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Capítulo 50

Christian alternava o olhar entre Lorcan e mim. Ainda estou em choque com a carta em minhas mãos mas, como uma guerreira, permaneço atenta à tudo ao meu redor.

— Eu preciso de um voto de fidelidade sua, por tudo o que houve. — comenta o rei. — Soube de uma aproximação do reino Velstand. O seu exército ficará na linha de frente em uma possível guerra.

Lorcan erguia o olhar enquanto levava a xícara de café aos lábios. A expressão tão séria e mortal que, seja lá o que se passe em sua mente, até mesmo o diabo teria medo.

— Então, o meu exército será mandado para a morte como uma garantia da minha lealdade, Vossa Majestade?

Pelo tom de deboche usado, não queria estar por perto quando o duque "explodisse". Mas volto o meu foco à carta, retirando o selo dourado e já gasto por cima do envelope.

— Sabe que é o mínimo depois do que você tentou fazer. — Christian dizia de forma repreensiva, como um pai castigando o seu filho. — E eles são fortes, tenho certeza que ficarão bem.

— Não ficarão. Você não sabe disso porque não está em um campo de batalha há anos, e não imagina como é angustiante ver cada soldado, que treinou e deu tudo de si, perder sua vida. Sabe o que dizem pelas ruas da capital quando um dos meus morre? "Menos uma praga em Velorum". — Lorcan respondia com acidez, depositando a xícara em cima da mesa. Ele apoia os cotovelos sobre as coxas, inclinando o rosto em direção ao loiro. — Se quer dizer quem deve ou não estar na linha de frente, coloque-se no lugar deles primeiramente.

A minha risada breve interrompe uma possível resposta do Christian. Em termos de argumento, o loiro deveria ficar calado e aceitar o seu erro. Ignoro o seu olhar confuso para retirar a folha de papel do envelope. Pelo visto, os dois estão presos a esse momento de tensão para perceber o que eu estou fazendo.

— E preciso de um segundo líder protegendo a área interior de Icarus. — o duque completa, respirando fundo. — É uma garantia de manter a ordem em minhas terras.

Antes de começar a ler a carta, viro-me em direção aos dois, dizendo:

— Eu posso cuidar dessa parte.

Christian arqueia a sobrancelha de maneira descrente, deixando escapar uma risada de deboche.

— Mulheres não ocupam lugares de liderança, Diane. Devia saber disso.

Uma raiva inexplicável toma cada parte do meu corpo e o encaro como se pudesse lançar raios dos olhos. Lorcan cruzava os braços com um semblante de reprovação. Mas ele permaneceu em silêncio, lançando um olhar significativo em minha direção, permitindo que eu me defendesse sozinha.

— Eu te garanto, Majestade, que mulheres podem ocupar qualquer cargo. O que define a competência de um soldado não é o que há entre suas pernas, e sim a força de vontade em seu coração. Pensei que tivesse aprendido isso enquanto estava no exército. Ou esteve ocupado demais garantindo que todos observassem seus golpes perfeitinhos? — debocho.

Ele encarava-me com os olhos levemente arregalados. Lorcan levava novamente a xícara aos lábios para ocultar o sorriso orgulhoso. Logo, volto a atenção para a carta, apoiando-me na mesa de costas para os dois homens, que retornavam à conversa após uma ameaça nada discreta do duque para se focar no que realmente importava.

"Majestade, creio que se lembre de mim. Eu fui enviada à força pelo senhor Sirius para servir à sua família. Mesmo à contragosto, dei o meu melhor para ser útil ao Palácio, mas era difícil suportar tudo o que fazia nas sombras da sociedade. O que o senhor obrigava outras empregadas a fazerem, eu ainda lembro de suas súplicas para pararem. Vossa Majestade as corrompia contra a sua vontade e ainda ameaçava matar suas famílias caso contassem à alguém. Sei que é a realidade, pois fez o mesmo comigo, ameaçou machucar a minha Diane se eu contasse para alguém sobre o monstro que governa Velorum."

Sinto embrulhos no estômago, apertando fortemente as bordas da carta enquanto continuo a leitura. As vozes dos dois homens ao fundo são ignoradas com sucesso.

"Aquelas que estavam impregnadas com o fruto da sua maldade, foram obrigadas a se 'livrarem' do problema, como o senhor insistia em dizer. Se recusassem, sumiam misteriosamente. Mas eu não sou uma tola, sei muito bem o que o senhor fazia e também sabia que seria uma questão de tempo para ser a próxima. Quando ocorreu, eu me senti desolada. Não sabia o que sentir, encontrava-me dividida entre estar repleta de repulsa de mim mesma e carregar uma vida inocente. No fim das contas, ambos sabíamos que eu lutaria pela vida do meu filho. Eu sou de Icarus e nós lutamos até o último suspiro."

As minhas suspeitas estavam, infelizmente, certas. O antigo rei engravidou a minha mãe no período em que ela serviu ao Palácio. Mas nunca imaginei que seria algo sem consenso e carregado de tamanha dor. Nesse ponto, as lágrimas se formam em meus olhos e respiro fundo antes de prosseguir, silenciosamente, a leitura.

"Continuei seguindo com a gravidez, mas você não gostou nem um pouco e me espancava sempre que tinha a chance, o que acredito ter feito várias vezes com sua esposa. Para muitos nobres, eu não passo de uma camponesa sem valor algum mas, naquela noite, o senhor tirou algo importante de mim. Por causa desse maldito veneno, perdi meu filho e, aos poucos, estou perdendo minha vida. Mas não morreria antes de trazer o inferno para a sua. Não terei muito tempo, mas saiba que entreguei uma cópia desta carta para uma pessoa de confiança e ela tem a permissão de expor toda a verdade, caso machuque a minha Diane quando eu partir."

Apoio a mão na boca, abafando um soluço. As lágrimas rolavam por minha face enquanto mal consigo segurar a carta sem a folha escapar dos meus dedos. Ouço passos se aproximando e sinto duas mãos firmes, cobertas por luvas de couro, apertando meus ombros trêmulos.

— Você está bem, Natasha? — o seu sussurro ecoa em meu ouvido, mas me encontro sem palavras.

Então, continuo a ler a carta contendo o mar de emoções em meu peito.

"Ela terá estabilidade no Palácio e direito a sair desse inferno se, um dia, assim desejar. Minha Diane tem um lar em Icarus e, mesmo que não possua uma família no ducado, sei que as pessoas de lá serão acolhedoras. Eu só quero que saiba de uma coisa. Todas as atrocidades que cometeu comigo, com as outras mulheres e o povo de Icarus voltará para destruir a sua vida miserável. Porque eu posso partir para outro plano deixando a minha amada filha, mas nunca descansaria em paz até saber que alguém como você está queimando no inferno e que ela está segura. Então, saiba que eu e ninguém de Icarus descansará até ver a sua ruína.

De Annabeth Scarbrough para Erick Hartley, o homem mais tirano da história de Velorum."

Estupro. Assassinato. Aborto. Era uma chuva de informações. Apertei com tanta força a carta que amassei a folha. Quando olho para Lorcan por cima dos ombros, vejo a preocupação no olhar e avanço contra seu corpo, encontrando um pouco de paz em seus braços. Soluço com o rosto afundado contra seu peito enquanto ele acariciava, cauteloso, o topo da minha cabeça. O duque ainda está aprendendo a demonstrar afeto mas confesso que tem feito um bom trabalho até então.

— O que houve? — Christian questiona, preocupado. — E por que o abraçou, Diane? Isso é... Estranho.

Lorcan o olha mortalmente.

— Cala a boca ou eu te mato agora mesmo.

Inspiro profundamente o aroma amadeirado do duque enquanto tento assimilar o conteúdo da carta. A minha mãe sofreu tanto nas mãos do maldito Erick. E o miserável ainda fingiu se compadecer com a perda da minha mãe quando, na verdade, foi responsável por seu envenenamento fazendo-a perder seu filho. Annabeth foi estuprada e obrigada a perder o filho, para um homem sem escrúpulos que morreu como um "nobre e generoso rei".

— Eu preciso conversar com o Christian. À sós. — digo desvencilhando-me do abraço. Seco as lágrimas com as costas da mão. — Espere-me do lado de fora.

Não estava com paciência de ser gentil, a minha ordem foi direta e clara. Surpreendentemente, Lorcan anuiu retirando-se da sala sem antes olhar para o rei em um aviso silencioso. Quando estou completamente à sós com Christian, empurro a carta contra o seu peito.

— Você sabia?!

Ele permanece em silêncio e confuso enquanto lia a carta. Conforme era imerso nas palavras, sua expressão muda para uma tristeza profunda.

— Sobre a carta e o que houve com a sua mãe? Não exatamente, mas tinha conhecimento do que o meu pai fazia com algumas empregadas.

Respiro fundo passando os dedos entre as mechas soltas do meu cabelo. Encontrava-me em choque ao saber que Christian tinha conhecimento das atrocidades do pai e, em nenhum momento, fez algo à respeito.

— Por que não expôs esse miserável para todo o reino?

Christian dava uma última olhada na carta, entregando-me antes de responder:

— Eu não podia. Velorum tem se mantido em paz por anos, por causa da imagem que possuíam do meu pai. Eu não tinha o direito de colocar tudo em risco contando a verdade.

— Como assim "não tinha o direito"? — grito com toda a minha fúria. — Essas mulheres sofreram na mão do seu pai e foram tratadas como meros objetos. Elas mereciam que suas histórias fossem contadas. Mereciam ser reconhecidas como verdadeiras guerreiras!

— Eu sei! Mas eu não podia arriscar tudo por elas.

É um filho da puta mesmo, como pude me apaixonar por esse homem?

Por um instante, permaneço em silêncio dividida entre a vontade de socar seu rosto e desabar em lágrimas. Depois de tudo o que passei no maldito palácio, tinha uma pequena noção do que essas mulheres passaram na mão do rei Erick. Como eram tratadas e torturadas.

— Você é um covarde, Christian. Ser omisso em uma situação dessa, não o torna melhor do que o agressor.

Ele fazia careta, claramente ofendido. Foda-se o que o Christian pensa.

— Como um monarca, foi a escolha necessária para o bem da maioria. Para manter Velorum em paz e estável. Você precisará suportar essa situação, por mais dolorosa que seja. — dizia em um tom irritantemente preocupado. — Saiba que estou disposto a ajudá-la no que for preciso mas, como rei, preciso ordenar que se mantenha em silêncio.

— Eu não abaixo a cabeça para ninguém, nem mesmo para o rei. — rebato com acidez.

— Ao menos, exijo respeito pela minha decisão. Ela foi feita com muito pesar e dor.

— Não exija respeito quando trata as vidas dessas mulheres como meros objetos descartados, esquecidos no tempo. — digo parando à sua frente. A cabeça bem erguida e o peito estufado. — Você e o maldito do seu pai são iguais.

Vejo a surpresa e a decepção dançar em seu olhar.

— Não me compare à ele.

— Omitir a verdade não é o que ele tem feito durante toda a sua vida? — questiono arqueando a sobrancelha enquanto o deixo sem palavras. — Saiba que todo o seu maldito reino irá cair. E se não for pelas mãos do Lorcan, será pelas minhas.

Saio do escritório em passos apressados, encontrando o duque ao final do corredor com os braços cruzados. Quando nota a minha presença, retorna à postura rígida com certa preocupação e curiosidade no olhar. Christian também me acompanhava alguns passos atrás, dizendo:

— Não pode sair assim, Diane! Eu tenho certeza que podemos resolver isso através de uma conversa saudável, sem precisar da agressividade. Não permita que a influência negativa do Lorcan afete o seu caráter.

O duque trinca o maxilar, ofendido. Aquela havia sido a gota d'água para mim. Viro-me em direção ao loiro, atingindo seu rosto com um forte soco. O corpo de Christian cambaleia para trás e ele apoia a mão na parede, mantendo o equilíbrio. Um filete de sangue escorre do seu nariz enquanto ele me encarava com incredulidade.

— Nunca mais ouse falar dele dessa forma. — vocifero. — A menos que queira ter esse belo rostinho completamente machucado.

Antes que Christian pudesse responder, puxo o duque pelo braço o guiando para o quarto. Não sinto remorso algum em deixá-lo parado no meio do corredor. Ele terá muito tempo para digerir tudo o que houve.

— Belo soco. — Lorcan elogia quando estamos sozinhos em seu quarto.

Suspiro pesadamente entregando a carta para ele.

— Sabia disso?

Lorcan lia com atenção e depois nega com a cabeça.

— Algumas mulheres foram abrigadas em Icarus e afirmaram sobre atitudes suspeitas do rei. Mas não fazia ideia de que ele havia chegado a esse ponto.

Noto a sinceridade em seu tom de voz e em sua expressão, relaxando um pouco a postura. Lorcan nunca mentiu para mim. Ele podia ser rude, calculista e frio. Mas mentiroso não era.

— Conheceu a minha mãe?

— Sim. Annabeth era uma das empregadas da minha família, mas não tive a chance de conhecê-la melhor. Ela foi enviada para a capital após a guerra.

O duque devolvia a carta enquanto abria o guarda roupa, retirando a sua espada oriental. Por um momento, estou admirando a lâmina brilhante e afiada.

— O miserável precisa pagar por sua anuência. — profere Lorcan. O ódio presente em suas palavras.

Apoio a mão em seu peito, impedindo-o de avançar.

— Tenho algo melhor em mente. Confia em mim?

Ele assentia em silêncio.

— Então, prepare nossa viagem de volta para Icarus. Temos uma reunião importante com todos da sua equipe.

— Da nossa equipe. — corrigia com um sorriso de canto.

Balanço a cabeça em concordância e dou um passo para fora do quarto, mas a sua mão segura a minha. Lorcan puxava-me para um abraço apertado, pressionando minha cabeça contra seu peitoral.

— Você não está sozinha.

As lágrimas retornam mas, desta vez, permito ser levada por essa onda de tristeza porque Lorcan tem razão. Eu não estou sozinha.

***

Todos os empregados ficam tensos quando atravesso a cozinha, usando as roupas de treinamento e a adaga presa na cintura. O som das longas botas pretas ecoava pelo ambiente. Cherly piscava os olhos confusa ao ser alvo do meu abraço apertado. Acaricio as suas costas enquanto contenho as emoções em meu peito.

— Eu preciso ir. O meu lugar é em Icarus. — digo desfazendo-me do abraço e apoiando as mãos em seus ombros. — Saiba que pode me visitar sempre que quiser. E não, não encontrará torturas e sofrimento lá.

Ela assentia e retoma o abraço, apertando-me contra o seu corpo.

— Eu sentirei a sua falta, Diane...

Martha aproximava-se fazendo parte do abraço coletivo. As duas seguravam as lágrimas, enquanto eu estou inexpressiva como uma rocha. Em menos de um dia, precisei digerir tantas informações que, sinceramente, é impossível definir o que sinto no momento.

— Lorcan é uma boa pessoa, não é? — murmura Martha. — E estávamos erradas esse tempo todo.

Assinto em silêncio.

— Eu nem sei o que dizer. — Cherly admitia apoiando as mãos na cintura. — Você gosta dele, certo? Porque não adianta me enganar. Eu conheço esse olhar apaixonado.

Arregalo os olhos, sentindo a face esquentar. Antes de poder dizer algo, a senhorita Hopkins aparecia entre a gente com a cabeça erguida, trazendo consigo todo o seu típico ar de superioridade.

— Pelo visto, mostrou sua verdadeira face.

Estreito os olhos em sua direção.

— Você sempre soube de tudo o que a minha mãe passava, não é?

Ela dava nos ombros.

— Era uma vadia como a filha. Tinha seus privilégios por seduzir o rei.

Como uma única palavra poderia nos despertar emoções tão intensas? A minha única certeza é que avancei contra a mulher, chutando a sua barriga. Ela recuou batendo as costas na mesa e mal dei tempo para se recompor, pois segurei seu pescoço e a joguei novamente contra a mesa. Repeti o movimento inúmeras vezes até perceber que a maldita estava tonta. Alguns empregados fizeram menção a se aproximar, mas recuaram quando saquei a adaga.

Os olhos da senhorita Hopkins se arregalaram ao ver a lâmina afiada e brilhante tão perto do seu rosto.

— Eu sempre odiei essa sua cara desprezível de superioridade. Você é a única que fica se rastejando por privilégio. Agora eu te pergunto: valeu à pena humilhar todos para ocupar essa posição?

Ela engolia seco, permanecendo calada. Dou um sorriso maldoso que até mesmo o temido duque de Icarus iria estremecer se visse.

— A minha mãe era uma mulher forte, determinada e guerreira. Ela era de Icarus, com muito orgulho. E não permitirei que sua língua imunda ofenda ninguém novamente.

Puxei abruptamente a língua da miserável, passando a adaga em um movimento rápido e preciso. O sangue inundou a boca da governanta que caía se joelhos diante dos meus pés. A ponta da minha adaga refletia o seu semblante de desespero e dor. Em seguida, joguei o pedaço da língua nela, cuspindo em seu rosto.

— A sua arma para machucar os outros são as palavras. Então, eu as arranquei de você. — digo contendo toda a onda de raiva em meu corpo. — Da próxima vez, eu não serei tão generosa.

Lanço um olhar de advertência para os demais empregados, antes de seguir para fora da cozinha. Ao fundo, podia ouvir o grito agudo de dor da mulher, mas não estava comovida com a sua situação. Ela humilhou a minha mãe da mesma forma que fez comigo, e não duvido que a história tenha se repetido com outras empregadas. Então, se para lidar com a injustiça eu precisava sujar minhas mãos de sangue, faria sem remorso algum.

Não iria me submeter novamente ao papel de secundária, mas também estava longe de ser a protagonista da obra. Finalmente, após conhecer a real história por trás do reino, percebi qual seria o meu papel.

Eu serei a vilã. A mais filha da puta que Velorum já teve. Mas somente assim poderei livrar o reino da verdadeira mancha de maldade.

Ao passar pelo corredor, encontro o conselheiro que olhava para mim com escárnio.

— Eu me pergunto se trepou com o duque para obter vantagem ou por pena.

Permaneço calada enquanto o jogo contra a parede, apontando a adaga em seu pescoço. O maldito tinha um sorriso de superioridade, mesmo em uma situação de desvantagem. A lâmina tocava sua pele, arrancando um filete de sangue. Ele abria a boca para fazer outro comentário maldoso, mas o impeço cravando a adaga em seu ombro.

O gemido de dor dele é como música para os meus ouvidos.

— Você, por acaso, trepava com o rei Erick para ser o seu bichinho de estimação? — questiono ironicamente. — Com certeza, ele fazia isso por pena.

Ele trinca os dentes, chutando a minha barriga fazendo-me recuar. Jonnathan arranca a adaga do ombro, avançando em minha direção. Apesar de estar desarmada, adquiro uma postura defensiva, pronta para lutar se fosse necessário.

Contudo, alguém segura a mão do conselheiro e a torce bruscamente. Posso ouvir o som do osso sendo deslocado, seguido por um grito agudo do homem. A adaga rola para perto dos meus pés, onde a pego em um ágil movimento. Quando ergo o olhar, encontro a expressão gélida do duque direcionada para o conselheiro.

— Nunca aponte uma arma para ela, seu verme.

O tom de voz usado era tão cortante quanto o vento do inverno.

— Eu não tenho medo de você, sua aberração. — exclama Jonnathan. — Tudo o que vejo é um monstro renegado e uma puta aproveitadora. O seu teatrinho para me assustar não funcionará.

Não era preciso ser muito inteligente para saber que aquela foi uma péssima escolha de palavras. Eu já estava avançando em sua direção para arrancar sua maldita língua, mas o homem à frente foi mais rápido.

O duque também havia sacado uma adaga e o seu movimento preciso colocou Jonnathan contra a parede, conforme o encarava com medo. Lorcan não hesitou ao enfiar a adaga no olho direito do conselheiro, respingando sangue em sua face. Rapidamente, virei-me de costas para não encarar a cena, mas era impossível ignorar os berros e súplicas do maldito.

— Não devia confiar em sua visão, Jonnathan. — debocha Lorcan. — Ela não me parece muito confiável, principalmente agora.

Então, senti a mão firme do duque segurar a minha e seguimos para fora do palácio sem olhar para trás. Conforme nos afastávamos do interior desse lugar podre, sinto o ar voltar regularmente para os meus pulmões. Pude ouvir passos se aproximando e já me virei, puxando a adaga. O semblante de Christian alternou entre surpresa e raiva.

— A atitude de vocês dois é deplorável. Diane, eu esperava que pudesse ser compreensiva.

Arqueio a sobrancelha, incrédula.

— Compreensiva com a omissão dos estupros ou com o seu caso com a Alene?

Ele engolia seco.

— Isso... Isso não é o assunto em questão! Acabei de ser informado de que há pessoas machucadas no castelo e haverá consequências.

Eu e Lorcan demos nos ombros de forma simultânea.

— Eu fui generoso demais, mas tudo o que recebi em troca foi hostilidade e repulsa. — comenta o rei aproximando-se em passos lentos. Não sabia que ele podia fazer uma expressão tão sombria. — Icarus agora é inimiga de Velorum. E não espere que eu seja bondoso quando for aniquilar o meu inimigo.

Enquanto estou preocupada diante da ameaça, o duque continua com a típica indiferença. Ele encurtava a distância com o loiro, olhando no fundo dos seus olhos.

— Sempre fomos os seus inimigos, mas Vossa Majestade nos subestimava demais. Fico honrado que finalmente abriu os olhos.

Christian trinca os dentes.

— Não estou para brincadeiras, Lorcan.

— Nem eu, Christian. Por sinal, tenho uma advertência a fazer. Nunca mais encoste um dedo na Diane, as suas mãos imundas não irão tocá-la novamente. — ameaçava fechando os punhos ao lado do corpo. A postura rígida e a voz gélida. — Se ousar se aproximar dela, eu juro que arrancarei cada dedo seu e os colocarei nos quatro cantos de Velorum. E garanto que sua cabeça será o último item dessa caça ao tesouro se me desobedecer.

Tanto eu quanto o rei estamos boquiabertos. Lorcan sequer espera por uma resposta, pois me puxava mais uma vez para fora do castelo. Ouço uma ordem ríspida de Christian, mandando os guardas nos prenderem. Então, apressamos os passos e entramos na carruagem em um sobressalto. O cocheiro entende a nossa urgência e já nos guiava para longe do ambiente caótico do castelo.

Inclino o corpo, observando através da janela os guardas em sua perseguição frenética.

— Estou com um péssimo pressentimento. — murmuro fechando a cortina, acomodando-me no banco da carruagem. O duque continua em silêncio do outro lado, o olhar focado na paisagem. E a sua expressão tão distante e indecifrável. — Eu preciso te contar algo antes de voltar para Icarus.

Ele assente demonstrando estar atento à conversa. Por nunca ter mentido para mim, sinto-me "suja" em ocultar a verdade sobre minhas primeiras intenções no ducado. Ele tinha o direito de saber.

— Quando eu fui à Icarus para o treinamento, na verdade o Christian me mandou para ser a sua espiã e obter informações sobre o seu suposto golpe.

Estava feito. Agora, só precisava esperar os meus dentes serem arrancados um por um, como uma punição por tê-lo traído.

— Eu sei.

Demorei alguns segundos para digerir essas duas palavras. Tão simples e, ao mesmo tempo, significativas. Diante do meu silêncio, ele virava o rosto em minha direção, dizendo:

— Eu sempre soube que estava agindo como uma espiã. O Christian nunca foi um bom estrategista.

— Se sabia desde o início, por que me deixou ficar em Icarus?

Um leve sorriso se forma em seus lábios. O seu olhar expressava uma amabilidade calorosa, trazendo uma paz inexplicável para o meu coração.

— Essa era a única forma de tê-la por perto. E se precisasse arriscar o meu ducado para isso, era um preço justo.

Estou surpresa com sua confissão. O duque poderia ter me matado ou mandado de volta para a capital, mas não queria se afastar de mim. Ele sempre teve esse lado amável, mas eu não consegui enxerga-lo. Lorcan expressa uma singela confusão quando sento ao seu lado, segurando seu rosto com ambas as mãos.

Ser alvo daqueles olhos azuis era tão bom. Queria ter a sua atenção para sempre.

— Lembra daquela conversa que tivemos na base militar? Você disse que queria saber como é estar no lugar do Christian. — comento e ele assente. — Saiba que você é digno de ser amado. As pessoas o fizeram acreditar o contrário por todo esse tempo, mas você é a pessoa mais digna do amor que eu conheço.

O seu olhar oscila por breves segundos, sem saber como reagir. Então, Lorcan puxava-me para um abraço, escondendo o rosto em meu ombro. A sua respiração pesada causadora de calafrios. Ele apertou meu corpo como se estivesse protegendo a joia mais preciosa de todas.

— Eu fiquei com medo do Christian tirá-la de mim... — admitia com a voz abafada, por estar com os lábios pressionados em meu ombro. — E juro que destruiria todo aquele maldito palácio se isso acontecesse.

Rio baixo, acariciando as mechas macias de seulongo cabelo. Ele não precisava se preocupar pois, desde que fui salva daquelacela, já havia escolhido o Lorcan em meu coração. 

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