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️⚠️ALERTA DE GATILHO⚠️
Os conteúdos abordados nesse capítulo são de natureza extremamente sensível. Por favor, evitem continuar a leitura se forem sensíveis a tópicos que mexam com terror psicológico!
(...)
Jeon Jungkook
Jungkook deveria saber que algo ruim estava para acontecer, o que ele esperava dos humanos?
Ele devia ter aprendido em todos esses anos que o mundo estava perdido, não havia salvação para as pessoas, elas mesmas fizeram aquilo a si mesmas. A destruição não era nada mais que uma das consequências de todas as atrocidades feitas por aqueles que acreditavam serem perfeitos, porque os humanos sequer chegavam perto daquela definição. Por isso, como o chão sob seus pés, suas esperanças desabaram e as levou com ela toda a sua vontade de tentar mudar algo, não era responsabilidade sua, então por que se importar com aqueles que gostam de tirar dos semelhantes o que não é deles? Que se destruam, não iria mais tentar impedir.
Cada músculo de seu corpo doía, parecia que seus ossos se reviraram por detrás da pele, queriam rasgá-lo de dentro para fora, sua cabeça latejava, mas o que estava doendo mais era o aperto em seu peito, era algo que estava em segundo plano, sabia disso. Ouvia chiados incômodos em seus ouvidos e o ar estava espesso demais, repleto de pó, o que o fez tossir e espirrar, mas o despertou de sua inconsciência e o fez gemer de dor ao tentar se levantar. Sentiu mãos quentes e firmes o ajudarem a se sentar, estava deitado em algo de barriga para cima, por isso não foi muito difícil se levantar, mas tudo em seu corpo doeu com o esforço.
Assim que seus olhos conseguiram focar em algo, notou de início uma poeira densa e cinza, ela cobria quase tudo que podia ver, além de grandes pedras de concreto no chão e algumas penduradas por vigas de ferro. Estavam em uma espécie de cratera, não havia muitas pedras onde estavam, mas a julgar pelo rastro no chão, alguém havia arrastado ele até onde estava e o tirou dos escombros. Suas roupas estavam rasgadas em alguns lugares e a julgar pela ardência e dores, estava cheio de machucados, mas conseguiu mover suas pernas e braços, seus dedos também estavam no lugar e seu pescoço estava dolorido, mas não quebrado. Mas se assustou quando alguém tocou em um lugar especialmente doloroso em seu rosto.
— Você se cortou — Taehyung disse ao afastar a mão, para lhe mostrar o sangue manchado em seus dedos. Mas o que lhe preocupava era a voz extremamente baixa dele, o que o fez correr os olhos em volta novamente, viu Hoseok, San, Jimin e Yoongi sentados no chão. Todos estavam vivos, embora machucados, mas novamente, o que o fez entrar em pânico era que eles conversavam, mas não conseguia escutá-los.
— Não consigo ouvir... — Jungkook ouviu a própria voz em uma altura mínima. — Está tudo abafado... Não consigo ouvir! — Se desesperou e tocou em suas orelhas, mas paralisou ao sentir algo escorrer delas.
— Ei, Ei! — Taehyung segurou em seu rosto quando Jungkook notou seus dedos manchados de sangue, tentou tirar sua atenção do líquido vermelho antes que entrasse ainda mais em pânico. — Você provavelmente estourou os tímpanos na explosão, mas você está ouvindo, mesmo que abafado, é um bom sinal. — Tentou tranquilizá-lo, ele o olhava nos olhos para passar-lhe confiança. A voz dele estava abafada, como todos os outros sons, mas ainda conseguia ouvi-lo. — Sua audição irá voltar gradualmente, não se preocupe.
— Explosão... — Dito aquilo um turbilhão de lembranças passou pela sua cabeça, então ficou de pé em segundos.
Estavam negociando com os Serpentes quando uma mulher entrou em contato com Yoongi, após isso observaram o bosque pela janela quando houve uma explosão no laboratório antes de serem atacados. A adrenalina começou a correr por suas veias rapidamente, seu coração acelerou absurdamente e suas mãos começaram a tremer, precisavam ir para o laboratório, pois as pessoas de lá não tinham como se defender, teriam que depender dos Sentinelas que haviam acabado de iniciar e os especialistas de Taehyung, pois não havia deixado muitos dos seus para trás, não havia muitos Sentinelas, por isso abriu inscrições para criar um novo grupo. Ouviu um som abafado e virou-se para olhar, Hoseok, San, Jimin e Yoongi estavam de pé, atrás dele e o encarava, provavelmente esperavam que dissesse algo.
— Por quanto tempo estive inconsciente? — Jungkook perguntou preocupado e tentou não elevar sua voz, pois graças a sua audição limitada, poderia soar mais alto que o normal.
— Uns vinte minutos — Taehyung respondeu enquanto encarava em seu cronômetro. — Ainda temos meia hora até o efeito do Vendetta acabar.
— Nós precisamos ir para o laboratório! — Sentiu-se inquieto e notou que todos os olhares estavam tão perturbados quanto o seu.
— Estávamos procurando uma maneira de sair enquanto você estava inconsciente — Hoseok atraiu sua atenção. Embora sua voz soasse baixa, conseguia ouvi-lo e entendê-lo bem. — A maioria das saídas foram soterradas pelas pedras.
— Conseguiram encontrar alguma? — Jungkook perguntou ao olhar em volta.
— Encontramos uma — Yoongi disse pela primeira vez, o que chamou a sua atenção. Olhar para ele fazia seu sangue ferver, mas se ele ainda estava vivo, significava que Taehyung e seus parceiros confiavam na palavra dele, por isso ficou quieto quanto às suas desconfianças. — Ali em cima. — Ele apontou para uma porta no andar superior.
Jungkook observou a porta, um pedaço do chão na frente dela não havia desmoronado, porém, além de estar em um lugar alto, o risco de subir e o restante cair era mais alto ainda. Talvez o concreto restante suportasse o peso de duas pessoas, no máximo, mas não de todos, porque a viga de sustentação havia cedido junto a grande parte do segundo andar. Enquanto olhava para cima, Jungkook notou naquele momento os andares que eles haviam despencado, não era a toa que estava dolorido, havia mais três andares acima deles, com portas, móveis e corpos de contagiados pendurados nas vigas e pedras. Ao olhar para o chão, Jungkook notou que ainda tinha chances do chão sobre eles desabar novamente, pois no chão havia diversas rachaduras.
— Se uma dessas pedras se soltar das vigas... Cairemos novamente — Jungkook olhou para Taehyung, que assentiu.
— Tivemos sorte dessa vez, não estávamos no centro do cômodo quando ele desmoronou — ele respondeu e apontou para uma pilha de pedras gigantes. — Ou estaríamos debaixo delas. Desde que você desmaiou, caíram mais três dos andares de cima, arrastei você para uma área relativamente segura, mas o chão vai ceder, precisamos sair daqui antes que esse prédio inteiro vá abaixo.
— Certo — Jungkook caminhou até a frente da porta, deu a volta pela área de risco no centro do cômodo onde estavam. Olhou para cima e mediu, talvez se pegassem impulso, conseguiriam subir graças a uma pedra que caiu perto dali. — Nós podemos escalar, precisamos apenas de velocidade. — Se afastou um pouco, pronto para pular.
— Tome cuidado — San pediu quando o viu se preparar para pegar impulso, Jungkook assentiu.
Calculou bem a velocidade e a força que teria que exercer ao pular, a poeira iria lhe atrapalhar um pouco, mas nada que pudesse de fato impedi-lo de conseguir. Jungkook respirou fundo, sentia suas costelas quase completamente curadas doerem um pouco, junto aos cortes espalhados por todo seu corpo. Quando se sentiu pronto, correu e tomou cuidado para evitar colocar muito peso em seus pés ou pisar em alguma área perigosa antes de apoiar os dois na pedra, impulsionou seu corpo para cima e ergueu os braços. Suas mãos tocaram no concreto e como havia previsto, havia muita poeira, mas conseguiu apoiar-se e aplicar força suficiente para levantar-se junto ao impulso de seu corpo, quando conseguiu aterrissar sem problemas na parte de cima olhou para trás.
Os cinco olhavam para ele com atenção, todos estudaram seus movimentos, para poderem copiá-lo, mas antes de pedir para subirem junto a ele, ficou de pé e cautelosamente caminhou de um lado para o outro, para testar a sustentação. O concreto tremia junto aos seus movimentos, mas parecia firme o suficiente, por isso caminhou até a porta e tentou abri-la, mas quando a encontrou trancada deu um pontapé forte na madeira e quebrou o trinco, ela bateu contra a parede e subiu uma cortina de poeira. Havia um pequeno corredor atrás dela, com algumas portas e ao que parecia, o acesso às escadas de emergência estavam no fim dele. Sorriu, pois deram sorte, ou teriam que pular pelas janelas até chegar ao térreo.
— A porta dá para as escadas de emergência, podemos sair por lá — disse quando se virou para os outros cinco, que aguardavam ele dizer algo. — Subam, um de cada vez.
— Não vou conseguir — Jimin disse com os olhos fixos no caminho que teria que fazer, em seguida olhou para Yoongi, que o encarava com preocupação. — Machuquei meu braço amor, não conseguirei me segurar ou me apoiar com apenas um braço.
— Não vou deixar você aqui! — Yoongi segurou sua mão direita.
— Eu ajudo você a subir — Taehyung interrompeu, ele olhava para Jimin com condescendência, depois virou-se para encarar Jungkook. — Você o segura?
— Tudo bem — Jungkook concordou. Embora não confiasse neles, não os deixaria para trás de forma tão covarde, ainda mais quando uma das partes estava ferida. Jimin o encarou e assentiu.
Taehyung caminhou até a pedra e juntou suas mãos, instigando-o a usá-las como apoio e Jimin não demorou a fazer isso, ele usou a mão direita e se apoiou nos ombros dele, antes de tomar impulso para cima. Jungkook foi rápido em segurá-lo e o ajudou a subir rapidamente, enquanto ele fazia uma força extrema para não ter de usar os dois braços, assim que ele conseguiu subir apoiou seu braço livre na lombar dele e tomou cuidado para não tocar em seu braço ferido para puxá-lo. Jimin sussurrou um agradecimento — que não teria ouvido se ele não tivesse dito isso próximo a seu ouvido — e caminhou até o corredor, ele ficou lá, enquanto olhava para os lados e para trás, à espera dos outros.
Em seguida foi a vez de San, Yoongi, Hoseok e por último Taehyung, que tomou impulso e conseguiu subir sem esforço algum, ajudado por Jungkook somente para se estabilizar. Os dois trocaram um olhar intenso antes de se afastarem e caminhar até os outros, para seguirem juntos para a saída. De acordo com Taehyung não tinham muito tempo antes do Vendetta parar de fazer efeito, não podiam ir de onde vieram, pois Jimin estava com o braço ferido e San também não parecia estar nas melhores condições. Jungkook correu na frente, por conta do efeito do Vendetta não estava preocupado com os contagiados, mas tinha que zelar pelas únicas duas pessoas que não estavam protegidas por ele.
Ao chegarem no final das escadas abriram uma última porta, viram somente dois contagiados parados na entrada, estavam ociosos, mas acordaram ao ouvir a movimentação. Jungkook sacou sua faca e junto a Hoseok se encarregaram deles sem problemas, foram juntos em direção a porta por onde haviam entrado. Estava cauteloso, pois a explosão havia provavelmente chamado muita atenção desnecessária e como previa, havia contagiados na frente do prédio, contou ao todo oito, todos corredores, o que era menos preocupante. Taehyung, Hoseok, San e Yoongi cuidaram de matar os contagiados, enquanto Jimin tentava não ser um peso para o grupo, manteve-se afastado em um local relativamente seguro.
— Não podemos ir pelos telhados — Jungkook disse assim que o último contagiado caiu pela sua lâmina. — Jimin está ferido e o San não vai conseguir escalar, está tentando esconder, mas machucou a perna, deu para notar pelo sangue manchado na calça.
— Teremos que ir pelas ruas — Taehyung olhou para a avenida que os levaria de volta. — É muito perigoso, mas não temos muitas opções.
— Nós viemos de carro — Yoongi retirou a chave de seu bolso e mostrou a eles, que arregalaram os olhos.
— Vocês têm carros?! — San transpareceu completo choque, assim como o restante dos Sussurradores.
— Sim, vocês não? — Jimin perguntou confuso e os Sentinelas negaram. — Ah, bom, nós temos alguns, movidos a biocombustível.
— Ok, tiramos nossas dúvidas depois, precisamos ir para o laboratório — Taehyung interviu e todos assentiram.
Todos seguiram Yoongi, que caminhou até uma picape, Jungkook ficou admirado, pois nunca havia visto um carro em tão boas condições fora das revistas que tinha no laboratório, os carros que estavam parados nas ruas estavam tomados pela ferrugem e pela vegetação, completamente inutilizáveis. Os cinco entraram no veículo, enquanto Hoseok foi na parte traseira, observaram Yoongi ligar o motor e dar partida, embora estivesse admirado por ser sua primeira vez em um veículo, não pôde conter sua preocupação. Yoongi acelerou o carro e pediu as coordenadas a eles, o que provou que ele realmente não sabia onde ficava o laboratório. Quando chegaram ao final da encruzilhada onde iniciava o bosque eles pararam.
— Daqui para frente, iremos a pé — Jungkook foi o primeiro a sair do carro, assim como todos os Sussurradores.
— Agora entendi porque nunca encontramos vocês em qualquer parte da cidade — Jimin olhou para o bosque com temerosidade. — Evitamos ao máximo adentrar a mata, os animais que vivem aí são extremamente perigosos.
— Mas eles preferem lugares onde há água e alimento — Taehyung disse enquanto caminhava em direção ao bosque. — Nós residimos próximo a uma colina, encobertos pela vegetação e névoa, não há muitas presas por lá.
— Não que isso os impeça de aparecer lá uma vez ou outra — Hoseok encarou Jungkook, lembrava-se da vez que encontraram uma puma ao saírem do laboratório em uma busca por mantimentos. — Demos sorte que não há muitos animais contagiados por aqui.
— Animais contagiados? — Yoongi perguntou confuso e olhou para os lados de maneira aflita. Já estavam na mata, o que tornava essas histórias assustadores para quem não estava acostumado com aquilo.
— Carros, armas, energia, gado... — Hoseok listou, enquanto olhava para frente, atento a qualquer movimentação. — Nunca viram um animal contagiado, vocês vivem um sonho.
— Há controvérsias — Jimin respondeu sem parar de olhar em volta.
— Vejam — Jungkook apontou para um ponto a frente, onde uma fumaça cobria o topo das árvores.
Não precisava de uma análise detalhada para saber que aquela fumaça vinha do laboratório, por isso Jungkook se desesperou e correu. O rosto de sua mãe e irmão passavam por sua cabeça a cada passo que dava em direção ao laboratório, não olhou para trás, não conseguia focar em nada além do caminho a sua frente, correu o mais rápido que conseguia em direção a origem da fumaça. Passos atrás de si denunciavam que alguém acompanhava os seus, sabia que era Taehyung, pois sua irmã e filha estavam lá também, assim como a família de Hoseok e San. Correram por muitos metros mata adentro, sem poupar fôlego, um vapor denso saiu de seus lábios quando parou em frente a entrada do laboratório.
A porta não estava mais ali, apenas uma grande cratera que deixava a entrada arreganhada para qualquer um entrar, as laterais estavam carbonizadas, enquanto diversas pedras estavam sobre o chão, o que fez o coração de Jungkook bater frenético contra sua caixa torácica. Sem nem mesmo hesitar, correu em direção a entrada, retirou sua arma do coldre e a destravou, ele passou pela câmara de desinfecção e pelo quarto onde guardavam seus casacos, tudo estava um caos, carbonizado ou destruído. O elevador não estava naquele andar, ao olhar para o fundo do poço Jungkook percebeu que ele estava no último andar do subsolo, o que o fez guardar sua arma e se segurar em uma escada que havia na lateral do poço. Desceu as escadas com pressa, precisava chegar ao terceiro piso, pois naquele horário seu irmão estaria com Lia, sua tutora.
Genetriz da Chloe.
Pulou os últimos degraus e aterrissou sobre o elevador, Taehyung pulou logo em seguida e ficou ao seu lado, para ajudá-lo a puxar a escotilha que daria passagem a eles. Os dois pularam no elevador, um de cada vez, e apoiaram suas mãos no chão para evitar que se machucassem, o elevador tremeu e ao levantar os olhos se assustaram com o que viram. A porta do elevador estava entreaberta, mas podiam observar pela brecha as luzes piscando, sangue, corpos e pedras, haviam também explodido algumas portas, provavelmente porque as pessoas se esconderam atrás delas. O coração de Jungkook apertou, pois as pessoas desse andar eram em sua maioria, idosos, crianças e mulheres grávidas.
Taehyung foi o primeiro a passar pela brecha, ele correu de maneira desesperada pelo corredor, Jungkook não demorou a fazer o mesmo, mas seguiram por caminhos diferentes. Procurava por seu irmão, que provavelmente estava na última sala do corredor, junto às outras crianças da idade dele e Lia, sua tutora. Assim que chegou até a porta a viu destruída como as outras, o que fez sua tremedeira aumentar, junto ao desespero de ver diversos corpos espalhados pelo chão. Jungkook entrou em choque por alguns segundos, viu diversas crianças com poças de sangue em volta de seus pequenos corpos, assim como rastros do líquido vermelho que se arrastava até a porta e sumiam. Ao que parece a explosão da porta havia atingido-as, enquanto as que estavam feridas conseguiram fugir.
Jungkook entrou na sala com as mãos trêmulas, olhou para os corpos no chão com um temor ardente em seu peito, conhecia muitas das crianças mortas ali, como Liz, que estava caída há alguns metros da lousa, o que fez o bolo em sua garganta crescer ainda mais, mas rezou para não encontrar o corpo de seu irmão dentre elas. As luzes sobre sua cabeça piscavam, junto aos barulhos ocos de seus passos no chão repleto de poeira e destroços da explosão, mas seu corpo paralisou ao ver um corpo pequeno caído de bruços perto de onde os brinquedos ficavam. Tudo à sua volta desapareceu no momento em que reconheceu a cabeleira escura e encaracolada de seu irmão, assim como algumas crianças, havia uma poça de sangue em volta de seu corpo.
— Não, não, não... — Jungkook correu e caiu de joelhos assim que chegou a Junghyun.
Com muito cuidado Jungkook virou o corpo de seu irmão, para que ficasse de barriga para cima e pudesse ver seu rosto. As lágrimas cobriram completamente sua visão assim que observou o rosto de Junghyun manchado de sangue e lágrimas, seus olhos e boca estavam abertos, seus lábios estavam cobertos de sangue e poeira. Mas um fio de esperança ainda se mantinha firme, por isso Jungkook chamou por Junghyun, esperava que ele ainda estivesse vivo e ele estava, os olhos de seu irmão viraram para encontrar os seus, aquilo fez o coração de Jungkook acelerar ainda mais. Junghyun tentou falar algo, mas não conseguiu, apenas se engasgou com o sangue em sua boca, foi naquele momento que percebeu uma ferida no pescoço dele, que impedia que ele falasse ou respirasse normalmente.
— E-está tudo bem Hyun — Jungkook chorou e pressionou a ferida em sua garganta. — Não fale nada, vai ficar tudo bem, o Ggukie está aqui.
Junghyun agonizou por alguns segundos antes de parar de se mover, seus olhos ficaram estáticos, fixados aos do irmão, que chamou por seu nome, mas ele não se moveu. Desesperado, Jungkook colocou seu ouvido sobre o peito de Junghyun, tentou ouvir as batidas de seu coração e chorou alto ao não escutar absolutamente nada. Abraçou o corpo de Junghyun e gritou, deixou que toda sua dor atravessasse por sua garganta como um rompante, sentiu o corpo frio e amolecido de seu irmão em seus braços, inerte e sem vida. A dor que sentia dilacerava seu peito, o rasgava de dentro para fora, ver seu irmãozinho deitado em seus braços, enquanto agonizava com sangue nos lábios e pedia ajuda, destruiu Jungkook, que não pôde fazer nada. Apenas assistir seu irmão morrer diante de seus olhos.
Jungkook ficou ali, agarrado a seu irmão, enquanto chorava e implorava para ele acordar, para reagir, mas tudo o que conseguia ouvir era o mórbido silêncio a sua volta. Gritou, gritou o máximo que seus pulmões conseguiam, já havia perdido amigos, mas nada se comparava a dor de perder seu irmão, nada podia descrever aquele sentimento de impotência crescente que rasgava seu peito. Quando sua voz não conseguia mais expressar seu sofrimento ele se calou e chorou silenciosamente, o que o permitiu ouvir os passos que se aproximavam da sala onde estava, levado pelo ódio e pela dor do luto sacou sua arma e apontou para a origem do som, mas surpreendeu-se ao ver Taehyung, parado diante da porta.
Ele estava com as mãos sujas de sangue, que tremiam ao segurar um corpo pequeno em seus braços, que assim como seu irmão, estava pálido e ensanguentado. Jungkook reconheceu Chloe, que estava com a cabeça deitada sobre o peito de seu pai, ele chorava e mantinha o semblante tão quebrado quando o seu, enquanto segurava sua filha morta nos braços. Hoseok, San, Jimin e Yoongi apareceram logo em seguida, olharam para os dois com os semblantes preocupados e assim que notaram os corpos sobre seus apertos, transpareceram tristeza. Hoseok caminhou até Jungkook com a expressão chorosa e se ajoelhou para abraçá-lo, o que o fez soluçar novamente, ainda apertava Junghyun em um braço enquanto o outro se apoiava em seu amigo.
Pois uma parte de Jungkook havia morrido junto ao irmão.
(...)
Todos estavam em silêncio.
Jungkook e Taehyung haviam saído do laboratório com os corpos, para enterrar na mata, em um silêncio mórbido. Não havia mais o que chorar, os olhos de Jungkook ardiam por conta das lágrimas em demasia que derramou, seu peito ainda doía e seu nariz escorria, mas não chorava mais, apenas sentia aquela sensação de vazio que o envenenava lentamente. O efeito do Vendetta havia passado, Hoseok, San e Yoongi se encarregaram de cuidar dos contagiados que se aproximavam, Jimin apenas ficou quieto em respeito ao luto deles. Muitos corpos haviam desaparecido, o que levantava a hipótese de terem sido sequestrados ou que tentaram fugir para fora do laboratório.
O que os matou, pois eles não tinham a mínima chance de sobreviver fora da segurança da resistência.
Jungkook e Taehyung estavam de joelhos, eles olhavam fixamente para cova que cavaram para as pessoas que perderam, olhar para o amontoado de terra que cobria o corpo de seu irmão o destruía ainda mais, mas a memória de tê-lo agonizar em seus braços era o que lhe atormentava. Sua mãe estava provavelmente morta também, não encontrou o corpo dela, mas não queria se agarrar às esperanças e se machucar ainda mais, estava de luto por seu irmão e sua mãe, estava com o coração em pedaços, sentia-se em cacos. O que ele tinha agora? Absolutamente nada, sequer aguentou ficar no laboratório, sentir o cheiro de sangue e morte impregnado nas paredes lhe deixava tonto, Hoseok se ofereceu para fazer o reconhecimento e o levantamento de perdas.
— Pode falar Hobi — Jungkook pediu, ainda de joelhos enquanto olhava para as flores que colheu para colocar sobre a cova de Junghyun. Hoseok estava parado ao seu lado, ele apertava as mãos juntas de maneira nervosa. — Nada pode me machucar mais.
— Não estou certo disso Ggukie — respondeu com tristeza. Fazia muito tempo que não escutava ele o chamar assim, o que trouxe memórias dolorosas, pois Junghyun o chamava daquela maneira. — Muitas crianças, idosos e grávidas estavam entre os mortos, os feridos parecem ter conseguido sair a julgar pelo rastro de sangue no chão. Nossos Sentinelas podem ter ajudado eles a irem para um lugar seguro...
— Ou podem ter sido sequestrados e estejam sendo torturados para os Serpentes conseguirem o Vendetta — Taehyung disse de repente, com sua voz que transbordava nada mais que amargor puro. Jungkook notou Jimin encarar Yoongi, os dois trocaram olhares repletos de culpa, aquela era uma possibilidade muito provável.
— Mas ainda há chance de estarem em algum lugar, deixe que eu me agarre a essa possibilidade, por favor — Hoseok pediu, sua voz falhou um pouco, o que denunciou seu choro contido. Embora não fosse muitas pessoas, Hoseok tinha pessoas especiais pela qual sentiria falta e elas não estavam entre os corpos encontrados.
— Nós vamos encontrá-los Hobi — San tocou em seu ombro, com um sorriso mínimo.
— Sim, nós vamos — respirou fundo. — Ggukie, dentre os corpos que eu encontrei... Havia um...
— Quem? — Jungkook olhou para Hoseok, quem mais ele poderia ter perdido?
— Hailey — respondeu, ele encarava seus olhos com pesar.
Jungkook estava errado, ainda havia mais lágrimas a derramar, pois assim que ouviu o que Hoseok falou uma nova onda de lágrimas inundaram seus olhos e o fez esconder o rosto entre as mãos. Apesar de tudo que Hailey fez, Jungkook passou anos ao lado dela, passou anos nutrindo diversos sentimentos por ela e apesar de não ser da forma que ela queria, ele a amava também. Chorou por perdê-la, chorou por sua vida ter sido interrompida quando finalmente iria realizar seu sonho, chorou por não estar lá para protegê-la, chorou por não ter se despedido adequadamente. As últimas lembranças que tinha com ela foram da discussão que tiveram, agora ela havia partido, sem lhe dar a chance de se reconciliar.
Jungkook apertou a blusa em seu peito, o sentiu doer ainda mais, sua dor era tão intensa e profunda que queria arrancá-la com as próprias mãos, mas não conseguia fazer isso, não podia e nem iria, ele teria que sentir tudo, se culpar pelo que houve, pois se estivesse lá, talvez as coisas tivessem sido diferentes. O que ele tinha agora além da dor corrosiva que o matava de dentro para fora? O que o mantinha ali? Qual era a razão para continuar? Ele perdeu tudo, não havia mais ao que se agarrar, não é? Mas após esse pensamento, lembrou-se que havia uma coisa, apenas uma coisa que o mantinha no lugar e por mais idiota que fosse, se agarraria a ela com força, pois era a única coisa que lhe restava agora.
— Eu vou atrás deles — Taehyung se levantou às pressas. Sua expressão estava banhada em ódio.
— Taehyung não faça isso! — San entrou em sua frente e tentou segurá-lo. — É suicídio, eles estão em maior número, você não tem chances contra todos eles.
— Não me importo — respondeu ao tentar se desvencilhar de San, o que fez Hoseok tentar contê-lo também.
— Taehyung... — Hoseok iria dizer algo, porém Taehyung se afastou com agressividade.
— EU NÃO ME IMPORTO! — Gritou, sua face contorcida em pura raiva. — Eu vou matar cada um deles, não importa se eu vou morrer no processo.
Aquilo fez um arrepio subir pela coluna de Jungkook, que se levantou e agarrou o braço dele quando Taehyung fez menção de se afastar.
— Taehyung por favor não faça isso! — Pediu, com as bochechas molhadas pelos rastros de suas lágrimas. — Você é tudo o que eu tenho, não posso perder você também!
— Agora eu sou importante? — Soltou seu braço de maneira bruta e o encarou com indiferença. Aquele olhar quebrou Jungkook ainda mais. — Agora que perdeu o que tinha percebeu que eu estava aqui? Agora que está sozinho precisa de mim? Me poupe Jungkook! — Gritou, o que fez um bolo ainda mais difícil de engolir surgir na garganta de Jungkook. — Eu tenho coisa melhor para fazer do que lidar com seu drama, é fácil valorizar as coisas após perdê-las, né?
Jungkook apenas escutou tudo, quieto, sentia algo dentro dele morrer com as palavras ácidas de Taehyung, que o encarava como se ele fosse a personificação de seus pesadelos. Já ouviu muitas coisas dolorosas saírem da boca de Taehyung, já conhecia bem a dor de cada punhalada que levou dele e por ele, mas nada, nada nunca doeu tanto quanto as palavras dele naquele momento. Apenas ficou parado e absorveu tudo o que ele havia dito, olhou nos olhos dele e viu todo o ressentimento que ele guardava, depois de tudo, Jungkook era o culpado por deixá-lo daquela maneira, por destruir aquele Taehyung que conhecia há anos. Aquilo era culpa sua, não tinha mais ao que se agarrar.
E não podia culpar ninguém além de si mesmo.
— Taehyung! — Hoseok gritou, parecia ter sido vencido pela raiva. — Pensa que tratar ele assim irá fazer sua dor diminuir?! Não acha que ele já está machucado o suficiente por sua causa? Ele também perdeu tudo, não coloque a sua dor acima das dos outros! — Disse bravo e o empurrou para longe de Jungkook com força, o que quase o derrubou. — Eu fiquei quieto por muito tempo, mas não vou mais permitir que você o destrua ainda mais!
— Faça o que quiser — Taehyung cuspiu as palavras com desdém. — Estarei longe daqui de qualquer maneira. — Encarou Jungkook uma última vez, que não reagiu, apenas ficou quieto, cansado de sentir tudo. — Eu vou vingar a morte da minha filha e não vou parar até que não tenha mais ar nos meus pulmões.
— O que você vai fazer? — Jimin perguntou preocupado quando o viu caminhar para longe, então o seguiu. — Invadir nossa resistência?
— Vou fazer o que for preciso — respondeu com frieza.
— Não! Nós temos crianças também! Se você invadir dessa maneira muitas pessoas vão se ferir! — Pediu e entrou na frente dele.
— É sério isso? — Taehyung o encarou com uma hostilidade quase palpável, o que fez Yoongi se aproximar. — Olha para o que o seu pessoal fez com a nossa casa, acredito que o que eu farei não chegará nem perto!
— Pelo contrário — Yoongi interferiu. — Eu sinto muito pelo que aconteceu, viemos em paz e eles usaram nosso encontro para fazer uma emboscada tanto para vocês quanto para nós. Mas você acha mesmo que matar mais gente vai fazer sua filha voltar? — Ele disse frente a frente com Taehyung, sem medo de desafiá-lo. — Não acredita que gente demais já morreu por conta das nossas desavenças? Vai matar mais crianças para vingar sua filha? Quer matar os responsáveis? Ok, faça isso, eu ajudo se quiser. Mas não mate pessoas inocentes, não cometa o mesmo erro que eles!
— Fácil falar, não foi a sua resistência que foi massacrada — disse ainda possesso.
— E matar pessoas inocentes vai ajudar você a lidar com o luto das pessoas que perdeu? — Hoseok perguntou, com o tom frio como o de Taehyung. — Não seja hipócrita querendo vingar sua filha fazendo a mesma coisa que as pessoas que mataram ela! — Aquilo calou Taehyung, embora sua face tenha suavizado, aquilo não pareceu aplacar sua raiva.
— Certo — ele cedeu e respirou fundo. — Eu não vou invadir a resistência deles, mas eu não vou parar até eu ter o sangue dos responsáveis nas minhas mãos.
— Eu ajudo você com isso — Yoongi disse com os olhos fixos aos dele. — Mas por enquanto precisamos ir para um lugar seguro, em breve vai escurecer.
— Para onde iríamos? — San perguntou com uma feição preocupada. — O laboratório está destruído, vocês não podem voltar ou serão mortos. Não temos para onde ir.
— Nós temos lugares seguros para passar a noite fora da resistência — Jimin respondeu. — Às vezes nossas buscas fora duram mais do que nosso toque de recolher, por isso limpamos alguns lugares para passarmos a noite fora.
— Kalel acredita que morremos naquela explosão, não iria nos procurar lá — Yoongi completou. — Tem uma área segura não muito longe daqui, podemos ir para lá. — Olhou em direção a Taehyung. — Podemos também planejar, após nos acalmarmos, como faremos para matar Kalel e Evangeline.
Taehyung apenas assentiu e Jimin sorriu, Hoseok ainda parecia irritado com ele, mas ficou calado e olhou em direção a Jungkook, que estava quieto, apenas observava tudo silenciosamente. Os seis saíram da mata antes que escurecesse, ao contrário de quando estavam indo em direção ao laboratório, Jungkook não andou na frente, sequer sacou sua faca do bolso, apenas andava sem realmente se importar se algo os atacaria. Quando chegaram até o carro ele não quis sentar-se ao lado de Taehyung, ficou na parte traseira, junto a Hoseok, que abraçou seus ombros e o manteve próximo o caminho inteiro, ele o acalentou em seus braços.
Jungkook estava cansado de chorar, por isso apenas respirava, sem sentir coisa alguma além de um vazio. Sentia-se oco.
Quando chegaram ao local que Yoongi havia mencionado, observaram um prédio, ele era maior que a Smith Tower, devia ter no mínimo dez andares. Todos ficaram um pouco receosos de entrar em outro prédio, mas todos concordaram que era o lugar mais seguro, havia também uma escadaria de emergência do lado de fora do prédio, que os levava diretamente às ruas, por isso estavam mais confiantes em entrar. Yoongi escondeu o carro em uma garagem do outro lado da rua, enquanto Jimin os levava até o último andar do prédio, era só subir as escadas que estavam escondidas atrás de uma porta trancada por uma madeira. Subiram um andar de cada vez pelas escadas, após alguns minutos finalmente chegaram ao topo do prédio, Jungkook notou que era um hotel somente quando Jimin abriu a porta.
A cobertura era grande, embora o tempo tenha sido mais generoso com aquele lugar, havia mofo e infiltrações pelas paredes e teto, mas os móveis gastos estavam bem distribuídos, dando um aspecto confortável ao lugar. Assim que entraram todos se espalharam, foram cada um para um lugar, Hoseok e San foram olhar os quartos, Jimin e Yoongi foram para a cozinha, enquanto Taehyung apenas se jogou no sofá. Mas o que havia chamado a atenção de Jungkook foi a varanda, por isso caminhou até a ela, abriu a porta para ver as estrelas sobre sua cabeça. A noite não havia chegado completamente, o sol se punha mais ao longe, mas já havia algumas estrelas que brilhavam forte no céu púrpura.
Estava muito frio, mas Jungkook sentou-se em uma cadeira que havia ali e olhou para o céu de maneira fixa. Para qualquer um que olhasse para ele, achariam que estava pensativo, mas a verdade era o oposto, ele evitava pensar em qualquer coisa, pois não queria voltar a sentir-se mal, apenas entrou em um bloqueio mental como auto-defesa, para evitar sofrer. Depois de algumas horas Yoongi e Jimin haviam preparado um jantar com as provisões deixadas pelos Serpentes ali, em caso de necessidade, foi preparado um caldo com legumes em um fogão elétrico, que encheu a todos, Jungkook e Taehyung comeram quietos, enquanto Jimin e Hoseok falavam sobre as diferenças das resistências, como se fossem amigos há séculos.
Antes de irem dormir, Yoongi pediu para que todos limpassem suas feridas, havia água, soro e álcool, mas também haviam algumas bandagens improvisadas e algodão, por isso todos trataram suas feridas. Jungkook percebeu o olhar de Taehyung em sua direção quando Hoseok se ofereceu para limpar suas feridas, ele havia se machucado mais que os outros, por bater a cabeça duas vezes durante a explosão e a queda, o que resultou em seus tímpanos estourados e um pequeno corte em sua cabeça — que Hoseok só notou por conta da poeira grudada no sangue —, mas que não doía muito. Havia sangue seco em seus ouvidos e alguns arranhões espalhados por seu corpo, embora o corte em sua cabeça tenha sido pequeno, a quantidade de sangue limpo de seu corpo assustou um pouco os outros.
Mas ele não se importava, suas feridas mais profundas não eram físicas.
Após todas as feridas serem limpas todos se deitaram, dividiram as camas e sofás, por machucarem o braço e a perna, Jimin — que usava uma tala improvisada — e San, dividiram a cama de casal no quarto principal, Yoongi e Hoseok ficaram com as camas no quarto de hóspedes, Taehyung ficou em um colchão na sala e Jungkook com o sofá. Porém, Jungkook não estava com sono, pelo contrário, apenas se revirou no sofá enquanto tentava não pensar em nada, quando enfim conseguiu dormir após horas, fora inevitável não re-assistir os últimos momentos de Junghyun em suas memórias. Aquilo o fez acordar durante a noite aos prantos e coberto de suor, estava trêmulo e com a respiração alterada, sentiu seu peito se comprimir novamente.
Quando notou que seu sono não fora interrompido por um pesadelo e sim por uma lembrança sentiu as lágrimas retornarem a banhar seus olhos, junto a um imenso bolo em sua garganta, que o fez se levantar para tomar um ar. Quando chegou na varanda se apoiou no parapeito e tentou respirar fundo, mas o choro não cessou, tudo estava de volta, os sentidos, as sensações, as dores, tudo, aquilo que tentou conter ao bloquear sua mente de qualquer coisa voltou com toda a sua força. Jungkook queria gritar, mas não queria acordar ninguém, por isso sofreu silenciosamente e caiu de joelhos, apenas deixou que a dor o partisse ao meio.
Perdeu seu irmãozinho, sua alegria de todas as manhãs, tardes e noites, perdeu seus sorrisos fofos e calmantes, uma criança extraordinária, que encantava a todos com sua excentricidade e fofura, uma criança inocente que tinha muito o que aprender e viver, mas que teve sua vida interrompida da maneira mais cruel existente. Perdeu sua mãe, uma mulher brilhante, uma mãe incrível e uma companheira querida, que sozinha criou com o maior zelo seus dois queridos filhos, que dedicou toda sua vida e tempo para ensiná-los, para criá-los com todo o seu carinho. E perdeu também Hailey, que apesar de tudo lhe trouxe diversas alegrias, ela que o recebia sempre com um sorriso acalorado e conversas instigantes.
Jungkook perdeu tudo... E a única coisa que o mantinha firme, o abandonou.
Jungkook chorou, chorou por não ter conseguido salvar eles, chorou por não ter passado mais tempo com eles, chorou por não ter se despedido, chorou por dedicar sua vida a tentar agradar os outros e não a si mesmo. Ele renunciou a sua felicidade tão facilmente, renunciou estar ao lado de Taehyung, para dar-lhe a chance de realizar seu sonho, não estava ao lado dele em seu momento de maior felicidade, não esteve ao lado dele para ver Chloe crescer, como ele próprio queria que tivesse acontecido. Jungkook chorou por perder a chance de ser plenamente feliz ao lado de sua família, por deixar de ter tido uma família com o homem que amava, agora o perdeu também.
Perdeu seu irmão, sua mãe, sua ex noiva, perdeu a chance de ser o segundo pai de Chloe e perdeu Taehyung... O único que poderia ser sua âncora para mantê-lo no lugar durante a correnteza.
Mas agora nada tinha, não adiantava chorar, nada iria voltar a ser da forma que era, porque ele não teve coragem de enfrentar a todos, porque ele não teve iniciativa, porque ele era covarde demais para tomar a decisão que precisava. Jungkook não tinha motivos para continuar daquela maneira, passaria o restante de sua vida sentindo a dor e a culpa o corroer? Lembrando-se eternamente dos "e se" e dos "talvez" que teriam mudado o seu destino? Não, ele não iria suportar, por isso decidiu que não faria isso. Jungkook se levantou, disposto a acabar com todo seu sofrimento, pediu desculpas a sua mãe e irmão, por não ser forte o bastante.
Mas ele não conseguiria carregar aquele peso sozinho.
Jungkook respirou fundo, secou suas lágrimas e colocou seu pé direto sobre a barra de ferro do parapeito, antes de impulsionar-se para cima e sentar-se sobre ela, segurou-se com firmeza no ferro frio antes de olhar para baixo, seria uma grande queda, ele não sobreviveria, seria uma morte horrível, sentiria muita dor antes de falecer, mas não havia dor pior do que a que ele sentia, por isso não importou, duraria pouco. Então, antes de fazer o que tinha que fazer, olhou para o céu, observou as estrelas sobre sua cabeça uma última vez e imaginou se as pessoas que perdeu estavam lá, se o observava enquanto tomava coragem.
— Estarei com vocês em breve — disse baixinho e voltou a olhar para baixo. Jungkook fechou os olhos e se inclinou para frente, respirou fundo e sentiu o ar frio adentrar seus pulmões antes de soltar as barras de ferro.
Sentiu um frio na barriga ao sentir que seu corpo iria para uma queda livre e o medo da dor em seu âmago, mas não havia volta, por isso apenas esperou que ela viesse, mas o que sentiu foram dois braços circular suas costelas e o puxar para trás com força. Os dois corpos caíram no chão sem qualquer delicadeza e fez Jungkook fazer uma careta de dor com o atrito de seu corpo na superfície dura, mas abriu os olhos e notou que tinha sido impedido de terminar o que havia começado. Jungkook não precisou olhar para trás para saber quem havia o puxado do parapeito, bastou apenas sentir o perfume dele que soube na hora quem era, o que fez o bolo em sua garganta aumentar.
— Por que me impediu? — Perguntou com a voz embargada.
— Eu não podia deixar você fazer isso — Taehyung chorou e o apertou entre os braços. Jungkook sentiu a cabeça dele apoiada em suas costas.
— Por que você se importa agora? — Não foi sua intenção, mas a mágoa ficou nítida na maneira que falou.
— Eu sempre me importei — lhe abraçou com força. — M-Me desculpa por dizer aquilo, eu estava muito irritado com o que aconteceu, nunca deixei de me importar contigo, aquele não eram meus verdadeiros sentimentos. — Taehyung chorou mais alto e quebrou ainda mais o coração já em pedaços de Jungkook. — Eu fui um babaca, mas por favor... Não vá, eu não posso perder você também.
— Eu não consigo Taehyung — Jungkook chorou e encolheu-se entre as pernas dele. — É demais para suportar.
— Vamos suportar isso juntos — pediu aos prantos. — Eu prometo que eu não vou mais lhe tratar daquela maneira... Mas por favor, não faça isso, você também é tudo o que eu tenho.
~🖤~
Podem me xingar.
Vocês perdoariam o Tae? Por ser um personagem meu e saber o futuro da história, eu tenho uma visão, eu quero saber a de vocês.
Está sendo muito difícil atualizar por causa do meu trabalho, por isso as att tem demorado. Mas mesmo que demorem, espero que vocês continuem acompanhando meu bebê♥️
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