Capítulo 07|Seu novo karma
O escritório do departamento de investigação da polícia estava uma verdadeira bagunça. No chão haviam vários baldes cheios de água até a borda e eu acabei esbarrando em um deles. Toda a barra da minha calça ficou encharcada.
── Droga! - xinguei, balançando a perna. ── Por Deus, mas o que está acontecendo aqui? - perguntei vendo a bagunça e o caos.
Alguns policiais e agentes andavam de um lado para o outro, tirando caixas com arquivos importantes do campo de visão das goteiras d'agua, enquanto outros moviam suas meses para os lados. Computadores também eram removidos do nosso escritório para serem realocados em outras salas vazias.
── Ah, Olivia. Bom dia! - William me cumprientou ao me ver e veio até mim. ── Isso que você está vendo é o estrago causado pela chuva de ontem.
── Inacreditável isso, pensei que nosso chefe já havia resolvido o problemas das infiltrações no teto.
── Parece que ele está mais ocupado em tirar férias agora. - Will comentou com um tom de repúdio ácido em sua voz.
── Se ele te pega falando isso, adeus trabalho. - brinquei. Retirei meu casaco, o despindurei no gancho localizado na parede e me sentei em seguida na minha cadeira. ── Alguma novidade? Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu na cinquenta e cinco com a Marsh ontem a noite. O que houve?
── Explosão de um carro. Eu recebi hoje cedo o relatório da autópsia dos corpos e outras informações sobre as vítimas. Os corpos estavam completamente carbonizados, mas havia uma lojinha perto do local e conseguiram as imagens da câmera. - William caminhou até sua mesa e retirou algumas fotos de dentro da gaveta. ── Se prepare para ficar de boca aberta quando ver quem eram os homens que estavam naquele veículo. - ele concluiu, jogando as fotos na minha mesa.
Peguei elas e analisei uma por uma, reconhecendo todos os rostos que estavam presentes naqueles papéis.
── Esses homens não trabalharam para aquele tal de Martinez? - questionei olhando para William. ── Uau! Alguém deveria estar com muita raiva destes homens para mata-los desta forma, explodidos.
── Se estavam ou não eu não sei, mas fiz algumas pesquisas na internet antes de você chegar e acho que são do seu interesse.
William pegou seu laptop e arrastou uma cadeira para se sentar ao meu lado. Ele digitou algo na barra de pesquisa e acessou um site de noticias. A matéria estavam como destaque naquele site, com os dizeres em caixa alta bem destacados;
PARECE QUE ALGUÉM ANDOU FAZENDO UM TRABALHO MAL FEITO!
"Enterro de Rômulo Martinez, ex braço direito do falecido Rubés Bretonne, é marcado apenas pela presença do seu filho Pietro Martinez. O garoto estava acompanhado de vários seguranças e após a cerimônia ser encerrada ele foi visto entrando em um carro preto que logo foi perdido de vista. Morte natural ou assassinato planejado?"
── Colunistas sempre tiveram a língua tão afiada e venenosa assim? - indaguei rindo.
── Essa foto foi tirada por um repórter curioso que estava lá no momento do enterro. Como diz a matéria, esse garoto - Will apontou para ele. ── , é filho do tal Martinez. E esse homem ao lado dele.
── Victor Bretonne. Eu reconheceria esse cabelo escuro mesmo estando a quilômetros de distância. - sussurrei mantendo meu foco na imagem dele. ── Mas afinal, por que está me mostrando tudo isso?
── Ora bolas, é do seu interesse Olivia! - ponderou com animo. ── Você sempre quis provar os crimes do Bretonne. É sua chance agora.
── William deixe de falar bobagens. Esse caso é figurinha repetida nesse departamento, ele já até foi arquivado por falta de provas. Lembra?
── Mas podemos tentar. Podemos descobrir algumas coisas sobre esse filho do Martinez. Onde mora, se estuda ou onde trabalha, absolutamente tudo! - explicou convicto. ── A anos você vinha tentando procurar provas contra os Bretonne. Desistiu disso tudo? E se esse tal de Pietro for o início?
O nome da família Bretonne um dia foi muito conhecido por mim. Eu havia passado os últimos anos da minha vida tentando provar os crimes que Rubéns cometia, mas todas as minhas chances haviam morrido junto dele quando descobri sobre a sua morte. Pouco tempo depois tudo ficou morno, seu filho passou a comandar os negócios da família ─ que inclui o cassino e a rede de hotéis ─ , mas é certo que ninguém ganha tanto dinheiro assim apenas com isso. As suspeitas eram grandes, mas e as provas?
Sempre reconheci meu ótimo trabalho como investigadora, era extremamente profissional, mas depois de anos lidando com um tipo feito eles me vi perdida no meu real propósito. Não era só uma questão de provar que eu estava certa nas minhas suspeitas, mas sim ganhar algo maior que aquilo.
── Eu acho que seria uma boa voltarmos nesse caso. Fazer uma investigação paralela por conta própria, mas é claro, se toda aquela obsessão sua de antes.
── O que exatamente você está querendo insinuar agente William? - indaguei afinando meu olhar. ── Sou só apenas uma excelente profissional que queria e quer exercer a lei da melhor forma possível. Apenas isso. Alem do mais - relaxei na cadeira e cruzei minhas pernas. ── , ja fazem anos. Acha que agora, depois de tanto tempo, nós vamos conseguir alguma coisa com fatos baseados em mera coincidência?
── Uma coincidência que é um pouco estranha, não acha? Esses caras morrem e no dia seguinte a morte do Martínez também é anunciada.
Pensei um pouco e cruzei meus braços.
── É. Talvez você tenha razão. Tudo bem, veremos o que esta escondido por de baixo dos panos. - William se levantou e repousou uma de suas mãos em meu ombro.
── É assim que se fala. Só relaxa um pouco também, afinal de contas; Enfiar a cabeça completamente no serviço pode acabar te deixando tensa.
── É você quem está enchendo minha cabeça de minhocas. Assuma a responsabilidade! - ordenei.
── Sendo assim, o que acha de sair comigo depois do expediente? Podemos ir até um barzinho beber alguma coisa.
── Sabe que eu não saio com colegas de trabalho William. - respondi me levantando.
── Liiivia. - rapidamente eu virei para olha-lo com uma cara feia. ── Desculpe, desculpe! Esqueci que a regra é não te chamar assim. - ele logo de corrigiu com um sorriso bobo nos labios. ── Olivia, você sabe que eu te considero bem mais que uma simples colega de trabalho.
── William. - enrolei um jornal e bati em seu nariz. ── Pare de dizer tolices.
── Ai! Como amiga Olivia, amiga. - ele riu, massageando o nariz. ── O que tem de mais em sair para tomar uma cerveja? Se você aceitar meu convite eu prometo que não vou mais comer as rosquinhas doces que você deixa na geladeira da copa e te trago café por uma semana. O que me diz? - William insistiu, levantando e abaixando as sobrancelhas algumas vezes.
Suspirei.
── Eu gosto de expresso, com muito leite e creme por cima. - cedi, vendo Will sorrir. ── E não é um encontro, eu vou como amiga. Agora vamos parceiro, temos um longo dia. - me virei e ouvi ele comemorar com um yes.
Mesmo que William fosse um homem charmoso e com todas as outras qualidades e requisitos positivos que ele possuia eu tinha o detestado já no nosso primeiro dia de trabalho juntos. Mas, conforme o tempo foi passando ele havia conseguido conquistar minha confiança e desde então éramos grandes colegas.
Embora dissesse que gostava de mim como a excelente amiga que eu era, eu sabia que no fundo o que William sentia algo por mim ia alem de uma simples admiração de amigo. Ele era o cara ideal, porém existiam muitas coisas que me impediam de ter uma relação mais que profissional com ele ─ ou com qualquer outro homem ─ e eu jamais ultrapassaria aquela linha. Ainda existiam fantasmas do meu passado que me assombrava.
✝
Aquela não era minha casa, mas agora seria meu lar quer eu quisesse ou não. Minha opinião não importava para ninguém ali mesmo. Boa parte das minhas coisas ja haviam chegado, o quarto novo era minha prisão, o luto era uma coisa pela qual eu não estava passando e mesmo se estivesse não seria verdadeiro da minha parte.
Vesti um casaco cinza e me vi pronto para ir a faculdade, estava decidido a entupir a minha mente com outras coisas dali pra frente ao invés de ficar vegetando naquele quarto. Peguei minha mochila e desci as escadas, Victor passou pela sala enquanto passava a mão pelo seu colete, ele estava sem terno e parecia muito bem disposto e com uma saúde para dar e vender.
── A onde você pensa que está indo assim? - questionou parando no meio da sala ao me ver descendo.
── Para a faculdade, a onde mais eu iria? - respondi rindo, completamente confuso. Não era como se eu fosse bobo, mas ainda tinha esperança de que ele tivesse pena de mim e me deixasse continuar vivendo a minha vida mesmo que fosse com vários seguranças vigiando cada passo meu. O pouco, naquele momento, já era muito para mim. ── Aliás, se importaria em me dar uma carona? - perguntei de forma debochada.
Victor enfiou as mãos nos bolsos da calça social e sorriu.
── Pietro, não de uma de bobo porque isso não combina com você. Ou realmente pensou que eu deixaria você continuar vivendo a sua vida depois de tudo o que viu?
── Hm. Acho. - respondi.
── Seu senso de humor é admirável. Quando eu disse que você não iria para lugar algum, era para lugar algum mesmo. Essa é a graça de estar preso. - Victor deu alguns passo em minha direção e subiu alguns degraus, ficando um mais alto que o que eu estava. ── Eu não quero que você coloque os pés para fora dessa casa, não até eu ter certeza que você é confiável. Entendeu agora?
── É brincadeira né? Então quer dizer que eu vou ter que ficar aqui o dia inteiro sem fazer absolutamente nada? - o vi confirmar com a cabeça. ── Mas isso é cárcere privado! Você não pode fazer isso comigo Victor.
── É claro que eu posso, essa é minha casa e você vive nela agora, portanto já esta avisado. - ele encerrou descendo os degaus. ── Eu tenho assuntos importantes para resolver agora, então seja um bom menino e se comporte. - Victor colocou a mão no trinco mas antes de sair virou-se para mim. ── Se te deixa feliz, você já pode sair do quarto agora. A vista da floresta é linda se olhada pelo jardim dos fundos.
── Eu te odeio.
── É recíproco. - sorriu, fazendo um biquinho com os lábios para mandar um beijo para mim. Em seguida, saiu.
Caminhei de volta para o quarto e quando entrei bati a porta atrás de mim com força. Eu estava fervendo de raiva, se tivesse força o suficiente quebraria todo aquele cômodo. Ouvi o barulho de carro do lado de fora e fui até a janela, la em baixo vi o veículo de Victor sair pela portão. Aquilo só me deixou mais irritado ainda.
── Eu odeio você, te odeio, te odeio! - murmurei apertando a madeira. ── Espero que o seu carro capote na estrada filho da puta! - praguejei desejando que aquele pedido tão carinhoso fosse atendido.
Voltei para dentro e olhei para o vaso de porcelana que Safira havia acabado de mandar colocar na mesinha, peguei ele e o arremessei na porta. Me joguei na cama e usei o travesseiro para abafar os meus gritos de ódio enquanto batia no colchão feito uma criança birrenta. Esse acesso de raiva passou depois de alguns minutos e eu já estava de pé andando de um lado para o outro com as mãos na cintura. Se ao menos aquilo abrisse um buraco no chão para eu sair dali.
── Isso não vai fica assim. - prometi parando em frente ao espellho que ficava na parede para me olhar. ── Eu vou fazer da sua vida um inferno Victor. De um jeito ou de outro você vai se arrepender do que esta fazendo comigo e vai me pedir perdão de joelhos.
── Alba, eu preciso que você organize o quarto do Victor. Tenha muito cuidado quando for organizar o closet dele porque da última vez você deixou algumas coisas fora do lugar e Victor ficou enlouquecido com isso. - ouvi Safira falar para uma outra empregada do lado de fora do quarto.
Fui até a porta e colei meu ouvido ali para poder ouvir a conversa.
── Outra coisa; Atenção com aquelas gravatas dele. Sabe o ciúmes que Victor sente daquelas coisas, se uma sumir essa casa vai virar do avesso. Agora vá. - Safira avisou terminando de passar as ordens.
── Sim senhora, dona Safira. - a moça concordou. Poucos segundos depois eu ouvi o barulho dos saltos de Safira irem para longe.
Sorri.
Sai e fui atrás da mulher.
── Ei, espere um pouco. - Alba se virou em minha direção e me esperou. ── Me parece que você está meio atarefada. Quer ajuda com isso?
── Eu adoraria, mas espere, quem é você? Eu nunca o vi por aqui, tenho pouco tempo na casa mas já conheço o rosto de algumas pessoas que trabalham aqui, e o seu é novo. - ela apontou confusa.
── Eu? Sou novo aqui também. - menti. ── Fui contratado recentemente também para cuidar... Er... Da organização do closet do senhor Bretonne! - soltei a única coisa que me veio a mente, esperando que ela acreditasse.
── Nossa, isso é fantástico. Aqui, pegue. - ela agradeceu ne entregando a muda de roupas que segurava, logo soltando uma respiração de alívio. ── Não sabe o quanto está adiantando meu serviço. Só tome cuidado, dona Safira disse que ele detesta que deixem algo fora do lugar.
── Sem problemas, você não precisa se preocupar. Vai tranquila. - assegurei, sorrindo como o verdadeiro anjo que eu era.
── Pegue isso. - Alba me entregou as chaves do quarto de Victor. ── É no final do corredor.
O quarto de Victor era grande e muito espaçoso. Uma porta de correr feita de vidro dava acesso para a sacada com vista para a floresta, a parede onde a cama ficava era toda feita de madeira enquanto o restante era de tijolos cinza claro, os lençóis e travesseiros da cama eram de tons que iam do preto ao cinza. Uma TV de frente para ela, presa em um painel também feito de madeira com uma pequena estante a baixo, onde haviam alguns vasinhos de planta e decorações pequenas.
O banheiro era separado apenas por uma cortina preta de seda transparente. Preferi não entrar naquele local, mas não deixei de passar minha mão pela cama, sentindo o pelo macio daquela colcha que mais parecia uma nuvem. Por um minuto eu parei e pensei que estava entrando no lugar que era sagrado para Victor, logo pensei nas coisas que ele fazia ali, naquela cama talvez. Balancei a cabeça assim que percebi que estava pensando longe demais e voltei para o real motivo que havia me levado até ali.
Procurei por uma tesoura nas gavetas da cômoda perto da cama até conseguir encontrar uma. A única coisa que estava achando estranho naquele ambiente era a falta de uma porta que levasse ao closet. Observei em volta até ver um controle sobre a mesinha de centro. O peguei e tentei decifrar os estranhos desenhos que haviam nos botões. Apertei um por curiosidade e ouvi algo se abrir atrás de mim. Me virei e fiquei maravilhado com a imagem a minha frente; Uma parte da parede era feita de madeira e ali uma porta surgiu, revelando o enorme closet de Victor.
── Quem dera se isso aqui pudesse me tirar dessa casa. - brinquei olhando para aquele pequeno controle.
Se o quarto já era bonito, ali era ainda mais. Uma linha de luzes no teto e vários armários e gavetas de madeira marrom escura por todos os lados. Testei mais um dos botões e uma parte dos armários fora aberta, revelando os vários ternos em tons escuros que iam do preto até o vinho. Victor certamente ficava bem em todos aqueles trajes.
Apertando mais um outra parte foi aberta, agora mostrando as roupas normais que ele usava no seu dia a dia.
── Qual desses abre as gavetas? - questionei para eu mesmo ao pressionar mais um botão logo em seguida.
Finalmente o que eu queria havia sido descoberto. Victor realmente era um homem organizado, já que cada gaveta continha determinada coisa. Uma estava lotada de relógios, outra de sapatos, uma só para roupas íntimas ─ algo que eu não queria ter olhado ─ e por fim a gaveta com aquilo que eu mais desejava achar; Suas gravatas.
Peguei uma nas mãos e a olhei. Era linda, preta com alguns pequenos detalhes em prata.
── Sinto muito amiga, mas o cara que te usa tem sido um pé no saco comigo. - levantei a tesoura, dando o primeiro de muitos cortes.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro