraiu a atenção de Jungkook, que mesmo em meio ao desespero, ao choro e os zunidos de seus ouvidos, levantou a cabeça ao sentir a esperança adentrar suas veias como um doce veneno. Pôde ver Yoongi dar um passo à frente e Hoseok segurar seu braço com mais força, mesmo que os passos estivessem lentos, poderia ser um contagiado que sobreviveu a explosão e ao desmoronamento, por isso não podiam baixar a guarda. Mas Jungkook não se importava, agarrou-se à esperança com força, se fosse Taehyung correria para os braços dele, se fosse um contagiado, não se importava com o que aconteceria se o pegasse. Mas no momento em que a silhueta começou a tomar forma diante de seus olhos, Jungkook chorou ainda mais, mas dessa vez de alívio.

 Taehyung caminhava devagar com uma expressão dolorida no rosto, mas estava vivo.

— Tae! — Jungkook correu em direção a ele assim que o aperto de Hoseok se desfez. Seu corpo chocou-se ao dele e chorou como uma criança em seus braços, Taehyung gemeu de dor, mas logo os braços dele circularam pelo seu corpo.

— Está tudo bem, eu estou bem! — Taehyung disse baixinho e Jungkook se afastou para que pudesse ver seu rosto. Havia um corte em seu supercílio e o sangue havia manchado toda a lateral de seu rosto, além do cheiro de queimado que incomodava seu nariz.

— Pensei que eu tinha perdido você… — Jungkook sussurrou e um soluço escapou de sua garganta. 

— Eu prometi que não falharia… — Kim respondeu com um sorriso pequeno no canto dos lábios. — E eu sempre cumpro minhas promessas! 

~💀~

Calma, não matei ninguém :)
(De novo)

Mas preparem os corações, porque a tensão vai aumentar bastante.

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