Capítulo 5
O balanço inquieto da carruagem não causou tamanho incômodo como da última vez. Talvez porque a minha mente estava revivendo o momento onde os lábios do príncipe estão contra a minha testa. Não, Natasha. Você não pode ficar pensando nessas coisas, não aja como uma adolescente apaixonada e iludida.
Christian desceu da carruagem como um foguete após chegar no Palácio Real, sendo acompanhado por seu fiel cão — vulgo Jonnathan — e dois guardas de confiança. Enquanto isso, retirei as malas do compartimento e as arrastei com muito esforço em direção ao interior do local. Por sorte, outro empregado surgiu e me ajudou com um sorriso gentil. Ao menos, havia algumas pessoas educadas e cavalheiras no castelo.
Cherly surgiu no meio do corredor, puxando-me para a cozinha e o brilho do seu olhar só podia expressar curiosidade pelo o que houve. Em resposta, gesticulei para que fosse paciente e esperamos que o local ficasse o menos movimentado possível. Nós duas nos sentamos em banquinhos de madeira e começamos a descascar as batatas. Desta vez, tomei o maior cuidado possível para não cortar o meu dedo, pois odiaria lavar toda aquela louça novamente.
— Como é a mansão em Altair? Eu ouvi boatos de que é quase tão grande quanto aqui.
— É relativamente grande, mas não dá para comparar com o castelo.
— E você conversou com o príncipe?
Engoli seco e assenti com a cabeça. Ela soltou um gritinho que chamou a atenção de todos e logo tratou de se desculpar, voltando a atenção para a batata em suas mãos.
— Você é tão sortuda, Diane. O príncipe é um homem reservado, poucos têm acesso à ele e quem dirá ter a chance de conversar.
— Apenas falamos de coisas banais, Cherly.
Coisas banais como um suposto ataque do duque.
— Não deixa de ser uma conversa, ora!
Eu dou nos ombros, concentrando-me em não cortar os dedos. A minha maestria na cozinha é péssima. Diante do meu silêncio, Cherly continua a falar:
— Os empregados comentavam sobre a sua ida. É incomum o príncipe levar um serviçal para a sua mansão, já que não é necessário. E logo você que nunca se destacou em nada.
— Nossa, muito obrigada. — comento com sarcasmo. — Já pensou em ser psicóloga?
— O que é isso?
Solto um longo suspiro.
— Nada, esquece. De qualquer forma, ele só queria algum servo da mansão para fazer tarefas mais simples e informar ao cozinheiro sobre o cardápio.
— Não deixa de ser algo estranho. O príncipe cumprimenta todos, mas raramente tem um contato direto com a gente. — ela dizia depositando a batata descascada ao seu lado e pegando outra. — Mas eu fico feliz que tenha saído um pouco da mansão. Você sempre foi caseira demais, nem mesmo quis ver a estrela cadente comigo naquela noite. E olha que quase todos no castelo saíram para vê-la!
A batata escapou da minha mão e rolou pelo piso de madeira. Cherly continuou a falar sobre os empregados que compareceram nesse evento enquanto eu permaneço estática. Essa informação era nova para mim e comecei a refletir sobre o assunto.
— Que noite a estrela cadente passou?
— Há duas semanas atrás. Você não lembra? — ela questiona confusa. — Você preferiu ficar no quarto e, no outro dia, acordou tão sonolenta que quase dormiu aos pés da escada. Nossa, lembro que esqueceu do próprio nome e de onde estava.
Cherly riu com essa lembrança e, por outro lado, só consigo sentir um embrulho no estômago. Eu não acredito em coincidências, principalmente à partir do momento em que algo sobrenatural aconteceu comigo. A estrela cadente havia passado simultaneamente no meu mundo e dentro da obra, mas não lembro de ter narrado esse fato enquanto escrevia. É esse o acontecimento sobrenatural que me transportou para cá, não tem outra explicação!
— Essa estrela... O que sabe sobre ela? — pergunto sentindo a boca seca.
— Não muita coisa. Há uma lenda antiga sobre a Estrela Ponte dos Mundos, como assim a chamam. Mas eu nunca me importei com essas coisas, só queria ver porque acho bonito e romântico. — ela comenta dando nos ombros, jogando outra batata dentro do balde. — O que houve? Você está pálida, Diane!
O mundo sobre os meus pés rodava e agradeci por estar sentada naquele momento. As minhas mãos tremiam e, provavelmente, estava com uma expressão nítida de espanto.
— A-Alguém entende sobre essa lenda?
— A xamã da vila, Circe. As pessoas a procuram quando desejam ser curados de alguma doença ou apenas para ouvir suas histórias sobre o mundo.
— Onde ela morra?
Cherly pisca rapidamente os olhos, confusa.
— Por que quer saber?
— Diga-me onde ela mora, por favor. — peço quase sem fôlego. — Eu... Eu preciso vê-la.
— Você está bem, Diane? Eu nunca a vi assim.
— Não posso explicar, apenas confie em mim.
Ela suspira com pesar e abre um sorriso acolhedor em minha direção.
— Tudo bem, eu vou dizer onde ela mora mas tome cuidado. A floresta não é um lugar muito seguro para mulheres indefesas.
Assenti com a cabeça e prestei atenção nos detalhes do caminho. Se havia uma pessoa que podia me dizer o que estava acontecendo, essa pessoa era Circe.
***
Quando o Sol escondia-se entre as colinas, os empregados foram dispensados de seus serviços. Então, saí cuidadosamente do castelo e segui em direção à vasta floresta no sul da cidade. O som das minhas botas contra os galhos quebrados ecoava em meus ouvidos. O local encontrava-se levemente iluminado pelo tom alaranjado do pôr do Sol e uma brisa gélida tocava minha face. As árvores eram altas com folhas densas, a maioria pinheiros ou sequoias. Cherly disse que a xamã morava no centro da floresta, perto de um pequeno córrego que cortava a mata. Com um pouco de sorte, eu conseguiria chegar lá sem trombar com algum animal silvestre.
O cântico de uma coruja fez o pelos de minha nuca se arrepiarem. Os arbustos se moviam como se tivessem vida própria e eu desejei fervorosamente desistir da ideia. Desde sempre, fui obediente e evitei me aventurar fora dos limites do meu quintal. Como não possuía amigos pra brincar na rua, passava a maior parte do tempo em casa brincando com minhas bonecas. A minha mãe aparecia na sala apenas para se certificar se os móveis continuavam arrumados, mas nunca perguntou se eu estava me divertindo sozinha. Talvez não fosse preciso perguntar, era evidente como a solidão havia se tornado a minha aliada naquela época.
O som de galhos se quebrando foi o suficiente para o meu corpo travar. Então, interrompi a caminhada e fechei os punhos com força, esperando pelo pior.
Por que eu pensei que conseguiria chegar até a casa da xamã? Eu não consigo nem fugir da minha própria obra, não consigo dizer ao Bryan o quanto ele me machuca, não consigo...
O barulho cessou e arbusto alto à minha frente se abriu, fazendo-me visualizar a senhora de uns setenta anos que me encarava com curiosidade. Ela possuía estatura média, pele morena e traços vermelhos de tinta por todo o rosto formando linhas e pontinhos indecifráveis como se uma constelação tivesse sido desenhada em sua face. Os lábios dela estavam tingido por um batom escuro e os olhos pretos da mulher estavam fixos em meu rosto pálido de medo. Ela usava um colar conchas brancas bem como três fileiras de pulseiras no mesmo estilo, entrando em um contraste curioso com seus brincos de argola. Apesar da idade, o seu longo cabelo era preto e alguns fios brancos despontavam na sua cabeça mas traziam um certo charme à senhora.
Eu senti como se aquela mulher fosse mais velha do que o próprio tempo, como se tivesse assistido a colisão das primeiras estrelas. Ou talvez fosse o medo que causou essa sensação.
— O medo é seu maior inimigo, mocinha.
A xamã recuou alguns passos dando-me a visão completa de seu manto azul, cobrindo o longo vestido branco. Ela estava descalça e a simplicidade exalava daquela mulher, mas podia sentir que a riqueza estava presente em algo além do material. Quando ergui o olhar, encontrei uma pequena cabana de madeira com um balanço na frente. A fumaça saía da chaminé e as árvores não balançavam ao redor do local, como se respeitassem aquela simples estrutura.
Pisquei os olhos retornando ao momento.
— Meu maior inimigo?
A senhora apenas gesticulou para que a acompanhasse para o interior da cabana. Receosa, segui a xamã já pensando em quais poderiam ser as minhas últimas palavras. Ao adentrar na casa, sou agraciada pelo calor aconchegante da lareira na pequena sala. A mais velha se sentou em uma poltrona coberta por pele de animal e gesticulou para que eu me aproximasse. Em passos lentos, adentrei na sala e sentei no tapete macio ao lado da lareira.
— Creio que já saiba quem eu sou. — ela dizia tirando um cachimbo de dentro do seu manto. — Mas quem você é?
Abri a boca para responder instantaneamente mas hesitei por uma fração de segundo. Esses dias sendo Diane me fizesse esquecer por um momento a minha real identidade.
— Diane. Eu sou uma empregada do castelo.
Circe inclinou levemente a cabeça para o lado, avaliando-me como um gato olha para um peixe no lago. O olhar afiado e analítico causou calafrios por meu corpo.
— O seu verdadeiro nome, mocinha. Eu gostaria de saber qual é.
A surpresa está estampada em minha face.
— N-Natasha. Como a senhora...?
— Eu sabia que um dia os astros iriam cumprir sua profecia. — ela comenta dando uma tragada no cachimbo, a fumaça escapava por seus lábios. — Onde a Estrela Ponte dos Mundos faria a sua travessia.
— Profecia? Que profecia?
Ela suspirava pesadamente, apoiando as costas na poltrona.
— Antes mesmo do homem, as estrelas já existiam e eram consideradas divindades com poderes místicos. O universo expandia para o infinito e muitos mundos foram criados, mundos distantes uns dos outros. Os únicos seres capazes de atravessar entre os mundos eram estrelas específicas...
— As estrelas cadentes.
— Exatamente, mocinha. Elas não são estáticas como suas irmãs, gostam de conhecer a vastidão do universo. Com o nascimento da humanidade, os primeiros povos aprenderam a cultuar a noite e os seres que surgiam nela. — Circe comenta ajeitando-se na dura poltrona de couro de animais. — Eles faziam pedidos às estrelas, alguns eram atendidos e outros não. Tudo dependia da fé que colocavam em seus corações, pois essa fé era a ponte responsável por fazer as estrelas ouvirem a voz daqui de baixo.
Mesmo confusa sobre o início da história, decidi não interromper.
— Há muitos séculos atrás, um humano solitário fez um pedido a uma estrela. Ele se sentia incompleto, como se faltasse alguém sua vida. A estrela já havia ouvido um pedido semelhante, mas em outro lugar. Um lugar muito distante, além do que aquele homem poderia sonhar. Então, sentindo pena daquela pequena criatura sozinha, a estrela o concedeu um pedido. Ele podia conhecer essa outra pessoa que o completava, mas ela não existia no mundo dele.
— Espera, ela era de outra realidade? — questiono e a xamã assente. — Como os dois se encontraram?
— Através da força de seus corações. A estrela só poderia conceder um pedido de tamanha magnitude de houvesse um fio condutor, se ambos estivessem conectados no exato momento em que passasse pelo céu.
— Como assim?
— Os dois precisariam pedir a mesma coisa.
O meu semblante torna-se mais confuso ainda, pois era impossível que uma criação minha tivesse feito o mesmo pedido que eu.
— Não, não. A senhora não entende. — digo ficando de pé bruscamente. — Esse não é um universo paralelo pois tudo foi criado aqui. — aponto para a minha cabeça. — Não é como se já existisse antes da minha permissão.
— Tudo o que nasce da nossa mente já existiu em algum lugar. Os nossos pensamentos são reflexos de outra realidade, uma história não vivida mas sentida por nossa alma. — Circe dizia com uma expressão serena, tragando mais uma vez o cachimbo e deixando que a fumaça rondasse o local. — Ou talvez a força do seu pensamento criou um novo mundo, nunca se sabe.
Eu queria gritar com aquela senhora sobre a sua teoria maluca, mas o problema é que fazia muito sentido. Na verdade, tudo nessa realidade parecia ter sentido, apenas a minha mente confusa que se recusava a acreditar. Enquanto a xamã me analisava serenamente, eu andei de um lado para o outro puxando os fios de cabelo, revivendo as palavras de Circe em minha cabeça. Então, em determinado momento interrompi a caminhada deixando a marca dos meus pés sobre o tapete felpudo, virando-se para a morena.
— A senhora falou sobre ambos terem pedido a mesma coisa. Quer dizer que alguém aqui fez o mesmo pedido que eu?
— Exatamente.
— Quem?
Ela negava com a cabeça simbolizando desconhecer a identidade dessa pessoa.
— Droga! E como eu faço para voltar?
— Se o desejo de uma estrela a trouxe para cá, o mesmo precisa ser feito para reverter a situação.
— Preciso esperar até um cometa passar aqui? E se isso levar anos?! — exclamo já sendo tomada pelo desespero.
— Ele virá na próxima primavera. — ela responde a fim de me tranquilizar, o que não dá muito certo. — Mas para que a ponte seja ligada novamente, os dois precisam estar em sintonia de novo.
Era só o que me faltava. Eu preciso encontrar o maluco que fez um pedido para a droga de uma estrela. Não que eu seja melhor do que ele, pelo visto!
— E que ritual é necessário para isso? Ou preciso apenas pedir? Como vou descobrir quem é? Eu não posso sair perguntando para alguém se essa pessoa conversou com uma estrela!
Circe levantava-se com certo esforço por causa da idade, deixando o cachimbo de lado para andar até mim. Ela apoia as mãos enrugadas em meus ombros, olhando no fundo dos meus olhos com uma intensidade misteriosa. De forma instantânea, a minha ansiedade some e recupero o fôlego lentamente.
— São tantas informações e ainda há muito o que aprender, mocinha. Não vai conseguir encontrar as respostas que procura se não acalmar o seu coração. — ela comenta guiando-me para a cozinha onde era composta por móveis simples de madeira e plantas para todos os lados em jarros caseiros. — Há livros que podem te guiar.
— Onde eles estão? — questiono sentando-me da cadeira de madeira velha ao meu lado.
— No castelo. A família real detém quase todo o conhecimento de Velorum.
— Como sabe tanto sobre isso?
— Os meus ancestrais cultuavam as estrelas desde o início da minha tribo, então aprendi com as histórias dos mais velhos tudo sobre o poder dos cosmos.
Circe prepara um chá de camomila para mim e deposita em um copo de barro. O aroma invade minhas narinas e não penso duas vezes em tomar, sentindo o interior se acalmar em um ritmo lento. Aos poucos, consigo respirar sem ter a sensação de um elefante esmagando os meus pulmões.
— Eu... Eu não sei como isso pôde acontecer comigo. — murmuro encarando o meu reflexo no chá. — Será que é uma punição por não conseguir fazer nada direito?
A xamã soltava um longo suspiro de descontentamento, negando com a cabeça.
— Você realmente tem muito a aprender.
— Eu não quero aprender nada, senhora. Eu só quero ir para casa, tenho uma vid-... — mordo a língua ao lembrar de que nem mesmo o meu namorado sentiria minha falta, mas era melhor continuar fingindo que tinha uma vida incrível me esperando no mundo real. — Bem, eu tenho obrigações.
Ela abria um sorriso de canto e apenas me acompanha no chá, não dizendo uma palavra sequer até a saída onde recebo o conselho de retornar para a cabana quando "clareasse" a minha mente, ou seja lá o que isso significasse.
***
Aquela foi uma noite perdida pois não consegui dormir. Em minha mente, revivia as palavras de Circe e essa profecia maluca a qual ela mal se deu o trabalho de dar mais detalhes. Pelo visto, precisaria cobrar por respostas concretas no nosso próximo encontro.
O meu rendimento no dia seguinte foi péssimo mas Cherly aliviou a barra, fazendo boa parte do trabalho no meu lugar. Assim, a senhora Hopkins não teria a desculpa perfeita para me expulsar do Palácio.
— Lave esse rosto e vá dormir um pouco. — Cherly aconselha depositando o balde no meio do corredor. — Eu cuido daqui.
— Não, eu não posso fazer isso. Seria injusto te deixar com todo o trabalho pesado.
— Não se preocupe, eu e a Cherly cuidamos do corredor.
Ao ouvir uma voz feminina e firme atrás de mim, viro-me em direção a essa pessoa. A mulher de curtos cabelos loiros e olhos castanhos nos encarava com um sorriso simpático. Ela era um pouco mais velha do que eu e as suas expressões faciais se encontravam marcadas, provavelmente por causa do estilo de vida rígido. Eu a conheci no exato momento. Martha West, uma empregada que ajudou Alene em seus encontros às escondidas com o príncipe mas acabou sendo assassinada por um dos espiões de Lorcan.
Um calafrio percorre a minha espinha.
A mulher diante dos meus olhos estava com os dias contados. Enquanto permaneço estática, ela se aproxima tomando a esponja de minhas mãos sem tirar o sorriso dos lábios.
— Você está pálida, Diane. — Martha comenta apoiando a mão sobre minha face. — A Cherly está certa. Vá descansar e deixe a limpeza com a gente.
Era raro alguém se preocupar com o meu estado. Na maior parte das vezes, as pessoas fingiam não perceber para não ajudar — assim como Bryan havia feito na boate.
— Vocês já estão cansadas de limpar os outros cômodos e poderiam descansar durante o meu turno. Então, por que...?
— Porque somos amigas, ora! — exclama Cherly apoiando as mãos na cintura.
— E é isso que amigas fazem. — completa Martha. — Ajuda umas às outras.
"Amigas". Essa palavra surgiu em meu dicionário desde cedo, quando assistia desenhos onde um grupo de amigas se ajudavam para derrotar algum vilão ou apenas para se divertir. Então, eu cresci desejando essa tal amizade, mas ela parecia fugir de mim sempre que tentava. As garotas do meu colégio me excluíam por ser muito reservada ou por não as acompanhar em seu assunto sobre garotos. Com o passar do tempo, desisti de procurar por amigos e decidi viver por mim mesma.
Mas essas duas me consideram a sua amiga. Um calor agradável instaurou-se em meu peito e senti uma vontade imensa de chorar, mas contive as lágrimas como de costume. Chorar na frente de outra pessoa requer muita confiança, algo que não adquiri com ninguém. Nem mesmo com o meu namorado.
— Obrigada... De verdade.
Em resposta, elas sorriam e começam a limpar o corredor e vou em direção ao quarto. Enquanto caminho, penso sobre o destino de Martha e o meu peito se aperta de uma maneira desagradável. Ela não merece ser morta e, agora, eu me arrependo amargamente da decisão que tomei no livro.
Tudo bem, eu só preciso evitar a sua morte!
A vantagem é que sei quando será esse ataque de Lorcan, então posso pedir para Martha sair do castelo antes que aconteça. A determinação de salvar aquela vida correu pelo sangue em minhas veias. Eu conseguiria salvá-la e, assim, mudaria o curso da trama. Mesmo sendo algo arriscado, não permitirei que a minha amiga morra.
Quando saio do interior do palácio em direção à segunda torre onde fica os aposentos dos empregados, avisto um pequeno pontinho aproximando-se dos portões do castelo. A silhueta cambaleava para os lados e percebo como os dois guardas de vigia ficaram tensos. Então, sendo movida pela estúpida curiosidade, mudo o rumo da caminhada indo em direção à cena.
Ao se aproximar o suficiente, descubro se tratar de um homem com roupas simples e rasgadas. A sujeira em seu corpo está misturada com o sangue seco. Ele mal conseguia se manter de pé por causa da perna quebrada, retorcida de uma maneira que causou ânsia apenas por olhar. Algumas partes do cabelo faltando como se tivessem sido arrancados à força. A boca dele abria e fechava tentando falar, expondo alguns dos dentes que faltavam, provavelmente arrancados por quem causou o resto dos machucados.
— Salvem-me... O duque... Ele... Ele fez isso comigo...
O homem tentou continuar a falar, mas cuspiu sangue caindo na frente dos dois guardas. Então, eu visualizei a camisa rasgada e as marcas de chicotes em suas costas. A carne viva e o sangue escorrendo pela pele.
Naquele momento, eu senti medo de estar no mesmo mundo que esse monstro.
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