Capítulo 51
Antes de retornar para Icarus, havia uma parada a ser feita. A carruagem ficou na estrada ao lado da floresta enquanto segui mata adentro. Lorcan se ofereceu para me acompanhar, mas pedi para ir sozinha e ele aceitou a minha decisão. Então, atravessei os espessos arbustos, ignorando os passos dos animais silvestres até estar diante da cabana da xamã. A mulher regava a sua horta com um sorriso leve, ressaltando as rugas no canto de seus lábios.
Ao notar a minha aproximação, ela repousa o regador sobre o solo virando-se em minha direção.
— Finalmente você veio, mocinha.
— Já esperava pela visita, certo?
Ela concorda com a cabeça. Lembro-me vagamente de um momento na nossa última conversa, onde ela afirmou que apareci antes do esperado. Talvez essa mulher saiba mais de Velorum do que eu, a própria escritora da obra.
Circe gesticula para acompanha-la e sigo até o interior da cabana. O cheiro de madeira com flores invade as minhas narinas. Mesmo sendo uma casa simples, tinha uma inexplicável sensação de aconchego. Quando chegamos na cozinha, ela retirava a água do bule e depositava a mistura com ervas na xícara, preparando o chá.
Esse mulher não come? Toda vez que venho, ela está tomando chá.
Dou nos ombros, ignorando meu próprio pensamento.
— Por que disse que o Christian era a minha alma gêmea?
Ela toma um lugar na cadeira do canto enquanto opto por ficar de pé, ao lado da janela.
— Você chegou dizendo era ele quem havia feito pedido à estrela. Então, o que mais eu poderia dizer?
Suspiro em desistência. Para piorar, ela tinha razão.
— No começo, pensei que era o Christian mas depois de ver a sua dedicação à Velorum, percebi que não podia ser. Ele faria de tudo para ser amado por todos, mesmo que isso significasse me deixar em segundo plano. — respondo bebericando o chá. O gosto adocicado acariciava o meu paladar. — E alguém que olhou para o céu e viu esperança naquela estrela, assim como eu, precisaria estar quebrado por dentro. Precisava desejar com todas as suas forças por algo nunca experimentado em sua vida... Por um amor verdadeiro.
Circe balança a cabeça em concordância. As mãos enrugadas seguravam a xícara velha. A brisa invadia o cômodo bagunçando as mechas soltas do seu cabelo.
— Descobriu quem fez o pedido?
Arqueio a sobrancelha.
— Vai fingir que não sabe que foi o Lorcan?
Ela ria baixo.
— Garota esperta.
— Como sabia sobre o pedido?
— Ele apareceu aqui alguns meses atrás querendo saber dessa lenda. É muito suspeito que um homem treinado para matar se preocupe com algo tão "banal". O duque falou de uma empregada de sorriso radiante e, pela primeira vez, ele abaixou a guarda. Então, depois que você apareceu, comecei a ligar os pontos.
É uma confissão que me deixa surpresa e, ao mesmo tempo, feliz. Quer dizer que o meu sorriso o deixou desconcertado? Que fofo.
— Mas por que o Christian teve que me decepcionar tanto? — murmuro com um longo suspiro. — Eu o criei para ser perfeito.
— Porque são os defeitos que nos fazem melhorar. Se o criou para ser perfeito, Christian não iria evoluir em momento nenhum. Ele estaria preso para sempre em uma bolha de comodismo porque, em sua mente, não cometia erros. — Circe respondia dando um breve gole no chá. — A sua essência é a perfeição, algo tão vazio.
A xamã está certa. Por tê-lo criado para ser o espectro da perfeição, Christian não fazia nenhum esforço para melhorar como pessoa. Sem perceber, havia criado um personagem falho.
— E o Lorcan...? Ele é tão... Único.
— Já descobriu o que ele procura acima de tudo? — ela pergunta.
— Sim. Ele deseja ser amado porque... Porque... — digo enquanto começo a entender melhor a complexidade dos meus personagens. É como se uma lâmpada se acendesse acima da minha cabeça. — Eu o privei do amor quando escrevi o seu passado! Por isso, ele vive buscando preencher o vazio em seu peito e, assim, evoluir como personagem e como pessoa.
Circe tinha um sorriso orgulhoso nos lábios. Ela repousa a xícara sobre a mesa. Quando penso no Lorcan e em toda a sua construção, o meu peito se aquece e estou sorrindo feito uma boba. A xamã percebeu e não perdeu a chance de comentar:
— Você me parece tendenciosa para o lado do vilão. O que mudou?
Encontro-me sem resposta por longos segundos, pensando em todas as pequenas atitudes de Lorcan. Ele tinha um jeito único e estranho de se expressar, mas isso não invalidava a existência de suas emoções.
— Eu me perguntava porque estava criando esse apego pelo Lorcan, mas depois de conhecê-lo melhor, agora tudo faz sentido. Ele não é nenhum herói, mas está disposto a destruir todo o reino para me salvar. Mesmo que eu seja insegura, ele me trata como o seu pilar mais forte. Eu sou importante para alguém e, acima de tudo, consigo sentir que tenho valor sem precisar de ninguém graças ao apoio dele.
Lembranças dos árduos treinos em Icarus invadem minha mente. Foram momentos de sofrimento mas que me ajudaram a reconhecer a minha força interior.
— Christian sempre dizia que eu não precisava mudar, porque o importante é ele me aceitar. Mas do que isso adianta se eu continuava me odiando? Lorcan foi o único que insistiu em destruir essa casca de insegurança. Não por ele, mas sim por mim. O duque já reconhecia a minha força antes de todos e aceitou cada falha minha sem pensar duas vezes.
Desvio o olhar para a xícara, vendo o meu próprio reflexo no chá. Não enxergo mais a mulher insegura e medrosa, e sim uma guerreira disposta a enfrentar qualquer um que tentasse ofendê-la. Não preciso de um príncipe encantado para me proteger, porque agora reconheço o quão forte eu sou.
— Lorcan tem um jeito pouco convencional de tratar as pessoas, mas comigo... É diferente. A forma como ele olha para mim é única. E finalmente entendo porque nunca explorei o passado do vilão com profundidade na obra.
— Por que? — pergunta Circe ajeitando-se na cadeira.
— Porque talvez, no fundo, eu sempre soube que se eu contasse a história de Lorcan... As conquistas de Christian não seriam gloriosas. Todos iriam saber que o reinado do protagonista foi criado através da dor de uma alma inocente, que só queria ser aceita em Velorum. Eles o chamam de monstro, mas alguém que foi torturado por seus pais e julgados por todo o reino não agiria de forma diferente. — digo sentindo um nó na garganta. Olho para a paisagem através da janela enquanto as lágrimas rolam por minha face. — Então, eu não o defendo por ser um vilão. Eu o defendo por ser quebrado como eu.
Se Christian foi inspirado em Bryan, o namorado que idealizava, Lorcan é a representação das minhas inseguranças. Ele é alguém que luta contra suas cicatrizes e a rejeição. É o medo mais profundo em meu coração.
A estrela não poderia ter feito uma escolha melhor em tê-lo nomeado a minha alma gêmea.
***
Lorcan olhava-me desconfiado, por causa do meu sorriso idiota durante todo o caminho. A verdade é que também não sabia explicar, mas tirei um peso do meu peito ao finalmente descobrir quem era a minha alma gêmea. Contudo, desta vez, não agiria de maneira precipitada até ter certeza dos sentimentos dele e dos meus também.
Quando chegamos na mansão, o duque ordenou que enviassem um chamado urgente para os seus membros de confiança. Em seguida, fomos para nossos respectivos quartos, onde tomei um banho demorado relaxando os meus músculos. Ao fechar os olhos, lembro-me dos toques do homem e jogo — literalmente — um balde de água fria para afastar esses pensamentos indecentes.
Nada disso, Natasha. Você precisa se comportar.
Visto uma calça de couro combinando com o coturno preto e uma camisa branca de manga comprida. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto, passando um perfume suave e um batom neutro nos lábios. Logo após, sigo até o quarto de Lorcan dando leves batidas na porta.
— Precisamos conversar.
Não demora um segundo sequer para que a porta seja aberta, dando-me a visão do duque apenas de calça e bota. Ele parava de secar o cabelo com a toalha, abrindo espaço para que entrasse. A água ainda escorria do seu peitoral exposto, descendo até o quadril em um percurso tentador demais.
Okay. Só preciso ignorar seu corpo gostoso e tudo dará certo.
— Sei que fizemos os pedidos, mas é tudo tão confuso. Podemos ter agido por impulso, eu não sei. Não quer dizer que haja sentimentos verdadeiros entre a gente, sabe. — comento já começando a me enrolar nas palavras. Por outro lado, o duque permanece em silêncio com um semblante indecifrável. Estamos tão próximos que o seu perfume tira-me parte da concentração. Porra, Lorcan. Além de gostoso, precisava ser cheiroso também? — Então, vamos manter uma distância "segura", onde podemos organizar nossos pensamentos. Entende o que quero dizer?
Ele assentia.
— Será bom para nós dois, assim teremos certeza do que essa nossa união representa. — continuo a dizer. Ele dava um passo em minha direção e, automaticamente, o meu corpo reage se aproximando dele. — E... E precisamos ser sinceros um com o outro. Isso ajudará muito.
— Sinceridade? — questiona. A voz rouca ecoando pelo cômodo e causando embrulhos em meu estômago.
— Sim, sinceridade.
— Quero jogá-la na cama e tirar a sua roupa.
— E eu quero que você faça isso.
Apenas após dizer em voz alta, percebo o meu maldito impulso. Mas já é tarde demais. Lorcan segurava-me pelas coxas em um súbito movimento e correspondo prendendo as minhas pernas entorno da sua cintura. As nossas bocas já estavam coladas, como se houvesse um imã forte. As línguas roçando em uma dança erótica única.
Recupero o fôlego ao ser jogada na cama, interrompendo o beijo. Ele retirava meus coturnos, lançando-os em algum ponto qualquer do quarto. Logo após, abria os botões da minha camisa enquanto estou abaixando a sua calça. Foda-se a conversa de distância, podemos aplicar essa metodologia depois do sexo.
Estou tão desesperada por esse contato físico quanto ele. O duque é rápido em descer minha calça junto com a calcinha, jogando as peças de roupa para longe. A minha camisa está aberta, fazendo com que meus seios sejam alvos da sua língua. Ela passava lentamente a língua por minha pele, deixando-me arrepiada. Puxo seu cabelo o trazendo para mais perto. Como um bom observador, ele entendia de imediato o recado, retirando o restante das roupas.
Os seus dedos não perdem tempo em se posicionar entre minhas pernas, fazendo carícias provocativas. Arqueio levemente o corpo, sendo tomada por um calor inexplicável. Com os diversos estímulos que recebia, era impossível não ficar molhada.
Era tão torturante lidar com esse calor. Mas, felizmente, eu não era a única nesse "barco".
— Eu não consigo esperar... — ele resmunga posicionando-se em minha entrada.
— Terá que dizer "por favor".
O duque encarava-me com a sobrancelha arqueada, incrédulo. Por outro lado, tenho um sorriso maldoso desenhado em meus lábios. Quero ter o homem mais temido do reino em minhas mãos e, obviamente, entre minhas pernas também.
— Natasha, você nã-...
— Eu não estou ouvindo, Vossa Graça. — provoco roçando meu quadril contra sua ereção, ouvindo-o lançar um xingamento baixo.
Torcia internamente para ele ceder o mais rápido possível, porque não estava certa da minha resistência.
Lorcan passava a ponta da língua por meu pescoço, subindo até o lóbulo da minha orelha onde mordia com suavidade. A sua respiração quente causava-me outra onda de calafrios.
— Por favor, Natasha, eu posso fodê-la? Posso fazê-la gemer tão alto que todos no castelo saberão que você é minha e eu... — ele roçava mais ainda sua ereção entre minhas pernas, sorrindo vitorioso ao perceber que estou molhada. —... sou inteiramente seu?
Se tem algo mais excitante que o Lorcan submisso, é ouvir suas palavras proferidas em um tom arrastado. Depois de um breve aceno positivo, ele colocava-se dentro de mim de forma lenta e torturante. Os nossos corpos ansiavam por essa conexão, era impossível negar. Um gemido rouco escapa de seus lábios, mas logo é abafado ao dar início à outro beijo. Enquanto isso, seu quadril começava a se mover e o abraço com força conforme ele vai aumentando o ritmo das estocadas. As minhas unhas deslizam por suas costas, causando leves arranhões.
Ele se arrepia e, em resposta, dava uma estocada mais funda.
A cama rangia, misturando-se com o som dos nossos gemidos sincronizados. Tudo entre eu e ele possuía uma conexão única. Não me senti tão à vontade com Christian, mas com Lorcan é como se não houvesse nenhuma amarra. Quando estamos conectados, não há espaço para inseguranças.
O corpo dele arqueia quando cravo minhas unhas em suas costas, consequência do aumento no ritmo das estocadas. Os seios rígidos roçando contra o peitoral exposto dele, as suas cicatrizes acariciavam minha pele. Quando mexo o quadril a fim de provocá-lo, o homem mordia meu lábio inferior puxando-o entre seus dentes. E logo seu quadril inicia uma sequência intensa de movimentos.
Apoio ambas as mãos em seu peitoral, forçando seu corpo para o lado. Lorcan entende o recado, invertendo as nossas posições. Agora, minhas unhas acariciam a sua barriga enquanto estou em seu colo, quicando incansavelmente em seu pau. As mãos dele repousam em minha cintura, apertando a região.
A única desvantagem da posição é que o duque tem acesso ao meu rosto, completamente corado e suado da transa. Quando desvio o olhar para o lado, sinto a sua mão quente tocando minha bochecha e, assim, foco em sua face.
— Você é linda.
— Mesmo cavalgando em você? — brinco.
Ele sorria de canto. Maldito sorriso malicioso.
— Principalmente cavalgando em mim.
É inegável como me sinto à vontade ao seu lado. Acelero o movimento dos quadris, sentindo o homem abaixo de mim se contrair. A verdade é que estamos em nosso limite e, por isso, não demora muito para nos desmancharmos em uma explosão de prazer. Jogo a cabeça para trás, vendo estrelas enquanto o calor percorre cada parte do meu corpo. Em seguida, passamos longos minutos em silêncio, um encarando o outro. Talvez em busca de alguma palavra para quebrar o clima.
Ao ouvir passos, saio de cima de Lorcan e ouço uma empregada dizer através da porta:
— Eles chegaram.
— Merda de reunião. — resmunga o duque, vestindo a roupa às pressas.
— Foi você mesmo que marcou, sabia?
O homem dava nos ombros com indiferença. Olho para ele sem conter a risada. Posso perceber o leve sorriso em seus lábios, como se me ver feliz fosse o suficiente para melhorar o seu humor.
***
Tentava à todo custo ignorar o sorriso malicioso do Raven. Maldito espião com ótima percepção. Era óbvio que ele sabia do meu envolvimento com o duque mas, por enquanto, ficou em silêncio. Njal estava com os braços cruzados, expondo os músculos suados do seu pós-treino. Katlyn fuzilava-me com o olhar, do outro lado da mesa, sendo ignorada com sucesso. Lorcan sentou-se na ponta e optei por ficar frente à frente com Njal, estando ao lado de Raven.
O silêncio era crucial. Pelo menos, para mim que escolhia minuciosamente as palavras.
— Eu pensei sobre o plano de vocês sobre dominar Velorum e quero fazer o possível para ajudá-los. Conheço as passagens menos movimentadas do castelo e o turno dos guardas. Quero ser útil em qualquer informação.
Katlyn e Njal encaram-me com descrença. Raven tinha uma curiosidade no olhar, comentando:
— Por que o súbito interesse?
— Icarus é o meu lar e agora conheço melhor a realidade das pessoas daqui. Eu sofri muito no castelo, fui humilhada e até mesmo agredida.
— Agredida?
— Sim. Jonnathan me interrogou a fim de saber minhas intenções com o rei. — murmuro passando a ponta dos dedos pelo rosto. Ainda lembrava da dor de cada soco e tapa. — Por sorte, eles me deixaram viva.
Novamente, a enorme sala era alvo de um tenebroso silêncio. O único som a ecoar, segundos depois, era a risada escandalosa do espião. Olho para ele confusa e o rapaz meneia com a cabeça em direção à ponta da mesa.
Lorcan estava com o maxilar rígido e os punhos cerrados em cima da mesa.
— Ele a machucou?! E eu arranquei apenas um olho desse miserável! Devia tê-lo estripado naquele momento.
Njal engasga com a própria saliva.
— Você arranchou o olho do conselheiro-chefe do rei? Um dos mais altos cargos da realeza.
O duque assente em silêncio.
— Estamos ferrados. Não houve a invocação do Tratado de Corvus para isso. — comenta Katlyn afundando os dedos no cabelo cacheado. — É uma sentença de guerra.
Lorcan dava nos ombros. Raven levanta a mão, como um aluno em busca da atenção do professor.
— Se serve de consolo, ele é o traidor.
Eu e os demais estamos surpresos.
— E por que não disse antes? — Katlyn questiona.
— Ninguém perguntou, ora.
Njal suspira com pesar.
— Já devo preparar minha cova, senhor?
O duque ignora o comentário irônico, perguntando:
— Como sabia?
— Fiz algumas visitinhas à capital, torturei alguns empregados. O que sempre faço. Então, percebi que se há um traidor com credibilidade o suficiente para o reino de Velstand negociar, ele tem informações importantes. A única pessoa, fora o rei, é o conselheiro. Invadi o seu quarto e vasculhei cada canto até encontrar cartas suspeitas. Elas tratavam sobre a negociação secreta. O rei de Velstand irá disponibilizar mais de dez mil soldados para o ataque em Velorum.
Era uma quantidade absurda. O exército de Christian seria aniquilado em questão de segundos. Pela troca significativa de olhares entre Lorcan e o espião, sabia que o pior destino seria para Icarus.
— O acordo também dispôs sobre a destruição total de Icarus. — Raven continua. — Não haverá escravos e, muito menos, sobreviventes.
Njal batia na mesa, fazendo a estrutura estremecer.
— Vamos bater em retirada!
— E ir para onde? — Lorcan lança a pergunta retórica. — Não somos aceitos em nenhum lugar, fora Mandrariam. Mandar todo o ducado para lá sem um plano consistente? Estarei levando o meu povo para a morte.
Cada vez mais, o plano em minha mente fazia sentido. Precisava tomar as medidas drásticas para proteger Icarus e, também, assumir o papel de vilã da obra.
— É necessário continuar com o plano e tomar o poder de Velorum. — afirmo atraindo a atenção de todos. Antigamente, eu iria me encolher mas agora estava de cabeça erguida e olhar irredutível. — Mas por que sonhar apenas com um único reino quando podemos ter todos ao nosso dispor?
Lorcan repousa os cotovelos na mesa, inclinando o corpo em minha direção.
— O que está querendo dizer, Diane?
A forma como proferiu meu falso nome... Sabia que ia mantê-lo publicamente pelo bem do meu disfarce. Aceno brevemente em um agradecimento silencioso.
— Após usurpar o poder da família real, vamos expandir o domínio para os outros cinco reinos do continente.
Katlyn é a primeira a se manifestar, soltando uma risada de puro deboche.
— Por acaso, ficou maluca? Acha mesmo que podemos lutar contra todos os exércitos?
— Ela está certa. Esse é o plano mais suicida que eu já ouvi. — dizia Njal. — Está andando demais com o Raven, mocinha.
Ouço o espião protestar em desagrado.
— Não podemos enfrentar mais de um exército. — pontua Lorcan.
— Quem disse que vamos uni-los através da força? Há uma forma de unificar todos os reinos sem que sangue seja derramado.
Mais uma vez, a confusão dança no olhar de todos presentes. Katlyn está tão chocada que sequer consegue rir. Raven apoia a mão no queixo, confuso.
— Isso é impossível.
Mas é Lorcan quem possuía um olhar esperançoso ao falar:
— Conte-me como. Eu sou todo ouvidos.
— O que?! Não me diga que vai ouvir a ideia maluca dessa...— Katlyn começa a falar mas se cala diante do olhar ríspido do duque.
— Há um reino prestes a acabar com Icarus e estamos sem um plano de defesa. Então, qualquer ideia será aceita. A menos que queira se retirar e lutar sozinha contra o exército de Velstand.
A mulher estala a língua no céu da boca, cruzando os braços. O seu silêncio é o suficiente para que eu prossiga.
— Vamos uni-los através de uma constituição.
Njal franze o cenho, confuso.
— O que diabos é isso?
— É uma folha de papel assinada por todos os reis, onde eles abdicam de parte de seus poderes para que um líder maior os governe. Em troca, seus direitos são escritos nesse papel e quem não os cumprirem, independente do reino que esteja, será punido.
Os demais troçam olhares confusos entre si e Raven se pronuncia.
— Ninguém irá dar credibilidade a um papel, Diane.
— Eu aprendi nessas viagens que muitos reinos sofreram com as últimas guerras. E se esse papel garantir que todos cooperem entre si para aumentar a economia, tornando-a uma só? Ao invés de um reino viver de forma medíocre, todo o continente poderá enriquecer.
— Está dizendo que se Icarus não possui fertilidade nas terras, ainda assim teremos a vantagem de usufruir do plantio de outro reino? — pergunta Katlyn, demonstrando uma singela curiosidade.
Afirmo positivamente.
— Aloys deve sua vida à gente e William será bem receptivo quanto à ideia. Podemos negociar com Berton usando o dom da ameaça. — comento sorrindo de canto para o duque e vejo como ele se segura para não sorrir.
— Podemos tentar uma negociação com Aryan. — dizia Raven. — Não custa nada tentar.
— Ainda acho essa ideia uma idiotice.
— Ela me parece a luz no fim do túnel, Katlyn.
— Mas, Njal...!
Lorcan estica a mão em direção à ambos, que se calam no mesmo instante.
— Continue, Diane.
— Só precisamos impor a nossa força à Velorum e tomar o poder. Com um novo monarca, será a chance perfeita de expurgar a mancha criada pelo rei Erick. Se as relações de Velorum com os demais reinos estavam fracas, se dava por esse miserável. Após assinar o acordo e validarmos a constituição, vamos unificar tudo. A economia. As leis e...
— ... os exércitos. — completa o duque. — Não vamos ultrapassar a força de Velstand, mas teremos um continente inteiro à nossa disposição.
— Armas avançadas. Locais perfeitos para um combate. Exércitos especializados em defesa e outros em ataque. — digo sem conter o ânimo.
Conforme explicava o meu plano, levantando-me e apontando para o mapa sobre a mesa, Lorcan repousa o rosto na palma da mão. Ele tinha um leve sorriso em seus lábios. Os olhos brilhavam analisando-me com orgulho. Era incrivelmente adorável a forma como me olhava. Como depositava cada esperança em minhas palavras. Depositava a vida de seu povo e o seu sonho em minhas mãos.
Eu também estava orgulhosa de mim mesma e da ideia baseada na história da Inglaterra. Era arriscado? Sim, mas já estamos na fase de correr riscos. E por estar no time dos vilões, não há chance melhor para provar que Natasha Martin pode mudar completamente o destino.
— Não vamos dominar um reino. — comento apoiando as mãos sobre a mesa, analisando demoradamente cada um presente. Pude detectar medo, receio, ânimo e orgulho em suas faces. — Vamos criar um império.
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