Capítulo 11|Desejos iguais
Terminei de me arrumar e desci para tomar café da manhã junto de Victor. Nossa relação parecia ter melhorado depois que decidi me obrigar a se acostumar com aquela vida. Não seria das melhores, mas ainda sim era o melhor que eu conseguiria ter. Ele estava na varanda dos fundos, se satisfazendo da mesa farta com bolo, alguns docinhos, pão, suco, café, leite entre outras coisas.
── Bom dia. - falei, puxando uma cadeira para me sentar, já apanhando um pedaço do bolo de chocolate.
── Bom dia. Alexa me contou sobre como você se saiu na reunião ontem com Frederic. Acredita que ele me ligou só para dizer que adorou você? - Victor perguntou após beber um gole do café. Fiquei boquiaberto com aquela notícia pois pensava que havia me saído péssimo. ── Eu espero ser convidado para sua formatura.
── Como? - franzi a testa, confuso. ── Ei, espere ai, como assim?
── Decidi mudar de ideia, quero que volte para a faculdade e conclua seus cursos. Se quiser pode até montar seu antigo ateliê aqui. - ele virou o rosto para o lado, tentando procurar palavras para dizer o que pretendia dizer. ── Vou te dar um voto de confiança, mas não va pensando que esqueci o que tentou fazer ontem.
── Desculpa mas será que você poderia repetir? - aproximei meu corpo da mesa e coloquei uma mão atrás do ouvido. ── É que eu acho que não consegui ouvir essa notícia maravilhosa por conta do seu orgulho. - brinquei, rindo em seguida.
É claro que eu havia escutado, mas não iria dar a Victor o gostinho da minha felicidade por finalmente poder voltar para metade da minha antiga rotina.
── Se é para não ser irritado logo pela manhã eu repito com todo o prazer. - ele me encarou. ── Eu mudei de ideia e você vai poder voltar para a faculdade. Satisfeito?
── Muito! - exclamei, contente e pulando de alegria por dentro. ── Agora, sobre a reunião de ontem, estive pensando e eu acho que nós deveríamos dar mais atenção aquele cassino. Podemos abrir ele pelo menos aos fins de semana, isso seria uma boa estratégia para não levantar olhares suspeitos das autoridades. O que você acha?
── Você fica bonitinho quando fala assim. - disse, completamente alheio ao que eu perguntei me olhando com admiração e um estranho carinho que até então ele nunca havia demonstrando tanto nos ultimos dias.
── Assim como? - questionei, mordendo um morango.
── Quando se refere a você e eu como nós. Aceitou tão fácil assim que agora vamos viver juntos até um de nós morrer? - aquela fala saiu tão descontraída que até mesmo Victor pareceu ficar sem graça com o que disse. Sem perceber abri um pequeno sorriso, vendo-o sorrir de volta. Ele se ajeitou na cadeira e voltou ao foco real da conversa tal qual uma pessoa bipolar muda de humor. ── Bem, enquanto ao cassino eu te dou carta branca para fazer o que melhor achar com ele. - abaixei a xícara que a poucos minutos estava levando até minha boca. ── Vá em frente e administre-o da maneira que você achar melhor.
── Certo. - assenti.
Enquanto terminavamos de tomar nosso café o celular de Victor tocou em cima da mesa e ele desbloqueou a tela, viu o nome no identificador e se levantou para atender. Depois de alguns minutos na ligação ele voltou com uma expressão que beirava a felicidade e o desânimo.
── Se lembra quando eu contei que você teria o prazer de conhecer minha mãe? - ele perguntou, se sentando novamente.
── Sim. - respondi.
── Então, você finalmente vai ter a honra de conhece-la daqui alguns dias. Era ela ao telefone, me avisando que vira para passar uns dias aqui.
── Pela sua cara não me parece que está tão animado com a chegada dela. - falei o vendo encarar o vasto gramado verde.
── Só estou preocupado com algumas coisas. - ele revelou, voltando a atenção para mim. ── Ela esta ansiosa para te conhecer.
── Contou sobre mim? - perguntei, quase me afogando com o suco.
── Preciso te lembrar que você vive aqui agora toda vez? - rebateu, arqueando uma sobrancelha. ── Não tem com o que se preocupar, contanto que não de muito ouvidos ao que minha mãe diz, tudo vai ficar bem.
── Agora você me deixou preocupado. Tem algo sobre ela que eu precise saber Victor?
Victor apenas colocou sua mão sobre a mesa e segurou a minha, acariciando ela com o polegar.
── Nada, não se preocupe. Se fizer o que eu digo tudo vai ficar bem.
── Victor. - afinei meu olhar, ainda curioso. Ele apenar riu baixo.
── Vamos terminar nosso café. Eu tenho um dia cheio hoje e você também. - desconversou, soltando minha mão. Pensei em tentar mais uma vez mas e contive, prezando pelo ótimo humor de Victor.
Depois do café eu subi para o quarto e peguei minhas coisas, descendo em seguida. Além do carro de Victor, um outro veículo havia sido posto para fora da garagem. Um rapaz estava parado ao lado do veículo enquanto conversava com Victor, reparei que ele aparentava ter a mesma idade dele, era alto, moreno e tinha os cabelos escuros com algumas mechas loiras na frente. Assim que me viram chegar, pararam de conversar para me olhar.
── O que você está aprontando? - perguntei, já desconfiado.
── Eu disse que iria confiar em você, mas não disse que seria com cem por cento de confiança. - Victor apontou para o rapaz ao lado dele. ── Esse é o Erik, eu contratei ele para ser o seu segurança e também para te levar a onde você quiser além da faculdade. - Erik sorriu de forma terna para mim.
── Victor, eu não preciso de um cão de guarda! Sem ofensa Erik. - esbravejei direcionando as desculpas para o rapaz. ── O que mais preciso fazer para você confiar em mim? Eu não vou fugir!
── E o que você tentou fazer ontem?
── Mas eu desisti! E por sinal ja estou me arrependendo de não ter continuado com meu plano inicial. - cruzei meus braços. ── A única coisa que falta agora é você querer colocar um rastreador em mim ou nas minhas coisas.
── Olha até que não é uma má ideia sabia? - debochou concordando com minha insinuação. Abri minha boca formando um O e entrei no veículo, encerrando aquela conversa antes que eu decidisse me atirar no pescoço de Victor. Erik entrou logo em seguida.
A última coisa que eu queria era ter que chegar a faculdade e ver os olhares dos alunos em cima de mim por estar sendo seguido por um homem de terno preto e gravata, ainda mais pelo que havia acontecido com meu pai. Quando vi que estavamos chegando perto do campus eu pedi para que Erik parasse um pouco afastado da entrada, e assim ele fez. O carro parou e ele desceu, veio até a porta traseira e a abriu ficando parado, me encarando de uma modo que ele parecia apenas esperar que eu começasse a andar.
O encarei de volta.
── Erik, você já pode ir. - autorizei.
── O senhor Bretonne me deu instruções claras para que eu o acompanhasse a onde quer que o senhor fosse, e para que não tirasse meus olhos de cima de você.
── Só pode estar brincando. - resmunguei, colocando uma mão na cintura e a outra na boca. ── Tá legal, Erik o que acha de fazermos um combinado? Quando você estiver comigo eu exijo que acate apenas as minhas ordens, e a minha ordem agora é que você não me siga. Ok?
── Senhor, eu temo que isso não seja possível no momento. Eu acabei de ser contratado, não posso começar meu serviço descumprindo o que me foi passado. - Erik se negou, agindo de uma forma toda certinha e medrosa.
── Você não vai perder seu emprego porque eu não vou deixar Erik. - garanti para deixar sua mente mais tranquila.
── Realmente? O senhor Bretonne não vai gostar de saber disso.
── Ele não precisar saber, e quem esta no direito de desgostar de algo aqui sou eu! Você pode até ficar por aqui perto da faculdade, mas vai me esperar do lado de fora. Me entendeu? - Erik coçou a nuca, se vendo sem saída diante da situação.
── Certo senhor. - concordou, se dando por vencido.
── Ótimo. - sorri, me virando em seguida para a entrada do campus. ── E pare de me chamar de senhor. Eu não sou um Bretonne.
✝
Verônica e eu estávamos sentados no gramado do campus, conversando.
── É sério que ele contratou esse cão de guarda especialmente para você? - ela perguntou, observando Erik de longe. Ele não tirava os olhos de mim nem por um instante.
── Sim. - afirmei. ── Eu sou uma mula mesmo, deveria ter fugido quando finalmente tive a chance ontem. - bufei, levando as mãos até meu rosto.
── O que?
── Ontem eu fui até o iate cassino dele resolver algumas questões de trabalho. Ele ficou doente e não pode ir, então eu fui. - expliquei, vendo Verônica ouvir tudo atentamente. ── O segurança que me levou acabou se distraindo e eu corri para longe, mas não consegui ir quando percebi que não tinha para onde ir. Seria o mesmo que dizer para Victor vir atrás de mim. No fim, a culpa foi toda dele!
── Então você decidiu ir cuidar dos assuntos do bonitão enquanto ele estava de cama, viu a oportunidade de fugir e não foi porque esse mesmo bonitão lhe veio a mente? Claro, até porque o que significa ele ter matado o seu pai e quase a sua amiga também não é mesmo. - ela ironizou em completo tom de raiva. ── Pietro, você poderia estar bem longe agora.
Ela tinha razão. Eu poderia estar bem longe agora, mas escolhi não estar. Preferi não dizer o que minha mente pensava porque certamente Verônica iria ficar mais irritada ainda.
── Verônica, eu... Droga, eu não sei. - virei meu rosto para o outro lado e encarei os alunos que passavam pelo campo. ── Depois de todas as coisas que ele me disse ficou mais do que claro que eu não tenho mais ninguém a não ser ele. Olha para a minha vida. - voltei a olha-la. ── Odeio admitir isso mas estou começando a perceber que não tem para onde eu ir.
── E todo aquele lance de eu vou lutar pela minha vida? Pietro - Verônica murmurou colocando a mão em meu ombro. ── , desistiu? Você. Você esta gostando dele?
── Eu, eu não sei Verônica. - vacilei, desviando meu olhar do dela. A questão era que nem mesmo eu estava me reconhecendo mais.
── Basta olhar para sua cara para saber que esta mentindo. Me diga a verdade Pietro, seja honesto. - não a respondi, mas meu silêncio dizia tudo o que Verônica queria ouvir. Ela riu. ── Eu não posso acreditar nisso, quase tive meus miolos explodidos tentando te defender e agora percebe que você... Que você se apaixonou por alguem como ele? Estou começando a achar que vocês dois se merecem.
Aquila fala não deveria me irritar, mas me incomodou de uma forma inexplicável. Por um segundo, pensei no fato de que Verônica não era nada minha, apenas uma amiga que estava se intrometendo onde não fora chamada e que estava jogando somente suposições no ar.
── Verônica, eu sinceramente acho que não preciso de mais alguém para jogar as coisas na minha cara ou me apontar o dedo igual meu pai fazia. - esbravejei. ── E só pra avisar; Eu não te pedi para me defender de nada, então não fique ai se achando só porque quase teve seu cérebro explodido.
Verônica se calou, mostrando uma expressão de decepção em seu rosto. Ela provavelmente não estava esperando que eu dissesse uma coisa daquelas, nem mesmo eu acreditei no que disse.
── Esta bem, se é assim que prefere. - a vi pegar suas coisas e se levantar. ──
Eu lamento muito mas acho que não podemos continuar sendo amigos se você decidir ficar igual a ele, ou até pior. - ela encerrou, dando as costas e indo embora sem se despedir.
Merda.
Fiquei completamente desanimado pelo restante do dia e na ida de volta para a casa pensei em varias maneiras de me desculpar com Verônica. Havia cometido um erro enorme ao dizer tais palavras tão duras para ela e precisava consertar aquilo o mais rápido possível. Assim que chegamos em casa Erik se virou para trás antes que eu saísse do carro e disse:
── Senhor - o olhei de cara feia. ── , quer dizer, Pietro. Eu queria ter te avisado antes mas você não me parecia bem. - ele fez uma pausa, molhando os lábios para preparar a notícia que não deveria ser nada boa. ── Antes de tudo, perdão. O senhor Bretonne ligou mais cedo, me perguntou se você estava bem e eu não fui capaz de mentir. Tive que dizer a verdade. - soltei uma respiração cansada, percebendo que aquele dia não poderia ficar mais pior do que já estava.
── Tudo bem Erik, eu te perdoo. Afinal, eu já imaginava que você não iria conseguir mentir diante de um homem tão carrancudo igual ao Victor. - ele sorriu. ── Obrigado por me avisar. Até amanhã.
Sai do veículo e entrei, sendo recebido por Safira como sempre. Ela estava pronta para dizer algo mas levantei uma mão, a impedindo de falar.
── Eu já sei; Victor está irritado novamente porque eu desobedeci outra ordem dele e agora está me esperando em seu escritório. Acertei?
── Quase. - ela balançou a cabeça para os lados, pegando minha mochila. ── Ele está no quarto dessa vez.
── Sério? - indaguei, surpreso. ── Obrigado por me avisar.
Assim que entrei em seu quarto eu fechei a porta, logo recebi o olhar de desaprovação dele. A julgar pelo que fiz, já estava esperando que ele fizesse o mesmo discurso de sempre; Que eu não deveria desacatar uma ordem sua e blá blá blá, mas dessa vez não ouve dialogo. Victor não iniciou a nossa conversa com uma bronca, ele foi mais direto, se aproximou de mim e segurou meus braços, encostando minhas costas de uma forma nada delicada na madeira da porta. Um misto de agitação e empolgação se formou dentro de mim e eu estava louco para saber a onde aqueles sentimentos nos levariam.
── Estou me cansando dessa sua teimosia Pietro. - sua voz firme estava carregada de raiva.
── Você acha que pode mandar seus seguranças me vigiarem como se eu fosse um criminoso e tudo bem? - retruquei. ── Não está tudo bem Victor.
── Eu realmente pensei que estavamos começando a nos dar bem, que meus esforços para te deixar mais a vontade haviam dado certo. - a medida que ele dizia aquelas palavras suas mãos iam ficando mais firmes em meus braços. ── Mas agora estou começando a perder a minha paciência.
── Eu nunca pedi para que me deixasse ficar mais a vontade, tão pouco preciso da sua gentileza. - levantei minhas mãos e segurei os pulsos de Victor, sentindo eles ficarem relaxados. ── Eu não vou facilitar a sua vida, e pensei que já tinha esgotado sua paciência desde o meu primeiro dia nessa casa. Ainda não desistiu desse joguinho?
Victor colocou suas mãos na porta, uma em cada lado do meu corpo, e aproximou seu rosto do meu descendo-o até meu ouvido.
── Não. - sussurrou, trancando a porta.
Victor me puxou para mais perto do seu corpo e me pegou no colo, entrelaçei sua cintura com minhas pernas e rodiei seu pescoço com meus braços enquando o vi caminhar até a cama. Ele me deitou nela, ficou de joelhos em cima de mim e me beijou. Sentir seus lábios sobre os meus era mil vezes melhor que no sonho, assim como todo o resto. Abracei todo o corpo de Victor o fazendo descansar seu peso sobre mim, suas mãos passeavam por cada parte minha e tocavam desde a minha cintura até minhas coxas, passando por entre elas. Recobrei meus sentidos a tempo, antes que algo a mais acontecesse ali, e o afastei. Estavamos os dois uma bagunça, sentados e ofegantes enquanto nos olhavamos.
── Isso. - tentei formular alguma frase mas minha mente estava em completo transe. ── Eu acho que, acho que vou para o meu quarto.
Levantei da cama e arrumei minha roupa que estava completamente amarrotada em meu corpo. Caminhei até a porta e quando cheguei nela senti os braços de Victor envolverem minha cintura em um abraço caloroso e sexy.
── Pensa que não senti você me apertando de uma forma muito sugestiva quando dormiu ao meu lado? - ele sussurrou beijando meu pescoço. ── Quando quiser, e só me pedir, você e eu não somos diferentes um do outro. Lembre-se disso Pietro. - virei meu rosto para o dar uma resposta e recebi mais um beijo, dessa vez mais intenso. ── Boa noite.
Sai do quarto de Victor e fui para o meu, ainda perplexo com o que havia acabado de acontecer. Minha única reação quando fechei a porta atrás de mim foi me jogar na cama e encarar o teto. Passei o indicador sobre meus lábios e ri, sabendo que estava perdendo a guerra aos poucos.
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