Capítulo 21|Tal mãe, tal filho
Assim que entraram para dentro de casa o som de uma conversa vinda da cozinha pode ser ouvida por ambos. Victor travou instantaneamente no meio da sala quando reconheceu a voz aveludada da mãe naquela conversa, a sua risada alta e característica que só ela conseguia soltar quando alguém lhe dizia algo engraçado.
── Está tudo bem? - Pietro questionou. Percebendo a inquietude do outro ele se aproximou e timidamente segurou a mão de Victor, ganhando a atenção do homem. ── Vamos?
Ele sorriu e concordou balançando a cabeça positivamente.
Não era uma questão de temer a mãe ou seu ar autoritário e manipulador que só ela possuía mas sim temer seus sentimentos com relação a mulher. Era uma questão de não ver aquela pessoa a muitos e muitos anos, de não reconhecer mais nela uma mãe e sim uma visitante que vinha e ia quando bem entendia. Ela foi uma ótima mãe, isso Victor não poderia negar, mas sua ausência com o passar dos anos seguintes a morte do pai fez ele se esquecer completamente de como era a sensação de ter o amor materno.
Quando finalmente chegaram a cozinha lá estava ela, belíssima como sempre. Os cabelos continuavam escuros como uma noite sombria assim como os de Victor, de costas ela não apresentava nenhuma mudança no físico. Dominique estava trajada com uma calça social marrom claro, um suéter de lã na cor creme e salto alto branco. Deslumbrante era um adjetivo que lhe caía bem. Ao lado dela e de Safira estava também uma jovem de cabelos ruivos e pele com um tom alaranjado como um sol de verão, aparentemente deveria ter seus vinte e dois anos pela face se mostrar de uma pessoa muito novinha.
── Mãe. - Victor dirigiu a palavra a ela. Safira se levantou quando notou a presença do chefe no local.
Calmamente Dominique descansou a xícara de chá sobre o balcão e se virou para o filho, abriu um singelo sorriso que demonstrava sua ponta de felicidade em ver aquele quem ela chamava de meu menino. Ela se levantou e caminhou a passos lento até o filho, finalmente ficando próxima a ele. Analisou seu rosto minuciosamente, capturando cada pequeno detalhe dele até que levantou as mãos e tocou-o nas bochechas. Victor ergueu uma das suas e retribuiu o carinho tocando as mãos dela, acariciando-as.
── É muito bom te ver de novo meu filho. - concluiu, por fim abraçando-o.
Atrás deles Pietro não conseguia deixar de notar que aquela moça ao lado de Safira o encarava com olhos atentos e observadores. Alem do seu olhar, Dominique também o notou sobre os ombros de Victor graças a sua altura ser exatamente como a do filho - mas obviamente o salto lhe dava alguns centímetros a mais. A expressão fria e distante, o olhar sério e sedutor. Pietro estava diante daquela que era a cópia exata de Victor, assim como ele também herdara tudo dela. Restava saber se seu modo frio também havia sido herança da mulher.
♱
Depois de muitos abraços e demonstrações de afeto desnecessárias entrei em meu quarto e me certifiquei de que não havia nenhum empregado próximo dali antes de fechar a porta e tranca-la.
── Será que você poderia me explicar porque demônios chegou sem avisar? - indaguei andando até Dominique. ── Pelo menos uma ligação ou um recado com a Alexa. Eu agradeceria muito sabia!
── A querido é ótimo saber que você não mudou. Ainda continua o mesmo rapaz impaciente e sem um pingo de senso de humor. - fora tudo o que ela disse enquanto observava atenta tudo em meu quarto. Após dar um giro completo com os olhos Dominique finalmente me encarou. ── Não é óbvio? Eu queria fazer uma surpresa para o meu filho. Isso é crime agora?
── É crime quando você não me avisa. - bufei esfregando uma das minhas mãos em meu rosto. ── Mãe a senhora não pode se dar ao luxo de andar por ai como se fosse uma mulher comum. Eu poderia ter pedido para que um dos meus homens fosse busca-la no aeroporto.
── Poupe a preocupação querido, sua mãe sabe se cuidar muito bem. - rebateu logo encurtando nossa distância ao se aproximar de mim. Ela tocou meu rosto e o virou para os lados. ── Olhe só para você. Essas olheiras estão péssimas Victor.
Não me contive e soltei uma pequena risadinha baixa, acaricando o rosto dela de volta.
── Olhe para você também. Com todas essas cirurgias plásticas que você faz será impossível eu te reconhecer daqui alguns dias. - como resposta recebi um olhar torto da mais velha. ── Quem não tem senso de humor agora mãe?
── Muito engraçado Victor.
Dominique retirou os saltos e andou até minha cama, deitou o corpo cansado nela e relaxou. Muitos provavelmente diriam que aquela bela mulher não era minha mãe se nos vissem juntos, mas o que poucos sabiam é que Dominique Bretonne detestava o fato de que um dia iria envelhecer.
A vaidade era o seu maior pecado e ela sempre buscava maneiras de permanecer sempre jovem e bela pois a ideia de que poderia vir a ser como uma das demais mulheres - aquelas que ela julgava serem normais no seu ponto de vista - que possuíam rugas e marcas de expressão lhe assustava. Estar sempre com uma boa aparência e bonita era seu principal objetivo e ela não media esforços para retardar o tempo.
── Eu presumo que aquele belo rapaz é quem eu estou pendendo que é. - comentou fazendo algumas caretas para o espelho que ficava ao lado da cama. ── Ele é parecido com a mãe em todos os aspectos?
── Um pouco pior. - brinquei. ── Pietro é uma pessoa difícil mas com jeitinho eu estou chegando a onde quero com ele.
── Ao ponto de o pedir em casamento? - fiquei em silêncio. ── Meu filho, francamente. Ainda não fez o pedido?
── Ele não é o anjinho que você e eu conhecemos a alguns anos atrás. Os últimos meses foram um completo inferno mas por outro lado eu até que gosto disso. - comentei deixando um sorriso escapar. ── As coisas se tornaram divertidas.
── Ainda se divertindo com o sofrimento alheio? - Dominique se levantou e ficou sentada, cruzando as pernas em seguida. ── Um passarinho me contou sobre o que você fez com o Rômulo. Fiquei muito feliz quando soube que aquele maldito desgraçado que matou o meu marido finalmente foi morto e pelas mãos do meu filho querido.
── Você nem gostava tanto assim do meu pai. - lembrei, guardando as mãos dentro do bolso. ── Aliás, parece que passou muito bem os últimos meses. As várias garotas. - a vi abrir um sorriso malicioso. ── Quem é aquela que veio com você?
── Beatrice? É apenas uma protegida minha. - respondeu dando de ombros. Ri.
── Ainda arrumando submissas mãe? Eu pensei que com toda essa beleza você ja teria arrumado algum pretendente.
── Querido eu não tenho mais tempo para namorados ou matrimônios. De agora em diante eu desejo apenas satisfazer meus desejos, apenas isso. - balancei minha cabeça para os lados.
── Você é horrível.
── É por isso que sou sua mãe. - rebateu com um ar desafiante.
── De qualquer forma eu espero que conheça bem aqueles que você decide colocar do seu lado. Não queremos dividir nosso Império com qualquer um ou correr o risco de sermos traídos. - Dominique assentiu. Retirei minhas mãos dos bolsos e andei em direção a porta, mas antes de sair me virei para ela. ── A, eu tenho um pedido para fazer. Por favor, não assuste o Pietro com suas ideias perversas.
Dominique apenas levou sua mão até os lábios e me jogou um beijinho.
♱
── É uma bela pintura. - comentou uma voz feminina rente ao meu ombro.
Retirei os fones do meu ouvido e me virei para trás. A presença daquela bela garota que eu havia visto mais cedo junto da mãe de Victor me fez ficar mais aliviado. Ela sorriu ao notar que eu estava distraído e se sentou de frente para mim na cadeira vaga.
── Desculpe, não foi minha intenção te assustar. - seu tom de voz era doce e suave, totalmente de acordo com o que eu esperava. ── Eu estava passando pelo jardim e te vi aqui tão solitário, pensei que pudesse te fazer compainha. Mas se quiser que eu vá.
── Espere! - segurei seu pulso assim que a vi fazer menção de que iria se levantar. ── Está tudo bem, você pode ficar.
Ela assentiu ficando mais tranquila e voltou a se sentar.
Pensei que a partir dali daríamos início a uma conversa bastante agradável mas ao contrário daquele meu pensamento apenas ficamos em um completo silêncio. Tudo o que podia ser escutado por nós era só o barulho que a ponta do meu lápis fazia no papel do bloco de desenhos. Eu a observei de canto de olho e vi que ela parecia muito ansiosa ao mesmo tempo em que me observava com aquele mesmo olhar de minutos atrás, talvez estivesse curiosa para perguntar alguma coisa mas tinha receio ou simplismente não sabia como me perguntar.
Abri um pequeno sorriso e parei com o que eu estava fazendo para olha-la.
── Você por acaso tem algo para me perguntar?
── Bom... - ela pensou por alguns segundos, desajeitada. ── É que a Dominique me falou muito sobre essa casa, sobre o filho dela. Ele é realmente muito bonito e você deve se sentir bem sortudo por ser noivo dele. - me contive em esconder minha cara de surpresa e engoli com força o gole do suco que havia acabado de colocar na boca. ── Algum problema?
── Não, que isso. Eu apenas... Espere um pouco, nós ainda não nos apresentamos direito. - falei tentando escapar um pouco da pergunta para me recompor do baque.
Ela esticou seu braço em minha direção e abriu um sorriso.
── Me chamo Beatrice Riviéri.
── Pietro. - segurei sua mão e sorri de volta para ela. Encostei minhas costas no recosto da cadeira e relaxei. ── Quem te disse que Victor e eu somos noivos?
── Dominique me contou a alguns dias atrás que o filho dela estava pretendendo se casar com uma pessoa que vivia aqui com ele. Como a maioria dos que nos receberam se apresentaram como funcionários e você chegou com ele eu presumi que fosse você o noivo. - Beatrice falava cada palavra com graça.
── É. Olha, não é bem assim também. Eu e o Victor somos... Como posso dizer. - fora minha vez de criar um raciocínio para explicar nossa relação. ── Nós temos um relacionamento intenso, digamos assim.
── Imagino que seja mesmo pelas coisas que a Dominique me conta sobre o filho dela. Mas deve ser incrível morar em uma casa como essa. - os olhos dela brilhavam olhando em volta, desde o jardim onde estavamos até o restante da casa. ── Me diz; Como é essa vida?
── Como?
── A você sabe. Vários carrões na garagem, esse lugar que parece um palácio e todo essa vida de rei. Isso deve ser incrível! - ri ao ver o entusiasmo dela que mais se parecia com o de uma criança que acabou de ganhar o presente que queria.
── Por que acha que essa vida é tão maravilhosa assim? - questionei, curioso. ── Você fala como se já conhecesse tudo isso.
── Bem, eu conheço um pouco. A Dominique e eu.
── Beatrice. - antes que a garota pudesse completar sua fala Dominique surgiu na porta que dava acesso ao jardim. Ela colocou suas mãos sobre o mármore e sorriu ao nos ver juntos. ── A! Ai está você, eu estava te procurando. Espero que não tenha falado muito sua danadinha.
Beatrice sinalizou que não e recebeu um olhar duvidoso de Dominique. Ela se levantou e olhou para mim antes de acompanha-la.
── Eu preciso ir agora. Foi um prazer te conhecer.
── Igualmente. - balancei minha cabeça e a vi sair acompanhada da mulher.
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