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Capítulo 62

Olhei o meu próprio reflexo no espelho. A calça preta de cós alto combinou com minhas coxas definidas, graças ao treinamento em Icarus. Os músculos do braço estavam evidentes sobre o terno azul escuro que descia como um sobretudo. Os bordados prateados formavam várias espirais na região do peito enquanto as mangas eram feitas de um tecido preto e macio. Ajeitei os botões dourados do colete branco para, em seguida, prender meu cabelo em um coque.

Estava incrivelmente bela nessa roupa.

— Ansiosa para o primeiro dia?

Não preciso desviar o olhar para saber de quem se tratava. Ouvir sua voz faz com que meus lábios reajam imediatamente, abrindo um sorriso.

— Você não faz ideia, Lorcan. Eu espero que tudo ocorra bem.

Ele se aproxima até envolver o braço em minha cintura, puxando-me contra seu corpo. Os nossos olhares se encontram de maneira instantânea e um calor inexplicável invade cada parte do meu ser. Lorcan estava incrivelmente belo com sua armadura de guerreiro.

Na semana passada, após ser anunciada como a líder do parlamento, eu e Lorcan iniciamos uma jornada diplomática pelos reinos para solidificar os acordos. Agora, ele precisaria lutar em uma pequena batalha na fronteira enquanto eu cuidava dos parlamentares em sua primeira reunião.

— Tenho certeza que tudo dará certo com você no comando. Lembre-se de que tem a permissão para decapitar qualquer um que ousar questioná-la.

Acabo rindo com o seu comentário.

— Eu sei mas evitarei banho de sangue. Quero acreditar que o dialogo irá funcionar e não acho adequado causar dor de cabeça para o futuro rei de Velorum.

O duque sorria de canto e nega com a cabeça.

— Sabe que você nunca me causaria dor de cabeça, Natasha.

Ajeito um fio teimoso do seu cabelo, prendendo-o novamente no rabo de cavalo que o homem havia feito.

— Eu não, mas tenho certeza que a sua coroação está exigindo muito esforço.

Quase rio da careta feita por ele. A coroação será na próxima semana e o palácio se encontra à todo vapor. Lorcan precisa aturar os conselhos de Christian pela manhã e, à noite, reclama comigo sobre a sua vontade de decapitar o loiro.

Isso é um sinal de que estão se dando bem.

— Eu sentirei saudade. — murmura passeando os dedos por minha face. Fecho os olhos direcionando o meu sentido para o seu toque suave. — Tenho certeza que será a mais bela do baile de coroação.

Abro um sorriso convencido.

— Eu já sou e olha que o baile nem começou.

Sou recepcionada por sua risada agradável antes do duque tomar meus lábios em um beijo de despedida.

Não tive tempo para sentir tanta saudade, já que Raven me puxou para fora do quarto quando me viu descendo as escadas. Nós dois seguimos para a mais nova sala de reuniões do rei, localizada no penúltimo andar do palácio.

Conforme andava pelos vastos corredores, acenava para os empregados que ainda se encontravam boquiabertos com minha postura. Aquela empregada insegura sumiu, dando espaço para uma guerreira e parlamentar imponente. Mas deixo o ar de nervosismo escapar antes de empurrar as portas da sala.

Era uma réplica do escritório real, a única diferença era o triplo do seu tamanho e uma enorme mesa de madeira. Como avisado anteriormente, os representantes de cada reino — e também de suas mais variadas classes — estavam dispostos em seus respectivos lugares. Com grande alívio, constatei a presença de mulheres, mesmo que em pequena quantidade, entre eles.

A conversa cessou quando dei o primeiro passo.

— Bom dia, senhores e senhoras. Vamos dar início à nossa primeira reunião.

Como o esperado, eles se apresentaram e falaram suas propostas para o império. Todos os reinos mandaram a mesma quantidade de representantes e, obrigatoriamente, precisariam fazer parte das mais diversificadas classes sociais.

— Qual a primeira pauta? — questiona um dos representantes de Valfem. A insígnia do reino reluzindo em sua roupa militar.

Estava ansiosa para que fizessem essa pergunta.

— A participação das mulheres nas classes mais altas. Eu percebi que elas sofrem uma terrível discriminação por todo o continente. E precisamos fazer algo à respeito.

Entre olhares julgadores e curiosos, encontrei a animação nas mulheres presentes na sala. Uma delas, timidamente, erguia a mão e concedo-lhe a palavra com um aceno positivo.

— Podemos liderar o comércio, o exército, ou...?

— Podem até liderar um reino. Eu sou a prova da capacidade feminina.

As mulheres abrem sorrisos animados e as acompanho nessa comemoração interna.

— Mas precisamos de alguém para cuidar do lar. — pontua um representante de Cartelli. — E essa é a função de vocês, mulheres.

Arqueio a sobrancelha antes de puxar minha adaga, girando-a entre os dedos. O meu olhar afiado foi o suficiente para fazer o maldito se encolher na cadeira. Estava pronta para dar uma resposta digna, mas Raven aparecia atrás do representante apontando uma faca para o seu pescoço.

— Blá, blá, blá. Eu só escuto desculpas esfarrapadas de um homem incompetente. As mulheres de Icarus aprendem a empunhar uma espada aos dez anos. Qual o problema no senhor aprender a lavar suas próprias cuecas? — ele sussurra com um sorriso travesso. O homem abre a boca mas desiste quando a lâmina se aproxima mais ainda do seu pescoço. — Podemos começar a lição de limpeza agora mesmo. Eu adoraria ver esses nobres folgados limpando o seu sangue imundo em cima dessa mesa.

O representante de Cartelli engole seco e comenta:

— Perdoe-me. Eu fui infeliz em minha escolha de palavras. Sinto que as coisas serão melhores com a igualdade entre homens e mulheres.

Abro um sorriso acolhedor.

— Ótimo! Alguém tem mais alguma objeção?

Raven e eu lançamos olhares amistosos em direção aos parlamentares. E por um milagre incrível, ninguém ousou questionar a decisão.

***

Cherly encara-me surpresa quando seguro uma das caixas de madeira, contendo os ingredientes para o enorme bolo que será feito essa noite. Ela acompanhava meus passos segurando outra caixa. O olhar alternava dos músculos em meus braços, ainda cobertos pelo terno, e o meu semblante descontraído.

— Diane, não precisa se esforçar. Você agora é uma mulher importante, não pode se misturar com os serventes.

— Velorum será um reino de igualdade, Cherly. E saiba que não há diferença nenhuma entre mim e você. Nós duas somos importantes para esse império, tenha isso em mente.

Ela sorria sem jeito acompanhando-me até a cozinha. Os serventes do local interrompem seus afazeres para olharem, surpresos, a minha silhueta. Faço um breve aceno com a cabeça antes de seguir para o jardim, puxando a minha amiga.

— Todos a respeitam. Isso é incrível!

— Foi difícil conseguir o respeito deles e, no fundo, dói saber que precisei derramar um "pouquinho" de sangue para isso.

Cherly dava tapinhas solidários em meu ombro antes de nos sentarmos no banco do jardim.

— Coisas assim acontecem o tempo todo.

— Eu tenho minhas dúvidas. Então, está melhor?

Sabia da sua dificuldade em superar a morte de Martha. Apesar dela também ser minha amiga, estive ocupada demais com o plano do império para sofrer pelo luto. Agora, posso sentir a dor em sua integridade e imagino o que Cherly vem passado ao longo desses dias.

Ela abaixava o olhar para as próprias mãos e entrelaço nossos dedos, recebendo um sorriso triste em resposta.

— Eu queria que ela tivesse visto o quanto Velorum está progredindo. Queria que tivesse se casado com o filho do ferreiro, eu queria que... — as lágrimas brotam em seus olhos verdes. — Ela compartilhasse mais momentos ao nosso lado.

Acaricio as mechas soltas do seu cabelo — agora permitido deixá-los soltos depois de uma ordem do novo rei que, na verdade, foi um pedido meu.

— Onde quer que ela esteja, garanto que comemora junto conosco tudo o que superamos.

Cherly respira fundo, olhando para mim.

— Isso é tão injusto. Ela merecia estar aqui com a gente! Martha foi uma das melhores pessoas que já conheci, ela gostava de ajudar os outros... Oh! Já havia me esquecido.

— O que?

Ela vasculha algo no bolso do avental até encontrar uma carta amassada, estendendo-a para mim.

— Ela queria entregar à você quando Lorcan fosse coroado. Infelizmente, não pôde realizar esse desejo bobo.

Confusa, seguro a carta analisando o selo da família Hartley.

— Eu a deixarei sozinha. — comenta Cherly erguendo-se e dando um beijo no topo da minha cabeça. — Espero que esteja radiante para a coroação hoje.

Abro o meu melhor sorriso.

— Com toda certeza!

Quando a silhueta da minha amiga já se encontrava do outro lado do jardim, decido dar a devida atenção à carta.

"Olá, Diane. Eu gostaria que tivéssemos esse tipo de conversa pessoalmente, mas as paredes possuem ouvidos. E eu creio que, cedo ou tarde, você descubra que nem todos nesse castelo são confiáveis. Como é do seu conhecimento, a minha mãe era a dama de companhia da rainha. Ela presenciou momentos obscuros da família Hartley, principalmente envolvendo o rei Erick. Mas o silêncio é o único dom que nós, mulheres, conhecemos. Bem... Isso até a sua mãe aparecer no castelo. Annabeth não abaixava a cabeça para ninguém e o seu jeito determinado chamava atenção por onde passava."

Aperto a carta, concentrando-me nas palavras.

"As nossas mães se tornaram amigas e Annabeth a confidenciou uma carta. Nessa carta, havia um conteúdo importante sobre o rei. Infelizmente, esse 'legado' foi passado para mim quando minha mãe morreu. Desde já, peço desculpas por ler em um súbito momento de curiosidade, mas prometo que levarei esse segredo ao meu túmulo. Então, como descobri a verdade sobre a sua história, nada mais justo do que contar sobre a minha."

Ajeito a minha postura no banco, sentindo o espaço ao redor diminuir. Geralmente, as cartas que leio tendem a ser relevadoras... Até demais.

"A minha família é de Velstand. O meu pai foi um soldado do exército de Avery mas, após descobrir as crueldades que o rei pretendia fazer, decidiu seguir seu próprio caminho. Mas descobriram a sua fuga e ele foi esquartejado em praça pública. Assustada, minha mãe e eu fugimos para o outro lado do continente, para Velorum onde as pessoas viviam em paz. Com a sua carisma, ela conseguiu a confiança de Lilian que jurou nunca contar a nossa origem para ninguém."

Nesse momento, tudo começa a girar e respiro fundo diversas vezes, controlando a crise de ansiedade.

— Não é possível...

"O único legado deixado pelo meu pai foram as informações colhidas do exército. Ele sabia todas as estratégias de Avery, bem como as fraquezas dos seus soldados. Sei que pretendia vender suas informações em troca de um abrigo para a sua família, mas nunca teve o prazer de experimentar a liberdade. Minha mãe não precisou usá-las ao seu favor mas dizia que o conhecimento era perigoso, principalmente quando ele era a fraqueza de homens arrogantes. Por isso, vivíamos sempre com medo, sabendo que um dia Avery tentaria nos silenciar."

As lágrimas rolavam por minha face e tento, inutilmente, conter um soluço. Martha esteve ao meu lado e eu nunca busquei conhecê-la melhor. Se eu soubesse da verdade, poderia ter feito algo para salvá-la...

"Há traidores no palácio e um deles quer me silenciar. Eu possuo minhas suspeitas mas não tenho voz para acusar ninguém, mas uma pessoa de Icarus pode fazer a mudança. Carregue a força de Annabeth sempre consigo e lembre-se: ninguém é capaz de tirar a sua força. Ela é unicamente sua.

De sua amiga: Martha West."

Em meu interior, carregava a suspeita do envolvimento de Jonnathan na morte de Martha. Mas ter a confirmação nunca foi tão doloroso. Apertei a carta com força enquanto as letras dançavam embaralhas no papel, por causa das minhas lágrimas.

Queria ter sido capaz de salvar minha amiga mas, ao menos, posso vingá-la. No momento certo, o pescoço de Jonnathan conhecerá o beijo das minhas espadas.

— Eu juro, Martha, que a justiça será feita... — murmuro encolhendo-me no banco, escondendo o rosto entre as pernas. Chorar não era um sinal de fraqueza, pois as lágrimas também eram parte de mim e, por isso, as amava. Mas isso não impediu que uma dor arrebatante sufocasse meu peito. — Por Icarus, por Velorum, por você...

Mas a vingança precisaria esperar porque a segunda parte da carta continha todas as informações do exército de Velstand.

***

— Estamos iguais às princesas dos contos de fadas! — Cherly exclama girando. O seu belo vestido verde combinava com o colar de rubi e a pequena coroa em seus cabelos soltos. — O novo rei possui tanto dinheiro assim? Ele comprou roupas para todos os empregados!

De fato, Lorcan fez bom uso dos fundos da família real. Ele queria que a coroação tivesse a participação de todos e que, principalmente, fosse um momento de alegria; não servidão.

— A coroa possui muito ouro. Iria cair para trás se soubesse a quantidade.

Quando fui explicar a situação financeira de Velorum, Cherly já se afastava bebericando o vinho e analisando o ambiente, maravilhada. Rio baixo e sigo pelo caminho oposto, cumprimentando os convidados.

A música alta causava euforia nas pessoas que dançavam com saltos e bater de palmas.

Interrompo a caminhada ao sentir uma mão firme segurar meu braço.

— Uau! Estou diante de uma deusa?

O seu olhar percorre o meu longo vestido cinza. O brilho na segunda camada de tecido assemelhava-se ao pó das estrelas. É como se eu fosse um ser divino entre os mortais. O longo cabelo estava solto e uma bela coroa prateada adornava a minha cabeça.

Por outro lado, o jovem trajava um terno vinho e longas botas marrons. O seu cabelo totalmente bagunçado, dando-lhe um aspecto despojado.

— Seu maior passa tempo é elogiar as damas desse palácio, Aloys?

— Somente as merecedoras dos meus gracejos.

Dou um tapa em seu ombro enquanto caímos na risada. Educadamente, o jovem rei conduzia-me para uma dança no centro do salão. Então, giramos ao som animado das flautas e tambores, junto com as risadas dos camponeses. O palácio tornou-se um lugar acolhedor, onde não havia diferença de classes.

Ao final da dança, outra mulher puxa Aloys e aproveito a deixa para circular pelo palácio. Raven saltitava junto com Tanandra. Os olhares apaixonados dos dois eram visíveis, como se a energia de ambos estivesse sincronizada.

Mas tudo para quando Christian surgia, usando o fardamento militar, com o duque ao seu lado. Lorcan estava incrivelmente belo com suas costumeiras roupas pretas, mas havia um toque extra: o longo manto vermelho. O seu longo coturno reluzia a cada passo dado em direção ao trono. As mechas do cabelo moviam-se de forma majestosa. Os olhos azuis percorreram todo o ambiente até encontrarem os meus, onde se prenderam imediatamente.

E logo um sorriso discreto surge.

— Você merece. — sussurro movendo os lábios lentamente para que ele entendesse.

Christian erguia a coroa a colocando na cabeça do mais novo rei de Velorum. Os cabelos de Lorcan escorregavam graciosamente por seus ombros largos. Por um momento, ele fechou os olhos inspirando com profundidade.

Como se quisesse solver cada segundo daquele momento.

Ao abrir os olhos, vejo a confiança do novo rei. Um monarca que trará igualdade e justiça para o seu povo.

Ele é aclamado com uma chuva de aplausos e gritos eufóricos, principalmente das pessoas de Icarus e dos outros reinos.

— É com muita honra que passo o legado da família Hartley à Lorcan De'Ath. — pronuncia Christian, batendo palmas junto com os demais. — Velorum está em boas mãos.

O novo rei exibe um sorriso confiante.

— Claro que está.

***

Encontro-me surpresa quando Christian se aproxima, parando ao lado da pilastra que estava apoiada. Como da última vez, optei pelo segundo andar onde tinha uma vasta visão da dança alegre do povo.

Ele é o primeiro a quebrar o silêncio.

— Ele será um bom rei.

— Não tenho dúvida.

O rapaz solta um longo suspiro. O olhar focado no povo enquanto sua expressão estava distante.

— Eu gostaria de pedir desculpas, Diane... Ou melhor, Natasha. Ainda não sei qual nome usar, mas guardarei segredo sobre tal fato. A questão é que... Eu agi como um idiota.

— Eu sei.

Ouço sua risada seca, mantendo-me inexpressiva. Havia um certo rancor em meu coração, isso era inegável. Mas outra parte queria saber para onde essa conversa iria nos levar.

— Nunca soube de nenhum boato à seu respeito, o Jonnathan os impediu que chegassem até mim, mas não fugirei da culpa. Eu deveria tê-la protegido com todas as minhas forças, só que no final agi como um covarde igual ao meu pai.

Ele afundava os dedos nas mechas de seu cabelo, trincando o maxilar definido.

— Eu queria ser perfeito para orgulhá-lo e também diminuir a pressão de todos ao meu redor. O problema é que a "perfeição" foi o motivo da minha ruína. Se eu tivesse um olhar mais humano, não fugiria dos meus medos e das verdadeiras necessidades do meu povo. Eu fui um egoísta filho da puta.

Desta vez, sou eu quem ri.

— O perfeitinho Christian xingando? Estou ouvindo correto?

Ele vira o rosto em minha direção, abrindo seu típico sorriso radiante.

— Eu passei anos no exército. Achou mesmo que ouvia apenas elogios? — questiona e assinto um pouco receosa. — Não. Infelizmente não. Mas eu sempre ignorei os comentários negativos, porque eram feitos nas minhas costas. Ninguém tinha coragem de dizer o que achava de mim... Até que eu a conheci.

— Mas não deu valor à pessoa ao seu lado. Por que?

Olho no fundo de seus olhos em busca de uma resposta. É claro que nem todas as perguntas possuem uma, mas essa...

Ela precisava de uma resposta.

— Porque eu nunca aprendi a lutar por alguém. E acabei perdendo a única pessoa que me compreendia de verdade. Por isso, não mereço o seu perdão.

O seu sorriso triste é sincero. Pela primeira vez, estou vendo a verdadeira face do protagonista que criei.

— Quem decide sou eu, Christian. E eu o perdoo por tudo. O rancor não nos levará adiante, mas também acho que é cedo demais para uma aproximação. Talvez isso nunca ocorra.

— É compreensível. Nem sempre o perdão significa que podemos seguir o mesmo caminho. Eu só desejo que você e o Lorcan sejam felizes.

Incapaz de encará-lo, fito os próprios pés.

— Nós seremos felizes...

Sinto seu olhar curioso em minha direção e, diante do silêncio prolongado, mudo de assunto.

— Estive conversando com o Lorcan. Ele pretende oferecer-lhe uma cadeira no parlamento, irá aceitar?

Christian apoiava-se por completo na pilastra enquanto encarava as pessoas no salão com um sorriso bobo.

— Não. Eu irei embora de Velorum, Natasha. Pretendo conhecer novos reinos, aprender novas culturas e viver a vida que sempre quis para mim. Uma vida sem responsabilidades.

Pisco os olhos, surpresa.

— Levará a Alene contigo?

Ele inclinava levemente a cabeça para o lado, analisando-me com diversão.

— Quero conhecer mais de mim mesmo antes de estar com alguém, somente assim encontrarei a verdadeira felicidade.

Naquele momento, percebo como Christian está evoluindo. Finalmente, após ser derrotado, abriu os olhos para a verdade e enxergou os próprios defeitos. Com certeza, será uma jornada longa até melhorar como pessoa mas ele está no caminho certo.

***

Não consigo conter o sorriso quando sou convidada pelo rei para dançar. A mão envolta pela luva preta segura delicadamente meus dedos, conduzindo-me para o centro do salão. Os nossos olhos mantem um contato visual intenso, como se todo o ambiente ao redor fosse reduzido à duas pessoas apaixonadas.

Era tradição um monarca dançar com jovens belas, filhas de nobres das suas alianças mais importantes. Mas Lorcan recusou cada pedido com um olhar nada amistoso, alegando que dançaria apenas comigo. Então, após toda a cerimônia e os apertos de mãos necessários, ele veio até mim convidando-me formalmente com uma reverência.

Todos encontraram-se surpresos. Reis não se curvam perante ninguém, mas eu sabia que Lorcan gostava de quebrar regras.

— Pensei que tivesse esquecido de mim. — brinco.

A mão dele enrosca em minha cintura, conduzindo-me pela lenta valsa. Posso sentir os olhares de todo o reino sobre nós dois e, mesmo assim, apenas um par de olhos azuis consegue causar embrulhos em meu estômago.

— Não se dá para esquecer o que está enraizado em nosso coração, Natasha. E você faz parte dele.

Sorrio boba enquanto giramos com leveza. O meu vestido acompanha o movimento, o tecido se arrastando majestosamente pelo chão.

O seu toque, mesmo coberto pela luva, é tão quente. Os olhos expressam uma amabilidade visível.

Por que esse momento não pode ser eterno?

De canto, percebo Cherly encarando-me toda boba e Katlyn ao seu lado sem expressar nenhum sinal de ciúmes. Ela continuava neutra mas estranhamente receptiva com a cena. Raven tinha um sorriso malicioso que disfarça após receber um beliscão de Njal, junto com o olhar repreensivo de Leofrick.

Mais giros e sorrisos abertos. Olhares apaixonados. Corpos colados e respirações sincronizadas. A nossa dança atraiu atenção positiva e fico feliz ao perceber como Lorcan era bem recebido pelo povo. Após vê-lo dançar com uma antiga empregada, detentora de boatos nada agradáveis, acredito que as pessoas começaram a enxergar a bondade em seu coração.

De forma ritmada, demos passos para trás sem soltar as mãos dadas. Giro graciosamente antes de ser puxada contra seu corpo, onde reiniciamos a nossa dança.

— Conseguiu lidar com os nobres chatos, Lorcan?

Ele enruga brevemente a testa, mas logo retorna à expressão serena.

— Lembre-me de mudar por completo o conselho real. Eles continuam insuportáveis como da última vez e, para piorar, acham que podem me enganar com suas falsas gentilezas.

Mas ninguém mentiria para o homem mais ardiloso do reino. Tenho certeza que Lorcan lembrava de cada ofensa recebida nas reuniões com os nobres e os antigos reis. Por muito tempo, ele aguentou calado esperando pacientemente pelo momento em que o jogo viraria.

E esse momento chegou.

Lembro-me de quando assisti, escondida, à reunião debaixo da mesa. Uma risada fraca escapa dos meus lábios.

— Já preparou as flores para o funeral do senhor Pollock?

O rei ri antes de girar nós dois para o centro do salão. A melodia suave do piano chegava ao seu fim. A cauda do vestido movia-se tão levemente quanto as ondas do mar calmo. A luz do lustre iluminava a coroa prateada em minha cabeça.

— Tenho uma finalidade melhor para as flores.

Paramos ao final da música, encarando um ao outro com uma intensidade arrebatadora. Estou confusa com sua declaração mas não tenho tempo para pensar demais. Não quando o rei ajoelhava-se à minha frente ainda mantendo nossas mãos unidas. Ele erguia a cabeça olhando no fundo dos meus olhos, proferindo:

— Nunca achei que iria conhecer o amor, mas você trouxe esperança para o vazio da minha vida. É essa esperança a qual quero e preciso me agarrar todos os dias. É no seu olhar que busco calmaria nos momentos mais turbulentos da minha mente. E é o seu sorriso que virou o meu guia quando a escuridão do meu ser se faz presente. Por isso, preciso saber, Natasha...

A última parte, o meu nome, é dita quase em silêncio. Somente eu escutaria e, mesmo o seu fio de voz mal podendo atravessar o salão, as suas palavras atingem o meu coração de forma arrebatadora.

— Você me daria a honra de ser o seu marido? Aceita se casar comigo?

Por uma fração de segundos, encontro-me sem palavras. O meu peito fazia uma festa interior, impossível de ser controlada. Naquele momento, nada e nem ninguém importou além do homem diante dos meus olhos.

— Sim... Eu aceito, Lorcan!

Uma chuva de aplausos eclode do palácio inteiro, bem como os gritos animados dos nossos amigos — e boa parte de Icarus. Quando Lorcan se levanta, pulo em seus braços sendo recepcionada por mais um de seus abraços calorosos.

— Você é o amor da minha vida, Natasha. — murmura com os lábios contra o topo da minha cabeça.

Aperto o homem mais forte, como se pudesse prendê-lo à mim para sempre. O desejo ardente da nossa ligação torna-se mais forte. Fecho os olhos, inspirando o seu aroma agradável enquanto um sorriso bobo surge em meus lábios.

Permito-me sonhar em uma vida ao seu lado, por mais egoísta que seja.

— Eu o amo com todas as minhas forças, Lorcan De'Ath. 

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