Capítulo 63
O cocheiro guardava a última mala antes de subir na enorme carruagem real. Os belos cavalos brancos possuíam uma postura imponente e até mesmo os seus movimentos eram sincronizados. Christian havia se despedido de todos dentro do castelo, mas eu e Lorcan decidimos acompanhá-lo até os enormes portões dourados.
— Então, isso é um adeus.
O seu olhar exala uma amabilidade costumeira.
— Não diria isso, Natasha. Eu acho melhor acreditar que seguiremos caminhos diferentes e que, um dia, vão se encontrar mais uma vez.
Abro um fraco sorriso sem mostrar os dentes.
Timothy, timidamente, se aproximava do seu irmão e segurava a mão dele. O garotinho estava na casa da sua babá durante o período de guerra, já que Christian temia por sua segurança. Com o final do conflito, ele retornou ao castelo mas parece que o destino tinha um plano diferente para os Hartley's.
— Tchau, moça. Tchau... — o pequeno virava o rosto em direção à Lorcan, recuando por instinto. Não o julgo. Ele não conseguia trazer uma imagem tão acolhedora trajando seu longo sobretudo preto e possuindo o olhar afiado de uma águia. — Majestade?!
Lorcan se limita a arquear a sobrancelha antes de focar no Hartley mais velho.
— Espero que isso não seja uma fuga, Christian.
O loiro ria de maneira descontraída.
— Durante toda a minha vida eu fugi da verdade. Garanto-lhe, Vossa Majestade, que não voltarei a ser o covarde que meu pai me ensinou.
Na última parte, agradeci mentalmente que Timothy tenha se distraído com um dos cavalos para dar a devida atenção à conversa. O pai dele foi um maldito para o reino, mas não queria que uma criança perdesse a fé na sua figura paterna. Ainda era cedo para ele saber de toda a verdade.
— Não sabia que possuía uma língua tão afiada. — ironiza o rei.
— Digamos que aprendi muito com você nas nossas reuniões, amigo.
Por um momento, aquela deixou de ser uma troca de farpas. Olhei de canto para os dois homens, imaginando que em um futuro — não tão distante — ambos serão bons amigos como no passado. Christian errou e muito, isso é inegável, mas dar uma segunda chance à ele era melhor do que arrancar essa possibilidade por algo tão vil quanto a vingança.
Lorcan também percebeu isso, pois estendeu a mão em um gesto amigável apesar da expressão continuar neutra. Tudo bem, demonstrar emoções abertamente nunca foi a sua melhor habilidade.
Mas Christian ignora a mão estendida dele para abraçá-lo como um amigo de longa data. Lorcan permaneceu como uma estátua mas podia jurar que seus braços tocaram as costas do loiro, na última fração de segundos do abraço.
E o meu peito se encheu de esperança.
— De acordo com o último baile, creio que as festividades em Velorum serão mais animadas. — comenta Christian apertando minha mão e sorrindo largamente. — Pode contar comigo para o baile de verão.
Retribuo o seu sorriso.
— Prepare-se, Christian. O povo de Icarus não costuma pegar leve em comemorações.
— Não tenho dúvida. — dizia enquanto gradativamente o seu sorriso some e a tristeza percorre por seus olhos verdes. — Até a próxima, Natasha.
— Até a próxima, Christian.
O seu olhar recai no homem ao meu lado.
— Seja feliz, Lorcan.
Ele encara a pessoa que destruiu, em partes, sua infância com a traição e compactuou com os pensamentos maldosos de Erick. Mas não vi rancor ou raiva em Lorcan. Pela forma como suas mãos, apoiadas nas costas, estavam apertadas com força pude deduzir que lutava contra a nostalgia dos bons tempos ao lado de Christian.
Felizmente, ele perdeu essa batalha.
— Seja feliz, Christian. Ou aprenda a lidar com seus demônios.
Christian acenava brevemente antes de entrar na carruagem. Ele tentou não olhar para trás, porém sua atenção focou brevemente no castelo. E assim, encerrou-se mais um ciclo em sua vida.
O silêncio instaurou-se no local por longos segundos. Queria respeitar os conflitos internos do meu noivo, mas um certo espião desconhecia duas simples palavras: espaço pessoal.
— É a primeira vez que derrotamos um rei sem matá-lo. Não sei se fico feliz ou triste com isso. — comenta Raven apoiando-se em Lorcan que se esquiva com uma careta de desagrado. — Pensei que seria mais carinhoso depois de conhecer a Diane, Lolo!
Ele estreita os olhos para o espião.
— Chame-me de Lolo mais uma vez e eu mato você aqui mesmo.
Raven mostra a língua e caio na risada com seu jeito despojado.
— Não estressa o pobre do Lorcan.
— Creio que o casamento estresse mais esse homem do que guerras e despedidas dramáticas. — debocha ajeitando a longa capa cinza. A brisa fresca jogava seu cabelo bicolor para trás.
Ouço um resmungo baixo do rei. Enquanto isso, deixo escapar uma dúvida boba que assolava minha mente.
— Só queria entender porque a Alene não insistiu em ir com o Christian. Eu podia jurar que os dois formariam um belo casal nessa jornada de autoconhecimento.
— Deve ser porque ela não tem mais nenhum interesse no Christian depois dele ter abdicado do trono. Afinal, espiões tendem a serem leais à objetivos; e não pessoas.
Momentaneamente, penso ter escutado errado e viro o rosto para Raven, confusa.
— Espião? Como assim?
— Ora, não sabia? Alene era uma espiã do nosso reino. Lorcan a contratou para envenenar o rei em troca de dinheiro suficiente para arcar com o tratamento de sua mãe moribunda. Mas a velha acabou morrendo de qualquer jeito alguns meses depois.
Seguro o braço do espião puxando-o para perto. Raven tinha uma expressão inocente que não condizia com sua real personalidade.
— Foi a Alene quem envenenou o chá do rei Erick naquele dia?! Eu podia ter sido acusada se desconfiassem da causa da sua morte!
Raven erguia o dedo indicador, pronto para se defender, mas Lorcan se manifesta primeiro.
— A família Evans é composta por pessoas trabalhadoras, mas a morte do patriarca deixou todos desamparados. A sua descendente caiu no mundo da prostituição cedo, mal teve seu nome divulgado entre as tavernas. Óbvio que buscou uma saída alternativa antes de condenar seu futuro para sempre. Então, a filha do falecido Arthur Evans acabou se candidatando para ser empregada real. É óbvio que a governanta não estava tendenciosa a aceitar uma pessoa com raízes obscuras...
— Mas demos um empurrãozinho na seleção. — completa Raven. — Desde que passasse informações importantes sobre o movimento do rei e nos ajudasse a envenená-lo. Quando soubemos que uma empregada foi designada para ser a cuidadora oficial do rei, Alene estudou sua rotina para saber o momento exato em que colocaria a erva paralisante no chá.
— Nem todos possuem acesso à cozinha, apenas os empregados e os guardas mais confiáveis da família real.
— E minha vida seria descartada caso desconfiassem de mim?!
Solto o espião o jogando de lado e aproximo-me de Lorcan, parando à poucos centímetros do seu rosto. Ele precisa abaixar a cabeça para estabelecer nosso contato visual. Em contrapartida, mantenho o queixo bem erguido o encarando de forma nada agradável.
Não queria acreditar que minha alma gêmea seria capaz de fazer isso comigo.
— Eu sabia que estava naquele quarto antes mesmo de entrar. Você é péssima se escondendo, Diane. Mas me certifiquei que continuasse em seu esconderijo pouco secreto e não criasse nenhuma prova capaz de incriminá-la.
— E se mesmo assim não desse certo?
— Mataria qualquer um que ousasse encostar um dedo em você.
Parte da minha raiva se dissipa, pois vejo a verdade em seu olhar. Lorcan nunca mentiu para mim, nem mesmo quando era necessário para cumprir seus objetivos.
— Mas... Mas nós mal nos conhecíamos. Você não iria arriscar tudo por mim naquela época.
Lentamente, a sua mão envolve uma mecha do meu cabelo a acariciando com ternura. Os seus olhos azuis e suaves percorrem cada parte do meu rosto, analisando-me com amabilidade. Um sorriso sutil surge em seus lábios antes de colocar essa mecha atrás da minha orelha.
— Eu arriscaria tudo para ver aquele sorriso novamente... O primeiro sorriso que alguém ofereceu à mim. E pode não parecer muito, mas foi ele quem me salvou do abismo profundo da minha alma.
E qualquer resquício de raiva sumiu. O meu rosto adquiriu uma tonalidade rosada enquanto, inutilmente, tentava desviar do seu olhar intenso.
— Hoje a cama real será devidamente inaugurada. — debocha Raven ao se afastar para o interior do castelo. — Esses dois não conseguem nem esperar o casamento e eu quem tenho a fama de promíscuo.
Desta vez, nem mesmo o espião conseguiu mudar o clima. Lorcan inclina o rosto enquanto fico na ponta dos pés, tocando nossos lábios em um beijo lento e terno. Uma mão dele pousa em minha cintura e a outra segura firmemente meu pescoço, em um movimento automático de dominância.
Ao final do beijo, toco gentilmente seu rosto com a ponta dos dedos.
— Eu odeio não conseguir ficar com raiva de você, Lorcan.
— O sentimento é recíproco.
— A Alene continuará agindo como sua espiã?
— A função dela era apenas espionar o rei. Agora, creio que tenha outras ambições pessoais para realizar. De qualquer forma, dou a minha palavra de que sempre estimei por sua segurança.
Em resposta, pressiono novamente meus lábios nos seus. Ele estava dizendo a verdade, pois o meu coração sussurrava a mesma coisa.
***
O vestido vermelho de seda arrastava-se graciosamente junto com a capa de mesma tonalidade. Os ombros à mostra, bem como o decote nada discreto. Os fios vermelhos com pedrinhas prateadas adornavam a parte frontal da roupa, formando uma abertura majestosa que se iniciava do espartilho apertado até o último centímetro de tecido. As mangas longas eram apertadas na região do antebraço, mas se estendiam na região dos pulsos onde o tecido comprido tocava dos quadris.
Nunca fui uma fã de joias mas admito amar usar o colar preto com um rubi vermelho no centro para combinar com a coroa. A pedra destacava-se no mar solto das mechas volumosas do meu cabelo. A maquiagem escura, principalmente o batom vinho, traziam uma áurea sombria e séria à minha imagem.
A lei da época era a noiva usar branco para demonstrar pureza. Mas as pessoas no castelo não me tratavam como um ser puro, então faria pouco caso de suas leis idiotas. Queria que o vermelho ofuscasse todo e qualquer boato, formando um mar de sangue conforme eu passava.
Respiro fundo antes de dois guardas reais abrirem as portas. Dou o primeiro passo ao mesmo tempo que ergo a cabeça, encontrando o vasto tapete que me levaria ao meu destino final. Então, encontro Lorcan esperando-me enquanto batia ansiosamente o pé sobre o chão.
Ele estava deslumbrante com a roupa preta. Diferente do normal, havia mais detalhes brilhantes do que obscuros. O longo manto vermelho dava um diferencial, contrastando com as longas botas pretas e o terno de mesma cor. O seu cabelo escorregava suavemente pelos ombros e, como toque final, uma bela coroa prateada com um rubi vermelho destoava no topo de sua cabeça.
Conforme dava lentos passos em sua direção, posso sentir todos os olhares queimando ao redor. De canto, percebo meus amigos de Icarus e Cherly com roupas de gala. E discretamente, sorrio ao ver a mão de Raven — que estava lindo com um terno cinza e manto preto — entorno da cintura de Tanandra. As suas bochechas estão tão rosadas quanto o vestido rosa que usava.
A melodia suave do piano acompanhava meus passos. Os olhos do rei não desgrudavam dos meus em nenhum instante, solvendo cada segundo desse momento por toda a eternidade. O buquê de rosas brancas possuía leves respingos de tinta vermelha.
Mais uma crítica aveludada sobre a condição feminina da época.
Tento inutilmente lutar contra as lágrimas quando, próxima o suficiente do Lorcan, ele estende a mão desprovida de qualquer luva. Suas cicatrizes roçam em minha pele desnuda enquanto sou guiada para o altar, onde o líder religioso da região começa a cerimônia.
— Você é tão linda, Natasha. — ele murmura.
Aperto suavemente sua mão.
— Então, estou combinando com meu futuro marido.
Ele sorria de forma breve.
Na minha infância, sonhei com o momento em que alguém me amasse verdadeiramente, segurando minha mão por toda a eternidade. E jurasse um amor puro e sincero. Com o tempo, essa esperança foi apagada pela natureza cruel do ser humano. Mas o homem ao meu lado reacendeu essa fagulha no meu coração.
Quando nos viramos frente à frente para o outro, minha segunda mão é tomada pela sua em um aperto carinhoso.
Nessa parte da cerimônia, não era comum que o rei se pronunciasse, apenas sua cônjuge para demonstrar a submissão. Certo dia, o cocheiro de Icarus disse que seu mestre achava as regras da família real antiquadas. E cada vez mais, tenho a confirmação de suas palavras, principalmente quando, diante dos nossos amigos e os poucos convidados, o novo rei de Velorum inclinava a cabeça em uma reverência respeitosa para a sua mulher.
— Eu, Lorcan De'Ath, juro lealdade à ti por toda a eternidade. E mesmo quando a morte me abraçar, esse sentimento irá durar mais do que o pó das estrelas. Ao povo, eu entrego minha devoção e um reino pacífico. E à ti, eu entrego meu coração e minha alma.
Uma lágrima escorre por minha bochecha. Eu precisava guardar esse momento para sempre em minha memória, pois cedo ou tarde ele iria sumir.
— Eu, Diane Scarbough, juro lealdade à ti por toda a eternidade. Não importa se o tempo ou as circunstâncias irão nos separar, as estrelas são a prova de que clamei aos céus por ti. E eu carregarei esse amor até o meu último suspiro.
Lorcan dava um passo em minha direção, encurtando a nossa distância.
— Pode selar a união, Majestade. — proclama o clérigo.
Delicadamente, as mãos do meu marido se apoiam em meu rosto antes de tocar meus lábios com calma. Era um beijo suave para transparecer os nossos sentimentos que, por mais intensos que sejam, eram capazes de acalmar o coração um do outro. Por isso, repouso minhas mãos sobre as suas enquanto retribuo o beijo, fechando os olhos.
Ouço a chuva de aplausos junto com as pétalas de rosas em nossa direção. Mas eu só conseguia pensar em minha súplica silenciosa para fazer esse momento durar mais.
Na cerimônia, os nobres riam junto com os camponeses. Não havia qualquer distinção de classes e o palácio se encontrava em festa. O costume era uma valsa lenta e romântica, mas Lorcan — à pedido do boêmio do Raven — decretou que a música seria alegre e agitada. Os casais uniam os braços, girando e saltitando ao som das flautas e dos violinos.
Eu e Lorcan não estávamos diferente.
Livre da timidez, o rei girava no meio do salão ao meu lado esboçando seu mais belo sorriso. A coroa reluzia mas não tanto quanto seus olhos, principalmente quando se encontravam com os meus. Não estou tão diferente, rindo feito boba enquanto girávamos. Os nossos braços estavam entrelaçados e os passos sincronizados.
A música camponesa espalhava-se pelo ambiente, como se pudesse colorir cada canto do salão real.
Alegria. Essa é a palavra perfeita para descrever o momento. As botas do rei batiam no mesmo ritmo que os pandeiros, dando início ao ápice da música. Em contrapartida, afasto-me dele erguendo as pontas do vestido enquanto fazia barulho com as pisadas firmes sob o piso brilhoso. O ritmo aumentava a cada segundo e os casais saltitavam junto com a música.
A risada do povo misturava-se com a melodia girando ao nosso redor.
Então, Lorcan esticava a mão conforme se aproximava no mesmo ritmo que meus passos. Quando seguro sua mão, sou puxada contra seu peito chocando-se contra o peitoral musculoso do meu marido. E mais uma vez, nossos olhares se encontram como se essa fosse a primeira vez.
Há uma chuva de gritos eufóricos e aplausos, mas só consigo focar no céu azul diante dos meus olhos.
— Eu amo você, Lorcan.
Como se pudesse ver o brilho em meu olhar, ele abre um sorriso radiante.
— Eu amo você, Natasha.
***
Mesmo não havendo lua de mel nessa época, isso não impediu que nós dois aproveitássemos longe da correria do palácio. Seguindo minha sugestão, fomos à residência real em Altair, algumas horas da capital. A mansão é longe de qualquer cidade, envolta por uma densa floresta. Como o ordenado pelo rei, não havia nenhum empregado presente. Lorcan queria que aproveitássemos esses três dias em completa privacidade.
E não demorei muito para entender o porquê.
As minhas costas encontram a parede do corredor enquanto as mãos ágeis do homem trilham um caminho lento e tortuoso por minhas costas. Os dedos, rapidamente, retiram os botões do belo vestido de noiva que escorrega por meus pés, ficando para trás no macio tapete vermelho. Creio que meus sapatos e as botas dele tenham ficado nas escadas.
Ao chegar no quarto, aos beijos e troca de carícias, sou jogada na cama já sem nenhuma peça. Lorcan é rápido em retirar a camisa e a calça, expondo mais uma vez o seu belo corpo o qual não canso de admirar. Ele subia em cima de mim como um predador pronto para devorar a sua presa. A sua língua percorre os lábios de maneira lenta e provocativa enquanto seus olhos sagazes se mantém focados em meu rosto.
Mordo o lábio o encarando da mesma forma.
— Esse deveria ser o momento que iríamos consumar o nosso amor. — murmura acariciando ternamente meu rosto com as costas da mão. Mesmo após se livrar da sua última peça e estar pronto para ser meu novamente, Lorcan parecia mais interessado em decifrar minha alma ao olhar no fundo de meus olhos. — Mas não fui muito paciente em esperar. Não quando se trata de você, minha Natasha.
Sinto embrulhos no estômago, como se mil borboletas rodopiassem dentro de mim.
— Se eu soubesse que, um dia, seria inteiramente sua da forma que você seria meu... Não teria esperado tanto. Então, não precisa se martirizar por deixar o "cavalheirismo" de lado, Lorcan. Eu o amo por seguir suas próprias regras.
Há tanta ternura nesse momento que quase esqueço do quanto quero senti-lo. Mas ter um dos homens mais belos do reino em cima de mim não é um incentivo promissor para o autocontrole. E eu tinha alguns truques que gostaria de colocar em prática.
Por isso, apoio as mãos no peitoral dele o conduzindo até deitar na cama enquanto subo em seu colo. Os olhos do rei se enchem de uma malícia e curiosidade evidentes, analisando-me descer em um ritmo predador ao mesmo tempo que distribuo beijos por sua pele exposta.
— O que pretende fazer, Natasha? — pergunta com a voz rouca.
— Quero testar sua resistência, Lorcan. Vamos ver quanto tempo aguenta até implorar por mais.
Não ouso dar brecha para outra pergunta, pois minha língua já traça seu percurso por toda a sua extensão. Como o esperado, o corpo do homem se retraí e ele segura os lençóis com força. Por uma breve fração de segundos, Lorcan arregala os olhos com minha atitude, o que serve como estímulo para continuar.
Tê-lo em minha boca é como ter o homem mais poderoso de todos em minhas mãos. Conforme o chupava, sentia suas pulsações e os gemidos que, inutilmente, tentava abafar. Lorcan não ocultava a expressão de prazer e, muito menos, se privava de dizer meu nome em meio às suas súplicas para continuar.
— Porra, isso é muito bom! — exclama apoiando a mão em minha cabeça, empurrando-me mais fundo contra si. — Não para!
Não era preciso nem pedir, pois estava sendo conduzida por essa sensação calorosa de causar prazer na outra pessoa. Queria que os gemidos dele não parassem, que se entregasse inteiramente às sensações que o proporcionava. E quando se desmanchou em minha boca, tive a certeza de que havia deixado o rei em total estado de êxtase.
— Gostou? — digo em um falso tom de inocência, lambendo os lábios após sentar em seu colo novamente.
Ele passa os dedos trêmulos entre as mechas suadas do cabelo, lançando-me um sorriso devastador.
— É realmente necessário responder?
Rio roubando um selinho estalado dos seus lábios.
— Bem, eu acho que--... Ah!
Ágil como um guerreiro, Lorcan inverte os papéis ficando por cima. Ele apoia as mãos ao lado da minha cabeça, retornando ao olhar predador de antes. Porém, desta vez, havia um toque de ternura. Sem dizer uma palavra sequer, ele se movimenta lentamente até estar encaixado em mim e, com minha confirmação silenciosa, avançava até não haver nenhum centímetro nos separando.
O mundo inteiro some, existindo apenas eu e ele.
As mãos de Lorcan buscam as minhas, entrelaçando nossos dedos com ternura. Os seus movimentos são lentos e delicados, diferente das últimas vezes que expressava uma brutalidade digna de um bárbaro — mas tão prazerosa que sempre perdia a cabeça.
Agora, é como se ele quisesse oficializar os nossos sentimentos; marcar meu corpo não de uma maneira possessiva e necessitada, mas sim com respeito e paciência. É o seu jeito de expressar o quanto me ama.
A luz da Lua iluminava o quarto, deixando-o em um azul celeste. Estávamos em um paraíso particular, onde nada nem ninguém poderia estragar a nossa felicidade.
Prendo as pernas entorno da sua cintura, desejando por mais desse contato físico viciante. Lorcan sorria de canto antes de atacar meus lábios, tomando espaço em minha boca com sua língua em movimentos lentos e carícias eróticas. As suas investidas aumentam de ritmo conforme apertava mais minha mão. Como não queria ficar para trás, começo a mover os quadris seguindo as suas estocadas.
E o momento se seguiu até que nós dois estivéssemos entregues ao prazer, àquela jura silenciosa de amor eterno feita ao som dos rangidos na cama. Então, Lorcan deu uma última estocada chegando ao seu limite mas, mesmo tendo um orgasmo, não parou de se mover até que me proporcionasse o mesmo prazer.
Então, ofegantes e suados, olhamos um nos olhos do outro, quebrando o silêncio em uníssono, falando a mesma frase:
— Eu amo você.
***
Lorcan conseguia manter o ritmo acelerado das estocadas, fodendo-me contra a estante de livros. Se depender da nossa vontade, não haverá um cômodo sequer que não seja marcado pela forma física como expressamos o nosso amor. Em meio aos gemidos, ao barulho dos livros caindo e o ranger da madeira, sinto o homem se contrair. E não demora muito para que ambos nos desmanchemos em uma onda de prazer longa e satisfatória.
Ele apoiou a cabeça na curva do meu pescoço, fazendo com que sua respiração ofegante e quente batesse em minha pele.
— Eu não me canso de você, Natasha.
— Nem eu de você, Lorcan. Esse encaixe que possuímos... É único.
O rei abre um sorriso de canto, malicioso e sádico.
— Mesmo se não possuíssemos, eu iria te foder até que meu pau fosse a única coisa que a desse prazer.
E mais uma vez, sou alvo de um calor súbito invadindo meu corpo. Ele ria de maneira arrastada, saindo de dentro de mim mas mantendo as mãos em minha cintura para que eu não perdesse o equilíbrio.
— Você anda bem safadinho, Lorcan! — comento dando um leve tapa no ombro dele, rindo. — Onde aprendeu isso?
Um discreto rubor atinge sua face enquanto desvia o olhar para a janela, onde a primavera esbanjava mais uma de suas paisagens no belo jardim de Altair.
— Sinto que posso falar tudo o que penso perto de você, Natasha. Não há nenhum muro entorno do meu coração, nenhuma mentira, nenhuma palavra não-dita. Eu sou inteiramente verdadeiro com o que sinto e quero.
Toco seu rosto ganhando a atenção de seus belos olhos. Compreensíveis e amáveis.
— É uma forma de me fazer amá-lo mais ainda? Porque eu acho impossível, mas meu coração bate cada vez mais forte quando estou perto de você. Estou começando a acreditar que não há limite nenhum para amar, desde que seja verdadeiro.
O seu sorriso é tão adorável, principalmente quando os lábios definidos dele roçam contra a palma da minha mão.
— O que me diz de um banho, minha querida?
— Seria ótimo, meu amado.
Não demorou muito para Lorcan preparar o banho, distribuindo pétalas de rosas na banheira de madeira. Ajeitei-me em seu colo, apoiando as costas em seu peitoral definido. A respiração quente dele causava calafrios em meu corpo, junto com uma sensação inexplicável de conforto.
A água morna acariciava minhas costas e, com o tempo, ela não era a única coisa a me tocar. Olho para o homem por cima dos ombros, arqueando a sobrancelha.
— Você não se cansa nunca?
Seus olhos brilham em divertimento.
— Gostaria de descobrir?
***
Não contenho a risada diante de outra história de batalha. Lorcan tentava rir, mas fazia uma careta mais engraçada do que a própria piada. Então, desistindo de demonstrar mais felicidade do que lhe foi permitida durante toda a vida, o rei voltou a sua atenção ao preparo do café da manhã. Enquanto isso, estico-me preguiçosamente na cadeira da madeira, segurando a xícara de café entre os dedos.
Lorcan traja uma calça marrom e botas pretas, optando por ficar sem camisa nenhuma. Por outro lado, uso um roupão vinho de seda que descia como uma cascata pelo chão. A única coisa que tínhamos em comum era o cabelo desgrenhado, obra de mais uma manhã "agitada".
— Eu poderia me acostumar a viver aqui para sempre. — comento quando ele deposita o prato com ensopado, pão e ovos cozidos na minha frente. — Nunca imaginei que me casaria com um cozinheiro de primeira. Na verdade, não imaginei me casar com um duque, um rei e, também, um exímio lutador.
— E eu sequer imaginei que iria me casar, um dia. — admitia sentando-se ao meu lado e segurando minha mão. O calor da sua pele contra a minha afastou o frio matinal. Nem mesmo o café refém preparado era mais quente do que o amor fornecido por esse homem. — Mas você trouxe mais do que esperança para mim. Sou capaz de sonhar com o impossível graças à você.
Beijo a sua mão, fechando brevemente os olhos.
— Eu amo v-...
Batidas incessantes na porta nos tiram desse momento. Ouço um resmungo do Lorcan, mas dou leves tapinhas em seu ombro, murmurando um "você agora é rei, aguente". A porta é aberta à contragosto do anfitrião, porém a sua raiva dá espaço para surpresa. O garotinho entrava ofegante, segurando um envelope dourado.
— O que houve? — questiono ao me aproximar, ajeitando o roupão.
Lorcan está concentrado lendo a carta, mas o mensageiro não é tão paciente e logo comenta:
— O rei de Velstand declarou guerra contra Velorum!
Nesse dia, o início de manhã que deveria serquente e amoroso, foi manchado pelo pavor. E o cheiro do sangue que seriaderramado na futura guerra.
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