Capítulo 20|O que você quiser você terá
É curioso como as pessoas podem mudar seu pensamento depois de certas situações ou circunstâncias e é assustador o fato de que até mesmo um simples e puro anjo pode se tornar um verdadeiro monstro quando se conhece os demônios certos.
Naquele momento, ainda no comecinho da manhã, eu estava deitado na cama de Victor abraçado a ele. Seu membro ainda maltratava meu interior e tocava as partes mais sensíveis dentro de mim de tal forma que me causava sensações que eu nunca havia experimentado em toda a minha vida, nossos corpos suados se agarravam um no outro como se precisassem ficar juntos eternamente. Talvez eu necessitasse mais dele do que ele de mim, e sinceramente eu o queria, desejava não afasta-lo mais de mim. O teria só para mim e vice e versa.
Abri um longo e alto bocejo em meio ao nosso beijo ao tempo em que virava meu rosto para o lado, insinuado e permitindo que ele me marcasse mais com seus dentes. Poucos lugares em minha pele ainda estavam limpos, assim dizendo.
── Que horas são? - meu tom era sonolento e desnorteado, esfreguei meus olhos com os indicadores para tentar ver melhor.
Os lençóis estavam uma completa bagunça, eu estava uma completa bagunça e Victor parecia muito bem disposto. Seu corpo escultural era um pecado e a visão mal iluminada que eu tinha dele era digna de me deixar ardendo em desejo de novo.
── Talvez sejam cinco horas ainda. - soltei mais um longo bocejo e escutei uma risadinha baixa vir dele. ── Está cansado?
── Um pouco. Não dormimos.
── É claro que não. Se eu te contasse as coisas sujas que você me disse durante a noite toda... O que você me implorou para fazer Pietro. - antes mesmo que eu pudesse retrucar suas palavras Victor tomou meus lábios e invadiu minha boca com sua língua, levando não só meu fôlego como também o resto da minha consciência consigo.
Minha única reação foi abraçar seu tronco e entrelaçar minhas pernas em sua cintura, sentindo ele envolver minhas curvas com seus braços.
── Eu preciso de um banho. Um banho decente dessa vez. - cochichei acariciando a nuca dele com movimentos circulares. Victor me olhou e deu um rápido selar em minha boca.
── Vá na frente, eu vou pedir para que tragam o café aqui.
Esperei que ele se levantasse, vestisse uma calça moletom e saísse do quarto para que assim eu pudesse ir até o banheiro. Depois de tudo o que havíamos feito naquela cama eu não estava sentindo um pingo de vergonha, mas ainda sim meu subconsciente não deixava de berrar comigo a sentença você transou com a porra do cara que acabou com a sua vida.
Diante de tudo aquilo eu só conseguia rir como um tolo que tinha acabado de ter seus desejos saciados e que queria mais, que não se culpava pelo que havia feito e a onde chegará. Eu estava certo de que a partir dali eu não iria parar.
No banheiro eu entrei para dentro do box e girei o registro, fui para de baixo do chuveiro e deixei que a água morna levasse embora todo o meu cansaço menos a sujeira que Victor havia deixado em mim. Passei as mãos pelos meus cabelos os penteando para trás e sorri quando senti um braço rodear minha cintura e uma mão sorrateiramente segurar meu queixo e afastar minha cabeça para trás.
Me virei para Victor e puxei-o pelo pescoço para beija-lo. Longe dele era fácil se sentir culpado mas ao seu lado era difícil não sentir desejo, e agora eu entendia todas aquelas sensações que ele me causava quando eu estava com ele.
── Eu estive com Erick naquele dia em que nos vimos no hospital. - Victor derramou um pouco de shampoo em sua mão e passou a massagear meus cabelos com o líquido, criando um pouco de espuma. Me virei e continuei o ouvindo falar enquanto fechava meus olhos lentamente. ── Conversei com ele e lhe pedi perdão pelo mal entendido e pelo que fiz, como você gostaria que eu fizesse. Também disse que assim que estiver melhor ele poderá voltar para o posto dele.
── Fez isso por mim?
── Me pergunte o que eu não faria por você Pietro. - ele abriu um pequeno sorriso. Gentilmente segurou meus ombros, me fazendo ficar de frente para si de novo. ── Eu estou feliz que você está aqui, e agora não pretendo te deixar sair por ai mesmo que você me implore para que eu me afaste. O que aconteceu foi apenas uma das várias coisas que podem acabar te acontecendo se você ousar sair do meu lado.
── Mas eu tenho certeza que conseguiria escapar sozinho. - resmunguei, observando a água cair sobre os ombros de Victor. ── Você não precisava ter vindo atrás de mim.
── Ainda quer discutir sobre? Eu pensei que já estivéssemos bem em relação a esse assunto. - ouvi ele suspirar enquanto retirava toda a espuma do meu cabelo.
── Como soube sobre o que aconteceu comigo? Nem mesmo eu sabia onde estava.
── Verônica me procurou. Ela veio até aqui e contou que você não havia aparecido na aula, me enfrentou dizendo que eu deveria ir atrás de você e bom, eu fui. - Victor contava tudo com muita tranquilidade.
── Eu... Não pensei que ela teria coragem de vir aqui lhe pedir ajuda. Ela sempre foi tão decidida, como eu. - comentei. ── Mas como encontrou o local?
── Angar. Qualquer dia eu apresento você a ele, inclusive talvez ele tenha acessado sua conta para te localizar, mas isso não é nada com que você tenha que se preocupar. - ele sorriu, pegou um sabonete líquido e começou a passar pelo meu corpo.
Fiquei em silêncio, conspirando com os meus pensamentos. Eu não sabia mais em qual nível estávamos, se depois que saíssemos daquele banho voltaríamos a nos odiar e brigar feito gato e rato. A forma como Victor havia me deixado sair da sua vida me pegou desprevinido e agora eu estava ali novamente, atrás da linha inimiga e muito próximo do inimigo.
── No que tanto você pensa? - o encarei, percebendo que ele também estava me encarando de volta com aquele olhar sério.
── Você vai querer que eu volte a morar aqui?
── Está de brincadeira? - seu questionamento escapou em um tom um tanto quanto descrente do que eu perguntará. Victor me encostou na parede fria e agarrou minha coxa direita, elevando ela até sua cintura. ── Mas é claro que eu quero que você volte, afinal essa é sua casa também. Eu te quero aqui Pietro, comigo, pelo resto da sua vida. Ficou claro?
Balancei minha cabeça em afirmação. Victor sorriu e segurou minha nuca, logo puxando meu rosto para unir nossas bocas uma na outra. Ele me virou para a parede, encostou minhas mãos nela e deixou as suas por cima das minhas entrelaçando nossos dedos em seguida. Meus batimentos cardíacos aceleraram rapidamente quando senti algo duro roçar minha pele nua.
── Victor, espera... - arfei virando meu rosto para olha-lo.
Ele se abaixou até encostar seu corpo no meu, juntou e prendeu minhas mãos com uma das suas e com a outra segurou minha cintura.
── Eu já esperei tempo demais. Nesse momento só quero te mostrar o quão prazerosa pode ser a convivência comigo Pietro. - com malícia ele sussurou, em seguida deixou um caminho de mordidas e beijos em minhas costas.
Após sair de um banho regado a muitas carícias e toques intensos, já devidamente vestido com um roupão preto muito confortável, me deparei com uma bandeja farta em cima da mesa de centro perto da estante da TV. Nela havia uma pequena travessa de porcelana com frutas cortadas em cubinhos, torradas, um jarro com Iorgute de coco e outro com café. Victor abriu os braços um pouco e fez menção para que eu me sentasse para comer, assim o fiz e comecei a desfrutar de alguns morangos.
── Precisamos falar sobre as medidas de segurança. - olhei para ele fazendo uma careta. ── Para a sua segurança. Eu não posso simplesmente te deixar sair por ai desprotegido.
── Não pode me manter trancado aqui na sua fortaleza Victor. - avisei voltando a dar atenção a comida que estava ali.
── Você sabe dirigir? - assenti que sim com a cabeça. ── Pois bem, eu vou te dar um carro novo de presente exclusivamente para você ir a onde quiser. Mas como uma condição é claro.
── E qual seria essa condição?
── Você vai poder ir a onde quiser sozinho a partir de hoje, mas desde que deixe pelo menos um localizador no seu veículo. É pra sua segurança e eu não quero correr o risco de acontecer algo como o que aconteceu ontem de novo.
Pensei por alguns minutos naquela condição e percebi que aquilo era melhor do que não ter nada.
── Sem seguranças para me vigiar?
Ele riu.
── Sem seguranças para te vigiar. - prometeu levando os indicadores aos lábios e os beijando. ── Tem uma outra coisa que eu preciso te contar. Encontraram o cara que te sequestrou.
── Assim tão rápido?
── Angar o encontrou depois que descobriu sobre o lugar onde você estava. Seu nome é Velásquez, tem 45 anos, mora com a esposa e mais dois filhos. - Victor puxou uma pasta que eu notei que estava ali com ele o tempo todo e a entregou para mim. ── Dê uma olhada e veja se o reconhece.
Peguei a pasta com um pouco de receio e a abri, meus olhos passaram por cima das informações sobre aquele homem tais como lugares onde ele ou sua esposa costumavam frequentar. Havia também algumas fotos dele nesses lugares assim como fotos dos filhos e da mulher, uma jovem de cabelos escuros. Observando atentamente sua fisionomia e expressão era impossível negar sua semelhança com o homem que me sequestrou.
── É ele. - murmurei, folheando mais algumas páginas.
── Excelente. - vi Victor se levantar e direcionar uma de suas mãos em minha direção. ── Eu quero te levar até um lugar.
♱
Estava de noite e tudo o que eu conseguia ver assim que desci do veículo era um completo breu em volta de onde estavamos, alem do frio que me fez congelar. Victor e eu fomos sozinhos, apenas na compainha um do outro no que parecia ser o galpão que ele possuía, durante todo o trajeto até lá ele sequer havia me dito uma palavra sobre o que iríamos fazer, apenas disse que era uma surpresa a qual eu iria gostar muito.
── Não sabia que aqui era tão grande. - comentei enquanto caminhávamos até a grande estrutura mais a frente.
O mato em volta era alto e chegava a ser até mais alto que as próprias grades de certa que cercavam o terreno. A atmosfera não era nada agradável, ela era fria e terrivelmente silenciosa, sendo possível ouvir o que o vento sussurrava em nossos ouvidos.
── Aqui já serviu para muitos trabalhos, todos que você possa imaginar Pietro. - Victor falou, soltando uma risadinha baixa.
Ao entrarmos, mais escuridão era notável. Lá dentro haviam caminhões tanque estacionados, alguns extremamente velhos e com a lataria completamente prejudicada. Eu presumi que todos aqueles estragos foram causados por tiros e até mesmo de ataques, ou eles apenas eram usados para treino já que não morava uma alma sequer próximo ao lugar onde o galpão ficava para escutarem um tiro.
── O que viemos fazer aqui? - questionei olhando em volta, até quase me chocar com Victor assim que ele havia parado.
── Esta noite você fará seu primeiro feito como futuro membro do Império e terá sua primeira lição.
A cena que presenciei quando uma luz fora acesa foi horrível e cruel o suficiente para conseguir me tirar o chão; Velásquez e sua esposa estavam ambos amarrados em uma cadeira de metal, suas pernas e seus braços presos de uma maneira bem firme com fios de arame farpado e correntes, suas bocas cobertas com fita silver tape. Como se só aquele ato não fosse cruel o bastante, ambos estavam seminus, vestidos apenas com suas roupas íntimas.
── Mas que porra... - meus olhos estavam arregalados, meu sangue por um segundo tinha até parado de percorrer pelo meu corpo. Dei alguns passos para trás e tive meu ombro segurado por Victor. ── Por que eles estão aqui? Você mandou fazerem isso com eles??
── Olhe bem para eles Pietro. - Victor segurou meu queixo na intenção de me obrigar a encara-los. Lágrimas escorriam pelos seus olhos e o desespero se fazia presente em suas faces. ── Imagine tudo o que esse nojento poderia ter feito com você naquele muquifo. Pense na esposa dele, inocente esperando o marido com os filhos em sua casa. Não sente nenhum pingo de vontade de se vingar?
── Eu não sou como você. - murmurei com dificuldade.
── Mas vai aprender a ser. Ouça bem Pietro; Neste mundo, apenas aqueles que aceitam dançar na melodia do demônio se dão bem. Se você se considera parte de uma minoria que cairia fácil, então é seu dever aprender a dançar nessa melodia.
Cada palavra sussurrada por Victor em meu ouvido me fazia tremer, fosse por medo ou por ódio. Sempre acreditei que a violência e a vingança não eram meios de alívio ou salvação, mas tudo àquilo que eu acreditava estava sendo destruído e alimentado com novas crenças. Eu finalmente estava compreendendo que agora vivia em um novo mundo onde presenciava de perto que todos aqueles que tinham poder se davam muito melhor do que os que se mantinham fiéis e orgulhosos aos seus valores.
Aquele mundo era um palco e todos que viviam nele faziam parte de uma plateia. Aquela poderia ser a nossa plateia.
── Eu não posso... Não consigo fazer isso. Por favor... - supliquei.
Victor sacou uma pistola com uma das mãos e com a outra pegou a minha, uniu as duas no objeto e direcionou meu dedo e o seu até o gatilho. Assim ficamos parados naquela posição por alguns segundos, braços retos e apontados na direção de Velásquez e sua mulher, naquele curto tempo eu pensei em todas as escolhas que vinha fazendo ao longo dos meses, tudo que sacrifiquei e joguei no lixo, logo percebi que para mim restavam apenas dois caminhos e em um deles eu conseguia me ver com uma pontinha de felicidade.
── Pour toi mon amour. - Victor sussurrou e em seguida puxou o gatilho.
Fechei meu olhos e senti uma fina gota deslizar pelo meu rosto, os gritos de desespero e dor duraram poucos segundos, tudo ficou em silêncio e ao abrir meus olhos vi apenas dois corpos já sem vida. Sai para fora daquele galpão em completo silêncio e esperei Victor retornar no carro, minha cabeça dava voltas e mais voltas e voltava ao ocorrido de minutos atrás.
── Eu tinha outros planos para nós mas precisamos voltar para casa agora. - ele comentou ao se aproximar de mim com o celular em mãos.
── O que vai acontecer com os filhos dele?
── Vão para a adoção, creio que encontrarão uma família boa para ambos. - explicou, segurando meu rosto com as duas mãos. ── Você esta bem?
── Como consegue ficar assim tão tranquilo depois do que acabamos de fazer? - comentei ainda atordoado. Victor acariciou minhas bochechas e me puxou até que eu encostasse meu rosto eu seu peito. ── Eu os matei Victor.
── E você fez um excelente trabalho. - ele beijou o topo da minha cabeça e me afastou para que o olhasse. ── Agora tente esquecer isso, ja passou. Nós precisamos voltar para a casa agora.
── O que houve?
── Uma pessoa acabou de chegar de viagem. - um breve sorriso se formou nos lábios de Victor. ── Você finalmente conhecerá a senhora Dominique Bretonne, minha mãe.
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