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Voltei! Demorei, mas voltei.

Mas enfim, vocês estão prontos? É a partir daqui que a merda acontece :)

(...)

Jeon Jungkook

Todos passam por um momento extremamente confuso eventualmente, um momento que deixa todos os seus sentidos e pensamentos bagunçados, por isso sempre buscamos encontrar uma resposta coerente do porque aquilo aconteceu, sempre tentamos muito encontrar algum sentido. Jungkook passou por essa confusão no exato momento que ouviu a declaração mais estranha de toda a sua vida, ele podia sentir as engrenagens em sua cabeça buscarem alguma resposta para o que Taehyung havia acabado de falar, mas não encontrou nenhuma. A informação simplesmente não fazia qualquer sentido, não havia possibilidade daquilo ser possível e ele sabia bem disso, tanto que esse foi o motivo de seu término com Hailey.

Jungkook e Taehyung eram estéreis há três anos, quando tomaram o Vendetta pela primeira vez e os tornaram incapazes de gerar um filho biológico. Por isso olhou para o rosto de Chloe e buscou por traços que não fossem de Taehyung, mas encontrou poucos, ela era extremamente parecida com ele. Jungkook sentiu vontade de se sentar e analisar o rosto dos dois minuciosamente, com a intenção de buscar por qualquer coisa que dissesse que ela não era filha biológica dele, mas suas costelas ainda doíam. Quando enfim sua confusão se tornou algo além do que ele poderia tentar decifrar, ele levou seus olhos ao rosto de Taehyung e viu ele lhe encarar com um semblante curioso. Aquilo o deixou ainda mais confuso.

— Filha? — Jungkook perguntou enquanto olhava em seus olhos, não fez questão nenhuma de esconder o quanto aquilo era confuso.

— Sim — ele respondeu simples. Jungkook ia abrir a boca para fazer mais uma pergunta, mas Taehyung foi mais rápido. — Biológica.

— Mas... Você... Nós...?

— Eu sei o que está pensando Jungkook, eu também sou estéril — ele desviou o olhar e acariciou os cabelos de Chloe, que começava a adormecer em seus braços. — Mas faça as contas. — Ele voltou a encará-lo. — Ela fez três anos há alguns meses.

Aquilo fez um estalo surgir em seu cérebro.

— Era isso que você iria me contar naquele dia... — Jungkook arregalou os olhos e Taehyung assentiu.

— Eu sempre quis ser pai — Taehyung contou e Jungkook assentiu, ele sabia disso. — Mas esse sonho morreria no momento em que eu tomasse o Vendetta, então mesmo que não desse certo, eu doei meu esperma para uma genetriz. Concordamos que se a inseminação desse certo, eu ficaria com o bebê para cuidar dele, enquanto ela continuaria com a vida dela e os desejos dela. A genetriz da Chloe é a Lia.

— Ela é muito parecida com você — disse ao admirar o rostinho adormecido de Chloe. Taehyung sorriu, um sorriso sincero e quadrado, que não via há anos.

— Minha genetriz disse a mesma coisa — ele respondeu sem parar de acariciar os cabelos lisos da pequena em seu colo. — Ela disse que Chloe é igualzinha a mim quando era um bebê, com um pouco mais de cabelo. — Seu sorriso hesitou e ele voltou seu olhar para Jungkook, seu semblante sorridente se desfez lentamente. — Naquele dia eu tinha acabado de receber a notícia de Lia, eu estava com o papel na mão, para te contar. Mas você...

Jungkook sentiu seu peito comprimir pela dor quando os olhos de Taehyung ganharam um brilho de ressentimento, era aquele semblante que ele estava acostumado, sem qualquer sombra de sorriso ou de qualquer outra emoção que não fosse uma mágoa profunda. Aquilo o machucava demais, mas jamais diria aquilo, não deixaria que Taehyung soubesse que aquilo o afetava, não podia deixá-lo saber. Fez um sacrifício, não podia voltar em sua decisão, mesmo que quisesse muito voltar a ter aqueles sorrisos sinceros e quadrados de volta, não poderia ser egoísta e jogar todo seu esforço no lixo. Taehyung estava feliz com Chloe, ele tentaria ser também.

De alguma maneira, ele tentaria.

— Tenho certeza que você é um ótimo pai — Jungkook disse baixinho e desviou o olhar de Taehyung. — Chloe com certeza é muito amada, o conheço o suficiente para saber que você é um pai incrível.

— Não era isso que eu queria ouvir quando descobrisse — Taehyung suspirou. Porém, pareceu ter aceitado a decepção, pois se levantou com Chloe em seus braços. — Mas eu não devia esperar algo diferente vindo de você.

Aquilo doeu tanto que Jungkook fechou os olhos, para evitar que eles marejassem.

— Irei levar Chloe para casa, volto mais tarde — Taehyung disse após se virar para caminhar em direção a saída.

— Não precisa voltar — Jungkook apenas queria esquecer o que acabou de ouvir.

Jungkook ouviu a porta ser fechada e teve certeza que Taehyung ouviu o que havia dito, mas apenas decidiu ignorá-lo. Ele tentou se manter firme, tentou colocar em sua cabeça que mesmo que Taehyung o tratasse daquela forma era o melhor a se fazer, que seu propósito havia se concretizado e que agora ele poderia ter uma vida normal. Mas a que preço? Jungkook não queria deixar as inseguranças do passado lhe tomarem, mas ele abandonou sua felicidade pela de Taehyung, sentia-se incompleto, sozinho e sem saídas. Tudo doía, física e mentalmente, ele precisava ser forte, por sua mãe, por seu irmão e mesmo que ele não reconhecesse isso, por Taehyung também.

Mas ele não estava lá naquele momento, por isso deixou que as lágrimas escorressem por suas bochechas.

Estava tão cansado de sustentar sua máscara de homem forte, estava tão cansado de ser constantemente lembrado dos "e se" que insistiam em invadir sua mente. Ele tinha pilares que o mantinham de pé, mas ele realmente precisava disso? Ele havia conquistado seu tão amado lugar no conselho, havia se tornado o líder dos Sentinelas, conseguiu dar a sua mãe e a seu irmão tudo o que eles precisavam, mas a que preço? Sua mente e coração estavam em pedaços, nada foi suficiente, para ninguém, nem para sua família, nem para Taehyung ou Hailey. Jungkook soluçou quando notou que todos os seus esforços haviam sido em vão.

Sua costela doeu quando tentou puxar fôlego, tentou inutilmente tentar controlar a maresia que tomou seus olhos, tentou aliviar aquele aperto horrível que sentiu inundar seu peito, o vazio que sentia em seu corpo e tentou engolir o bolo em sua garganta, mas de nada adiantou. Quando ouviu a porta ser aberta, se assustou e tentou secar as lágrimas da maneira que conseguiu, não sabia se era Taehyung, mas esperava que não, pois de todas as pessoas, ele era a que menos queria presente naquele momento. Não estava pronto para encarar o ressentimento estampado no rosto dele, mas sentiu um alívio imenso ao ouvir a voz infantil e animada de seu irmão.

— Kookie a mamãe disse que você estava machucado, então eu vim ver como você estava — ele se aproximou, deu a volta na maca e ficou de frente para ele. — Me disseram que você matou um... Você estava chorando? Está doendo tanto assim?

— Está — tentou sorrir, mas a dor da qual ele chorou não era física. — Vou ficar melhor logo, você vai ver.

Ele lhe encarou por alguns segundos, com o rosto banhado em seriedade, vincos surgiram em sua testa quando ele franziu o cenho. Junghyun o conhecia bem, sabia que ele não choraria daquela maneira devido a uma dor, eram irmãos com uma conexão muito forte, por isso Jungkook soube que ele desconfiava do motivo de seu choro no momento em ele subiu em sua maca. Seu irmão tomou um cuidado tremendo ao deitar-se ao seu lado, ele tentou não fazer movimentos bruscos, não o abraçou como ele fazia quando dormiam juntos, apenas segurou em sua mão, entrelaçou seus dedos e olhou em seus olhos.

— Vai passar Ggukie — ele sussurrou, com um sorriso encorajador. — Você é o homem mais forte que eu conheço, tudo vai ficar bem.

Jungkook sorriu, as lágrimas em seus olhos se tornaram mais volumosas e fez com que algumas delas escorressem por suas bochechas novamente. Junghyun era um garoto muito especial e carinhoso, tinha uma personalidade incrível e mesmo sendo jovem, possuía uma maturidade sem igual para momentos como aquele. Todas às vezes que Jungkook pensava em desistir de tudo, seu pequeno irmão estava lá para ampará-lo, assim como sua mãe, por mais que toda aquela situação o corroesse de dentro para fora, ele tinha duas âncoras, para mantê-lo no lugar perante a correnteza. Por isso sorriu e apertou os dedos de Junghyun junto aos seus.

— Obrigado Hyun — fechou os olhos, embora estivessem úmidos, seu choro agora era de emoção. — Não sei o que eu faria sem você.

— Com certeza seria muito infeliz — ele riu e Jungkook acabou por rir junto a ele.

— Eu te amo tampinha.

(...)

Jungkook ficou conversando com Junghyun durante o tempo que ficaram juntos no quarto, a presença de seu irmão dissipou qualquer sentimento ou sensação ruim de sua mente e corpo, o distraiu completamente do que voltaria para lhe atormentar mais tarde. Taehyung realmente voltou depois de um tempo, mas Jungkook ignorou sua presença e o desconforto que seu olhar frígido carregava com ele, não queria ser torturado mais por seu ressentimento sem fim, já estava quebrado o suficiente. As dores em suas costelas embora ainda estivessem fortes, não estava como há algumas horas, conseguiu se sentar — com ajuda de Taehyung — para comer, conseguiu tomar banho e voltou a dormir depois que seu irmão foi embora.

Essa foi a rotina de Jungkook durante três dias, até ser liberado Louise e Jin, que veio lhe avaliar, mas ficou sob vigilância de Doyeon, para ter certeza de que nada de anormal aconteceria. Aparentemente sua recuperação estava sendo boa, seu próprio corpo estava iria se recuperar sozinho sem problemas, deveria apenas ficar atento a mudanças como febre e tosse com catarro verde ou sangue. Ficou assim por mais uma semana, teve que tomar cuidado com seus movimentos e tomou analgesicos ocasionalmente, para aliviar a dor da recuperação. Após duas semanas Jungkook já conseguia caminhar pelo laboratório, ele fazia isso ao menos duas vezes ao dia e dedicou-se à leitura quando estava preso em casa. Durante todos esses dias Taehyung foi a sua casa ocasionalmente, para levar comida e remédios.

Ele checava se estava bem e depois ia embora.

Jungkook notou que após revelar que Chloe era sua filha, ele não fazia mais questão de escondê-la, a pequena sempre o acompanhava para todo o lado, o que fazia Jungkook se questionar se ele que era muito desatento ou será que Taehyung decidiu esconder a existência dela? Como não a notou sempre ao seu lado? Talvez fosse de fato um segredo. Jungkook ficou de molho por cerca de dois meses, ele participava dos conselhos, mas Hoseok era o responsável por liderar as expedições para fora do laboratório em sua ausência e aquela sensação de impotência parecia que iria acabar com ele. A sensação de ser apenas um peso, de ser inútil e que sua presença não fazia diferença na vida de ninguém não o deixou em paz, todos poderiam se virar e serem felizes sem ele por perto.

— Jungkook estou preocupada com você — Doyeon disse enquanto jantavam. Aquele era o sextagésimo quinto dia que estava fora das atividades. Sentia-se péssimo.

— Por quê? — Comeu a sopa que ela havia feito para ele e seu irmão, que comia ao seu lado, quieto. — Minhas costelas não doem mais, já estou curado.

— Não é disso que estou falando! Você está praticamente em estado vegetativo, não conversa com ninguém, não reage — ela largou a colher e a sopa, suspirou com preocupação e o encarou. — Está apático e depressivo, totalmente diferente de antes.

— Eu estou bem, só... — Suspirou e deixou a sopa de lado também. Seu peito se comprimiu ao sentir uma pressão sufocante demais. — Estou um pouco abatido por estar longe das atividades, mas isso vai melhorar amanhã.

— O que terá amanhã? — Ela franziu o cenho.

— Joseph recebeu uma mensagem, dos Serpentes — Doyeon arregalou os olhos. — Eles querem barganhar, por isso o conselho irá se reunir para tentarmos chegar a um consenso sobre o que fazer. Talvez eu finalmente vá em uma missão depois de tanto tempo.

— Eu não entendo o porquê você gosta tanto de se arriscar Ggukie, acabou de se recuperar de uma lesão e já quer voltar correndo lá para fora — não havia acusação ou raiva em sua voz, apenas genuína preocupação. — Os Serpentes não são confiáveis, não sei o que pensar de você se encontrando com um deles. Não quero perder um filho.

— Você não vai — Jungkook segurou em sua mão. — Vai ficar tudo bem, irei voltar vivo, eu prometo.

— O Kookie é forte mãe — Junghyun sorriu de maneira orgulhosa. — Ele derrotou um Espreitador sozinho! Só com as mãos, os Serpentes não são nada para ele!

— Isso aí! — Jungkook riu e bagunçou os cabelos ondulados de seu irmão.

— Sei que não vou conseguir te impedir — Doyeon suspirou de maneira derrotada. — Mas por favor, tome cuidado e use o Vendetta.

— Eu usarei — ele sorriu.

Naquela noite Jungkook não voltou para sua casa, dormiu junto a Junghyun, para passar um pouco mais de tempo com sua família antes de voltar às atividades novamente. E mesmo que tenha dito a sua mãe para não se preocupar, era um jeito de se despedir silenciosamente caso algo desse errado em sua missão. Quando acordou na manhã seguinte, levantou-se antes que sua mãe e irmão, deixou um beijo sobre a testa dos dois e caminhou para seu dormitório, disposto a se vestir decentemente para encontrar o conselho. Suas costelas estavam curadas, sua recuperação foi feita sem quaisquer complicações, o que era um alívio, por isso não precisava mais se preocupar. Apenas deveria tomar cuidado para não acontecer novamente.

Em seu dormitório ele vestiu seu uniforme de Sentinela, colocou um grosso casaco por cima de seus ombros, pois o inverno havia chegado e com ele a neve, então as temperaturas estavam negativas e o ar condicionado do laboratório não funcionava há anos. Quando estava enfim vestido como há tempos não se vestia, caminhou até sua estante, pegou sua identificação e a encarou por um tempo, pois caso as coisas dessem errado, apenas ela voltaria para casa em seu lugar. Após estar pronto e com sua identificação presa a seu pescoço, Jungkook saiu de casa, ele caminhou até a sala do conselho e cumprimentou algumas pessoas pelo caminho. Naquele dia Hoseok, San e seus Sentinelas fariam parte da reunião, assim como os Especialistas de Taehyung.

Por isso os encontrou enquanto esperavam do lado de fora da sala, assim que o viu, Hoseok correu em sua direção e o abraçou com força. Eles haviam se visto pouquíssimas vezes desde que se machucou, por isso era claro que estavam com saudades um do outro, Hoseok era o que mais se aproximava de um melhor amigo dentro daquele gigante laboratório, era um dos poucos que se tornaram Sentinelas junto a ele e Taehyung que ainda estava vivo. Uma das poucas pessoas que sabiam o que havia acontecido entre Taehyung e ele no passado, o incidente que havia causado a quebra de confiança dos dois. Pois, mesmo que indiretamente, Hoseok estava envolvido na história.

— Finalmente você está de volta! — Hoseok disse após liberá-lo do abraço apertado. — Eu não aguentava mais, eu não nasci para ser líder!

— Tenho certeza que se saiu muito bem! — Jungkook riu, feliz por estar de volta. — Joseph disse algo a você enquanto eu estava fora? — Ele viu gradualmente o sorriso de Hoseok desaparecer.

— Ah... O de sempre — deu de ombros, como se estivesse acostumado com o tratamento ríspido de Joseph com ele.

— O que ele disse a você? — Jungkook perguntou com o olhar fixado em seus olhos, a raiva começou a crescer em seu peito. Estava cansado das implicações de Joseph com Hoseok e San.

— Não se preocupe com isso Jungkook — San interferiu, com um sorriso pequeno. — Estamos acostumados, não nos afeta mais.

— Afeta sim — foi a vez de Taehyung de dizer. — Dá para notar pela expressão de vocês, talvez seja hora de ter uma conversa com Joseph sobre isso.

— Não — Hoseok suspirou e cruzou os braços. — Será o mesmo que falar com uma porta, esqueçam isso, nada vai mudar. Não adianta debater com pessoas que não querem ouvir, não dará em nada, pelo contrário, é capaz de se tornar uma dor de cabeça ainda maior.

Jungkook iria responder, para tentar convencê-lo a mudar de ideia, mas a porta do conselho foi aberta por Seokjin, ele pediu que entrassem e que se sentassem em seus respectivos lugares. Os Sentinelas e Especialistas ficaram de pé, atrás de Taehyung e Jungkook, que estavam sentados em seus lugares, enquanto esperavam que Joseph desse início a reunião. Jungkook observou quem estava presente, lá estavam todos os chefes que comandam algo lá dentro, como o número de pessoas, controle de comida e pessoas mais velhas, eles conhecem mais do mundo antigo do que as pessoas que nasceram depois do desastre. Namjoon estava sentado ao lado de Joseph, com uma cara não muito boa.

Devia ser uma pressão enorme ser filho do líder, pois todos sabiam que ele seria o próximo no comando.

— Vocês sabem o porquê estão aqui? — Joseph perguntou ao encarar para Jungkook e Taehyung.

— Vagamente — Taehyung respondeu.

— Apenas sabemos que os Serpentes entraram em contato conosco — Jungkook completou e Joseph assentiu.

— Todos sabem que temos uma inimizade com eles há anos, certo? — Todos na mesa assentiram. — Recentemente um novo líder foi eleito, ele é jovem, mas pelo que eu pude constatar, muito inteligente. Ele nos propôs um acordo de paz.

— A que custo? — Seokjin perguntou.

— Os Serpentes, ao contrário de nós, tem barreiras em volta deles para protegê-los, armamento pesado e munição em demasia, já que eles tomaram uma fábrica de pólvora. Como também têm gado e horta, eles construíram algo que nós não conseguimos e nem conseguiríamos fazer aqui embaixo — Joseph olhou para cada um sentado nas cadeiras. — Eles ofereceram uma troca de mantimentos, eles darão comida, munição e tecido, se cedermos um pouco de remédios e Vendetta.

— É claro que iriam querer isso — uma das conselheiras revirou os olhos. — Estão há anos nos perseguindo, nos torturando e nos matando pelo Vendetta.

— Mas se ele estiver falando a verdade, será uma troca muito benéfica para nós — Namjoon olhou para ela com uma expressão séria. — Nossos recursos são escassos, nossa estufa não consegue produzir o que eles produzem. Eles conseguiram tomar um pedaço de Seattle, eles têm infraestrutura e espaço suficiente para criar uma comunidade muito maior que a nossa. Quem está em desvantagem se recusarmos essa oferta somos nós mesmos.

— Podemos acabar com anos de conflitos — outra conselheira disse, uma anciã. — Poderemos enfim respirar um pouco mais aliviadas por nossos filhos e netos não caírem mais em armadilhas, podemos entregar uma quantia da qual não vá prejudicar o nosso rendimento aqui dentro.

— Vendetta é uma droga extremamente difícil de produzir — Jungkook encarou para uma falha na madeira da mesa, ele analisava os prós e contras daquele pedido. — Os recursos precisam ser pegos do lado de fora, precisamos de sangue infectado e ervas medicinais para os testes. Teremos mais desse material se eles concordarem em ceder um pouco do pessoal deles para nos ajudar a recolher o que precisamos. Minha mãe e seus aprendizes podem produzir um pouco mais se os recursos não forem tão limitados quanto os que nós temos.

— Eles podem até usar a horta para plantar as ervas que precisamos, sem termos que nos arriscar para ir até às estufas ao ar livre — Taehyung disse com o olhar direcionado a Joseph. — Diminuiria consideravelmente o perigo de sermos mortos por algum contagiado.

— Acho que vale a pena barganhar com eles — Namjoon olhou para seu pai. — Será benéfico para ambos os lados, precisamos de apoio, nossa resistência se ergueu sozinha, mas pode se tornar melhor se houver a quem recorrer em tempos difíceis, como a escassez de água há um tempo.

Aquilo deixou todos com olhares receosos, pois há cerca de um ano e meio a resistência deles sofreu por uma crise hídrica, não choveu por meses, o que resultou em um racionamento de água. Foram dias difíceis para todos, pois muitas pessoas tiveram desidratação, algumas chegaram a falecer e ninguém podia fazer absolutamente nada para impedir. Não podiam beber a água de rios do lado de fora, pois as chances da água estar contaminada era muito alta, mataria todos que a bebessem. Por isso dependiam da chuva para o abastecimento de todos lá dentro, mas se tivessem ao menos um apoio, um auxílio, seria ótimo para o bem-estar de todos ter uma segunda alternativa caso algo como aquilo voltasse a acontecer.

— Mas também não podemos desconsiderar uma possível emboscada — Joseph disse e todos voltaram a ficar em silêncio.

— É um risco — Jungkook atraiu a atenção novamente. — Mas vale a pena arriscar, podemos pensar melhor nos termos, adaptar para não haver a possibilidade de sermos enganados. Na pior das hipóteses eles conseguiriam uma cartela de Vendetta, que não duraria muito tempo.

— E eles não sabem usar — Taehyung completou. — Se ingeridos de maneira incorreta, morreriam em minutos, pois eles não sabem a dose segura, o tempo seguro de uso e seus efeitos colaterais.

— Certo — Seokjin cruzou os braços. — Digamos que concordemos com os termos deles e eles concordem com os nossos, precisaremos de um representante do Joseph, já que ele mesmo, não pode sair.

— Namjoon? — Uma mulher perguntou, após dirigir o olhar para ele.

— Não mandarei meu filho lá para fora — Joseph foi rápido em responder.

— Não há nenhuma possibilidade de qualquer um de vocês irem — foi a vez de Jungkook cruzar os braços. — Se meus Sentinelas e Especialistas de Taehyung morrem aos montes durante nossas expedições, sendo que eles são treinados para sobreviver às circunstâncias da superfície, vocês não terão chances.

— Ele está certo — Taehyung assentiu. — Não tem como nós protegermos alguém que sequer sabe empunhar uma faca, um deslize e é uma pessoa morta em segundos.

— Vocês seriam um peso que nós não podemos arriscar transportar — Jungkook encarou Joseph. — Podemos ir no seu lugar com uma equipe pequena, Taehyung é bom em estratégia e eu em combates, acho que não há representantes melhor que nós para esse serviço.

— Eles estão certos — Seokjin assentiu e em seguida olhou para os outros conselheiros. — As chances deles voltarem com um acordo é muito maior, já que eles sabem como o mundo lá fora funciona e também porque já tiveram contato direto com os Serpentes. As chances deles sobreviverem a uma emboscada são maiores que as nossas se sairmos no lugar deles.

— E outra — Namjoon interveio antes que Joseph pudesse argumentar. — O que os Serpentes querem é algo que somente os Sentinelas e Especialistas têm acesso, nada mais justo do que eles mesmo decidirem o que fazer com este recurso. Porque eles sabem sobre a dosagem e a maneira segura de usar o Vendetta, eles vão saber passar informações que nem eu e nem meu pai vamos saber fornecer.

— Certo — uma das anciãs relaxou na cadeira. — Chegamos a um consenso que não há ninguém melhor do que os Sentinelas e Especialistas para irem barganhar com os Serpentes certo? — Todos assentiram, o que incluiu Joseph. — Então não há muito o que fazermos, eles irão discutir entre eles a melhor maneira de fazer esse acordo funcionar.

— Para quando está marcado o encontro? — Taehyung perguntou.

— Amanhã de tarde, na Smith Tower — Joseph respondeu.

— Um prédio — Jungkook disse baixinho, aquilo o deixou pensativo. — É um bom ponto de encontro, é fechado com poucas formas de sermos emboscados sem eles mesmos caírem na própria armadilha.

— É um território neutro — Namjoon chamou a atenção de Jungkook novamente. — Nem deles, nem nosso, nem de ninguém.

— Então é provável que haja contagiados — Taehyung disse enquanto olhava distraidamente para as próprias mãos. — Não é território dos Serpentes e nem nosso, é deles. Um grupo grande de pessoas vai chamar atenção desnecessária.

— Podemos levar apenas quatro pessoas — Jungkook olhou para Taehyung, que voltou sua atenção para ele também. — Como lidaremos com pessoas e não infectados, pode ir apenas você como Especialista e dois dos meus Sentinelas.

— Quem iria com você? — Joseph perguntou e direcionou o olhar para Hoseok e San atrás dele.

— Claramente os meus dois melhores Sentinelas — Jungkook sentiu uma veia sobressaltar em sua testa ao observar o olhar desdenhoso de Joseph.

— Jungkook peço que reconsidere, não tem como os dois fazerem um trabalho melhor do que-

— Peço que meça as palavras ao falar dos meus parceiros Joseph — respondeu com rispidez, o que fez Joseph e todos que estavam sentados na mesa arregalarem os olhos. — Você pode ser o líder da nossa resistência, mas não é o líder dos Sentinelas, eles não seguem a você, seguem a mim. — Joseph franziu o cenho, pela sua reação levou sua afronta como uma ameaça. — Eu sei o que é melhor para a minha equipe, não há ninguém melhor que eles dois para fazerem o serviço, sua implicância com eles está passando dos limites, reconheça a capacidades deles assim como você reconheceu a minha e a de Taehyung. Eles são tão bons quanto nós.

— Jungkook não precisa... — Hoseok pediu ao colocar a mão em seu ombro.

— Não Hoseok, está mais que na hora de Joseph parar — Jungkook cruzou os braços. — Você é um bom líder em questão de administração do laboratório, mas não lhe dá o direito de humilhar ou discriminar alguém daqui de dentro por isso, porque se você está sentado nessa cadeira, aproveitando o poder que tem é porque nós e eles — Jungkook apontou para si mesmo e seus companheiros. — Lutamos para lhe dar esse privilégio, não se esqueça disso.

— Não me esquecerei Jungkook, mas peço que não se esqueça também que eu não sou a ameaça por aqui — ele disse de braços cruzados, parecia bravo.

Uma verdade que Joseph jamais iria admitir, Jungkook e Taehyung tinham mais apoiadores do que ele, por serem os pilares da resistência. Tê-los como inimigos era uma sentença a sua posição.

— Só peço que trate meus companheiros com o respeito que eles merecem e não teremos mais discussões acerca disso — Jungkook descruzou os braços e se levantou. — Se nós já terminamos, preciso conversar com Taehyung e meus Sentinelas sobre nossa saída amanhã.

Jungkook olhou para os conselheiros, mas todos permaneceram em silêncio, por isso ele apenas caminhou para fora da sala e ouviu passos atrás dele, provavelmente de seus companheiros e Taehyung. Não estava com cabeça para lidar com as implicâncias infantis de Joseph com Hoseok e San, eles passaram nas provas dos Sentinelas com tanto êxito quanto Jungkook e Taehyung, era simplesmente ridículo. Quando chegaram até o refeitório ele respirou fundo e coçou a cabeça antes de se virar para Hoseok, San, Taehyung, Lisa e Minjae, que o encaravam com um sorriso no rosto.

— O que foi? — Ele perguntou com o cenho franzido.

— Você é louco — Hoseok riu e se aproximou antes de puxá-lo para um abraço. — Obrigado.

— Se ele fizer de novo me avisa — Jungkook riu soprado e retribuiu seu abraço. — Eu peço para minha mãe dar um corretivo nele.

— Ah, mas isso vai acabar com o coraçãozinho apaixonado dele — Lisa fez bico e riu logo em seguida.

— Minha mãe merece coisa melhor — acabou por rir também. — Mas então, vamos nos preparar? Amanhã será um longo dia.

(...)

No dia seguinte.

— Hoje está mais frio do que eu esperava — San disse após colocar seu casaco. — Espero que as nossas roupas sejam o bastante para não congelarmos.

— Estou mais preocupado com o que vamos encontrar no meio do caminho — Hoseok suspirou e colocou a placa de aço em seu braço.

— Vamos entrar em uma área onde fomos com frequência — Taehyung colocou um gorro sobre os fios castanhos de seu cabelo. — Assim que sairmos dos nossos limites, vamos usar o Vendetta. Nós conseguiremos passar sem problemas se usarmos os telhados, conhecemos bem a nossa área, mas não posso dizer que ficaremos bem em um lugar que quase não exploramos.

— Hoje teremos que tomar um cuidado redobrado então — Jungkook disse após terminar de se vestir também e amarrou um lenço no rosto para protegê-lo do frio. Taehyung assentiu, sem olhar para ele.

— Que falta fazem os coletes a prova de balas — Hoseok suspirou.

— Eles vão nos deixar lentos, hoje não podemos ter nada restringindo nosso desempenho, por isso pedi para que colocassem roupas leves que não restringe seus movimentos — Jungkook explicou enquanto vestia suas luvas e gorro. — Mesmo que nós passemos frio.

Todos concordaram em silêncio, o caminho que eles fariam necessitaria de pura força e agilidade, já que iriam pular, correr e escalar por telhados até atravessarem a cidade, pois o caminho por solo poderia causar encontros desagradáveis com contagiados. Quando todos terminaram de se vestir e equipar o máximo de proteções que conseguiam sem atrapalhá-los, olharam uns para os outros, aquela tensão de quando iriam sair para a superfície não se comparava a sensação de agora, pois dentre todas as ameaças, os humanos eram as piores. Jungkook havia se despedido de sua mãe e irmão, tentou tranquilizá-los o máximo que conseguiu, mas também se preparou para vê-los pela última vez.

Porque talvez ele não voltaria para casa naquele dia.

— Hoje nós precisaremos provar porque nosso nome é Sussurradores — Jungkook disse enquanto caminhava até a porta da sala de descontaminação.

Quando abriu a porta ouviu os passos de seus companheiros atrás dele. Como haviam combinado no dia anterior iriam apenas Taehyung, Hoseok, San e Jungkook, um grupo pequeno com pessoas habilidosas, para evitar chamar muita atenção e conseguir cumprir o objetivo sem problemas. Quando Jungkook colocou a mão sobre a porta que os separava da superfície, ele olhou para trás, olhou bem para o rosto das pessoas que provavelmente morreriam com ele naquele dia se as coisas não saíssem como planejaram. Todos os rostos estavam tensos, mas transmitiam certeza de suas escolhas, eles não dariam para trás naquele momento, por isso respirou fundo e pegou a faca de seu cinto, a manteve firme em sua mão antes de abrir a porta.

Como sempre fazia ao sair, Jungkook levantou a faca na altura de seu queixo e olhou em volta quando saiu, pronto para se defender caso algo o atacasse, olhou para cima da porta e focou nos sons ao seu redor, procurou por ruídos suspeitos, mas não encontrou nenhum, por isso quando constatou estar tudo seguro sinalizou para que os outros saíssem também. Ao fecharem a porta atrás deles seguiram pela trilha que os levava para fora do bosque que os cercavam, com olhos e ouvidos atentos aos arredores, pois normalmente onças se encontravam nas espreitas, prontas para atacar.

Saíram do bosque sem problemas, todos em silêncio enquanto tentavam ao máximo conter os ruídos que faziam ao correr, quando chegaram até a estrada não pararam nem mesmo por um segundo. Ao contrário do dia que saíram com os novos Sentinelas, eles não caminharam, estavam com pressa demais para perderem tanto tempo, então quando chegaram enfim na cidade, correram até um prédio com escadas na lateral. Jungkook tomou cuidado ao puxar a escada de ferro, para que não batesse no chão e fizesse barulho, mas assim que ela estava no chão ele foi rápido em subir. Fez isso com todos os lances de escada até estar no terraço do prédio, onde ele olhou em volta e respirou fundo.

Uma névoa densa saiu de seus lábios quando afastou o lenço para respirar, estava muito frio e o céu estava completamente encoberto, o chão estava escorregadio e as vegetações já haviam congelado, provavelmente iria gear em breve, mas estava ofegante por causa da corrida e provavelmente iria suar no meio do caminho. Quando todos já estavam no terraço do prédio, Jungkook acenou com a cabeça, era uma pergunta silenciosa para saber se estavam prontos e todos assentiram, por isso puxou fôlego, colocou o lenço sobre o rosto novamente e correu, ouviu os passos dos outros atrás dele enquanto pulavam de um telhado para outro.

Houve momento que tiveram que escalar muros e varandas para chegarem ao topo de casas e prédios, assim como ter que se segurar em vigas e barras para não despencar de uma altura consideravelmente alta e possivelmente fatal, correram por algumas ruas até subirem nas alturas novamente, após minutos eles enfim chegaram no limite do território deles. Quando chegaram a um terraço perto o bastante da Smith Tower para vê-la, eles pararam um pouco para recuperar o fôlego, podiam ver a alta estrutura a alguns metros de distância, não havia qualquer sinal de contagiados ou de pessoas pelo caminho.

— Está vazio demais — Taehyung disse baixinho e retirou o lenço do rosto para respirar fundo. Seu nariz estava vermelho e sua boca estava em uma coloração um pouco arroxeada devido ao frio. — Ou eles limparam a área, ou os contagiados estão aglomerados, escondidos em algum lugar. Olhos atentos no alto de árvores, prédios ou paredes, talvez tenha algum cuspidor por aqui.

— Péssimo dia para sairmos sem os óculos — San resmungou e Hoseok assentiu.

— Vamos, peguem o Vendetta, precisamos entrar — Jungkook virou-se em direção a eles e pegou seu porta comprimidos do bolso de sua calça. — De acordo com o que disseram ao Joseph, tem uma sala no topo dela, precisamos ir pelas escadas pelo lado de dentro. Não dá para escalar.

— Esse trabalho realmente não dava para ser feito sem o Vendetta — Taehyung disse ao pegar seu porta comprimidos também, ele abriu a tampa e pegou uma das cápsulas. — Vamos juntos? — Todos assentiram com uma cápsula na mão. Taehyung subiu a manga de seu casaco, para deixar a mostra um cronômetro preso ao seu pulso.

— Um, dois, três! — Jungkook abriu a cápsula e colocou o medicamento debaixo da língua assim que terminou a contagem e os outros três fizeram o mesmo. Taehyung colocou o cronômetro para contar assim que todos engoliram.

Como sempre acontecia quando ingeriam o Vendetta, eles esperaram cinco minutos para ele fazer efeito, por isso Taehyung parou o cronômetro e o zerou novamente, para contar uma hora a partir do momento que o fármaco da cápsula parasse de fazer efeito. Como sempre acontecia quando ingeriam o Vendetta, eles sentiram uma tontura momentânea e um enjoo, mas estavam acostumados com as sensações ruins, por isso apenas encararam uns aos outros enquanto esperavam o mal-estar passar. Da primeira vez que Jungkook tomou o Vendetta, ele passou tão mal que quase desmaiou, mas agora seu corpo já sabia lidar com a carga do Vendetta sem precisar causar um desmaio ou induzir o vômito.

— Ugh, eu nunca vou me acostumar com isso — San limpou o suor que surgiu em sua testa, mesmo que estivesse um frio com temperatura negativa.

— Daqui a pouco começa a dor de cabeça — Hoseok suspirou, mas pareceu se conformar. Aquele era o preço para não ser infectado.

— Vamos? — Taehyung suspirou e colocou o lenço de volta em seu rosto. Jungkook e os outros fizeram o mesmo antes de assentir. — Temos cinquenta e nove minutos e ao todo... Cinco cápsulas cada.

Mesmo evidentemente cansados, eles caminharam até a beirada do terraço da construção que estavam, todos desceram as escadas até chegarem nas ruas vazias e olharam para todos os lados, prontos para qualquer emboscada. Atravessaram a rua e chegaram até a entrada da Smith Tower sem qualquer problema, a porta rangeu ao ser aberta, mas o ruído não foi alto o suficiente para chamar a atenção de contagiados. O lugar estava escuro, por isso pegaram suas lanternas e miraram por todo o lugar, viram apenas uma mesa podre, papéis dissolvidos na madeira e muito lodo espalhado pelo chão. Caminharam até às escadas que ficavam ao lado de uma recepção destruída pelo tempo e umidade, o ar lá dentro estava pesado, úmido e abafado demais, com um cheiro forte de mofo e lodo. Ouviram barulhos atrás das portas fechadas e notaram que todas estavam com barricadas na frente.

— Eles limparam o lugar — Jungkook constatou o óbvio.

— Sem o Vendetta eles estão expostos, eles não correriam o risco de se trancarem com um monte de contagiados em um prédio — Taehyung disse enquanto olhava em volta atentamente. — Úmido e escuro, merda...

— O que foi? — San perguntou preocupado.

— Sintam o cheiro — ele respondeu com uma careta. Jungkook e os outros tiraram o lenço para sentir o fétido cheiro de carne podre. — Com certeza tem um Espreitador por aqui, esse é o ambiente ideal para ele.

— Acredito que os Serpentes conseguiram prender ele em algum lugar — Hoseok mirou a lanterna para as portas fechadas por madeiras do lado de fora.

— Eu espero — Taehyung disse antes de dar de ombros. — Estamos seguros com o Vendetta, mas não diria o mesmo para eles.

— Dá para entender o porquê eles o querem tanto — San respondeu enquanto caminhava na frente, até às escadas. — Mesmo com treinamento, nossos amigos morreram quando não estavam usando a droga. Imaginem o quanto eles perderam.

Todos continuaram o caminho em silêncio, mas Jungkook sabia que os Serpentes deviam morrer aos montes sem a proteção do Vendetta, deviam estar desesperados já que propuseram uma trégua com os Sussurradores, que tinham mais de um motivo para se vingar e matá-los na primeira oportunidade. Jungkook tentou não se distrair em pensamentos, atento nos arredores com o mesmo cuidado de um predador, a procura de qualquer indício de que era uma armadilha, mas não encontrou nada. Subiram muitos lances de escadas até chegarem ao topo da Smith Tower, viram que o final da escada dava em uma porta. Jungkook olhou para seus colegas e pegou a arma de seu coldre, observou os outros fazerem o mesmo antes de abrir a porta.

Quando a porta foi aberta a primeira coisa que viram foi um espaço em formato de prisma triangular, haviam diversas janelas espalhadas por todos lugar e escadas de ferro que subiam até chegarem próximo ao teto. O tempo foi um pouco mais generoso com aquele lugar, o espaço tinha cheiro de mofo, mas não tava completamente destruído ou tomado pela vegetação, as cores haviam se perdido e as escadas foram tomadas pela ferrugem, mas não deixava de ser um lugar agradável. Os quatro caminharam para dentro e fecharam a porta em seguida ao ver dois homens sentados em um sofá não muito afastados deles, assim que os viram, eles se levantaram.

Jungkook analisou as roupas deles, os dois usavam coturnos da cor mostarda, calças camufladas e um casaco grande também camuflado, estavam vestidos como soldados. Haviam coldres e bolsos em suas calças, pelo volume e o cabo, estavam armados com pistolas, facas e provavelmente algo mais que não conseguia identificar. Os dois tinham a mesma altura, Jungkook pela distância que estavam chutou entre um e setenta à um e setenta e quatro, menores que ele e seu grupo, mas se eles fossem bons lutadores, isso não seria uma desvantagem. Os dois apareceram analisá-los também, sem demonstrar qualquer tipo de medo ou outra emoção. O mais alto tinha cabelo castanho e sorriu quando seus olhos se encontraram.

— Quando nos falamos, pensei que era mais velho — o homem sorriu e cruzou os braços, não parecia ameaçador. Mas isso não fez Jungkook baixar a guarda, podia ser um truque.

— Não foi comigo que você conversou — Jungkook explicou e desligou sua lanterna, ainda com os olhos atentos aos dois, a guardou em um dos bolsos de sua calça. — Joseph nos mandou em seu lugar.

— Por que ele não veio nos encontrar cara-a-cara? — O homem franziu o cenho, não parecia que disse aquilo em desafio ou desdém, parecia apenas confuso com a informação.

— Joseph não é um Sentinela como nós somos — Jungkook explicou e o homem tombar um pouco a cabeça para o lado, pareceu ainda mais confuso. — Apenas Sentinelas e Especialistas podem sair, civis comuns ficam em segurança na nossa resistência.

— Vocês não treinam as pessoas para sobreviverem? — O outro homem perguntou, ele olhava para Jungkook com pura confusão estampada em seu rosto.

— Por que faríamos isso? — Taehyung perguntou ao seu lado. — Fazemos o trabalho sujo para que eles não tenham que fazer. — Aquela informação fez os dois homens se encarem de forma confusa, mas o homem mais alto deu de ombros.

— Bom, não viemos aqui para questionar o modo de sobrevivência alheio — ele endireitou a postura. — O nome dele é Jimin e o meu é Yoongi, eu sou o recém-eleito líder dos Serpentes.

Jungkook e Taehyung se encararam, os dois dividiram o mesmo pensamento: "Eleito".

— Eu queria fazer algo diferente do antigo líder deposto — ele suspirou e atraiu o olhar do homem ao seu lado. — Ele dominava sob a supremacia da força, eu gosto de resolver as coisas em um diálogo antes de simplesmente partir para um confronto. Vocês devem ter informações básicas sobre nós assim como temos de vocês, mas algo que é nítido para ambos os lados é que juntos poderíamos ir ainda mais longe.

— Nós analisamos e debatemos sobre seus termos — foi a vez de Taehyung cruzar os braços, sua expressão estava neutra, sem qualquer traço de hostilidade. — Mas gostaríamos de ouvir novamente, presencialmente, para não haver enganos ou erros de comunicação.

— Certo — Yoongi assentiu e olhou para o homem ao seu lado, que sorriu para ele. — Nós temos uma infraestrutura significativamente grande, conseguimos tomar um pedaço considerável da cidade. Temos uma colônia de pessoas em constante crescimento, gostaríamos de futuramente expandir, mas a ameaça do lado de fora jamais nos deixaria crescer sem sacrifícios.

— Nós gostaríamos de fazer uma troca — Jimin continuou. — Nós temos muito a oferecer, comida, abrigo se precisarem, gado, tecidos e até mesmo energia elétrica. — Jungkook ergueu as sobrancelhas em surpresa.

— Vocês usam energia fotovoltaica? — Taehyung perguntou, já que era a que usavam graças ao trabalho árduo de diversos engenheiros muitos anos atrás.

— Usamos energia eólica, grandes empresas usavam muita energia no passado, por isso fizeram diversos espaços para energia eólica espalhadas por Washington, Redmond e Seattle — Yoongi explicou e Jungkook e os outros assentiram. — Enfim, nossos recursos no presente momento são ilimitados, mas apenas um único zumbi pode mudar isso, um único deles pode acabar com tudo o que construímos. Por isso queríamos poder reforçar nossas barreiras, expandir e construir, mas não vamos conseguir fazer isso enquanto lutamos contra eles.

— E vocês querem o Vendetta para fazer isso funcionar — Taehyung perguntou e Yoongi assentiu. — Então em troca de darmos um pouco da droga a vocês, seremos recompensados com mantimentos.

— Exatamente — Yoongi respondeu com um sorriso. — Quero que esse seja o primeiro passo para uma duradoura parceria, vocês têm mais acesso a medicamentos e conhecimentos que nós, não sabemos como, mas é nítido que vocês têm conhecimento em ciência apenas por conseguirem produzir uma droga capaz de deixá-los invisíveis aos zumbis.

— Vocês estão usando ele agora? — Jimin perguntou e Jungkook assentiu.

— Como vocês vieram pelas ruas sem nós vermos? — Yoongi perguntou. — Estávamos olhando pela janela, não vimos qualquer movimento nas ruas.

— Não viemos pelas ruas — Taehyung respondeu. — É muito arriscado.

— Mas se vocês estão usando o Vendetta... — Jimin disse enquanto os encarava de maneira confusa. — Por que se importar se serão vistos pelos zumbis?

— Há muitas coisas a serem explicadas a vocês sobre o Vendetta — Taehyung suspirou, mas pareceu relaxar um pouco sua postura, não os via mais como suspeitos. — Mas uma delas é que não viemos usando ele, usamos apenas quando chegamos aqui, todo o caminho que fizemos foi pelos telhados, para não haver encontros inoportunos.

— Realmente há muito que aprender com vocês, assim como podemos ensinar muitas coisas também — Yoongi sorriu e pareceu relaxar também.

— Será um bom acordo — Jimin disse com um sorriso fofo.

— Aparentemente sim — Taehyung respondeu. — Mas vocês terão que ouvir nossas condições também.

— Claro, já viemos esperando por isso — Yoongi respondeu prontamente.

— Vocês querem acesso ao Vendetta e nossos remédios certo? — Taehyung perguntou e Yoongi e Jimin assentiram. — Então vocês nos ajudarão no processo de fabricação deles, porque é algo extremamente difícil de se fazer.

— Certo, como nós poderíamos ajudar? — Yoongi perguntou, sua expressão ficou um pouco mais séria.

— Vocês têm hortas? — Taehyung perguntou e os dois assentiram. — Precisamos que plantem as ervas medicinais usadas na produção do Vendetta, nós usamos uma estufa longe da nossa resistência, é sempre muito arriscado ir até lá para cultivar, porque o processo leva meses e sempre acabamos encontrando com contagiados no caminho. Mas seria muito mais fácil se vocês fizessem isso na segurança da resistência de vocês.

— Claro podemos fazer isso sim! — Yoongi concordou de imediato.

— Temos também algumas coisas a esclarecer sobre o uso do Vendetta — Taehyung completou. — O Vendetta não pode ser-

Chefe? — Uma quinta voz interrompeu Taehyung e deixou Jungkook confuso, todos focaram suas atenções em Yoongi, que tirou um rádio comunicador de sua cintura.

— Alex, estou na escuta — Yoongi respondeu ao apertar o botão e o colocou o rádio perto da boca.

Me desculpe chefe — sua voz soou sôfrega e embargada, o que fez Yoongi franzir o cenho e Jimin encará-lo com preocupação.

— Alex, o que aconteceu? — Yoongi perguntou preocupado e alguns chiados foram ouvidos antes da voz de Alex soar novamente.

E-Eu tentei impedir eles — Alex chorou e em seguida soltou um resmungo, parecia estar com dor. — Eu não vou poder te ajudar a recepcionar os Sussurradores, o Kalel atirou em mim pelas costas...

— Você está ferido? — Yoongi perguntou com os olhos arregalados. — Aquele maldito...

Isso é o de menos chefe, minha morte ia chegar em algum momento — ele gemeu de dor e pareceu respirar fundo. — Mas não é sobre isso que eu queria falar com você, eu não sei como, mas eles descobriram a localização da resistência dos Sussurradores. — Yoongi arregalou os olhos e encarou Jungkook, que encarou automaticamente Taehyung com o semblante preocupado. — Yoongi eles estão armando contra você há dias, eles estão planejando fazer algo... Ei! Fica longe de mim!

Um chiado voltou a tomar o lugar da voz de Alex e barulhos de tiro foram ouvidos antes de alguém entrar na linha novamente.

Olá chefe — uma voz feminina e desconhecida saiu do auto falante do rádio. — Sentiu minha falta?

— O que você fez com o Alex, Evangeline? — Yoongi pareceu estar muito aborrecido, Jimin revirou os olhos ao seu lado.

Ele estava me impedindo de falar com você, então tive que tomar o rádio do cadáver dele — sua voz não demonstrava qualquer arrependimento por matar um homem ferido a sangue-frio.

— Sua... — Yoongi inflou o peito, a julgar pela sua expressão, ele não gostava nem um pouco dessa tal de Evangeline.

Poupe suas ofensas Yoongi, só vim para te avisar sobre o "show" de fogos — ela o cortou animadamente. Yoongi franziu o cenho.

— Show de fogos?

Olhe pela janela — ela respondeu.

Yoongi encarou Jimin de maneira confusa e receosa, mas caminhou até a janela atrás deles para olhar o "show de fogos" do qual Evangeline havia falado. Jungkook e Taehyung se encararam antes de também caminharem até a janela, estavam curiosos e temerosos pelo que ouviram Alex falar antes de morrer, por isso quando estavam lado a lado com Jimin e Yoongi, eles olharam para a paisagem. De onde estavam conseguiam olhar o caminho que fizeram para chegar até ali, bem ao fundo conseguiam observar o bosque onde a resistência ficava escondida, quando olhavam daquele ângulo podiam observar o quanto a vegetação cresceu, o bosque tomava uma parte da cidade. Fora aquilo, não viram absolutamente nada de diferente, o que fez Jungkook franzir o cenho, o que a tal de Evangeline queria que Yoongi visse?

— Evangeline não estou entendendo o que-

Uma explosão repentina assustou a todos, Jungkook viu uma cortina de fumaça cobrir o bosque e aquilo fez seu coração parar de bater em seu peito por um momento, seus olhos se arregalaram quando notou que a explosão aconteceu na mesma direção que ficava o laboratório onde moravam. Em choque ele colocou a mão na boca quando a ficha caiu, Alex havia dito que descobriram a localização da resistência deles antes de morrer, ou seja, eles invadiram o laboratório enquanto estavam fora negociando com Yoongi. Era uma emboscada desde o princípio, mas não para matá-los, mas sim para invadirem quando estivessem longe. Jungkook olhou para Yoongi com raiva, mas ele parecia tão chocado quanto ele.

— Eu não... — Yoongi ia dizer algo, mas novamente fora interrompido por Evangeline.

Gostou chefe? — Ela perguntou com um sarcasmo nítido em seu tom de voz. — Mas ainda não acabou, não fizemos isso apenas para conseguir o Vendetta sabe?

— De que porra você está falando Evangeline?! — Yoongi gritou com o rádio na mão.

Vai ser trágico, nosso chefe morreu durante a invasão na resistência dos Sussurradores, todos ficarão extremamente tristes com a notícia — ela fingiu um falso tom triste. — Todos vão ficar umas feras com os Sussurradores por terem te matado, nem vão ligar se trouxermos alguns deles para a nossa cidade, vão culpá-los pela sua morte e não teremos que explicar o porque sequestramos alguns deles. Podemos dizer que foi para vingar a sua morte.

— Evangeline... — Yoongi parecia estar à beira de um ataque de raiva.

Tudo teria sido diferente se você estivesse escolhido a mim em vez dele — a voz dela ficou ríspida de repente. — A culpa é sua, tenha uma boa morte ao lado do seu amante Yoongi.

— GENTE O CHÃO! — San gritou de repente, o que atraiu o olhar de todos. Uma fumaça clara levemente amarelada começou a ser liberada pelo chão e entrou pelas frestas das portas e depois do teto.

— CUBRAM O ROSTO E SE PROTEJAM! — Yoongi gritou, ele se jogou no chão e puxou Jimin com ele.

Jungkook não teve tempo de fazer o mesmo antes de uma explosão arremessá-lo contra a parede com força, o que o fez gemer dolorido e proteger seu rosto das chamas, sentiu seu braço esquerdo arder e sua cabeça girar por conta do impacto dela contra a parede. Um zumbido tomou sua audição, junto a uma tontura, mal teve tempo de se recuperar antes de sentir seu braço ser puxado sem qualquer delicadeza e seu corpo ser chacoalhado, podia observar o rosto aflito de Taehyung enquanto o encarava, ele gritava algo que seus ouvidos não conseguiam identificar. Quando sua percepção voltou ao normal, gradualmente sua audição também, mas junto a ela uma dor excruciante em seu ouvido esquerdo que o fez se encolher e levar a mão até o local, para abafar o som. Mas um tremor no chão o fez se distrair da dor, então ouviu o que Taehyung estava querendo dizer quando o levantou.

— O CHÃO ESTÁ CEDENDO! — Gritou antes do tremor embaixo de seus pés o calar.

Taehyung apenas olhou para Jungkook preocupado antes do concreto abaixo deles ceder e levar os dois juntos aos escombros.

~🖤~

KKKKKKKKKKK Fodeu

Olha eu queria dizer para vocês que vai melhorar... Mas não vai, só espero que vocês não tenham se apagado a alguns personagens :)

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