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Capítulo 37

Quando retornei para o meio da comemoração, encontrei Isaac junto com Arvid e a sua família. Ele veio ao meu encontro, dando um abraço apertado. Arvid se limita a balançar a cabeça em aceno. A sua total atenção está no vencedor da luta que, animadamente, erguia uma quantidade generosa de moedas de ouro. Todos ao redor o aplaudiam e gritavam compartilhando desse momento de alegria. O pai de Arvid, um homem alto e careca usando uma boina cinza, apontava para os guerreiros comentando algo com o filho. Posso perceber o brilho em seu olhar junto com um leve sorriso. Agatha caminhava em nossa direção, comentando:

— Esses dois podiam passar horas vendo os soldados lutarem.

— Eu percebi.

— Está gostando do festival?

O sorriso em meus lábios aumenta.

— Sim, muito! É diferente de tudo o que eu já presenciei antes.

Isaac cutucava meu braço e, após conseguir a atenção desejada, apontava para uma barraca de doces. Imediatamente, entendo o recado e viro o rosto em direção à mãe de Arvid.

— Com licença.

Ela sorria com ternura.

— Divirta-se, Diane. Você merece.

O rapaz guiava-me para a barraca, onde entregou duas moedas para a gentil vendedora. Ela murmurou algo sobre conhecê-lo do castelo e dispensou o dinheiro. Analiso os doces da barraca, desde os bolos de cor roxa até os brigadeiros vermelhos. Isaac entregava-me uma caixinha branca do tamanho da minha mão, cheia de bolinhas azuis com pontinhos brancos. Quando faço menção a perguntar, ele apenas gesticula para que experimentasse.

Ao dar a primeira mordida, murmuro em aprovação sentindo o gosto adocicado do chocolate. Era um doce um pouco amargo, o que não o tornava enjoativo. Os pontos brancos, parecendo uma constelação, tinham sabor de coco. Isaac pegava um desses brigadeiros — como assim irei chamar, por desconhecer o nome — e o levava à boca. Então, retomamos para perto de Agatha que já estava com seu marido e filho.

— Vocês precisam provar. — comento estendendo a caixinha.

Arvid pegava um dos doces, agradecendo à contragosto. O pai dele dispensa com um leve balançar enquanto Agatha pegava um brigadeiro.

— Vejo que gostou dos puppis.

— Puppis?

— É um dos doces mais conhecidos de Icarus. — dizia Arvid pegando outro para si. — E um dos mais deliciosos também.

— Pelo visto, a culinária daqui é vasta.

Agatha assentia antes de guiar para outras barracas, disposta a mostrar mais da variedade de comidas do ducado. As pessoas eram simpáticas e esbanjavam sorrisos amistosos. Encontrei alguns dos soldados da base no caminho e eles me cumprimentaram sem nenhuma hostilidade ou julgamento. Que estranho. Eles não vão especular sobre mim e o Lorcan?

Ao lembrar de um certo vilão rabugento, desvio o olhar para o castelo. Uma inquietude se forma em meu peito e está cada vez mais difícil lidar com esse incômodo.

Quando terminamos o passeio por todo o festival, despeço-me deles e sigo entre as pessoas procurando por Raven. Por sorte, encontro o rapaz em uma barraca de bebidas conversando com alguns homens. Sinto-me mal por incomodá-lo nesse momento, mas queria retornar. O sorriso do espião cresce quando toco sutilmente seu braço e vejo compreensão em seu olhar após ouvir meu pedido.

— Está se sentindo bem, Diane? — questiona preocupado enquanto seguíamos para dentro da carruagem.

— Não, eu só acho que aproveitei o bastante.

E não era mentira. Havia dançado, comido e bebido o suficiente para saber que as festas em Icarus eram boas. Além de ter descoberto que esse pobre povo vivia sobre a terrível mentira de serem "manipuladores" e "cruéis".

***

Raven pediu para o cocheiro aguardar na entrada enquanto me acompanhava até o segundo andar. Tentei dispensá-lo mas ele afirmou ser uma norma de etiqueta um cavalheiro acompanhar uma dama até seus aposentos. Acabo rindo de suas palavras, pois é difícil vê-lo como um nobre todo formal e educado. Raven possuía uma áurea tão descontraída e juvenil que, com certeza, não se encaixava com nenhum dos brutamontes do exército ou da nobreza.

— Eu espero que tenha se divertido hoje.

— Muito. Obrigada por me acompanhar, Raven.

— Não precisa agradecer. Você é parte de Icarus agora, então é justo aproveitar nossas festas.

"Parte de Icarus". Suas palavras atingiram-me em cheio. Nunca havia encontrado um lugar onde pudesse chamar de "lar", pessoas que realmente me acolhessem com todas as minhas inseguranças. Involuntariamente, aperto mais o meu braço contra o dele recebendo um olhar confuso em resposta. Contudo, continuo em silêncio com a atenção focada no horizonte.

Mas os meus pensamentos são dispersos quando ouço o som de objetos sendo jogados e vidros quebrados.

Viro o rosto para o espião com um semblante confuso e assustado.

— É o Lorcan. Ele sempre tem essas crises no Aurora. Por que acha que ele dispensa todos os empregados nesse dia? Não é benevolência, é uma forma de lidar sozinho com sua dor. — Raven respondia soltando meu braço e abrindo a porta do quarto. — Descanse e ignore os sons.

Antes de comentar à respeito, ouço o som de algo se chocando contra a porta e dou um sobressalto. Raven ri da reação exagerada e acaricia minha cabeça em um breve cafuné.

— Isso vai durar até o amanhecer, onde os empregados retornam ao castelo.

— Ele fica desse jeito por todo esse tempo?!

O rapaz dá nos ombros.

— Não há nada que possa ser feito, Diane.

— Ninguém sabe disso?

— Boa parte dos empregados sabe. Lorcan já teve um desses ataques em outros momentos, mas ninguém ousou se aproximar.

— Mas ele precisa de ajuda.

— Ele precisa que ninguém se preocupe com seu estado. — dizia apoiando ambas as mãos em meu rosto, prendendo minha atenção para suas íris claras. — Você pode se machucar e garanto que Lorcan se sentiria péssimo se, depois, descobrisse as consequências de seu surto.

Engulo seco mantendo o olhar fixo ao seu.

— Ele... Ele se sentiria mal? — pergunto e o espião assente. — Mas por que?

— Sempre que alguém descobria o envolvimento do ducado em uma missão de reconhecimento, eu tinha a ordem de eliminar o alvo. Mas pela primeira vez em todos esses anos, Lorcan pediu... Ele pediu, Diane, para que eu não a matasse. Na verdade, que sequer tocasse um dedo em você.

Estou surpresa diante da sua confissão. Por longos segundos, nenhuma palavra sai dos meus lábios. Raven sorria de canto depositando um beijo em minha testa antes de sair pelo corredor. Enquanto isso, permaneço parada na entrada do meu quarto. O olhar alternando entre o interior aconchegante e o vasto corredor escuro, onde dava acesso ao terceiro andar.

O som de objetos sendo arremessados ainda ecoava pelo ambiente.

Poderia ignorar o barulho e descansar meu corpo após um longo dia. Mas o aperto em meu peito continuava a crescer de uma maneira sufocante. O duque havia feito muito por mim, mesmo não sendo o seu papel. E eu ficaria de braços cruzados em uma situação como essa? Pode ser uma atitude irresponsável enfrentá-lo nesse estado, mas precisava fazer algo. Ou, ao menos, tentar. Por isso, apressei os meus passos em direção ao terceiro andar, parando diante do estreito corredor com apenas duas portas.

Parei diante da porta do seu quarto, dando leves batidas na madeira.

— Lorcan, eu...

— Saía!

O meu corpo retrai por suas palavras, proferidas com um ódio imensurável.

— Por favor, deixe-me entrar.

— Saía! Agora!

Apoio ambas as mãos na porta, tocando a testa sobre a superfície. Um longo suspiro escapa dos meus lábios enquanto fecho os olhos. De fato, havia raiva em seu tom de voz mas também detectei dor. Muita dor. Senti como se essa onda de sofrimento tivesse atravessado todas as estruturas do castelo e chegado até o meu coração. E agora eu queria alcançar o seu coração para ajudá-lo.

O barulho cessou e só restou um silêncio angustiante. Estava cada vez mais desesperada, já que não fazia ideia do que acontecia do outro lado. Segurei a maçaneta com força e a girei por impulso, mas acabei me surpreendendo quando a porta abriu com facilidade.

É óbvio que não estaria trancada. Ele tinha certeza de que ninguém viria vê-lo nesse estado.

A poltrona e a cadeira de madeira estavam de cabeça para baixo. Os papéis espalhados pelo chão e alguns livros abertos com folhas rasgadas estavam sob o tapete. Um copo de vidro totalmente em pedaços sobre o tapete. Encontrei vários objetos largados em cantos do quarto, bem como dois travesseiros. Os lençóis da cama bagunçados e as cortinas rasgadas. Céus, a cada surto ele tem que comprar um quarto novo.

Então, visualizei a figura frágil encostada na parede, abaixo da janela aberta. A brisa gélida invadia o cômodo, erguendo suavemente as finas cortinas pretas. Lorcan encontrava-se sentado no chão, os joelhos encolhidos até tocar o peitoral. Ele trajava um simples roupão preto com bordados cor de vinho. Os dedos calejados afundados nas mechas bagunçadas do cabelo, roçando as unhas sobre o couro cabeludo até que sangue escorresse do local. O corpo do duque tremia sem parar enquanto ele mantinha o olhar vazio direcionado ao chão.

— Esse miserável pode voltar...! Ele vai me achar...!

Claramente, o seu estado mental estava precário. E de maneira receosa, dei alguns passos em sua direção.

— Calma, Lorcan. Está tudo bem, eu estou aqui.

— Não está, droga! — vociferava com ódio, fazendo-me dar um passo para trás. — Não quero passar outra noite no estábulo! Não quero... Outra cicatriz... Ele precisa queimar até o último osso! Até que sua alma não consiga sair do inferno!

Temia por seu estado. Lorcan tremia tanto que as mechas do cabelo fugiam entre os dedos com facilidade. Não havia lágrimas em seus olhos, apenas um vazio assustador. Estava com medo mas, ainda assim, fiquei de joelhos diante do homem encontrando um espaço entre suas pernas. Ele ignorava a minha presença, sussurrando diversas vezes "eu prometo não errar novamente... Eu prometo não errar novamente."

Quando toco o seu rosto, o duque segura meu punho com uma força assustadora. Gemo de dor enquanto mantenho o olhar assustado focado no seu.

— Está doendo, Lorcan.

Ele parecia estar em uma guerra interna. Mesmo apertando meu pulso, sua mão tremia como se aquele não fosse o seu real desejo. Então, apoio a mão livre em seu coração sentindo o ritmo acelerado dele.

— Ele te machucou muito, mas o processo de cura depende unicamente de você. Não permita que o seu pai deixe outra cicatriz em seu coração. — comento lutando contra a dor incessante no pulso. Aos poucos, o duque afrouxa o aperto sem quebrar o contato visual. — Você travou tantas batalhas, então não perca essa. Eu confio na sua força.

Lorcan desvia o olhar para baixo, engolindo seco e soltando-me por completo. Alguns fios de cabelo estavam presos na testa por causa do suor. A respiração desregulada e os lábios entreabertos. Ouso me aproximar um pouco mais até envolver os braços entorno do seu pescoço, dando um abraço carinhoso. Por um instante, o corpo do homem permanece estático como uma rocha mas suspiro de alívio quando sinto seus braços fortes ao redor de mim. Lorcan apertava-me com uma necessidade avassaladora, afundando o rosto na curva do meu pescoço. O nariz roçava contra as mechas do meu cabelo, inspirando-o profundamente. Ele continuava a tremer mas isso não o impediu de dar um abraço caloroso e firme.

— Isso... Muito bem. Continue assim. Está vencendo essa guerra. — murmuro passeando a mão por suas costas largas, sentindo que lentamente a respiração dele estava retornando ao normal. — Estou orgulhosa de você.

Ao ouvir minhas palavras, ele me apertava com mais força e quase perto o ar. Por sorte, o duque afrouxa o abraço segundos depois, comentando em um tom baixo:

— É a primeira vez que ouço isso.

Nesse momento, seguro as lágrimas o máximo possível. Desde pequeno, ele deu o seu melhor para orgulhar o pai, mas não duvido que Sirius continuou o desprezando até o seu último suspiro. Ao fundo, podia ouvir a música alegre em comemoração ao fim da guerra, anos atrás. Todos, indiretamente, comemoravam a morte do antigo duque. E silenciosamente, Lorcan sofria pelo tempo em que ele esteve vivo, fazendo de sua vida um verdadeiro inferno.

— Seja lá o que o seu pai disse, ele estava errado. — comento desfazendo-me do abraço para afastar um pouco o corpo e, assim, olhar no fundo de seus olhos. — Sirius não passava de um homem odioso que nunca conheceu o amor.

Aquele olhar vazio atravessou minha alma, causando calafrios.

— Tal pai, tal filho.

Um nó se forma em minha garganta e encontro-me sem palavras. Novamente, repouso a mão sobre o seu peito para sentir a sua respiração e os batimentos cardíacos se normalizarem. Lorcan apoia a sua mão sobre a minha, apertando levemente meus dedos. As irregularidades de suas cicatrizes roçam contra a minha pele.

— Não sente repulsa ou medo de mim?

Nego com a cabeça, notando o olhar dele oscilar em sinal de surpresa.

— Eu não vejo motivos para me sentir assim em relação à você.

— Você não é como os outros, eu soube disso desde o começo. — comenta segurando ambas as minhas mãos e as erguendo para tocar o seu rosto. — O seu toque não machuca. O seu olhar não tem medo ou nojo.

Sem ao menos perceber, estou sorrindo. O duque fechava os olhos apreciando a carícia suave dos meus dedos contra as suas bochechas. Ele retorna a envolver os braços no meu corpo, como se tivesse medo de que eu fosse sumir à qualquer momento. Como podem chamar esse homem de monstro?

Então, sou atingida por uma onda de culpa. Estou sendo hipócrita pois, no começo, o tratava da mesma maneira que os demais. Evitei o vilão o máximo possível e, sempre que recebia uma boa ação vinda dele, questionava os seus motivos. Duvidei que houvesse uma parte boa no coração de Lorcan mas, agora, creio que haja mais bondade do que imaginava. Ele não é um mero antagonista para servir de escada para o Christian.

Não, Lorcan tinha o seu próprio desenvolvimento. Ele é uma estrela que não nasceu para ser ofuscada pelo brilho de ninguém.

Quando o vejo mais calmo, coloco-me ao seu lado apoiando as costas na parede. No mesmo instante que o toque em sua face some, ele segurava a minha mão firmemente e mantém o olhar focado no horizonte ao comentar:

— Não vá. Acho que quebrarei a estante se estiver sozinho novamente.

Entrelaço os meus dedos nos seus, sendo agraciada pelo contato direto de sua pele.

— Não se preocupe. Eu não sairei do seu lado, Lorcan.

Ele inclina o corpo para o lado em um ritmo lento, apoiando a cabeça no meu ombro. Desvio a atenção para seu semblante distante que, aos poucos, era tomado pelo cansaço. Após a dose de adrenalina sumir, também estou exausta mas me recuso a dormir. Precisava saber se ele ficaria bem ou teria outro surto.

— Você não me machucou.

Não era uma pergunta, e sim uma conclusão. Lorcan estava de olhos fechados quando respondeu:

— Prefiro cortar cada parte do meu corpo do que machucá-la.

Pisco os olhos, atordoada. A sinceridade desse homem é assustadora. É uma pena que, provavelmente, no outro dia, negará tudo o que aconteceu.

— Por que eu sou importante para atingir o Christian?

O homem acomodava-se mais ainda naquele espaço desconfortável. A sua respiração estava calma, o peito subia e descia em um ritmo constante. Uma mecha deslizou suavemente por sua face quando ele roçou, por breves instantes, a bochecha contra meu ombro. Céus, parece um gatinho pedindo carinho. Eu não acredito que estou achando o vilão da minha obra fofo.

— Porque você ainda não saiu do meu lado.

"Ainda". Uma simples palavra estava carregada de um forte significado. Lorcan não era tolo. Ele sabia que, um dia, eu precisaria retornar ao castelo. O meu lugar é ao lado do Christian, por mais doloroso que seja observar a sua interação com Alene. Mas naquele momento, ouvindo a respiração calma e observando o semblante sereno do homem mais temível do reino, não queria estar nos braços do rei. Não queria suas palavras aconchegantes ou os nossos passeios no jardim.

Eu queria estar ali. Em um quarto sem iluminação, totalmente bagunçado com cacos de vidro espalhados pelo chão.

Chamei pelo duque e ouvi um murmúrio baixo, um sinal de que ele se encontrava quase dormindo mas ainda atento ao nosso diálogo.

— Se você, hipoteticamente, fosse um personagem de um livro e conhecesse o seu criador. O que faria?

— Eu arrancaria a sua cabeça.

Passo a mão pelo pescoço, começando a suar frio.

— Nossa! Por qual motivo?

Ele inspirava profundamente antes de dizer:

— Ele é a pessoa que mais me odeia no mundo.

— Por que diz isso?

Sinto um leve aperto em minha mão e desvio a atenção para nossos dedos entrelaçados.

— Porque ele é injusto. Uma história só está completa quando temos os dois lados... Mas eu sinto que... — a sua voz, aos poucos, torna-se arrastada e baixa por causa do sono. —... nunca contaram a minha versão... E eu morrerei sendo odiado por todos...

O sentimento machucando meu coração era indescritível. Lorcan achava que eu o odiava, o que era totalmente compreensível levando-se em conta a sua vida. Ele recebia os piores olhares e comentários por onde passava. O seu pai o torturou e humilhou durante anos. E para piorar, observou o melhor amigo de infância ser amado pelo reino inteiro enquanto, cada vez mais, estava se afundando em seu próprio rancor.

Alguns raios de Sol invadiam o cômodo e, ao fundo, ouço o cântico dos pássaros. Encosto a minha bochecha no topo da sua cabeça, respirando fundo. As lágrimas rolavam livremente em meu rosto e sequer faço questão de secá-las. Mais uma vez, apertei a mão do duque enquanto inspirava o seu aroma agradável.

— Eu não o odeio, Lorcan...

Não obtenho resposta. O duque encontrava-se dormindo com um semblante sereno e, pela forma como seus lábios se curvaram em um quase sorriso, sinto que minhas palavras puderam atravessar o seu coração. Então, permito-me relaxar um pouco e fechar os olhos, apoiando o meu corpo no seu.

***

Quando acordei, estava deitada na enorme cama do quarto dele. O travesseiro possuía o cheiro agradável de seu cabelo, bem como as cobertas com o aroma amadeirado do homem. Os raios solares invadiam o cômodo, deixando-o completamente iluminado. Ao sentar na cama, olhei ao redor procurando pelo Lorcan mas não o encontrei. O quarto estava completamente arrumado e havia uma bandeja de madeira em cima da escrivaninha, contendo o café da manhã.

Enquanto comia em silêncio, relembro de todos os momentos da noite passada. O meu rosto esquenta e as batidas do coração aceleram. O que diabos eu fiz? Enfrentei aquele homem em uma crise, eu poderia ter morrido.

Massageio as têmporas soltando um longo suspiro. A minha postura se enrijece ao ouvir batidas na porta, seguidas pela entrada de uma das empregadas. Ela fazia uma breve reverência com um olhar neutro, sem nenhum indício de julgamento ao me encontrar no quarto do duque.

— O meu senhor requer a sua presença na frente do castelo imediatamente. E prepare a sua mala para a viagem.

— Viagem? Que viagem?

— Para o reino de Valfem. — respondia antes de fechar a porta.

Saio do quarto a fim de perguntar por mais informações, mas travo quando encontro Katlyn no meio do corredor conversando com um empregado. A sua expressão é de completa surpresa ao notar a minha presença. Estou estática e a cor some da minha face. A repulsa dessa mulher é quase palpável quando ela murmura:

— Sua puta maldita.

Então, segue caminho pelo corredor com os punhos fechados ao lado do corpo.

***

Opto pela roupa de treinamento e o cabelo preso em um rabo de cavalo. A minha mala estava leve pela pouca opção de roupas. Quando paro diante dos portões do castelo, arregalo os olhos surpresa ao encontrar Raven acenando em minha direção. Katlyn fuzilava-me com o olhar, fazendo uma onda de medo percorrer pelo meu corpo. A sua roupa era parecida com a minha, exceto pela escolha de cores. A calça é marrom e o espartilho verde, combinando com a camisa branca de manga comprida. O longo cabelo cacheado solto, balançando com suavidade devido à brisa matinal.

Por outro lado, Raven estava com uma camisa branca e um longo manto vermelho em seu corpo, semelhante a um quimono que tocava metade dos joelhos. Ele possuía detalhes sutis como um cinto preto ao redor da cintura e bordados dourados nas mangas. O cabelo do espião estava bagunçado e algumas mechas caíam sobre a face juvenil.

— Vamos nos divertir também, Diane! — ele exclama abraçando-me de lado. Um empregado já colocava a minha mala na carruagem. — Tire essa cara enrugada, Katlyn!

A mulher se limita a estalar a língua no céu da boca, entregando na carruagem.

— Por que vamos para outro reino? — pergunto a fim de quebrar o clima.

— O rei de Valfem respondeu a nossa carta. Ele quer formar uma aliança com Icarus e nos convidou para uma de suas festas.

— E todos nós precisamos ir?

— Ele é responsável pelo maior poder bélico entre os reinos. — responde Lorcan passando por nós dois. Como de costume, trajava roupas pretas da cabeça aos pés, mas não deixo de notar o seu longo manto azul cobrindo as vestes tipicamente militares. — Não podemos abaixar a guarda em um momento como esse.

Queria questionar o porquê da minha presença, mas desisti de tirar essa dúvida. Nada o faria explicar os seus motivos. Raven empurrava-me para o interior da carruagem e quase sou sufocada pelo ódio evidente de Katlyn. Por sorte, ela sorria fraco quando Lorcan sentava ao seu lado. O espião se posiciona perto de mim, passando o braço por meus ombros enquanto falava sobre o reino em que iríamos.

Mas minha atenção era em Lorcan e como ele parecia tão distante naquele momento.

A viagem se seguiu em um silêncio agonizante. Estava cansada por causa da noite anterior, mas temia fechar os olhos e acordar com uma flecha em minha cabeça. Katlyn fazia o possível para que o duque sequer olhasse em minha direção, chamando a sua atenção quando ele virava a cabeça para o lado. Raven, por outro lado, dormiu por quase todo o trajeto.

O reino de Valfem era tão grande quanto Velorum e possuía um muro duas vezes maior do que o de Icarus. As terras repletas de plantações, o verde se espalhava por todo o ambiente mesmo sendo outono. Havia um rio atravessando a área externa do reino. Ele ficava do outro lado de um penhasco, onde apenas uma ponte interligava Valfem ao mundo externo. Alguns metros antes da ponte, localizava-se uma enorme torre vigiada por três guardas. Após nos identificarmos, atravessamos o outro lado e o enorme portão de madeira foi aberto.

O interior de Valfem era agitado. Os comerciantes gritavam por todos os lados. Não havia muitas crianças nas ruas, mas a quantidade de adultos era absurda. A carruagem demorou mais do que o esperado para cruzar a rua. O castelo do rei era localizado no centro, tão grande quanto o palácio de Christian. As telhas azuis com bandeiras vermelhas ganhavam destaque. A quantidade de soldados era pequena, mas eles possuíam lanças afiadas e revólveres rústicos. Em todos esses meses nesse mundo, era a primeira vez que encontrava uma arma de fogo.

— Ouvi dizer que o vinho daqui é o melhor de todos. — comenta Raven atraindo a minha atenção. — O que acha de uma competição de quem bebe mais, Diane?

Antes de responder, Lorcan cortava a minha fala com aspereza.

— Não estamos à passeio, Raven. Lembre-se disso.

O espião bufa em desagrado, cruzando os braços como uma criança birrenta. Contenho a risada para focar na paisagem magnífica daquele reino. Tudo era colorido e alegre. Não encontrei um mendigo sequer e as pessoas não paravam de sorrir.

Não disfarço a expressão surpresa ao estar no interior do castelo. O tapete vermelho sobre o piso dourado se estendia por toda a sala principal. Havia algumas estátuas de ouro de animais nos cantos do local. Um mordomo extremamente educado nos guiou até a sala do rei e, a cada passo dado, secava o suor na calça.

O dono de um lugar assim deve ser duas vezes mais assustador que o rei Berton.

Mas todo o nervosismo some dando espaço à singela surpresa ao parar alguns metros do centro do salão. Sentado no trono, um garotinho de aparentemente doze anos balançava os pés com um sorriso gentil, expondo suas covinhas.

— É um prazer recebê-los em meu reino, povo deIcarus.

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