-20²
Jeon Jungkook
Mesmo abraçado ao irmão a noite toda, não foi empecilho para os pesadelos tornarem sua tranquila noite de sono em um inferno, sonhou com bebês em meio ao caos do mundo lá fora, eles eram caçados e mortos por uma horda de contagiados. Sonhou com Hailey com a gravidez avançada, ela gritava e fugia de um corredor sedento por sangue, ele rangia os dentes e rosnava como um demônio, ansioso para rasgar a carne dela como se fosse feita de papel, fácil de ser retalhada por seus dentes. E o pior de tudo, era que em todos os pesadelos, ele não conseguia salvá-la, sequer conseguia se mexer, ela e o bebê morriam em todos os cenários, bem diante de seus olhos. Esse sonho se repetiu durante toda a madrugada, assistiu a morte dela e do bebê diversas vezes, das mais cruéis maneiras.
Havia também um homem em seu sonho, ele ficava apenas à espreita assistindo tudo sem se mover, falar ou ajudar, apenas ficava lá, parado enquanto admirava a cena como um incisivo e apático telespectador. Jungkook sempre tentava chegar até Hailey ou o bebê, mas nunca era rápido o suficiente, eles sempre eram pegos e morriam da pior forma possível, sem que ele conseguisse fazer nada para impedir. Toda vez que o cenário se repetia ele olhava para o homem, era instintivo, ao final seus olhos sempre se dirigiam em direção a ele, que não tinha rosto ou forma definida, sabia que era um homem por suposição. Ele apenas continuava lá, parado, mas quando Hailey foi morta pela última vez ele falou algo que arrepiou Jungkook dos pés a cabeça.
"Eu te avisei que isso aconteceria" foi o que ele disse. Mas o que lhe causava pânico era que reconhecia a voz, ele podia não ter rosto, mas agora sabia quem ele era.
Quando acordou na manhã seguinte estava suado e ofegante, parecia que tinha corrido vários quilômetros em pouquíssimo tempo, seu irmão já havia saído da cama e nem havia notado que ele tinha levantado em algum momento, pois por mais que estivesse com pesadelos, seu sono foi profundo. Quando levantou-se sentiu o cheiro gostoso de comida fresca e seu estômago roncou, não teve uma refeição decente antes de ir dormir na noite anterior, por isso estava morto de fome. Enquanto caminhava pelo dormitório de sua mãe, lembrou-se do que houve em seu próprio dormitório no dia anterior, a cada passo uma lembrança o invadia como um pensamento intrusivo, que deixava o sentimento angustiante em seu peito cada vez pior.
Hailey havia o traído.
O gosto em sua boca se tornou amargo e ele travou o maxilar, queria poder escovar os dentes e tirar aquele gosto ruim da boca, mas infelizmente seu kit de higiene pessoal estava em seu dormitório, então apenas ignorou o gosto ruim e caminhou até sua mãe e irmão. Eles estavam sentados na mesa, eles comiam enquanto conversavam e riam de alguma coisa, assim que chegou foi recebido por dois sorrisos grandes e idênticos, era algo da genética de sua mãe pôde notar, os três tinham sorrisos iguais, Junghyun era quase uma cópia sua, a única diferença entre eles eram as janelinhas nos dentes e os cabelinhos com cachinhos caindo sobre os olhos dele, herança do pai provavelmente.
Doyeon foi uma genetriz, que optou por criar os dois e não deixá-los sob os cuidados de um tutor, já que sempre quis ser mãe e mesmo sem desejar um relacionamento, realizou seu sonho sozinha e com excelência. Jungkook sempre se perguntava quem era seu pai na infância, mas já na vida adulta a curiosidade aos poucos se foi, há alguns anos quando foi promovido a líder dos Sentinelas, deixou sua curiosidade e seu poder assumir um pouco de seu tempo, pediu para olhar os registros de doadores, não porque queria um pai, mas sim por pura e inocente curiosidade. Descobriu que seu pai biológico era um homem chamado Nomin, era um dos cientistas do laboratório, morreu há quatro anos ao ser contagiado pelo vírus da Raiva, morreu amarrado em uma das macas da enfermaria.
Uma morte terrível, já que nos registros mostravam que ele sofreu muito antes de falecer.
Jungkook tinha óbvios traços de sua mãe, era muito parecido com ela, Junghyun também, mas a diferença entre os dois irmãos era que o caçula tinha cachinhos e seus olhos eram mais puxadinhos, parecia um gatinho. Sua mãe lhe contou que eram um dos poucos descendentes de asiáticos no laboratório, com exceção dos filhos de genetrizes que herdaram os genes dos doadores com origem também asiática. Doyeon explicou a ele quando era pequeno, que anos atrás quando o mundo estava acabando, havia diversos soldados de etnias diferentes trabalhando nos Estados Unidos, por isso haviam pessoas de diversos países e culturas diferentes ali.
Todos eram membros do governo, que para esconder seus feitos e pesquisas mandaram muitos soldados para a escolta e proteção do laboratório, acabou que isso ajudou a resistência a se formar, pois se não fossem os soldados, os contagiados teriam matado todos que se refugiaram lá dentro. Embora tivessem pais diferentes, Jungkook e Junghyun tinham semelhanças notáveis, os cachinhos em seus cabelos lisos eram um charme que Doyeon e ele amavam no caçula, era simplesmente adorável demais para cortar, por isso seus fios ondulados estavam chegando nas maçãs de seu rosto.
— Vai tomar café com a gente? — Doeyon perguntou com um sorriso e Jungkook assentiu, sentou-se à mesa junto a eles logo em seguida.
— A mamãe conseguiu fazer panquecas para a gente hoje! — Junghyun sorriu grande e enfiou um pedaço imenso de panqueca na boca.
— O Joseph nos presenteou, por eu ter ajudado a curar o Nam — ela disse junto a um sorriso. — Deu dois tickets de refeição a mais, por isso consegui fazer, ele estava me agradecendo.
— Ele estava era dando em cima de você — revirou os olhos e colocou uma panqueca em seu prato. — De novo.
— Ele não me vê dessa forma filho — ela bebeu um pouco de suco natural e recebeu um olhar debochado de Jungkook. — Ele sabe que não tem chances comigo.
— Isso não impede que ele fique te presenteando com o intuito de ganhar a sua atenção.
— Deixa ele dar os presentes para a mamãe Ggukie — seu irmão disse com um sorriso. — Pelo menos a gente come comida boa.
— Eu posso conseguir comida boa para vocês dois — Jungkook olhou desacreditado para seu irmãozinho interesseiro.
— Melhor ainda, mais comida — ele sorriu de boca cheia, o que arrancou uma risada sua.
— Hoje o dia vai ser cansativo — Doyeon suspirou e seus filhos a encararam.
— Por que? — Jungkook perguntou enquanto comia sua panqueca, estava uma delícia, pois sua mãe era uma ótima cozinheira.
— Hoje a gente vai tentar produzir o máximo de analgésicos e antibióticos que a gente conseguir com os recursos que temos, que são poucos, estamos esperando a lista dos botânicos, com todas as plantas medicinais que precisamos para entregar a vocês.
— Ainda essa semana? — Ele perguntou preocupado e ela assentiu. — Precisamos de mais alguns dias, o Vendetta ainda está em nossa corrente sanguínea e para buscas deste tipo precisamos dele. Não posso pedir aos meus Sentinelas para fazerem isso, vai deixá-los incapacitados por semanas.
— Quanto tempo vocês precisam? — Ela perguntou preocupada.
— Mais uma semana, no mínimo, para ele deixar nosso sangue e não desenvolvermos nenhuma sequela ou efeito colateral grave.
— Vou conversar com eles, passar o que você me falou, Joseph provavelmente vai chamá-lo para conversar sobre isso, tem aparecido muitos doentes nos últimos dias, os enfermeiros não estão dando conta — ela disse enquanto observava Junghyun comer sua panqueca com muita vontade. — Suspeitamos que seja um surto de alguma doença, estamos estudando, mas está ficando cada vez mais difícil.
— É grave?
— Por enquanto apenas um paciente morreu, mas todos estão sofrendo com dores, febre e vômitos, alguns estão com sudorese e apresentam manchas na pele — ela listou com o olhar fixado no teto de maneira pensativa. — Não temos um diagnóstico e não mostra nada nos exames.
— Uma nova doença era tudo o que a gente precisava mesmo — suspirou pesaroso e Doeyon concordou. — Tem algo que vocês precisem? Que não seja de grande porte e que não seja uma busca demorada?
— Vocês vão sair hoje? — Ela perguntou preocupada, era sempre assim, desde que se tornou Sentinela. Jungkook acenou que sim. — Mas e o Vendetta?
— Não iremos usá-lo hoje, iremos treinar novos recrutas, passarão pela inicialização hoje, eles terão que enfrentar um corredor e matá-lo sozinhos — colocou um pouco de suco em seu copo, aquela era a pior parte do treinamento. Falhar significava morrer.
— Toma cuidado... Por favor — ela pediu com um olhar tristonho, Jungkook sorriu para ela.
— Eu sou bom no que eu faço mãe, não se preocupe, eu voltarei sem nem um arranhão — sorriu e segurou sua mão, para passar toda sua segurança a ela. — Não me tornei líder à toa.
— Sei disso, mas sei também que sem o Vendetta vocês estão vulneráveis — ela suspirou, mas pareceu aceitar que não tinha outro jeito. — Precisamos de baterias, procurem por carros conservados, que não estejam tomados pela umidade. Conseguimos consertar algumas e carregá-las com a energia fotovoltaica, usaremos elas nos aparelhos do laboratório.
— Acionarei meus Sentinelas para procurarmos.
— O Tae vai com você? — Junghyun perguntou com um sorriso e Jungkook suspirou.
— Infelizmente.
— Vocês eram bons amigos — sua mãe o encarou com curiosidade. — Nunca entendi porque vocês começaram a se odiar do nada.
— O Taehyung tem um problema muito sério em aceitar que as coisas não funcionam da forma que ele quer — disse de maneira esquiva, não queria ter que relembrar o passado. — Mas hoje vou ser obrigado a aturar ele.
— O Tae é um homem muito inteligente, já nos ajudou muito no laboratório, se ele não fosse um Sentinela seria um ótimo cientista — Doeyon elogiou.
— Ele não é um Sentinela mãe, quer dizer, mais ou menos, a área dele é mais teórica do que prática. A especialidade dele é estratégia e não combate.
— Mas ele é bom nos dois — Junghyun disse com um sorriso inocente e um bico se formou nos lábios de Jungkook.
— É... — Concordou. Taehyung era um babaca, mas era um babaca habilidoso e isso Jungkook não podia negar.
— Por isso ele entrou para o conselho, não é? Joseph reconheceu a inteligência dele — Doeyon perguntou e Jungkook assentiu.
— Igual o Ggukie? — O Hyun perguntou e seu irmão assentiu.
— Taehyung e eu nos destacamos entre os outros, isso chamou a atenção dele — Jungkook terminou de comer e encarou o irmão. — Agora somos membros do conselho, por sermos bons no que fazemos.
— Faz muito tempo, mas os dois eram inseparáveis Hyun — Doeyon sorriu de maneira nostálgica, o que fez Jungkook cruzar os braços. — Eles fizeram todo o treinamento de Sentinelas juntos, eram melhores amigos, mas do nada a amizade deles acabou e agora só abrem a boca para falar mal um do outro.
— Por que vocês brigaram? — Junghyun perguntou curioso.
— Longa história, um dia eu te conto — respondeu e colocou o resto da panqueca de Junghyun na boca, seu irmão protestou e deixou um beijo na testa dele antes de se levantar. — Preciso ir, ainda tenho que passar no meu dormitório antes de ir para o trabalho.
— Se cuida Ggukie! — Junghyun se despediu enquanto ele se afastava e sua mãe acenou com a mão dizendo um "até mais".
— Vejo vocês depois — respondeu após calçar seus sapatos e logo em seguida sair do dormitório.
(...)
Jungkook estava de braços cruzados em uma sala com diversas cadeiras enfileiradas, ele esperava que os novos recrutas e Taehyung chegassem, já havia passado em seu dormitório e tomado um banho, vestiu seu "uniforme", que era nada mais que uma blusa escura de manga cumprida, uma calça camuflada também escura e botas bem desgastadas. Hailey claramente já havia ido embora de seu dormitório após sua não tão amigável despedida na noite anterior, levou com ela todas as coisas como roupas e kit de higiene, o único rastro de que ela um dia já esteve em seu dormitório era o perfume dela em sua cama, pois o perfume que estava em seu corpo, ele fez questão de tirar. Seu humor depois de sair de casa estava horrível, sequer conseguia sorrir por educação para as pessoas que passavam por ele.
Ficou bons minutos parado enquanto olhava para o nada de maneira fixa até de Taehyung entrar na sala, ele usava a mesma roupa que Jungkook e seu cordão de identificação estava para fora da camisa preta, ele exibia a númeração que o distinguia dos outros moradores do laboratório. O clima ficou pesado após seus olhos se encontrarem por alguns segundos, nenhum dos dois disse uma única palavra um ao outro, apenas ficaram em silêncio, sem sequer voltar a cruzar os olhares. Jungkook odiava aquela tensão, odiava ver o desgosto nos olhos dele toda vez que o viam, odiava também o que se tornaram, sua mãe estava certa, eram inseparáveis no passado, mas agora mal conseguiam sustentar o olhar um do outro por mais de dois segundos.
Ao menos não discutiram como faziam normalmente, isso já era uma conquista e tanto.
Ficaram alguns minutos em silêncio, apenas esperaram pelos novos recrutas como se a presença um do outro não existisse, os recrutas seriam trazidos por San e Hoseok, junto com mais dois membros da equipe de Taehyung. Quando enfim todos chegaram, os novos recrutas sentaram-se nas cadeiras distribuídas pela sala e Taehyung caminhou até estar ao seu lado — ainda sem fazer contato visual ou dizer algo — Hoseok e San se puseram atrás de dele e Minjae e Lisa se colocaram atrás de Taehyung, cada membro com seu líder. Os dois esperaram todos se sentarem e ficarem em silêncio para que começassem a explicar o que aconteceria daquele dia em diante. Quando toda a atenção estava sobre eles, Jungkook começou.
— Boa tarde recrutas, parabéns por terem chegado até aqui — ele disse sério, a máscara profissional já havia voltado ao seu rosto. — Todos sabem o porquê estão aqui? — Perguntou e viu todas as cabeças se moverem em concordância.
— Então sabem que se falharem não voltarão para casa certo? — Taehyung perguntou com a voz banhada em seriedade, como a de Jungkook, pois quando colocavam suas máscaras profissionais, se transformavam em pedras. Todos que estavam sentados na sala olharam uns para os outros temerosos, a maioria deles tinham entre dezoito e vinte anos. — Todo o treinamento até agora foi feito para esse momento, para lidar com os contagiados cara-a-cara, estão mesmo preparados para isso?
Eles ficaram nitidamente receosos, mas aquilo era necessário, eles deveriam saber onde estavam se metendo.
— Aqueles que quiserem desistir levantem agora e podem sair, porque depois não há mais volta — Jungkook completou e todos os rostos demonstravam medo. Mas ninguém se levantou. — Parabéns pela coragem.
— Vamos agora aos conhecimentos de vocês, Jungkook e eu vamos testá-los, prepará-los e levá-los para a superfície — Taehyung cruzou os braços. — Irei fazer perguntas sobre os infectados e ele fará sobre combate, lembrem-se, respostas erradas são aceitas, mas atitudes erradas são pagas com a morte. Os contagiados não querem saber se são novatos ou não, eles irão para cima de vocês para matá-los. Um passo em falso e você ou seu parceiro morre, então prestem bem atenção, isso não é uma brincadeira.
— Hoje irá nós seis — Jungkook apontou para si mesmo e seus parceiros, em seguida para Taehyung e sua equipe. — Apenas nós estaremos armados com armas de fogo, temos munição limitada, iremos usá-las somente em casos extremamente importantes.
— A morte de vocês não é uma delas, deixamos isso bem claro caso achem que iremos defendê-los — Taehyung completou sua fala.
— Nós iremos apenas assistir e garantir que vocês não levem o vírus para dentro da nossa resistência, caso um de vocês seja infectado, nós o mataremos — Jungkook olhou nos olhos de cada um e observou muitos engolir em seco. — De acordo com o relatório há doze recrutas, esperamos que os doze voltem, mas caso alguém falhe, apenas a identificação dessa pessoa voltará.
— Alguma pergunta quanto a essa parte? — Taehyung perguntou e uma mão se levantou. — Diga.
— Iremos todos juntos? — Uma garota perguntou, Jungkook notou que ela segurava a mão de outra garota, que estava sentada ao seu lado.
— Iremos dividi-los em dois grupos, seis irão comigo e seis irão com Jungkook — Taehyung respondeu e as meninas se encararam. — Vocês estão juntas?
— Sim... — Uma delas respondeu de maneira receosa, parecia com vergonha.
Mesmo no fim do mundo ainda existia preconceito, embora Taehyung e muito menos Jungkook fossem julgá-las, certamente outras pessoas o fariam, por isso era compreensível o receio delas em contar sobre aquilo. Entendia muito bem o receio delas, os Sussurradores eram muito evoluídos em muitas coisas, mas por conta do sistema de genetrizes, muitos achavam importante um relacionamento entre um homem e uma mulher, duas pessoas do mesmo sexo não eram bem vistas, por isso sofreu tanto quando soube que não seria capaz de ter filhos. Houve até mesmo o caso onde um casal homoafetivo se assumiu, mas foram tão criticados e atacados que se separaram, nem todos eram fortes o bastante para lidarem com a pressão.
— Então irão separadas — Taehyung respondeu firme, notou que as duas arregalaram os olhos e pareciam a ponto de chorar. — No combate com os contagiados não pode haver distrações, uma olhada de esguelha para sua namorada pode significar sua morte. Lá fora é cada um por si no treinamento, quando aprenderem a se defender sozinhos vocês podem tentar defender seus parceiros.
— Sobreviva hoje, para proteger sua namorada amanhã — Jungkook disse quando viu que elas estavam nitidamente em pânico. Porém as duas assentiram, receosas.
— Agora vamos as perguntas — Taehyung direcionou o olhar para Jungkook, implicitamente perguntou quem iniciaria primeiro, Jungkook apenas acenou com a cabeça, para que ele fizesse suas perguntas primeiro. — Vocês estudaram sobre os contagiados com nossos Sentinelas e Especialistas, então espero que estejam bem informados. Quais são os nomes dos contagiados e o que eles fazem? — Ele perguntou e vários braços se ergueram, Taehyung apontou para um garoto na ponta.
— Espreitadores, Corredores, Berradores... Hm... Cuspidores, Empilhadores e Demolidores — ele listou, contando nos dedos.
— Exato, qual é a ordem? De acordo com o nível de ameaça — Taehyung voltou a perguntar, quando as mãos se ergueram novamente, ele escolheu uma garota mais ao fundo para responder.
— Em ordem crescente, das ameaças menores às maiores são: os Corredores, Berradores, Cuspidores, Demolidores, Empilhadores e Espreitadores — ela respondeu com convicção e Taehyung assentiu novamente.
— Quais são as características de cada classe de contagiados? Dessa vez cada um irá listar as características de cada classe, começando pelo primeiro da fileira e depois o que está ao lado dele e assim por diante — Taehyung indicou uma garota na primeira fileira, então ela se endireitou na cadeira e se preparou para falar.
— Os Corredores são os contagiados mais comuns, eles ficam ociosos quando não encontram pessoas para atacar, não enxergam no escuro e são atraídos pelo som — ela respondeu, o que deixou todo o restante da sala em silêncio. — Eles sempre correm em nossa direção, por isso receberam esse nome, eles nos infectam pela mordida, a saliva deles entra em contato com o nosso sangue e em minutos viramos um deles.
— Os Berradores são cegos, se orientam pelo som e a audição deles é precisa, um ruído mínimo pode acordá-lo de seu estado ocioso — o garoto que estava ao lado dela continuou. — Assim que ouvem algum ruído eles começam a soar um alarme, gritam à uma altura absurda para chamar a atenção de qualquer infectado que está por perto.
— Os Cuspidores são uma classe rara, eles tem a estatura menor que a dos outros contagiados e gostam de altitudes altas, normalmente ficam agarrados em prédios, no teto de construções e árvores — um garoto continuou, na ordem dos acentos. — Eles cospem em nossos olhos com a intenção de nos cegar, somente a saliva pode nos infectar, mas pelos olhos é um processo lento, por isso pulam em cima de nós e nos mordem. São uma classe de certa forma simples de lidar, se protegermos nossos olhos, não darão tanto trabalho quanto um Corredor.
— Demolidores são infectados grandes e extremamente fortes, eles quebram paredes com facilidade e com apenas um único golpe, ele pode quebrar muitos dos nossos ossos de uma vez. Normalmente ele nos nocauteia antes de nos infectar — a ordem se seguiu lentamente. — Eles também são uma espécie rara, normalmente encontrada em lugares como esgotos e lixões. Mas eles são lentos comparados aos outros contagiados.
— Os Empilhadores são como os Corredores, se tornam mais perigosos porque eles se juntam uns aos outros e se transformam em uma horda, eles conseguem escalar e sobem um em cima do outro para conseguir nos pegar. Mas assim como os Corredores, ficam cegos no escuro.
— Os Espreitadores são os mais perigosos — uma garota começou a listar a última classe. — Eles são inteligentes e furtivos, são como os líderes dos Contagiados, eles são caçadores, sentem nossos cheiros e nos rastreiam, usam as sombras para se esconderem e nos observam até encontrarem a oportunidade perfeita de nos pegar por trás.
— Exatamente, vocês estão todos corretos — Taehyung elogiou, embora sua voz tenha soado firme e sua expressão não tenha denunciado nenhuma emoção, Jungkook sabia que ele estava orgulhoso. — Os Espreitadores são nossa maior ameaça, eles podem nos seguir até aqui e esperar o momento perfeito para se infiltrar, apenas um deles é capaz de matar todos nós. Mas eles tem uma fraqueza, qual é?
— Eles são sensíveis à luz e tem uma audição muito limitada — a mesma garota que falou sobre as características respondeu e Taehyung assentiu.
— Eles são criaturas noturnas, estão sempre em lugares úmidos e escuros, por terem a visão extremamente boa, são muito sensíveis a luz — Taehyung olhou no rosto de todos os recrutas antes de continuar. — Se um lugar está aparentemente "vazio e silencioso" é provável que haja um Espreitador ali. Há uma lei silenciosa entre os contagiados, onde há uma espécie mais evoluída, os outros se afastam, para respeitar seus territórios. Por isso nunca abaixem a guarda, vocês podem pensar que estão seguros, mas nenhum lugar na superfície é seguro. — Taehyung olhou para Jungkook e acenou com a cabeça. Era sua vez de explicar.
— Antes de subirmos lá para cima, nós daremos a vocês as proteções que usamos para evitar qualquer tragédia — Jungkook disse com a voz firme. — Uma proteção feita de aço para o antebraço, por mais fortes, rápidos e perigosos que os Contagiados sejam, os dentes deles são como os nossos, então não conseguem penetrar uma placa feita de puro aço. Vocês usarão o antebraço para se protegerem da mordida, enquanto o contagiado está tentando penetrar a placa, vocês irão perfurar sua cabeça com a faca. O golpe sempre deve ser executado na cabeça, eles não morrerão se forem acertados em qualquer outra parte do corpo.
Aquela informação era extremamente importante, pois Jungkook já perdeu amigos e recrutas por não terem atingido a cabeça do contagiado, vidas podem ser salvas se as informações forem passadas corretamente, por isso era sempre bom ressaltar. Esperava que todos prestassem muita atenção a todas as informações que passou e iria passar, pois não queria ter que levar seus colares de identificação para seus familiares e amigos, não queria dar a eles a notícia que não haviam passado no teste e não voltariam para o conforto de seus braços. Muitos não sabiam como era o mundo lá fora, pois apenas os Sentinelas podiam sair, então muitos não entendiam quando tinham que explicar o porquê de seu filho, seu irmão ou seu amigo não ter retornado vivo lá de cima, uma vez que ele próprio conseguiu retornar.
— Mais uma coisa extremamente importante! — Jungkook disse com a voz extremamente séria e firme, para enfatizar de que aquilo não deveria sair de suas mentes. — Lá em cima, os contagiados não são a única ameaça, o mundo lá em cima foi tomado pelos animais, muitos deles são dóceis, mas há aqueles que foram infectados e são tão perigosos, ou até mais, que os contagiados. Então fiquem sempre de olhos abertos, assim que sairmos da segurança do laboratório, tudo é uma ameaça. — Uma mão se ergueu e Jungkook deu a fala à garota que estava na primeira fileira.
— Esses animais também podem nos infectar? — Ela perguntou e Jungkook ficou quieto.
— Podem — Taehyung respondeu em seu lugar, já que ele era especialista em contagiados. — O vírus atingiu todos os animais, mas alguns tiveram uma reação diferente dos outros, alguns o vírus apenas se hospedou, os tornou fracos e os matou aos poucos, outros o vírus não causou absolutamente nada, os deixou assintomáticos e permaneceram ali até o ciclo deles se encerrar. Mas há também aqueles que se tornaram como os contagiados, sua aparência é de um cadáver, mas são ágeis e fortes, o intuito deles também é espalhar o vírus, procurar por hospedeiros para sobreviver e consequentemente, nos matar.
— Por isso que tomamos diversas medidas para não sermos infectados — Jungkook novamente olhou nos olhos de cada um antes de continuar. — Óculos e máscara para evitar que os Cuspidores nos infectem com o vírus, as placas de aço nos antebraços, para impedir a mordida e roupas escuras para nos camuflar. Nossos sapatos são revestidos com borracha, para abafar ruídos e evitar quedas em pisos molhados, ele nos ajuda a correr em velocidade máxima sem termos que nos preocupar com derrapagem. Usamos também uma colônia que disfarça nosso cheiro, o odor é forte e bem desagradável, porque foi feito com sangue de um cadáver não infectado, para impedir que os Espreitadores nos rastreie e nos sigam. Mas não se enganem, eles vão seguir vocês mesmo que estavam com o odor na morte no corpo, são criaturas curiosas, eles vão investigar o porquê de você cheirar como um deles, mas não ter o que eles têm. E se ele chegar perto o suficiente para descobrir, é o seu fim.
— A única coisa que vai nos tornar invisível a eles é o Vendetta — Taehyung continuou. — O Vendetta é uma droga extremamente forte que força nosso corpo a produzir uma enzima "repelente", ela age no nosso sistema imunológico, nos macrófagos, ela nos impede de sermos infectados, mas por tempo limitado, nos torna invisíveis aos olhos dos contagiados. Isso acontece pois os macrófagos induzidos por essas enzimas irão eliminar qualquer patogênico desconhecido. Eles não nos atacarão enquanto estivermos sob o efeito da droga, mas você ainda será infectado caso algum fluído corporal infectado entre em contato com sua corrente sanguínea depois que a droga parar de fazer efeito.
— Nós iremos usar o Vendetta hoje? — Um garoto perguntou mais ao fundo e Jungkook riu.
— Não, vocês irão para superfície sem nenhuma droga, apenas com uma faca de combate e as proteções — respondeu e os olhos de todos se arregalaram. — Iremos para uma área relativamente tranquila, com apenas Corredores, estaremos na retaguarda, para impedir que vocês matem uns aos outros, é cada um por si. Mas saibam que uma das nossas regras mais absolutas é que se alguém trair o parceiro, jogá-lo para a morte ou usá-lo de escudo, a pena é de exílio ou morte. Taehyung e eu somos parte do conselho dos líderes, não precisamos da autorização do Joseph para aplicar a sentença nesse tipo de caso. Somos chamados de Sussurradores por sermos silenciosos e letais, exímios assassinos, não vamos hesitar em atravessar uma bala na cabeça de vocês por esse tipo de crime imperdoável. Aqui uma vida é paga por outra, estamos entendidos?
— Sim — todos responderam em uníssono, alguns pareciam querer correr para longe dali.
— O Taehyung vai explicar o porquê vocês não usarão o Vendetta e o sacrifício que farão ao entrar para os Sentinelas — Jungkook olhou para Taehyung e ele assentiu, antes de voltar sua atenção para os recrutas.
— O Vendetta é uma droga extremamente complicada de ser produzida, por isso não usamos sempre que saímos, elas são apenas para buscas muito difíceis e demoradas do lado de fora, para impedir que sejamos interrompidos durante a coleta. Cada um aqui vai receber depois da iniciação uma cartela com cinco cápsulas, elas jamais devem deixar os bolsos de seus uniformes. — Ele retirou a própria cartela de seu bolso e a ergueu, Jungkook e os outros que estavam atrás deles fizeram o mesmo, para mostrar suas cartelas. — A dose é contada, se perder, você irá sem.
— Uma única cartela é o suficiente para sobrevivermos por vários dias? — Um garoto perguntou mais ao fundo.
— Uma única cápsula é o bastante para salvar sua vida — Taehyung respondeu. — Vocês não podem tomar mais que duas cápsulas por vez, essa droga é muito forte e mexe com todo o nosso corpo, o sacrifício que vocês estão fazendo ao inferir uma delas é irreversível. Os macrófagos irão matar qualquer célula estranha, inclusive as hospedadas pelo vírus, mas há um grande porém, ao tomar o Vendetta, os macrófagos podem matar não somente as células infectadas, como também as nossas células normais e sadias. — Ele explicou e todos estavam completamente focados no que dizia. — O preço por ter as suas células de defesas forçadas a se fortalecer, é que os efeitos colaterais do Vendetta é matar seus espermatozóides e causar infertilidade feminina, ou seja, ao usar a droga, vocês não poderão mais ter filhos.
Aquilo querendo ou não atingiu Jungkook, ele sentiu seu estômago se revirar como se tivesse levado um soco, aquele era um sacrifício necessário caso quisesse de tornar um Sentinela, não havia volta. Ele nunca seria capaz de gerar uma criança, assim como nenhum de seus parceiros, fossem eles Especialista ou Sentinelas, todos eram estéreis. Hailey sabia disso, Jungkook foi sincero com ela desde o início, ela sabia do que abriria mão se escolhesse ficar ao seu lado. Mas pelo visto, somente o seu amor não era o bastante para ela. Ele preferia ter sido rejeitado ou largado, em vez de ser traído, o golpe teria sido bem menos doloroso e humilhante.
— O Vendetta também tem outros efeitos adversos — Taehyung continuou, alheio ao seu desconforto. — Uma dose é capaz de deixá-los enjoados por um tempo, até se acostumarem com a mudança que está sendo feita em seu organismo, ficarão tontos e desorientados por alguns instantes, após isso o corpo de vocês irá se adaptar à droga. Depois da primeira dose, vocês podem tomar apenas mais uma, cada uma das doses dura uma hora em seu corpo, mas a segunda dose terá um efeito muito mais forte que a primeira. O metabolismo de vocês vai acelerar muito, ficarão invisíveis por mais uma hora, mas as tonturas ficarão ainda mais constantes e vocês terão quedas bruscas de pressão, alguns já chegaram a desmaiar e outros a infartar. — Os recrutas arregalaram os olhos. — Tudo tem um preço, se quiserem ficar imunes, mesmo que seja temporário, terão que escolher entre dois males, porque ao tomar mais que duas drogas, vocês podem ter alucinações, sudorese, baixa definitiva na imunidade, queda de cabelo e no pior dos casos, a morte.
— Dos males o menor — Jungkook disse com a voz neutra. — Sempre vai haver um sacrifício, vocês devem escolher. Viver com os efeitos colaterais ou morrer como um contagiado.
— Depois de tomar a droga, vocês terão que esperar duas semanas até ela sair de sua corrente sanguínea para usá-la novamente, ou vocês terão todos os efeitos colaterais juntos, é como tomar uma terceira dose, se não morrerem, ficarão incapacitados — Taehyung cruzou os braços. — Por isso estejam cientes que não subiremos a superfície sempre com a proteção do Vendetta.
— Mais um detalhe importante! — Jungkook disse ao se lembrar de um detalhe que não poderia deixar passar. — Somos uma resistência independente, temos tratados de paz e negócios com algumas resistências, mas nosso maior inimigo são os Serpentes. Estejam cientes que não devemos conversar com nenhum deles, eles torturarão vocês pelo Vendetta. Eles são assassinos assim como nós, mas são muito mais impiedosos, eles colocariam esse lugar abaixo para ter o que querem. Por isso, caso sejam pegos ou seguidos, corram, se não conseguirem correr, rezem.
— Alguns dos nossos já foram sequestrados por eles — San disse pela primeira vez, Jungkook pôde sentir o pesar em sua voz.
— Eles cometeram suicídio — Lisa continuou. Quando a notícia chegou até eles, ficaram em luto por semanas. — Eles preferiram a morte do que a tortura.
— Normalmente quando nos encontramos com eles, conseguimos sair sem chamar atenção ou os neutralizados, sem mortes e partimos — Taehyung respondeu com sua confiança inabalável. — Mas se vocês estiverem sozinhos... Não há muito o que fazer, eles sempre andam em grupos. Por isso não se afastem de nós.
— Alguém tem mais alguma pergunta? — Jungkook perguntou e ninguém levantou a mão. — Alguém quer desistir? — Novamente ninguém se moveu, mas ele podia ver o receio em seus rostos. — Então todos se levantem e sigam para o elevador, San, Hoseok, Lisa e Minjae levaram vocês até lá.
Todos se levantaram e caminharam atrás dos Sentinelas em silêncio, todos estavam assustados e realmente tinham diversos motivos para alimentar esse sentimento. Todos foram treinados antes de chegarem naquela sala, todos haviam passado por diversos desafios até chegar onde chegaram, estavam naquela sala apenas os melhores pela avaliação de seus parceiros e Especialistas. Quando o último deles deixou a sala, Jungkook direcionou seu olhar para Taehyung, que também lhe encarou, não disseram uma única palavra, apenas caminharam para fora da sala juntos, como líderes apenas eles tinham permissão para buscar os equipamentos e armas de fogo no depósito e laboratório dos cientistas.
Andaram lado a lado sem dizer uma única palavra, mas Jungkook sentia que Taehyung queria soltar alguma farpa, parecia ansioso para dizer algo, mas ele se conteve e agradeceu imensamente por isso, seu humor não estava dos melhores e definitivamente não estava com paciência para discutir. Precisavam ir buscar as colônias inibidoras, armas e munições, por isso para evitar contratempos Jungkook puxou sua identificação de dentro da blusa e a deixou exposta sobre seu peito. Assim que chegaram no ambulatório foram recebidos por dois enfermeiros.
— Do que precisam? — Um deles perguntou rápido, sabia bem que não podiam demorar ali.
— Inibidores — Jungkook respondeu e ele assentiu e fez um gesto para que o seguisse.
Os dois passaram a segui-lo silenciosamente, caminharam pelo ambulatório onde puderam observar diversas pessoas acamadas pelo caminho, algumas conversavam entre elas, enquanto outras dormiam, não pareciam tão mal, pareciam ter um caso simples. Jungkook sabia que sua mãe estaria ali, por isso a procurou pelo espaço e a encontrou somente depois de atravessar uma porta restrita, onde somente pessoas autorizadas podem entrar. Ela usava um jaleco branco e estava com dois frascos nas mãos, assim que os viu abriu um sorriso enorme, o enfermeiro que os guiou se afastou para buscar o que eles precisavam, enquanto Jungkook e Taehyung esperavam.
— Oi Tae tudo bem? — Ela perguntou com um sorriso imenso, ele também sorriu, enquanto Jungkook segurou a vontade de revirar os olhos.
— Estou bem doutora Doyeon — disse com uma educação polida, mas com um sorriso gentil nos lábios.
— Como vai a Chloe? — Ela deixou os frascos de lado para dar atenção a ele e Jungkook franziu o cenho.
Quem é Chloe?
— Ela vai muito bem — se possível o sorriso de Taehyung aumentou ainda mais.
— Ela está melhor? Os remédios que eu forneci ajudaram? — Sua mãe perguntou preocupada, enquanto Jungkook olhava de um para o outro intercaladamente, para entender sobre o que falavam.
— Ajudaram muito, ela está bem melhor, não está tendo mais febre e ela não reclama mais de dores na garganta.
— Ainda bem, ela é um doce, você tem muita sorte — ela sorriu e Taehyung lhe deu um sorriso sincero, grande e quadrado.
— Eu sou um homem de muita sorte por tê-la comigo — ele respondeu, ainda com o sorriso nos lábios.
Quem é Chloe?!
— Jungkook, a Hailey veio me ver hoje — Doyeon disse de repente, o que o tirou de seus devaneios. Travou o maxilar ao lembrar-se dela.
— O que ela queria? — Sua curiosidade lhe mataria um dia.
— Primeiro queria remédios para ajudar com os enjôos, ela anda tendo muitos.
— Eu percebi, ela estava vomitando quando cheguei em casa ontem — suspirou.
— Mas também disse para eu conversar com você — ela olhou em seus olhos, estava explícito que ela não gostava da situação e entendia bem. Doyeon era sua mãe afinal, não queria vê-lo se machucar. — Ela queria que eu o convencesse a ouvir ela, a dar uma chance.
— E o que você disse?
— O que queria que eu dissesse? — Seu olhar incisivo era como uma faca.
— Que recusasse — respondeu rápido e Doeyon abriu um sorriso orgulhoso.
— Eu recusei, disse que você não precisa de um amor pela metade — ela deu de ombros e cruzou os braços. — Eu juro que se ela não estivesse grávida eu daria uns belos tapas nela.
— Você? Machucando alguém? — Jungkook riu e observou sua mãe fazer um bico. — Você é boazinha demais mãe, não conseguiria ferir um inseto nem se quisesse.
— Você não sabe o que eu sou capaz de fazer para proteger um filho meu Jungkook — embora seu tom tenha soado calmo, seu olhar transmitia pura determinação.
— Não vou duvidar — ele sorriu e sua mãe sorriu também.
— Aqui está — o enfermeiro voltou com uma caixa cheia de frascos. — Vou marcar a retirada de vocês hoje no formulário, não esqueçam de avisar ao Joseph depois.
— Certo — Jungkook e Taehyung responderam ao mesmo tempo.
Taehyung pegou a caixa e os dois se despediram de Doyeon com um aceno, os dois caminharam juntos para fora do ambulatório, em direção ao armazém. Taehyung por caminhar com a caixa, acabou por andar atrás de maneira silenciosa, enquanto Jungkook apenas focava sua atenção no caminho, pois queria chegar o mais rápido possível em seu objetivo e evitar conversas paralelas. Podia sentir o olhar de Taehyung em suas costas, sabia que ele queria perguntar sobre a Hailey, sobre a gravidez dela, jogar sal em sua ferida e descobrir a verdade, ele claramente sabia qual era a resposta, mas queria ouvir sair de sua boca para que pudesse esfregar em sua cara, Jungkook esperava apenas que ele ficasse quieto, que escolhesse o silêncio ao menos uma única vez.
— Então a Hailey está grávida — Taehyung disse como quem não quisesse nada e Jungkook suspirou.
— Está — foi tudo o que respondeu.
— E o filho obviamente não é seu — ele continuou e Jungkook apertou as mãos em punhos, apressou mais o passo, tinha medo que perdesse o controle se não distraísse sua mente o mais rápido que pudesse.
— Não é — respondeu com amargura.
— Nunca fui com a cara dela — continuou após ignorar completamente o desconforto de Jungkook. — Sempre me pareceu falsa, muito interesseira e mesquinha. Ela só queria o que seu posto como líder podia oferecer, não é?
— Taehyung eu não quero falar sobre isso! — Travou o maxilar, quase rangeu os dentes em desconforto.
— O que? Sobre o fato da Hailey estar grávida ou do filho não ser seu? — Perguntou com sarcasmo e Jungkook parou no lugar, respirou fundo e virou para encará-lo.
— Qual a porra do seu problema hein?! — Jungkook quase gritou, se segurou para não avançar em cima de Taehyung. Ele apenas lhe encarava com uma expressão apática. — Eu já disse que não quero falar sobre isso, é tão difícil de entender?!
— É ruim quando você faz planos com alguém e ela joga tudo no lixo por puro egoísmo, não é? — Continuou a falar como se a ira de Jungkook não o assustasse. — Seu noivado acabou?
— Você é um babaca!
— Poxa ele era tão perfeito — Taehyung fez uma falsa cara triste, o que fez uma veia saltar na testa de Jungkook. — Um casal lindo, pena que a noiva é infiel. Ela ao menos contou para você sobre a gravidez? Ou você descobriu por conta própria?
— Cala.a.merda.da.boca! — Disse pausadamente e deu um passo perigoso em direção a Taehyung, que apenas sorriu. — Nós terminamos, está feliz? Ela me traiu e nosso noivado acabou. Está satisfeito agora?!
— Estou — seu sorriso se desfez e ele ficou sério novamente. — Estou muito satisfeito e sabe o porquê Jungkook?
— Estou ansioso para descobrir — respondeu com nítido deboche.
— Porque eu te avisei que isso aconteceria — ele olhava em seus olhos, todo seu corpo tencionou ao ouvir o que Taehyung sempre dizia em seus pesadelos, mesmo antes da traição de Hailey. — Talvez assim você aprenda, que as coisas não acontecem da forma que você quer. Nem tudo você pode manipular, você agora é adulto, deveria entender ao menos isso.
— Disse o cara que guarda rancor de algo que aconteceu há anos — cruzou os braços e fingiu que as palavras dele não o atingiram. — Você não tem moral para me cobrar nada Taehyung, você quer que as coisas funcionem da maneira que você quer, está guardando ressentimento porque eu não quis ouvir suas exigências.
— Não Jungkook. — Ele deu um passo à frente, com uma expressão séria e uma pose intimidadora. — Eu guardo ressentimento porque você não foi homem suficiente para ser dono das próprias escolhas.
~🖤~
Eita, que tenso... Teorias?
O próximo capítulo vai ser o último capítulo "baunilha", do quarto para frente é só ladeira abaixo :)
Estão avisando desde já... Essa fic tem MUITOS gatilhos, toda vez que for pesado demais eu irei avisar. Mas o intuito dessa obra é mexer com os sentimentos de vocês, então estejam cientes de que vocês não vão sair daqui sem xingar, chorar ou sofrer.
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